sábado, 28 de abril de 2018

50 ANOS DA PEDAGOGIA DO OPRIMIDO



II Congresso Internacional Paulo Freire: o legado global




Tem início hoje, dia 28 de abril de 2018, a partir das 13:00 horas, com credenciamento dos participantes, o II Congresso Internacional Paulo Freire: o legado global. O evento acontece de hoje, sábado (28.04.2018) a terça-feira, 1º de maio no Centro de Atividades Acadêmicas I (CAD 1), da Universidade Federal de Minas Gerais.
O Congresso é promovido pela Faculdade de Educação (FaE) da UFMG e conta com um comitê internacional, do qual figuram importantes nomes da educação mundial. Esta segunda edição do Congresso, em Belo Horizonte está sob a responsabilidade do professor da FaE, Júlio Emílio Diniz-Pereira.
Segundo o professor Júlio Emílio, "O I Congresso Internacional Paulo Freire: O Legado Global (International Conference Paulo Freire: The Global Legacy) foi realizado em Kirikiriroa (ou Hamilton, nome dado pelos colonizadores europeus), na Nova Zelândia, em 2012. E a intenção de realização deste II Congresso Internacional Paulo Freire: O Legado Global (2nd International Conference Paulo Freire: The Global Legacy) é dar continuidade a essa brilhante iniciativa das/dos colegas neozelandesas/es para que o evento volte a ser realizado nos próximos anos e em diferentes partes do mundo".
A conferência de abertura Paulo Freire: um outro paradigma para o pensamento pedagógico, será proferida por Miguel González Arroyo, professor emérito da UFMG.
Este é um evento de abrangência mundial sobre o Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire, sua obra e o legado que ela deixou para o mundo e dentre os seus objetivos destacam-se:
- Propiciar a apresentação e a discussão de trabalhos acadêmicos que analisem a obra de Paulo Freire ou que usem conceitos freireanos como principal referencial de análise de pesquisas empíricas e/ou de ensaios teóricos;
- Oportunizar a apresentação e a discussão de relatos de experiências baseadas, inspiradas e/ou influenciadas pelo pensamento freireano;
- Fomentar trocas de experiências entre educadoras/es críticas/os de todo o mundo, buscando alternativas progressistas para problemas das práticas pedagógicas.
O II Congresso Internacional Paulo Freire: o legado global conta com uma vasta programação: apresentações artísticas, Teatro, Cinema, Feira de economia solidária, Diálogos, Oficinas e Mini-cursos, Rodas de Conversa e Mesas Redondas com vários temas. Inclusive, em uma dessas mesas redondas, mais especificamente na mesa coordenada pela professora Débora Miranda, cujo tema é "Percursos investigativos na pesquisa em educação", este blogueiro estará participando com o trabalho Narrativa de percurso de um doutorando: da ideia inicial à defesa da tese – Eugênio Magno Martins de Oliveira (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil).
No encerramento do Congresso haverá o lançamento do  documentário de média-metragem Ocupa FaE e a conferência de encerramento à cargo da professora titular da UFMG, Nilma Lino Lopes que tem como título Por uma pedagogia da indignação e da resistência.
Para acessar a programa completa clique aqui.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

NOSSA ECONOMIA VAI DE MAL A PIOR


O silêncio da mídia ante o crescimento da dívida pública sob Temer

Foto: Wikimedia Commons

O crescimento da dívida pública no mandato da presidenta Dilma democraticamente eleita foi apresentado como grande catástrofe para o Brasil, capaz de justificar – à luz dos interesses dos rentistas – o golpe político que permitiu a ascensão do governo Temer. Entre dezembro de 2010 e maio de 2016, último mês do governo Dilma, a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público passou de 38% para 39,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o que revelou aumento acumulado em 65 meses de 3,2% (ou 0,05% ao mês).
Com a entrada da equipe econômica de Temer, aquela dos “sonhos do mercado financeiro”, o receituário neoliberal ganhou força, sem que a “desordem das finanças públicas” fosse contida. Pelo contrário, a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público saltou de 39,2%, em maio de 2016, para 52% do PIB em fevereiro de 2018, isto é, a elevação de 32,6% acumulados em 21 meses (ou 1,4% ao mês).
Mesmo com a Dívida Líquida Consolidada do Setor Público sob o receituário neoliberal aplicado pelo governo Temer tendo sito multiplicado por 28 vezes mais rapidamente que no mandato de Dilma, o tema praticamente desapareceu do noticiário nacional. Interessante observar ainda o “esquecimento” da mídia e dos comentaristas e analistas neoliberais do fato de o Brasil caminhar rapidamente para a 12ª maior dívida pública do planeta, detendo uma das mais elevadas taxas juros reais do mundo e assumindo a quarta posição internacional de maior gasto com o pagamento de juros da dívida pública em relação ao PIB.
De acordo com estudo do CEPR (Center for Economic and Policy Research) em 183 países, o Brasil somente registra comprometimento com despesas com a dívida pública menor que o Iêmen (8,36%), a Gâmbia (8,81%) e o Líbano (9,15% do PIB). Em síntese, nações que se encontram submetidas a conflitos internos e que apontam risco de não pagamento dos compromissos financeiros, bem diferente da situação brasileira.
O silêncio e a condescendência da mídia e dos analistas econômicos para a má gestão da dívida pública no Brasil se explica basicamente pela condição dos próprios interesses rentistas serem direta e indiretamente beneficiados através da captura de parcela significativa dos recursos públicos. Pela implantação do receituário neoliberal, o governo Temer protege o pagamento dos juros aos detentores privados da dívida pública, impondo simultaneamente o desembarque dos pobres das políticas públicas, o desmonte das áreas sociais (saúde, habitação, educação, assistência e outras), da infraestrutura (estradas, portos, aeroportos e outras) e dos investimentos na economia.
Para continuar lendo o texto de Marcio Pochmann, para o Diário do Centro do Mundo, clique aqui.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

TODO DIA É DIA DO ÍNDIO

Dia do Índio: amazonense que fez vaquinha para estudar conta trajetória até UnB


Foto: Marília Marques/G1

Primeira indígena do povo Paumari – aldeia no sul do Amazonas – a entrar em uma universidade, a estudante de direito Ingrid Rodrigues, de 20 anos, tem sonhos ainda mais altos: ser a primeira indígena do país a se tornar juíza.
Cursando o primeiro semestre na Universidade de Brasília (UnB), a jovem contou com o apoio de uma vaquinha na internet para juntar o dinheiro e, então, pegar dois voos do Norte do país até Brasília. Não fosse a ajuda da rede de amigos, a opção seria encarar seis dias de barco pelo rio Purus até Manaus e, de lá, mais três horas de viagem aérea até a capital do país.
Na primeira viagem para fora de Lábrea – cidade amazonense com 38 mil habitantes –, e sem conhecer ninguém na região central do país, Ingrid diz ter trazido na mala um misto de vontade, sonhos e incertezas. Parte da aventura, ela contou ao G1 na semana marcada pelo Dia do Índio (19 de abril), em matéria de Marília Marques que você pode ver e ler na íntegra, clicando aqui.

domingo, 15 de abril de 2018

CORRIDA ELEITORAL 2018

Mesmo preso, Lula continua no centro do tabuleiro eleitoral: lidera em todos os cenários


Foto: Ricardo Stuckert

O ex-presidente Lula, mesmo cumprindo pena, derrota qualquer adversário nos cenários de segundo turno propostos pelo Datafolha na pesquisa divulgada neste domingo, 15: 59% contra 41% de Marina, 64% x 34% de Geraldo Alckmin e 61% x 39% de Jair Bolsonaro.
Isso ajuda a explicar os fogos e os buzinaços da noite da prisão de Lula, no sábado, 7 de abril: os adversários políticos dele se beneficiam enormemente de uma eventual retirada da candidatura do ex-presidente, que o PT pretende registrar em agosto.
Também é por isso que a direita trata de naturalizar o fim da carreira política de Lula.
Embora a leitura da Folha é de que o apoio a Lula tenha enfraquecido — num cenário de primeiro turno, caiu de até 37% para 31% –, o fato é que muitos eleitores já consideram o ex-presidente carta fora do baralho e exercem outras escolhas, o que é absolutamente natural.
Isso não significa que Lula perderia os votos, se de fato concorrer.
Está aí justamente o nó da questão e o maior desafio diante do PT: com a extensão da prisão de Lula, que pode permanecer encarcerado durante alguns anos, impedido de contato com eleitores, como mantê-lo ativo através de intermediários no cenário eleitoral?
De olho nisso, os conservadores tentam isolar o ex-presidente completamente, impedindo-o de receber visitas de políticos e atacando o acampamento que mantém o foco dos militantes em Curitiba — e no próprio Lula.
No cenário em que Lula aparece como candidato em primeiro turno, ele tem 31%, contra 15% de Bolsonaro, 10% de Marina Silva e 8% de Joaquim Barbosa, 6% de Geraldo Alckmin e 5% de Ciro Gomes.
Sem Lula, Bolsonaro lidera com 17%, Marina tem 15%, Ciro Gomes e Joaquim Barbosa aparecem com 9%.
Os dados indicam que Lula é capaz de transferir até 2/3 de seus votos, o que continua sendo suficiente para levar um candidato indicado por ele ao segundo turno — algo crucial numa eleição tão pulverizada.
Hoje, pelos números, o mais factível seria o pedetista Ciro Gomes.
Os candidatos Fernando Haddad, Jacques Wagner, Manuela DÁvila e Guilherme Boulos ainda aparecem dentro da margem de erro da pesquisa, que é de 2% para mais ou para menos.
A maior surpresa da pesquisa é o considerável apoio ao ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, que ainda não confirmou sua candidatura pelo PSB.
Para complicar ainda mais o cenário dos tucanos, ele cresce tirando votos de Geraldo Alckmin.
Apesar da prisão, a eleição de 2018 continua tendo o ex-presidente Lula no centro do tabuleiro. E desenha um cenário devastador para os tucanos, promotores de primeira hora do golpe de 2016.
Também demonstra que a especulada chapa Joaquim Barbosa-Marina teria futuro, por juntar o apelo da luta contra a corrupção com o dos que saíram de baixo e ascenderam socialmente.
(Fonte: Site Vi O mundo)

terça-feira, 10 de abril de 2018

PROTESTOS PRÓ-LULA NO MUNDO


Manifestações contra prisão política de Lula 

acontecem em vários países



Assim que o ex-presidente Lula anunciou no último sábado (7) que havia decidido cumprir a determinação de prisão dada pela primeira instância da Justiça do Paraná, atos de desagravo ao julgamento político da maior liderança de esquerda viva da América Latina, condenada sem provas, em São Bernardo do Campo, começaram a surgir em vários países.
O secretário nacional de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, disse que a central já recebeu dezenas de manifestações de apoio por meio de vídeos, cartas e mensagens. Segundo ele, está sendo organizado um dia global de atividades nas Embaixadas do Brasil, que deve acontecer concomitantemente no mundo inteiro. A data deverá ser marcada ao longo da semana devido ao fuso horário de cada país. Lisboa disse que o número de apoio já é impressionante.
“De imediato existe essa proposta da Confederação Sindical Internacional (CSI) de fazer um dia de ação global pela liberdade de Lula, ao mesmo tempo em que muitas pessoas estão querendo vir ao Brasil prestar irrestrito apoio e solidariedade ao nosso ex-presidente porque sabem que Lula é inocente e está sofrendo perseguição política”, destacou Lisboa.
A representante do Colectivo México-Brasil contra El golpe, Márcia Sarquis, disse com exclusividade ao Portal da CUT que esse golpe não é só contra o Lula, mas contra os avanços da América Latina e todas as conquistas que os governos progressistas estavam conseguindo. Segundo a produtora, que mora há cinco anos na Cidade do México, Lula é um dos principais líderes ainda vivo e por isso está sofrendo na pele essa fúria do capitalismo.
Para continuar lendo a matéria de Luciana Waclawovsky, especial para a CUT, clique aqui.
(Fonte: Site CartaMaior)

quinta-feira, 5 de abril de 2018

VOTO DE MINERVA DE CÁRMEN LÚCIA DEIXA LULA A UM PASSO DA PRISÃO


Supremo nega habeas corpus e deixa Lula à beira da prisão

Foto:  Lula Marques / Líder do PT na Câmara

O Supremo Tribunal Federal (STF) negou ontem o habeas corpus solicitado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e deixou o maior líder político da atual era democrática à beira da prisão. Com a decisão, Lula poderá ser detido para o cumprimento antecipado da pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro assim que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) concluir a análise do último recurso do petista.
Ainda que a grande expectativa no julgamento de ontem se desse em torno do voto da ministra Rosa Weber, foi a decisão de Cármen Lúcia, ao escolher como pautaria o tema, que determinou os rumos do debate que deixou o petista mais próximo da prisão.
Quinta a votar, Rosa Weber rejeitou o pedido de Lula deixando claro que o fazia por respeito ao princípio da colegialidade. Trocando em miúdos, explicou que autorizava a prisão após uma decisão final em segunda instância, ainda que discordasse da tese, pois a jurisprudência da Corte, desde 2016, assim o determina.
A ministra destacou em seu voto que, se estivesse em debate uma das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) que poderiam rediscutir a prisão em segunda instância, votaria de forma diversa.
Tal declaração, vinda da ministra que virtualmente desempataria o caso, reforçou o entendimento de que a estratégia da presidente do STF, que resistia em pautar uma ação tendente a desmoralizar a Corte, acabou se tornando bem sucedida. Ao pautar o habeas corpus, e não uma das ADCs, Cármen Lúcia forçou Rosa Weber a se dobrar mais uma vez à antiga maioria da Corte.
Embora a posição favorável à prisão em segunda instância já não represente mais o sentimento da maioria dos ministros do Supremo desde que Gilmar Mendes anunciou que alterou seu entendimento sobre o tema, formalmente, como essa discussão não foi feita, todos os ministros do STF continuam vinculados à regra definida em 2016.
Para ler na íntegra a matéria de Ricardo Correa, para o jornal O Tempo, de 05.04.2018, clique aqui.

domingo, 1 de abril de 2018

NÃO EXISTE PÁSCOA E RESSURREIÇÃO SEM MORTE DE CRUZ E MARTÍRIO


Jesus não morreu pelos “nossos pecados” 
e sim por enfrentar o sistema

Cruz (detalhe), Igreja do Espírito Santo e de S. Alessandro Mártir, Arquidiocese de Portoviejo, Equador / Arcabas 
(Jean-Marie Pirot)


Alberto Maggi

Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados. Essa é a resposta que normalmente se dá para aqueles que perguntam por que o Filho de Deus terminou seus dias na forma mais infame para um judeu, o patíbulo da cruz, a morte dos amaldiçoados por Deus (Gl 3,13).
Jesus morreu pelos nossos pecados. Não só pelos nossos, mas também por aqueles homens e mulheres que viveram antes dele e, portanto, não o conheceram e, enfim, por toda a humanidade vindoura. Sendo assim, é inevitável que olhando para o crucifixo, com aquele corpo que foi torturado, ferido, riscado de correntes e coágulos de sangue expostos, aqueles pregos que perfuram a carne, aqueles espinhos presos na cabeça de Jesus, qualquer um se sinta culpado … o Filho de Deus acabou no patíbulo pelos nossos pecados! Corre-se o risco de sentimentos de culpa infiltrarem-se como um tóxico nas profundezas da psiquê humana, tornando-se irreversíveis, a ponto de condicionar permanentemente a existência do indivíduo, como bem sabem psicólogos e psiquiatras, que não param de atender pessoas religiosas devastadas por medos e distúrbios.
No entanto, basta ler os Evangelhos para ver que as coisas são diferentes. Jesus foi assassinado pelos interesses da casta sacerdotal no poder, aterrorizada pelo medo de perder o domínio sobre o povo e, sobretudo, de ver desaparecer a riqueza acumulada às custas da fé das pessoas.
A morte de Jesus não se deve apenas a um problema teológico, mas econômico. O Cristo não era um perigo para a teologia (no judaísmo havia muitas correntes espirituais que competiam entre si, mas que eram toleradas pelas autoridades), mas para a economia. O crime pelo qual Jesus foi eliminado foi ter apresentado um Deus completamente diferente daquele imposto pelos líderes religiosos, um Pai que nunca pede a seus filhos, mas que sempre dá.
A próspera economia do templo de Jerusalém, que o tornava o banco mais forte em todo o Oriente Médio, era sustentada pelos impostos, ofertas e, acima de tudo, pelos rituais para obter, mediante pagamento, o perdão de Deus. Era todo um comércio de animais, de peles, de ofertas em dinheiro, frutos, grãos, tudo para a “honra de Deus” e os bolsos dos sacerdotes, nunca saturados: “cães vorazes: desconhecem a saciedade; são pastores sem entendimento; todos seguem seu próprio caminho, cada um procura vantagem própria” (Is 56, 11).
Quando os escribas, a mais alta autoridade teológica no país, considerando o ensinamento infalível da Lei, vêem Jesus perdoar os pecados a um paralítico, imediatamente sentenciam: “Este homem está blasfemando!” (Mt 9,3). E os blasfemos devem ser mortos imediatamente (Lv 24,11-14). A indignação dos escribas pode parecer uma defesa da ortodoxia, mas na verdade, visa salvaguardar a economia. Para receber o perdão dos pecados, de fato, o pecador tinha que ir ao templo e oferecer aquilo que o tarifário das culpas prescrevia, de acordo com a categoria do pecado, listando detalhadamente quantas cabras, galinhas, pombos ou outras coisas se deveria oferecer em reparação pela ofensa ao Senhor. E Jesus, pelo contrário, perdoa gratuitamente, sem convidar o perdoado a subir ao templo para levar a sua oferta.
“Perdoai e sereis perdoados” (Lc 6,37) é, de fato, o chocante anúncio de Jesus: apenas duas palavras que, no entanto, ameaçaram desestabilizar toda a economia de Jerusalém. Para obter o perdão de Deus, não havia mais necessidade de ir ao templo levando ofertas, nem de submeter-se a ritos de purificação, nada disso. Não, bastava perdoar para ser imediatamente perdoado…
O alarme cresceu, os sumos sacerdotes e escribas, os fariseus e saduceus ficaram todos inquietos, sentiram o chão afundar sob seus pés, até que, em uma reunião dramática do Sinédrio, o mais alto órgão jurídico do país, o sumo sacerdote Caifás tomou a decisão. “Jesus deve ser morto”, e não apenas ele, mas também todos os discípulos porque não era perigoso apenas o Nazareno, mas a sua doutrina, e enquanto houvesse apenas um seguidor capaz de propagá-la, as autoridades não dormiriram tranquilas (“Se deixarmos ele continuar, todos acreditarão nele … “, Jo 11,48). Para convencer o Sinédrio da urgência de eliminar Jesus, Caifás não se referiu a temas teológicos, espirituais; não, o sumo sacerdote conhecia bem os seus, então brutalmente pôs em jogo o que mais estava em seu coração, o interesse: “Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?” (Jo 11,50).
Jesus não morreu pelos nossos pecados, e muito menos por ser essa a vontade de Deus, mas pela ganância da instituição religiosa, capaz de eliminar qualquer um que interfira em seus interesses, até mesmo o Filho de Deus: “Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança” (Mt 21,38). O verdadeiro inimigo de Deus não é o pecado, que o Senhor em sua misericórdia sempre consegue apagar, mas o interesse, a conveniência e a cobiça que tornam os homens completamente refratários à ação divina.

* Alberto Maggi, biblista italiano, frade da Ordem dos Servos de Maria, estudou nas Pontíficias Faculdades Teológicas Marianum e Gregoriana de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversos livros, como A loucura de Deus: o Cristo de João, Nossa Senhora dos heréticos

* Francisco Cornélio, sacerdote e biblista brasileiro, é professor no curso de Teologia da Faculdade Diocesana de Mossoró (RN). Fez seu bacharelado no Ateneo Pontificio Regina Apostolorum, em Roma. Atualmente, está em Roma novamente, para o doutorado no Angelicum (Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino), onde fez seu mestrado

Edição e Tradução: Francisco Cornélio
(Fonte: Site Brasil de Fato, 31.03.2018)