quinta-feira, 13 de novembro de 2025

PARADOXOS E CONTRADIÇÕES


(Imagem gerada por Inteligência Artificial - Gemini, em 13.11.25)


Pobre de Direita X Esquerda Caviar 

Eugênio Magno* 

Nada mais insensato do que rotular as pessoas de “pobre de direita” e de “esquerda caviar” com o propósito de desqualificar suas bandeiras. Até porque, esquerda e direita, na atualidade, significam muito pouco ou quase nada quando tomamos como referencial as suas representações hegemônicas um tanto descaracterizadas. Quando as expressões direita e esquerda, respectivamente, se juntam a pobre e a caviar a coisa fica pior ainda. Especialmente neste contexto polarizado das disputas de narrativas nas redes digitais que têm se reduzido a xingamentos e agressões.

Ainda que direita e esquerda não tivessem perdido tanto seus significados, ter nascido pobre ou rico não descredenciaria nenhum cidadão para militar em um ou outro desses espectros políticos. O imperativo definidor de tal ou qual filiação deveria ser o desejo, o sentimento de pertença a determinado regime, cultura ou grupo, de seus ideais e parâmetros éticos, estribados em convicções pessoais e na livre vontade. Nesse ponto, não podemos nos esquecer de que tudo isso tem a ver com liberdade, e liberdade tem implicações e princípios. Além daqueles destacados nos ideais da Revolução Francesa, igualdade, liberdade e fraternidade, pelo menos mais dois poderiam ser incluídos: consciência e responsabilidade.

Esse é um fio enorme que se puxado traz uma série de conceitos e categorias de vários saberes e conhecimentos transdisciplinares. Mas esse novelo não será desenrolado academicamente. A intenção aqui é apenas uma singela tentativa de alertar para não incorrermos em erro tão grosseiro e despropositado, seja por ignorância ou por mau-caratismo. Na maioria das vezes a incoerência caminha a par e passo com o nosso comportamento. Se os escritos marxianos e os mais renomados marxistas advertem para a dificuldade de se ter consciência de (nossa própria) classe, o quão arriscado, para não dizer leviano, é fazer julgamentos farisaicos sobre a conduta de outrem, classificando-as de contraditórias ou bizarras.

Os partidos e as principais lideranças de nosso país têm se descuidado da formação política da população. Enredados em seus projetos de poder, a preocupação dos principais atores políticos brasileiros se resume a interesses eleitoreiros, o que também significa do ponto de vista dos dirigentes partidários, a mera multiplicação de filiados e a arregimentação de uma militância subserviente e de milícias digitais, dispostas a qualquer coisa para defender pautas pouco compreendidas, impostas pelos cartolas das siglas.

Vivemos no Brasil um falso embate entre direita e esquerda, quando na verdade o que há é somente uma guerra de narrativas, com pouquíssimas ações concretas coerentes com as promessas demagógicas de combate à desigualdade, divisão da riqueza e de bem-estar social. O que temos de fato é que a direita hegemônica radicalizou e se transformou em extrema direita e o partido que melhor representava os ideais da esquerda em nosso país foi quase obrigado a se deslocar para centro-esquerda para chegar ao poder. E para continuar no poder foi ao centro e, depois, para voltar ao poder, deu uma guinada para uma quadra que muitos consideram de centro-direita. Coisas que se eternizam nas Terras Brasilis.

Em meados do século XIX as disputas entre liberais e conservadores não eram tão distintas. Boris Fausto em, História do Brasil, observa que a política desse período – mas não só dele –, não se fazia em termos de objetivos e princípios ideológicos rígidos. A maior preocupação dos políticos era chegar ao poder para obter prestígio e benefícios para si próprios e para os seus apaniguados. Conservadores e liberais utilizavam-se dos mesmos recursos para lograr vitórias eleitorais e quando estavam no governo não apresentavam atitudes muito diferentes. Desde a redemocratização, direita, centro-direita, centro, centro-esquerda, direita, extrema direita e agora, uma frente amplíssima, de centro para centro-direita, que insiste em ser tratada como esquerda, se revezam no poder e fazem perpetuar o neoliberalismo, com uma ou outra política compensatória aqui e acolá, enquanto o hipercapitalismo nada de braçada.

Então raciocinemos: se nem mesmo em períodos históricos mundiais em que esquerda e direita poderiam ser compreendidas como categorias em que, para além de convicções, comportamentos e ações coerentes, a condição econômica não era definidora da simpatia por um ou outro campo político, imagine na atual conjuntura. Vivemos um momento histórico em que a mobilidade social aumentou e segue acelerada – para baixo, para cima e para os lados – onde a globalização e a transnacionalização da cultura, da política e do capital transformaram a pirâmide social em uma verdadeira torre de babel.

Para cada um Engels, existem dezenas de riquinhos/as que vêm a esquerda como um promissor mercado consumidor e a explora com militância de fachada para a comercialização de inúmeros produtos. Do outro lado, centenas de pobres de origem ascenderam econômica e financeiramente, cerraram fileiras à direita e são macaqueados por milhares de outros pobres que neles se miram na expectativa fantasiosa de subir alguns degraus. Sem contar os encarapitados nas burocracias partidárias e nas hierarquias do Estado que ao chegar ao poder se locupletam, mas não abandonam suas retóricas ideológicas para não perder palanque.

As simplificações do que deveria ser programático, o empoderamento como favor e as constantes substituições das competências pelo lugar de fala, empobreceram o debate e vêm nivelando por baixo a dinâmica da vida social e política. O negacionismo científico pela direita e a desvalorização da expertise pela esquerda, abriu flancos para a total desqualificação da política. De um modo geral, o mundo político está infestado de oportunistas, gente acrítica e uma legião de analfabetos políticos. Se falta instrução, consciência e formação política, sobra basismo, ativismo inconsequente, romantização da pobreza por parte de alguns deslumbrados da classe média e a prática reiterada de estelionatos eleitorais.

A razão tem se tornado meramente instrumental, pragmática. No passado, a frase, “os fins justificam os meios”, atribuída a Maquiavel, era refutada com a assertiva que defendia a importância dos meios, uma vez que os meios também são importantes e definem a natureza dos fins. Aldous Huxley, na obra, Ends and Means, trabalha essa questão de forma bastante equilibrada. Sem conhecer e considerar os fins, como horizonte, os meios serão usados erradamente. Mas, na atualidade, os fins últimos deixaram de ser considerados. O foco está concentrado única e exclusivamente no pragmatismo dos meios. Tudo o que importa são ações táticas emergenciais, reações e bordões, desprovidos de quaisquer estratégias de aproximações sucessivas na direção de um fim último. É o reinado dos arrivistas, demagogos e influencers com suas copys cheias de gatilhos mentais e trends a gosto dos algoritmos.

Entre tantas dissonâncias não é difícil concluir que as expressões “pobre de direita” e “esquerda caviar”, não devem ser interpretadas como incoerentes, tampouco como xingamentos. Como já foi dito, ser de origem pobre ou rica não delimita a opção política de ninguém. Entretanto, na contemporaneidade, tal autorreconhecimento ou acusação, por via de regra, tem sido falta de educação política e/ou de consciência de classe, ou hipocrisia mesmo.


*O autor é comunicólogo e jornalista. 
Doutor em Educação e mestre em Artes Visuais. 
Trabalha com Educação comunicacional e midiática.

domingo, 2 de novembro de 2025

RODA DE CONVERSA - CHINA: PERGUNTAS E RESPOSTAS

 


Conversas sobre a China com Rodrigo leste

O coletivo +Q1 Produções em parceria com o Instituto de Educação em Fitoterapia Chinesa (IEFIC) promovem no dia 4 de novembro, terça-feira, às 18:30 horas na sede do IEFIC, a Roda de Conversa CHINA: PERGUNTAS E RESPOSTAS, com o ator, escritor e especialista em terapias corporais, Rodrigo Leste.

A Roda de Conversa tem um caráter informal. Seu propósito é estabelecer um diálogo descontraído com os presentes, onde Leste irá partilhar as experiências e observações sobre a China por ele vivenciadas. O evento contará com a participação do Dr. Paulo Gonçalves, coordenador do IEFIC, formado em Medicina Tradicional Chinesa em Beijing, onde viveu por sete anos. Grande conhecedor da vida e da cultura chinesa, Gonçalves é o organizador dos grupos que visitam a China com objetivos educacionais e turismo cultural.

O IEFIC, tem sede na Avenida do Contorno, 6283, sala 708 – Savassi (próximo ao Pátio Savassi), em Belo Horizonte - MG. A entrada é franca.