Formação Docente na UFMG: história e memória
Luciano Mendes de Faria Filho
João Valdir Alves de Souza
Nelma Marçal Lacerda Fonseca
Esta publicação é resultado do projeto integrado de pesquisa “Formação de Professores para a Educação Básica na Universidade Federal Minas Gerais: história, memória e modelos atuais”, financiando pela FAPEMIG e pelo CNPq. O objetivo central foi investigar o processo pelo qual a UFMG se constituiu como instituição formadora de professores para a educação básica, bem como os modelos de formação debatidos, elaborados e operacionalizados pela instituição ao longo de sua história.
O vetor para a elaboração do projeto foi a inquietação acadêmica sobre as graves questões existentes no campo da educação básica brasileira, tomando como variável importante de investigação e intervenção aquela que toca diretamente à universidade em sua relação com a escola básica: a formação inicial de professores. Há na atualidade o consenso de que tanto essa formação quanto o nível básico de ensino no Brasil estão muito aquém do desejado pelas famílias, do merecido pelos alunos e do necessário à consolidação do processo de desenvolvimento sustentável nos dias que correm, de modo a forjar o país que se quer democrático e responsável pela educação de cidadãos preparados para atuarem no mundo moderno globalizado. Nesse sentido, o projeto que está na origem deste livro buscou compreender também os elementos que devem estar presentes na (re) organização dos cursos de licenciatura, responsáveis pela formação de professores na atualidade, condizentes com a necessidade de elevação da qualidade da escola pública no Brasil.
O projeto foi integrado por subprojetos delimitados em temas e marcos temporais significativos na trajetória da formação de professores na UFMG de modo a favorecer uma análise longitudinal dada a abrangência do tema. Procedeu-se a uma ampla investigação desde os primórdios da Universidade de Minas Gerais (UMG/1927), com ênfase na criação da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais, em Belo Horizonte (1939), sua incorporação à UMG (1948), até a federalização desta em 1949. Outro marco temporal importante foi referente ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais, seus currículos e programas, as sucessivas legislações que lhe ditaram novas estruturas. A Reforma Universitária de 1968, os movimentos sociais e políticos que a antecederam, sua implantação na UFMG no período da ditadura civil-militar, a extinção da Faculdade de Filosofia, a criação da Faculdade de Educação (FaE/UFMG) e sua nova estrutura foram amplamente pesquisados. O Curso de Pedagogia na FaE, a questão das licenciaturas e suas configurações modeladas pelas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) foram alvo de profundas análises dos processos históricos de formação docente.
O desenvolvimento do projeto teve como sede o Centro de Memória e Documentação (CEDOC) da FaE/UFMG, que fez parte de um intenso movimento para transformá-lo no Centro de Pesquisa, Memória e Documentação em seu sentido pleno. Foram constituídas duas equipes formadas por historiadores da educação, professores da FaE e de outras Escolas da UFMG, graduandos e bolsistas em duas frentes de ação. Uma equipe se responsabilizou pela pesquisa a partir do extenso levantamento bibliográfico, busca em arquivos da UFMG e de outras instituições, seleção de documentos e realização de sessões de conversas gravadas em áudio com professores aposentados da UFMG, atuantes em períodos diversos da história da universidade. Outra equipe cuidou do acervo do CEDOC, sua reorganização com base nos preceitos da arquivologia, seu novo arranjo, tratamento e armazenamento. Essa equipe realizou um magnífico trabalho, não apenas higienizando e reorganizando todos os fundos pessoais e coleções que constituem o acervo, mas também realizando várias exposições temáticas e seminários de discussão da especificidade dos acervos acadêmico-científicos. Parte desse trabalho foi publicado no livro Universidade, memória e patrimônio, organizado pelos professores da UFMG, Andrea Moreno e Adalson Nascimento (Editora Mazza, 2015).
Importante registrar que a pesquisa significou uma tarefa de fôlego para a equipe por ser uma história institucional de grande monta, envolvendo volume enorme de documentos, registros de fatos e eventos com informações muitas vezes controversas, o que promoveu entre nós uma instigante busca pelo entendimento do que veio sendo agregado durante esses 4 anos de trabalho. Nesse período, consolidamos a ideia da grande relevância histórica, acadêmica e político-pedagógica da UFMG que, em setembro de 2017, completará 90 anos, uma instituição não só testemunha da passagem de quase um século, mas protagonista nas profundas mudanças sociais e políticas ocorridas em Minas Gerais e no Brasil.
* Esse texto foi publicado como Introdução ao livro.
(Fonte: Pensar a Educação em Pauta)