Abaixo alguns trechos do último episódio do ano do podcast Política com Fé.
Assim como muitos
companheiros, abnegados, temos lutado, na trincheira que nos é própria, sem
esmorecimento e assim pretendemos continuar. Afinal, escolher essa luta ou ser
escolhido e se ver constantemente nela já se tornou rotina, cotidiano, prática
de vida. Entretanto, não podemos deixar de fazer as críticas, as autocríticas
e, porque não, falar das decepções, em nossas próprias trincheiras, que são
enormes. O corporativismo de alguns grupos é tamanho que fica escancarado o
jogo, aético, praticado por seus representantes: atores-autores dessa
dramaturgia tragicômica. As instituições que mais criticam e atacam
comportamentos, políticas e procedimentos não conseguem mais sustentar, para a
plateia, o teatro a que se impuseram. É difícil dizer se é a hipocrisia que
cresceu a ponto de fazer grandes sombras sobre seus cultivadores ou se eles
realmente passaram a acreditar tanto nos papéis que representam que, presos em
jaulas de ouro, autônomos e autômatos, consomem-se entre si e a si mesmos, num
banquete de autocanibalismo referencial e narcísico de insignificâncias que é
deprimente. O cinismo grassa e qualquer nesga de poder vem se transformando em
balcão de troca, espaços para a prática de nepotismos cruzados e diretos.
Apontar e falar contra
quem se encontra no outro espectro sempre é mais fácil. Difícil mesmo é cortar
na própria carne. Dos neoliberais e da direita ultrarradical, recém saída do
armário, nem há o que falar, nem vou gastar minha energia com palavrórios do
tipo que topo constantemente nos meios que circulo. Enquanto os capitalistas
ricos, mas também os pobres iludidos com a ideia de uberização profissional
fazem proselitismos da prosperidade liberal, alguns setores que se autodenominam
de esquerda, encarapitados nos sindicatos, nas universidades, nas religiões, na
mídia, nas artes e, mesmo nos partidos, usam o discurso de defesa dos pobres
para garantir a estabilidade de seus status.
Dois anos de pandemia foi
mais do que suficiente para ver a profusão de inutilidades que é produzida,
embalada pela lógica produtivista que invadiu o mundo intelectual. Ver e sentir
debaixo do nariz todo o odor desse populismo adornado pela razão cínica, com
romantização da pobreza, identitarismos que pautam pela defesa de protagonismos
e empoderamentos seletivos é nauseante. É imperioso que se recupere a
sobriedade progressista, se é que ela já existiu algum dia.
Para ouvir o episódio completo, que está imperdível, # 27 - BEM VINDO 2022!, clique aqui.