domingo, 25 de outubro de 2020

CONHECIMENTO DEMOCRATIZADO NA INTERNET

   Jessé Souza                                    Eduardo Moreira                                  Leonardo Boff


Nessa segunda quinzena de outubro surgiu no país um empreendimento educacional, de iniciativa privada, que se apresenta como um projeto de alcance social. Me refiro ao nascimento do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), uma iniciativa do empresário do ramo financeiro, Eduardo Moreira que, recém convertido ao espectro político progressista, vem fazendo uma grande cruzada no campo da educação econômica popular, que agora se estende também para outros eixos, visando uma formação mais completa e multidisciplinar da população.


       Heloisa Villela                               Katia Maia

Rafael Donatiello

A partir da formação de um conselho Curador integrado por Leonardo Boff (filósofo e teólogo), Rafael Donatiello (Especialista em Marketing Digital), Heloisa Villela (Jornalista), Frei David (Diretor da Educafro), Ligia Caetano (Especialista em Educação online), Katia Maia (Diretora da Oxfam Brasil), João Paulo Pacifico (Fundador do Grupo Gaia) e Jessé Souza (Sociólogo e pesquisador), além do próprio Eduardo Moreira que é Engenheiro de formação, com especialização na área econômica e empresário, o projeto se consolidou. O conselho definiu a missão do Instituto e estará orientando sua direção rumo a uma Educação Libertadora.


    Frei David                                           Ligia Caetano                                    João Paulo Pacifico

O ICL tem como missão mostrar que não existem barreiras quando há vontade de pensar e aprender. O seu propósito é mostrar o caminho para que as pessoas se libertem pelo conhecimento.
Os três pilares com os quais o Instituto Conhecimento Liberta trabalha são o Cultural, o Espiritual e o Profissional.
Os cursos iniciais e os seus respectivos professores são os seguintes: Filosofia - Suze Piza, História do Brasil - Lindener Pareto, Sociologia - Jessé Souza, Meditação e Mindfulness - Marco Schultz, História da Música - Ribeiro DiCastro, Excel - Arlane Gonçalves, Educação Financeira - Eduardo Moreira, Marketing Digital - Rafael Donatiello, Inglês - Vera Freitas, Chinês (Mandarim) - Vitória Zhang, História do cinema brasileiro - Adilson Inácio Mendes, Programação e Algoritmos - Geneflides Laureno, Mediação de conflitos - Pastor Henrique Vieira. No ICL os alunos têm acesso a mais de 100 horas de cursos, ao vivo e gravadas.
Os idealizadores desse Instituto de educação e cultura acreditam que a verdadeira liberdade só pode ser alcançada pelo conhecimento. Buscam democratizar os conteúdos essenciais ao desenvolvimento humano integral, tornando-os simples e acessíveis a todos.
Diferentemente de quase tudo que existe no mundo digital, o ICL oferece uma multiplicidade de cursos que podem ser acessados, simultaneamente, e por toda a família, por uma mensalidade que está abaixo de R$50,00. Existem ainda outros planos de pagamento em que com um acréscimo de 20% no valor dessa mensalidade o interessado contribui com uma bolsa integral para as entidades parceiras do Instituto fornecerem bolsas integrais para pessoas carentes.
Interessados em conhecer melhor o Instituo Conhecimento Liberta (ICL), poderão fazê-lo, clicando aqui.

Todas as imagens são do site do Instituto Conhecimento Liberta (ICL).

terça-feira, 20 de outubro de 2020

SOS SAÚDE! TODO CUIDADO É POUCO

(Foto: Reuters/Adriano Machado)


Mesmo em queda, mortes por covid-19 no Brasil 
ainda superam 2ª onda na Europa


O número de mortes por covid-19 no Brasil tem caído há semanas, mas em outubro ainda morrem mais pessoas neste país sul-americano de 212 milhões de habitantes do que na União Europeia, que tem 447 milhões de habitantes, conta com uma população mais velha e enfrenta uma segunda onda da pandemia.
Considerado os dados dos países da União Europeia, do Brasil e do Reino Unido, um levantamento do Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC) aponta que o Brasil é o terceiro com o maior número de mortes por 100 mil habitantes nas últimas duas semanas.
O primeiro é a República Tcheca, com uma taxa de 6,53 por 100 mil habitantes. Em seguida aparecem a Romênia (4,76) e o Brasil (3,58).

Para continuar lendo a matéria da BBC News Brasil, clique aqui.

(Fonte: BBC News Brasil)

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

QUEDA DE BRAÇO COM A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

 

(Imagem reproduzida do site Outras Palavras)


A batalha contra as patentes farmacêuticas chega à OMC

Índia e África do Sul pedem o óbvio: a Ciência necessária para lutar contra a pandemia deve ser propriedade Comum da humanidade. Mas as corporações farmacêuticas e os países ricos resistem. Brasil prepara-se para a omissão

Começou hoje a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) que vai debater a proposta de Índia e África do Sul sobre a quebra temporária das patentes de todas as tecnologias de saúde necessárias ao enfrentamento da pandemia. A ideia será debatida no Conselho TRIPS – sigla para o acordo que protege patentes no comércio internacional, mas prevê exceções em casos específicos. 

As chamadas “flexibilidades do TRIPS” foram introduzidas em 2001, na esteira de um debate sobre outra grande crise de saúde pública: a epidemia de HIV-Aids. Na época, o Brasil se uniu a outros países para defender mudanças que permitiram a fabricação e importação de medicamentos genéricos ou biossimilares – algo que, inclusive, se tornaria a principal marca do governo Fernando Henrique Cardoso na saúde, sob o comando de José Serra. 

O princípio que rege o debate hoje é o mesmo de 20 anos atrás: durante emergências, deve prevalecer a proteção da saúde da população. Em outras palavras, a vida deve prevalecer sobre o lucro; e a soberania dos Estados sobre os interesses privados – até porque a restrição do acesso a vacinas, por exemplo, terá efeitos também sobre a economia, aprofundando ainda mais as desigualdades entre nações ricas e pobres.

“A maioria dos países ainda adere às regras globais de patentes e faz uso das ‘flexibilidades do TRIPS’ muito criteriosamente porque pode enfrentar reivindicações na OMC – ou outros tipos de pressão e represália de países que sediam as empresas farmacêuticas que detêm as patentes originais. Como resultado, a OMC continua a controlar quando e em que medida as proteções de propriedade intelectual são aplicadas, ou negligenciadas”, resume uma excelente reportagem do site Health Policy Watch, situando a importância da reunião que vai até amanhã.

Para continuar lendo a matéria de Maíra Mathias e Raquel Torres para o site Outras Palavras, clique aqui.

domingo, 11 de outubro de 2020

"A MELHOR IDADE DA VIDA É ESTAR VIVO" (MAFALDA)

Quino dá adeus, mas lição de Mafalda fica*  


Diogo Martins**  
Jornalista, assessor de comunicação 
e analista de marketing 
MTb 17.883-MG 

A nossa esperança é que as críticas e utopias da pequena rebelde se faça sempre presente 

Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, foi um cartunista e humorista argentino, autor das famosas tiras da personagem Mafalda, uma menina inteligente e contestadora que ganhou grande repercussão no cenário mundial. O desenhista argentino tinha um olhar crítico e politizado de uma sociedade que não mudou. O sonho utópico de uma criança. 
Quino nasceu em 17 de julho de 1932 e faleceu em 30 de setembro passado (2020), aos 88 anos. Um dia após sua principal personagem completar 56 anos. 
A emblemática e, talvez, principal personagem do argentino, Mafalda, foi desenvolvida para uma peça publicitária para divulgar os eletrodomésticos Mansfield. Mas a campanha nunca saiu e Mafalda, ficou guardada até convite para a publicação no Primeira Plana, jornal em papel argentino. Foi a primeira aparição da pequena que habita em nosso consciente. 

Quem é Mafalda? 
Quino afirmara diversas vezes que havia decidido por uma protagonista que deveria ser mulher, devido à influência do movimento de emancipação feminina dos anos 60 e porque, segundo ele, “as mulheres são mais espertas”. Assim nasceu Mafalda, rebelde, jovem e ansiosa por um mundo melhor. 
A garota discutia em suas tirinhas ideias progressistas, por isso nunca desceu bem para alguns setores da sociedade. Na Espanha, a censura da ditadura franquista (que durou de 1936 a 1975) obrigou editores a colocarem um aviso na capa dos livros, no qual dizia que se tratava de obra “Para Adultos”. 
Mafalda também encontrou barreiras durante governos autoritários do Brasil, Chile e Bolívia. “Eles me disseram: ‘Rapaz, piadas contra a família não, militares não, nudez não. Eu nasci e cresci com autocensura”, disse Quino. Ele já havia afirmado que Mafalda sempre existiu no seu imaginário e que imaginava que passaria por uma forte censura.

 
O autor português António Cluny, escreveu: “Não foi a morte de Quino que calou a Mafalda”. Para Cluny, Mafalda já havia se calado, pois o próprio Quino desacreditou do mundo. O português esperava a fase adulta de Mafalda, onde ela daria as respostas para questões impertinentes que a incomodavam. 
Acredito que Mafalda ainda dialoga com aqueles que ainda a tem em seu imaginário, embora cada vez mais polarizados. Talvez não fale a quem deveria falar. Mas devemos persistir no sonho da pequena. A personagem que sofria da falta das esperanças que coletivamente existe numa vida melhor, deve permanecer viva em nós e, cabe a cada um de nós trazer a nossa Mafalda sempre que precisarmos. 

*Esse artigo foi publicado originalmente no Jornal da Cidade - Holambra.

**diogormartins@gmail.com 

sábado, 10 de outubro de 2020

COVID-19 E MORTE CONTINUAM IMPLACÁVEIS

 

Covas abertas em cemitério de São Paulo (SP) em meio à pandemia de coronavírus - 16/07/2020 
(Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)


Brasil registra mais 682 mortes por Covid-19 
e se aproxima de 150 mil óbitos

Gabriel Araujo


O Brasil registrou nesta sexta-feira 682 novos óbitos em decorrência da Covid-19, o que eleva o total de mortes pela doença no país a 149.639, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Também foram notificados 27.444 novos casos da doença provocada pelo coronavírus, com o total de infecções confirmadas no país atingindo 5.055.888.
O Brasil é o terceiro país do mundo com maior número de casos de Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Já na contagem de óbitos, os números brasileiros ficam abaixo somente dos reportados pelos EUA.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou nesta sexta que o Brasil não está “resolvendo totalmente” o problema da doença, mas tem conseguido controlar os efeitos da pandemia e permitir o retorno gradual das atividades com um “novo normal”.
“Mesmo considerando o Brasil como um todo, nós já verificamos um decréscimo nessas curvas (de casos e óbitos), que está sendo constante e está sendo estável... Nós já identificamos muitos Estados que estão voltando à normalidade”, afirmou Franco em entrevista coletiva, acrescentando que o país está “sabendo conviver” com a doença.
“Mesmo nos Estados onde ela ainda está com uma incidência maior, e nós podemos destacar a Região Sul em particular, a gente já consegue observar um decréscimo na incidência de casos e principalmente na incidência de óbitos, devido também ao tratamento precoce”, disse o secretário.
Estado brasileiro mais afetado pela Covid-19, São Paulo atingiu nesta sexta as marcas de 1.028.190 casos e 37.068 mortes.
De acordo com os dados do ministério, o segundo Estado com maior número de óbitos causados pela Covid-19 no país é o Rio de Janeiro, que registrou até este momento 19.222 mortes, com 282.080 casos.
Na contagem de infecções confirmadas, porém, o Rio fica abaixo da Bahia e de Minas Gerais -- o Estado nordestino soma 323.210 casos e 7.075 mortes, enquanto Minas registrou 318.090 infecções e 7.992 óbitos.
Ceará, Pará, Santa Catarina, Goiás e Rio Grande do Sul são os demais Estados que já notificaram mais de 200 mil casos de Covid-19.
O Brasil possui 4.433.595 pessoas recuperadas da doença e 472.654 pacientes em acompanhamento, segundo o ministério. A taxa de letalidade da doença no país é de 3,0%.

(Fonte: Reuters

terça-feira, 6 de outubro de 2020

ECONOMISTAS COMPLICAM A ECONOMIA PARA QUE NÓS NÃO A ENTENDAMOS

(Imagem do Google)

Economia a serviço da vida

por Eugênio Magno


Na "Economia de Francisco" - o santo (São Francisco) - proposta por Francisco (Jorge Mario Bergoglio), o papa, é urgente que haja uma reordenação de valores. É imprescindível que a economia esteja a serviço da vida e não a vida a serviço da economia, como vem acontecendo no mundo.

Desenvolvimento sem democracia econômica é um contrassenso do capitalismo ultraliberal rentista e excessivamente financeirizado, para o qual os maiores gênios da economia mundial vêm se empenhando no sentido de encontrar uma alternativa que o substitua. E nesse momento caótico em que vivemos é o papa Francisco, reconhecido por várias autoridades como o maior líder mundial dos tempos atuais, quem articula os principais movimentos globais sugerindo iniciativas de estudos, debates e ações com uma Igreja em saída - se encontrando com os leigos, intelectuais e com a sociedade -, na busca de soluções para garantir a vida no planeta.

Os números dão muito o que pensar. Para ficar com um único exemplo, basta saber que 3 milhões de crianças morreram de fome no ano passado. Isso, enquanto produzimos o equivalente a 1,5 kg de alimento por habitante da terra e que a riqueza total produzida no mundo, se dividida de forma igualitária para toda a população mundial, daria uma renda, em moeda brasileira, de algo em torno de R$18.000,00, mensais, para cada família de quatro pessoas. Isso para não falar da devastação do planeta, da falta de preservação de nossos biomas, e do total descuido com a água, a terra , o ar e para com a vida silvestre e os povos das florestas, nativos, quilombolas e ribeirinhos. 

(Logo da 6ª Semana Social Brasileira)

Foi dada a largada, em nosso país, para a 6ª Semana Social Brasileira - Mutirão pela vida: Por Terra, Teto e Trabalho, inspirada pelos diálogos do papa Francisco com os movimentos populares. Tendo como eixos, democracia, soberania e economia, as ações da Semana Social Brasileira (SSB), visam debater, compreender e formular soluções para as questões sociais mais urgentes que impactam especialmente os setores excluídos e marginalizados da sociedade. 

Sábado passado (dia 4.10.2020), aconteceram vários eventos de lançamento da Semana Social Brasileira, articulando forças populares e intelectuais para o debate de questões sociopolíticas de interesse público com o propósito de entender a conjuntura atual e traçar perspectivas para o presente e o futuro. Como era difícil acompanhar tudo, elegi a live "Lançamento da 6ª Semana Social Brasileira", promovida pelo Movimento Igreja em Saída, do Regional Nordeste 1 (Ceará) e da Escola Regional de Fé e Política Dom Helder Câmara. O evento contou com a participação do bispo da diocese de Itapipoca, Dom Antônio Roberto Cavuto, do padre e teólogo Francisco Aquino Júnior, do economista e escritor Ladislau Dowbor e de Reginha, da Cáritas e da Articlação das Pastorais Sociais do Ceará, mediadora da live que teve ainda a participação de membros da Escola Regional de Fé e Política, com cantos e declamações e contaria também com a presença do filósofo Manfredo Oliveira que, em razão de problemas técnicos, não pode participar.

(Foto: Janaína Abreu)

O mestre, Ladislau Dowbor, apesar do tempo restrito, fez uma brilhante apresentação. Ancorado em pesquisas e análises de vários estudiosos e usando uma linguagem de fácil compreensão ele mostrou como funciona a economia e incentivou a todos, para que, independentemente de conhecimentos prévios de economia, buscassem entendê-la para multiplicar sua compreensão. Segundo Dowbor, "a economia não tem nada de complicado, os economistas é que a complicam para que o povo não possa compreendê-la". E para auxiliar a todos nessa compreensão ele disponibiliza todos os seus livros, artigos e estudos, gratuitamente, em seu site na internet (www.dowbor.org).

O padre, Francisco de Aquino Júnior, chamou a atenção para o fato de que a Igreja apesar de não possuir meios técnicos e instrumentos de análise econômica é rica em parâmetros éticos e espirituais para iluminar e mostrar caminhos em que a economia pode ser colocada a serviço da humanidade. Seus argumentos, se ancoram na Doutrina Social da Igreja e nos vários documentos papais que, desde fins do século XIX, com Leão XIII e a Rerum Novarum, até Francisco, na atualidade, com as encíclicas Laudatto Si e a novíssima Fratelli Tutti, mostra sua preocupação com a vida social.

Embora chamada de "semana", a 6ª Semana Social Brasileira Mutirão pela vida: Por Terra, Teto e Trabalho, tem como vigência o período 2020-2022. Ela é convocada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e promovida conjuntamente com as pastorais sociais e movimentos populares. É realizada em mutirão, na pluralidade cultural e étnica do Brasil, assim como no ecumenismo e diálogo inter-religioso. Até o seu encerramento, muitos eventos, presenciais e online acontecerão. Para acompanhar tudo sobre a Semana Social Brasileira, acesse o site ssb.org.br.

(Print de tela da live)

A live "Lançamento da 6ª Semana Social Brasileira", promovido pelo Movimento Igreja em Saída, do Regional Nordeste 1 (Ceará) e da Escola Regional de Fé e Política Dom Helder Câmara ainda está disponível no YouTube e pode ser acessada em: https://www.youtube.com/watch?v=btQyQvIf9Ek.



quinta-feira, 1 de outubro de 2020

NÃO SOMOS TODOS IGUAIS

 

Manuscrito de P. Freire para Pedagogia do Oprimido (Acervo Paulo Freire)


Como o povo oprimido,

Paulo Freire é alvo e escudo a um só tempo


Eugênio Magno

        Paulo Freire é gigante. Sua robustez é de causar inveja à maioria dos mortais. Entretanto, de intelectual respeitado e homenageado em todo o mundo, se tornou nos últimos anos – em seu país natal – alvo de críticas e rechaços por parte dos atuais ocupantes do poder central. E daí está migrando ou, simultaneamente, ocupando também a posição de escudo.

Se variar entre a condição de alvo e escudo já é ruim, pior é estar na mira de ataques e, ao mesmo tempo, ser usado como anteparo de disparos contra quem nunca o prestigiou a altura do seu merecimento. O patrono da educação brasileira merece lugar melhor na história. É de bom tom que ele não seja usado indevidamente por quem se quer o conhece bem ou já o reconheceu um dia, nessa guerra encarniçada em que, para além da disputa política majoritária, se juntam vários outros interesses, como os da proteção de pequenos feudos na esfera pública. É assombroso darmos conta de como o corporativismo pode usar do oportunismo de forma tão cruel e sub-reptícia a ponto de lançar mão grande sobre a memória de um pensador que sempre esteve ao lado dos oprimidos, contra o establishment, praticando uma educação popular e libertadora. Freire não configurou uma pedagogia para os oprimidos, oportunizando empoderamentos que promovessem distinções entre pares de uma mesma comunidade, nem usou inclusão como retórica. Ele articulou várias pedagogias, como as do oprimido, da esperança, etc., tendo como centralidade a educação como prática da liberdade, pedagogias contra-hegemônicas forjadas nas lutas dos/com os pobres e oprimidos.

Mas o pobre, no Brasil, para as elites, quando não é alvo, é bucha de canhão. E, ultimamente, o pobre, assim como Freire estão sendo usados como escudos e barreiras, por alguns segmentos da classe média, que espertamente negam sua condição social (de forma camaleônica), enquanto escondem patrimônios e recheadas contas bancárias com disfarces de um linguajar popular e trajes casuais, sem etiquetas à mostra. Essas aberrações estão em vários escalões, instituições e organizações do mundo público e privado e, no campo da educação, por incrível que pareça, também acontece. Não são poucos os banquetes à custa da inanição de profissionais da mesma estatura, combatentes, que por força de se manterem aguerridos, críticos e autocríticos – ad extra e ad intra –, são condenados ao exílio e à invisibilidade institucional, sobrevivendo à custa das migalhas que sobram dos empoderados “donos” das verbas que fingem fazer a multiplicação dos pães.

O Dia dos Professores se aproxima... O que pautar e comemorar de forma unificada? A categoria é imensa, mas condições de trabalho e salários são tão diversos quanto discrepantes. No entanto, perdura um discurso hegemônico que quer nivelar a todos – intencionalmente, por baixo – para esconder realidades ultrajantes, escravidão intelectual e outros descalabros.

Idealizando a solidariedade humana, o anarquista Piotr Kropotkin, diz em Apoio Mútuo:


Não é amor, e nem mesmo simpatia (compreendida em seu sentido literal), o que leva um rebanho de ruminantes ou de cavalos a fazer um círculo a fim de resistir ao ataque dos lobos; ou lobos a formar uma alcateia para caçar; ou gatinhos ou cordeiros a brincar; ou os filhotes de uma dezena de espécies de aves a passarem os dias juntos no outono. Também não é amor, nem simpatia pessoal, que leva muitos milhares de gamos, espalhados por um território do tamanho da França, a formar dezenas de rebanhos distintos, todos marchando em direção a um determinado ponto para cruzar um rio. É um sentimento infinitamente mais amplo que o amor ou a simpatia pessoal – é um instinto que vem se desenvolvendo lentamente entre animais e entre seres humanos no decorrer de uma evolução extremamente longa e que ensinou a força que podem adquirir com a prática da ajuda e do apoio mútuos, bem como os prazeres que lhes são possibilitados pela vida social. […] não é no amor, e nem mesmo na simpatia, que a sociedade se baseia. É na percepção – mesmo que apenas no estágio do instinto – da solidariedade humana. É o reconhecimento inconsciente da força que cada homem obtém da prática da ajuda mútua; da íntima dependência que a felicidade de cada um tem da felicidade de todos; e do senso de justiça ou de equidade que leva o indivíduo a considerar os direitos de todos os outros indivíduos iguais aos seus. É sobre esse alicerce amplo e necessário que se desenvolvem sentimentos morais mais elevados (1989, p. 32). 


            É pesaroso utilizar uma proposição tão potente como essa para denunciar comportamentos cujos fins transgridem o que ela encerra, mas o que ocorre é tão sutil que muitos dos protagonistas desse drama imoral sequer percebem o que fazem.

           Não gostaria de encerrar este texto de forma derrotista. Gramsci, Pessoa e o próprio Paulo Freire, me auxiliam a finalizar essa reflexão sonhando acordado e firme na crença de que o pessimismo para com as práticas atuais, não impedirá o otimismo da razão. Afinal, viver é preciso e esperançar também é preciso.

Este artigo também pode ser lido jornal Pensar a Educação em Pauta: http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/como-o-povo-oprimido-paulo-freire-e-alvo-e-escudo-a-um-so-tempo/