Chicão, herói do povo
Foto: Eugênio Magno
Faleceu na última terça-feira, dia 8 de janeiro, aos 87 anos de idade, em Anápolis - GO, o líder camponês dos anos 1960, Francisco Raymundo da Paixão. Chicão, como ficou conhecido, estava internado e respirando a base de aparelhos há mais de uma semana e não resistiu a um aneurisma cerebral. Seu corpo foi enterrado no cemitério de Abadiânia de Goiás.
Homem do
povo, Chicão, foi um sapateiro e seleiro que,
cumprindo tarefa do PCB, começou a organizar os camponeses do Vale do Rio Doce,
expulsos de suas terras pelos latifúndios formados pelos criadores de gado. Em
curto tempo, ele arregimentou os sem-terra da região e transformou-se em
interlocutor privilegiado do governo de João Goulart, tendo em vista realizar
uma modesta experiência de reforma agrária que, sem afetar a estrutura do
latifúndio, entregasse aos camponeses as terras às margens das rodovias,
ferrovias e açudes federais (conforme o decreto assinado por Jango no comício
da Central do Brasil de 13 de março de 1964). Mas a luta em que se empenhou foi
abortada pelo golpe militar e ele não quis seguir uma carreira política, como
seria natural. Virou funcionário público de governos progressistas, mas se
incompatibilizou com eles por motivos ideológicos e foi defenestrado.
Nos últimos anos Chicão,
não estava bem de saúde – resquícios das torturas a que foi submetido nos porões
da ditadura militar – e, sem função, vivia no ostracismo, cumprindo, sem
entusiasmo ou grandes expectativas, seus deveres cívicos de cidadão. O velho líder camponês tinha como companheira a Goiana Nelly, ao lado de quem faleceu. Seu filho, do primeiro casamento, Luiz Carlos, também estava presente em seus últimos instantes de vida. Há mais de dez anos ele residia no Estado de Goiás, nas cidades de Abadiânia e Anápolis, onde tive a alegria de visitá-lo algumas vezes.
Da esquerda para a direita: Eugênio Magno, Chicão e Victor de Almeida
Foto: Diogo R. Martins
Chicão é um personagem importante da recente história política do Brasil e é homenageado em vários projetos culturais, dentre eles: Por
um pedaço de Terra (Monsieur Paixão), um filme que pretende colocar em
pauta o grau de influência do movimento camponês do Vale do Rio Doce e
especialmente de Chicão no desfecho do golpe de 1964. E, acima de tudo, mostrar a situação em que viveu nos últimos anos aquele que seria o futuro herói da
classe operária, o ex-líder camponês, Francisco Raymundo da Paixão. Trata-se de um documentário pelo qual tenho a honra de ser roteirista e diretor e co-produtor, em parceria com Victor de Almeida.
O documentário, embora já tenha algumas horas
gravadas com Chicão relatando sua trajetória: lutas, perseguições, prisões,
torturas, exílio, e a sua volta à legalidade com a anistia, está com a sua
produção paralisada por falta de verba. O que
conseguimos produzir até então foi com recursos próprios, e nos vemos agora sem
condições de dar prosseguimento a um projeto como este que é da maior
importância como resgate da história do nosso país. Já tentamos
conseguir verbas para a sua continuidade através de editais do Ministério da
Cultura, Secretaria de Estado da Cultural de MG, Fundação Municipal de Cultura
de Belo Horizonte do Doc-TV, sem nenhum sucesso.
Cena de gravação do documentário Por um pedaço de Terra (Monsieur Paixão)
Foto: Eugênio Magno
Agora, com a morte de Chicão, eu e o meu parceiro nesse projeto, Victor de Almeida, sentimo-nos na obrigação moral de dar continuidade à produção do filme. Para isto, necessitamos da contribuição daqueles que se sensibilizem pela causa e estejam dispostos a nos ajudar a encontrar apoio financeiro para dar cabo ao projeto. Interessados em colaborar com a retomada dessa produção poderão
fazer contato comigo pelo E-mail: eugeniomagnomg@gmail.com. Na oportunidade, de forma antecipada, agradeço aos que se solidarizam conosco nessa empreitada.