México e Brasil 2018: a vitória da alegria
e a tristeza dos ressentidos
Luciano Mendes de Faria Filho
Professor da Faculdade de Educação (FaE/UFMG) e
Coordenador do Projeto Pensar a Educação, pensar o Brasil
Tenho comentado com amig@s e colegas o quanto o México e o Brasil se parecem, tanto em suas qualidades quanto em seus defeitos. Em ambos os países a violência grassa, as desigualdades são imensas*, a presença do narcotráfico é ostensiva em várias regiões do país, a corrupção é enorme, a religiosidade é profunda, a alegria é contagiante, as belezas são imensas, as diversidades estão presentes em todas as partes, etc, etc, etc.
No entanto, hoje, 1o. de dezembro de 2018, Brasil e México, são países muitos diferentes. No México, no dia de hoje, dia da posse do Presidente Andrés Manuel Lopes Obrador, as ruas da capital do país estavam coloridas de rostos felizes e em festa. É grande a expectativa de que seja o início de um novo tempo para o país. E para melhor!
Não se trata apenas da vitória e, hoje, da posse de um governo de “esquerda” depois de décadas de domínio do PRI ou, eventualmente, muito eventualmente, do PAM. Trata-se um enorme voto de confiança no novo Presidente para enfrentar os grandes problemas do país. Algo que é compartilhado por boa parte da população, das crianças e jovens aos/às idos@s. Ao meu lado, na praça central da cidade do México, um homem gritava que, diferentemente dos putos presidentes anteriores, ele reconhecia a Lopes Obrador como seu “chefe”.
Na
festa cívica na praça pública enquanto a multidão esperava a presença do Presidente, houve apresentação cultural de todos os estados da República. Neste momento a festa era dirigida por vári@s “apresentador@s”, uma das quais sempre falava “todos, todas e todxs”.
Quando o Presidente chegou à praça, quem tomou o comando da festa foram @s lideranças dos povos originários. Foi uma linda cerimônia em que 68 povos originários e representantes afromexicanos entregaram o Bastão de Mando a Lopes Obrador, uma cerimônia que não ocorrida há muito tempo. Foi uma grande reverência à ancestralidade e às suas crenças e modos de vida.
Num certo momento, muito emocionada, uma liderança, de joelho, tentava fazer um discurso, ao mesmo tempo em que tentava entregar um presente para o Presidente. Vendo a emoção da pessoa, Lopes Obrador se ajoelhou na frente dela e recebeu o que ela queria lhe entregar.
Esse gesto do Presidente Mexicano é parte do imenso contraste que existe hoje entre nossos países. No caso brasileiro, o Presidente eleito e sua “família”
batem continência para os “americanos” e espezinham os povos originários. E isto é apenas uma das inúmeras mostras de como, no Brasil, a vitória dos ressentidos e do ressentimento joga o Brasil numa tristeza profunda e num cada vez mais profundo abismo.
Os ressentidos ganharam roubando, mentindo, enganando e querendo, é claro, se vingar. Por isso também não há alegria, nunca houve, na campanha e na vitória de Bolsonaro. E nisso também e, talvez, sobretudo, há um profundo contraste com a vitória “morenista” no México”.
Certamente Lopes Obrador terá grandes dificuldades de cumprir o que prometeu na campanha, e que foi reafirmado nos discursos de hoje. Os seus adversários, os adversários da democracia e de um país menos violento e menos desigual são muitos. Os problemas estruturais, imensos. No entanto, na dia de hoje, e oxalá isso se repita nos dias, meses e anos vindouros, boa parte da população mexicana acompanhou com muita alegra e positiva expectativa a posso de seu novo presidente. Duvido muito que isso venha ocorrer, no Brasil, no dia 01 de janeiro!
* Também no México, como no Brasil, as desigualdades têm cor: uma coisa que notei, na praça, é que havia uma nítida diferença entre a cor da pele das poucas pessoas que estavam sentadas no espaço reservados aos/às convidad@s – branc@s, quase tod@s – e a imensa maioria que estava de pé.
(Fonte: Boletim Pensar a Educação, Pensar o Brasil)