Cerca de 150 trabalhadores da comunicação, entre jornalistas e gráficos, ocuparam o antigo prédio do jornal Hoje em Dia, de propriedade da empresa JBS, nesta manhã de quinta (1). Parte desses profissionais foi demitida há mais de um ano do jornal e até hoje não recebeu o acerto. A ocupação conta com o apoio de diversos movimentos populares e sindicatos de Minas Gerais.
“Decidimos ocupar o prédio que foi sede do jornal durante décadas para denunciar a toda sociedade o calote. Fomos vítimas de uma negociata política, que envolve figurões da República, e pagamos a conta por projetos de poder, falta de ética e escrúpulos”, denunciam os jornalistas em manifesto divulgado.
O “predinho”
De acordo com o manifesto, o senador afastado Aécio Neves (PSDB) pediu para que o empresário Joesley Batista, da JBS, comprasse o prédio sede do Hoje em Dia. Segundo delação gravada de Joesley, o prédio foi comprado por um valor muito superior ao de mercado. O empresário teria pagado R$ 17 milhões que seriam destinados à Aécio como pagamento de propina. Na ocasião, o senador afastado chamou o imóvel de "predinho", como passou a ser conhecido.
A história
No início de 2016, 38 jornalistas foram demitidos de uma vez do jornal Hoje em Dia, após este ter sido comprado por Ruy Muniz, empresário e ex-prefeito de Montes Claros que já chegou a ser preso por corrupção.
Posição do Hoje em dia
Em nota, o jornal Hoje em Dia afirma que vai colaborar com a Justiça nas investigações e reitera o compromisso com a transparência das informações e a ética profissional. Confira na íntegra:
A atual gestão da Ediminas S/A assumiu o jornal Hoje em Dia quando a venda do prédio já havia sido concluída e vai colaborar com a Justiça prestando todos os esclarecimentos que forem por ela solicitados. O jornal não funciona mais no prédio da rua Padre Rolim. A Ediminas vem cumprindo rigorosamente a legislação trabalhista. Sobre as rescisões de contrato, trata caso a caso as demandas, nas esferas competentes: Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho e sindicatos das categorias profissionais relacionadas ao jornal. O Hoje em Dia reitera o compromisso com a transparência das informações e a ética profissional e informa que mantém seu funcionamento regular, o que permite a preservação de dezenas de empregos.
Ediminas S/A
Manifesto dos jornalistas
Ocupa Predinho. Por que estamos aqui?
Somos um grupo de 150 trabalhadores (jornalistas, gráficos e funcionários da administração) demitidos do jornal Hoje em Dia há mais de um ano. Não recebemos nenhum direito trabalhista. Nem mesmo o salário do último mês que trabalhamos. Decidimos ocupar o prédio que foi sede do jornal durante décadas para denunciar a toda sociedade o calote. Fomos vítimas de uma negociata política, que envolve figurões da República, e pagamos a conta por projetos de poder, falta de ética e escrúpulos. A ocupação tem o apoio de diversos movimentos sociais, que trazem solidariedade a nossa causa e lutam por um país mais justo.
Na delação do empresário Joesley Batista, da JBS, ele revela que pagou R$ 17 milhões, um valor que ele mesmo considerou superfaturado, por um prédio e um terreno na Rua Padre Rolim, no bairro Santo Efigênia, em Belo Horizonte. Os imóveis citados pelo empresário eram a sede do jornal Hoje em Dia e foram comprados pela JBS a pedido do senador afastado Aécio Neves (PSDBMG). Mas existem vários detalhes que vão além da delação a que merecem atenção:
1 - Em 2013, quando a candidatura de Aécio Neves se afirmava no ninho tucano e os apoios para o projeto político do neto de Tancredo Neves eram estabelecidos, o governo de Minas Gerais, então comandado pelo tucano Antonio Anastasia, desapropriou um imóvel da Rádio Del Rey, que pertence à família proprietária do Grupo Bel. 2 - A desapropriação custou R$ 1,09 milhão aos cofres públicos e o pagamento foi realizado em junho de 2013.
3 - Cinco meses depois o Grupo Bel (também proprietário das rádios 98 FM, CDL e outras empresas) comprou o jornal Hoje em Dia das mãos da TV Record.
4 – Durante a campanha presidencial de 2013 o jornal Hoje em Dia se posicionou acintosamente favorável à candidatura de Aécio Neves.
5 – Um exemplo: O jornal chegou a publicar uma pesquisa nonsense, que ia à contramão de todas as outras pesquisas de opinião e dava favoritismo a Aécio. A notícia manchetou o portal do jornal no dia 14 de outubro e, velozmente, a imagem da tela do portal do Hoje em Dia estampava a propaganda de televisão de Aécio Neves no dia seguinte.
6 – Outro exemplo: A demissão do jornalista Aloísio Morais do Hoje em Dia, no dia 31 de outubro de 2014. O jornal tentou demiti-lo por justa causa por comentários que ele compartilhou em uma rede social. O comentário criticava o instituto que teve a pesquisa abalizada pela publicação do Hoje em Dia e favorecia Aécio Neves. O jornal perdeu em todas as instâncias e Aloísio foi reintegrado ao trabalho, por determinação judicial, depois de 22 meses.
7 – Após derrota do PSDB, tanto na presidência quanto no governo estadual, o Grupo Bel decidiu vender o jornal Hoje em Dia.
8 – Antes de se efetivar a venda do jornal, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pediu que o empresário Joesley Batista, da JBS, comprasse o prédio do jornal. Segundo delação gravada de Joesley, o prédio foi comprado por um valor superfaturado. Ele chamou o local de: "predinho", como passou a ser conhecido.
9 – Com os ativos da empresa liquidados, o grupo Bel fechou o parque gráfico, demitiu todos os funcionários da gráfica e não pagou os direitos trabalhistas.
10 – O jornal foi vendido para o ex-prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz, que é empresário da educação e conhecido por ter como prática dar calote em funcionários.
11 – Ruy Muniz, que chegou a ser preso acusado de fraude na saúde da administração da prefeitura de Montes Claros, assumiu o jornal e demitiu mais da metade da redação: 38 jornalistas.
12 – Os jornalistas não receberam nenhum direito trabalhista. Nem o salário do último mês que trabalharam.
13 – Ação judicial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais pede que a responsabilidade pelo pagamento dos demitidos seja do atual proprietário, Ruy Muniz, e dos antigos donos do jornal, do Grupo Bel, que são capitaneados por Flávio Carneiro.
14 – Flávio Carneiro também foi citado na delação de Joesley e tratado como um "garoto de recados" para Aécio Neves. O empresário da JBS mandou Flávio falar com o senador para que ele parasse de pedir propina, pois eles estavam sendo investigados.
15 – Diante de uma armação articulada por políticos e empresários resta aos trabalhadores somente uma alternativa: a luta. Por isso, estamos aqui ocupando o prédio. Queremos apenas o nosso direito, que é o pagamento pelo que trabalhamos.
(Fonte: Brasil de Fato, 1º de junho de 2017)