CONAPE/2018 ‘LULA LIVRE’: A EDUCAÇÃO COMO ESPAÇO DE RESISTÊNCIA.
MANIFESTO: Carta de Belo Horizonte
No momento atual de crise que passa o Brasil, com o aprofundamento do golpe deflagrado
em 2016, a partir da destituição do governo legitimamente eleito de Dilma Rousseff, a luta pela
educação não pode estar desatrelada daquela em defesa da restauração do Estado Democrático de
Direito. Os processos de ruptura democrática pelos quais passou o país guardam, em comum, a
redução drástica dos direitos sociais, entre os quais a educação — um dos pilares inquestionáveis de
qualquer democracia —, alvo de severos ataques políticos, econômicos e pedagógicos que visam
desestruturar a possibilidade de formação crítica e cidadã. Foi assim com a instituição do Estado
Novo, em 1937, que pôs fim aos avanços conquistados na Constituição democrática de 1934. Foi
assim em 1964, com o golpe civil-militar que depôs João Goulart e enterrou a Carta de 1946. E é
assim agora, com a série de medidas golpistas que buscam sepultar a Constituição de 1988 —
incluindo seu artigo 205, que assegura a educação como dever do Estado e direito de cada cidadão —
30 anos após sua promulgação.
Os acontecimentos dos últimos dias, com os movimentos atuais e a crise institucional
provocada pela política equivocada e entreguista do governo golpista de Michel Temer na Petrobras,
apontam para possibilidades sérias e preocupantes de acirramento ainda maior das consequências
do golpe. A construção da falácia da suposta quebra da Petrobras, entregue a uma gestão feita por e
para rentistas, interessa diretamente à política neoliberal repaginada cujo objetivo é a transformação
dos direitos sociais, a educação incluída, em serviços e mercadorias. Lucra o capital financeiro, um
dos suportes do golpe. Sofrem os/as trabalhadores/as, estudantes e todo o povo, submetidos não
apenas à destruição de um patrimônio nacional imprescindível, que inviabiliza a implementação das
políticas educacionais conquistadas após muita luta, nos últimos anos, como o próprio Plano Nacional
de Educação (PNE), mas também sob a ameaça concreta de um rompimento democrático ainda mais
profundo.
A convocação da Conferência Nacional Popular de Educação (Conape), no ano passado, deuse
como resposta direta ao autoritarismo que destituiu o Fórum Nacional de Educação (FNE) e
descaracterizou a 3ª Conferência Nacional de Educação (Conae/2018) como um espaço democrático
de debate. Agora, a realização da Conape só vem a reforçar a importância deste movimento de
resistência em via dupla: de um lado, não é possível lutar pela democracia sem lutar pela educação
pública, gratuita, laica, inclusiva e de qualidade social, desde a educação infantil até a pós-graduação,
fundamental para a construção de outra realidade, mais justa e mais solidária; de outro, qualquer
discussão sobre políticas educacionais só faz sentido e só terá efetividade a partir do momento em
que se assegurar a restauração do Estado Democrático de Direito e a realização de eleições livres.
As entidades que, reunidas em um Comitê Nacional em Defesa da Educação, decidiram
romper com o FNE golpista, instalar o Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE) e propor a
Conferência Nacional Popular de Educação, vêm se empenhando, há décadas, em discutir os rumos
que possam permitir essa transformação essencial. Assim, foram organizadas as Conferências
Brasileiras de Educação (CBEs), nos anos 1980 e início dos 1990, organizados os Congressos Nacionais
de Educação (Coneds), a partir da década de 90 do século passado e começo dos 2000, e,
posteriormente, a Conferência Nacional de Educação B
fortalecimento da educação pública e a regulamentação do ensino privado, compromissos assumidos
e detalhados em nosso PLANO DE LUTAS, construído democraticamente e aprovado na Conape 2018.
Este espaço é primordial para traçar coletivamente os rumos da resistência, com o combate sem
tréguas aos pesados retrocessos que o governo federal tem impingido à educação e às áreas sociais
no Brasil.
A luta pela educação democrática: desafios a enfrentar
A mobilização social em torno da democratização dos direitos, e defesa da educação, tem uma pauta
importante de lutas, que hoje ganha centralidade diante da intensificação dos ataques diretos aos
serviços públicos e de favorecimento da privatização em todos os níveis e setores e consequente
agravamento da conjuntura.
Convocamos a população brasileira para juntos lutarmos:
1. pelo Estado Democrático de Direito e a realização de eleições livres e democráticas, contra a
intervenção militar;
2. pela apuração dos assassinatos dos defensores de direitos humanos, contra o genocídio da
juventude negra, contra toda violência, perseguição política e criminalização dos movimentos
sociais;
3. pelo fim do congelamento dos investimentos em áreas sociais, conforme imposto em 2016
pela Emenda Constitucional 95 (EC 95/16), com a sua imediata revogação e a destinação de 10% do
PIB e os recursos do Pré-sal para a educação pública;
4. pela defesa do PNE, à luz das deliberações das Conaes de 2010 e 2014, como centro das
políticas públicas educacionais;
5. por um FUNDEB robusto e permanente, com creches e 50% de complementação da União;
6. pelo fim do financiamento público para investimentos privados na área da educação e pelo
fortalecimento do ensino público;
7. pela regulamentação do ensino privado, sob as mesmas exigências legais aplicadas à escola
pública, com a instituição do Sistema Nacional de Educação;
8. pela exigência de qualidade tanto no ensino a distância quanto nos cursos de curta duração,
impedindo tentativas de tratar a educação como mercadoria e, também, contra a autorização de
todo e qualquer curso de graduação da área da saúde e de formação de professores, ministrado
totalmente na modalidade Educação a Distância (EaD);
9. pela garantia da implantação do Piso Salarial Profissional Nacional e de planos de carreira
para os/as profissionais da educação das redes pública e privada, com a promoção da necessária
valorização dos respectivos profissionais, superando-se as recentes propostas de ‘flexibilização’ dos
critérios de seleção na área, bem como os agudos retrocessos que hoje acontecem no setor público
e, em especial no setor privado;
10. pela escola democrática e autônoma, como espaço de liberdade e pensamento crítico de
profissionais da educação, de famílias, de comunidades escolares e de estudantes e contra
organizações e grupos fascistas como ‘Escola Sem Partido’ e suas correlatas ‘Leis da Mordaça”;
11. contra os cortes orçamentários, os contigenciamentos, os bloqueios e o sucateamento das
Universidades e Institutos Federais e contra quaisquer ataques do poder político e do poder judiciário
em relação à Autonomia Universitária;
12. contra a ‘Base Nacional Comum Curricular’ que exclui temas sociais importantes (como a
discussão de gênero e identidade de gênero), homogeniza e engessa o currículo e, ademais, não
considerou a opinião de profissionais da educação, de famílias, de comunidades escolares e de
estudantes;
13. contra a ‘Reforma do Ensino Médio’, em curso, viabilizadas pela Lei nº 13.415/16 e Portaria
MEC nº 727/17, que dificulta o acesso e a permanência de estudantes, torna tecnicista o ensino
público, desvaloriza os/as profissionais da educação e promove o avanço privatista sobre a educação
básica, além de atentar contra a soberania nacional, ao submeter questões estratégicas como
formação docente e currículos à ingerência do Banco Mundial e do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID);
14. contra a aprovação de Diretrizes Curriculares do Ensino Médio, apresentadas pelo governo do
Golpe, que determinem a oferta de 40% na carga horária do Ensino Médio e 100% da carga horária
da Educação de Jovens e Adultos à distância, bem como que contabilizem as horas de cursos de
qualificação profissional e de tempo de trabalho voluntário na carga horária do Ensino Médio e suas
modalidades;
15. contra a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista, a Terceirização e todos os ataques
aos direitos trabalhistas;
16. pelo fortalecimento dos cursos de formação de professores nas instituições/Universidades
Públicas, com garantia da autonomia para a elaboração de seus projetos formativos, reafirmando a
necessidade de implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível
superior e para a formação continuada (Resolução CNE CP 02/15);
17. pela continuidade, ampliação e fortalecimento de todas as ações e políticas anteriores a 2016
que digam respeito às especificidades da educação do e no campo, educação quilombola, educação
especial em uma perspectiva inclusiva, educação indígena, educação de pessoas em situação de
itinerância, educação de jovens, adultos e idosos, educação de pessoas LGBTI e educação nas prisões,
com políticas afirmativas que elevem a condição cidadã destes brasileiros e brasileiras
historicamente marginalizados e impedidos de exercer seu direito constitucional à educação;
18. pelo fim da interferência do Ministério da Educação no Fórum Nacional de Educação, com a
reconstituição de sua composição original;
19. Pela realização da Conape 2022.
Resistir e avançar por uma educação democrática, pública, universal, laica, inclusiva, gratuita,
democrática, de qualidade social, como direito do/a cidadão/ã e dever do Estado: esse é o
compromisso de todas as entidades e de todos/as delegado/as e participantes que organizaram a
CONAPE!
Belo Horizonte - MG, 26 de maio de 2018.
DELEGADOS E DELEGADAS DA CONAPE2018LULALIVRE!
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