Luis Nassif
As peças que compõem esse jogo são as seguintes
Peça 1 – O tempo político de Dilma Rousseff encurtou consideravelmente.
Há uma crise fiscal acelerada, no meio de uma crise política que tem paralisado todos os passos do governo. A aprovação da CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira) é essencial para o equilíbrio fiscal e para reverter a queda perigosa do PIB. Com ameaça de nova queda de 4% do PIB, as receitas fiscais caindo vertiginosamente, os estados entrando em default, não há muito tempo pela frente para a hora da verdade.
Peça 2 – Cresce a convicção de que Dilma não conseguirá montar um plano política e economicamente viável.
O Ministro da Fazenda Nelson Barbosa precisaria ser suficientemente ousado para apresentar um grande plano que não implicasse em riscos fiscais, que não aprofundasse a recessão e, ao mesmo tempo, passasse a ideia de previsibilidade – para contornar as resistências ao seu nome – sem descontentar a base do governo, mais à esquerda.
Montou duas propostas que não impactando o curto prazo poderiam acenar para o longo: reforma da Previdência e limites para as despesas públicas. Não foi suficiente para demover a direita e provocou rupturas no lado esquerdo da base de apoio.
Para conseguir apoio à CPMF, o governo concordou com as pressões do presidente do Senado Renan Calheiros, flexibilizando a lei do petróleo.
No momento, está por um fio a única base política efetiva com quem Dilma pode contar.
Peça 3 – Dilma não conseguirá se equilibrar entre mercado e base.
Exemplo claro foi o anúncio da reforma da Previdência. O mercado ouviu com pé atrás; à esquerda reagiu. No momento seguinte ela escala o Ministro do Trabalho Miguel Rossetto para explicar que não era bem assim.
Queimou-se com o mercado e com a esquerda.
Peça 4 – Mesmos nos círculos próximos a Dilma, aumenta a convicção de que a crise é grande demais para ela.
Mesmo os habilidosos Jacques Wagner e Ricardo Berzoini têm enorme dificuldade em convencê-la de medidas óbvias. O termo mais usado no Palácio é “não adianta dar murro em ponta de faca”.
Peça 5 – Há um amplo espaço para aprofundamento da radicalização política e policial.
Tanto no STF como no STJ, qualquer Ministro que ouse uma postura mais garantista acaba vítima de ataques de reputação ou pelos jornais ou redes sociais. E poucos têm estrutura emocional para enfrentar a barbárie.
Peça 6 – Ruim com Dilma, o caos com o impeachment.
Suponha que Gilmar Mendes atropele leis e regulamentos e emplaque o impeachment via TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O caso iria para o STF. Se Dilma e Temer fossem cassados, quem assumiria? O presidente do Senado,Renan Calheiros, alvo da Lava Jato? Eduardo Cunha e sua imensa capivara? O país entraria em ebulição.
O governo de coalizão
Juntando todas essas peças, chega-se à conclusão de que a única saída seria um governo de coalizão com Dilma, tipo o que foi montado por Itamar Franco, quando pegou o pepino de suceder a Fernando Collor.
Ocorre que um governo de coalizão exige que o presidente efetivamente abra mão de poder.
No momento, Dilma tenta montar a coalizão mantendo o comando, recusando-se a abrir mão de qualquer espaço de poder. Não funciona.
Como diria Ricardo Berzoini – justificando o acordo de flexibilização do pré-sal – o governo tem que ser realista e entender quando perde as condições políticas e negociar uma política de menor dano.
O aprofundamento da crise obrigará Dilma a cair na real em um ponto qualquer do futuro.
Para acelerar a transição, quando a hora chegar, sugere-se aos articuladores políticos responsáveis que comecem a elaborar as ideias para tornar a transição a menos traumática possível.
Como suas pretensões políticas acabam em 2018, Dilma terá facilidades em arbitrar uma coalizão que garanta igualdade de condições a todas as partes.
(Fonte: Site do Instituto Humanitas Unisinos - IHU)