domingo, 25 de março de 2018

O MAIOR FRASISTA BRASILEIRO


100 frases selecionadas de Nelson Rodrigues




Nelson Rodrigues foi o maior frasista brasileiro, o nosso Rochefoucauld. Com a contribuição milionária de Erika Nakanura, o DCM selecionou 100 máximas que provam isso.
  • A adúltera é a mais pura porque está salva do desejo que apodrecia nela.
  • A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual.
  • A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível.
  • A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.
  • A liberdade é mais importante do que o pão.
  • A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão.
  • A pior forma de solidão é a companhia de um paulista.
  • A platéia só é respeitosa quando não está a entender nada.
  • A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira.
  • A televisão matou a janela.
  • A verdadeira grã-fina tem a aridez de três desertos.
  • Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.
  • Amar é dar razão a quem não tem.
  • Amar é ser fiel a quem nos trai.
  • Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.
  • As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.
  • Com sorte vc atravessa o mundo, sem sorte vc não atravessa a rua.
  • Começava a ter medo dos outros. Aprendia que a nossa solidão nasce da convivência humana.
  • Copacabana vive, por semana, sete domingos.
  • D. Helder só olha o céu para saber se leva ou não o guarda-chuva.
  • Desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A virtude é triste, azeda e neurastênica.
  • Desconfio muito dos veementes. Via de regra, o sujeito que esbraveja está a um milímetro do erro e da obtusidade.
  • Deus está nas coincidências.
  • Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro.
  • É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez.
  • É preciso trair para não ser traído.
  • Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância.
  • Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.
  • Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.
  • Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral.
  • Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia.
  • Falta ao virtuoso a feérica, a irisada, a multicolorida variedade do vigarista.
  • Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.
  • Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário.
  • Invejo a burrice, porque é eterna.
  • Jovens: envelheçam rapidamente!.
  • Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos…
  • Na mulher, certas idades constituem, digamos assim, um afrodisíaco eficacíssimo. Por exemplo:- 14 anos!
  • Nada nos humilha mais do que a coragem alheia.
  • Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.
  • Não admito censura nem de Jesus Cristo.
  • Não damos importância ao beijo na boca. E, no entanto, o verdadeiro defloramento é o primeiro beijo na boca. A verdadeira posse é o beijo na boca, e repito: – é o beijo na boca que faz do casal o ser único, definitivo. Tudo mais é tão secundário, tão frágil, tão irreal.
  • Não existe família sem adúltera.
  • Não há nada que fazer pelo ser humano:o homem já fracassou.
  • Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.
  • Nem toda mulher gosta de apanhar. Só as normais.
  • Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra.
  • Num casamento, o importante não é a esposa, é a sogra. Uma esposa limita-se a repetir as qualidades e os defeitos da própria mãe.
  • Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias.
  • O adulto não existe. O homem é um menino perene.
  • O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um homem deseje a mãe de seus próprios filhos.
  • O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.
  • O asmático é o único que não trai.
  • O biquíni é uma nudez pior do que a nudez.
  • O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.
  • O Brasil é muito impopular no Brasil.
  • O brasileiro é um feriado.
  • O brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte.
  • O cardiologista não tem, como o analista, dez anos para curar o doente. Ou melhor: – dez anos para não curar. Não há no enfarte a paciência das neuroses.
  • O casamento é o máximo da solidão com a mínima privacidade.
  • O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota.
  • O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual.
  • O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: — um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.
  • O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da imaturidade.
  • O morto esquecido é o único que repousa em paz.
  • O marido não deve ser o último a saber. O marido não deve saber nunca.
  • O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento.
  • O ônibus apinhado é o túmulo do pudor.
  • O pudor é a mais afrodisíaca das virtudes.
  • O puro é capaz de abjeções inesperadas e totais e o obsceno, de incoerências deslumbrantes. Somos aquela pureza e somos aquela miséria. Ora aparecemos varados de luz, como um santo de vitral, ora surgimos como faunos de tapete.
  • O sábado é uma ilusão.
  • O Ser Humano, tal como imaginamos, não existe.
  • Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas.
  • Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina.
  • Perfeição é coisa de menininha tocadora de piano.
  • Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos.
  • Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é amar.
  • Se Euclides da Cunha fosse vivo teria preferido o Flamengo a Canudos para contar a história do povo brasileiro.
  • Se os fatos são contra mim, pior para os fatos.
  • Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém.
  • Sem paixão não dá nem para chupar picolé.
  • Sexta feira é o dia em que a virtude prevarica.
  • Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.
  • Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos salva.
  • Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de prata.
  • Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo podia-se andar nu.
  • Sou reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta.
  • Subdesenvolvimento não se improvisa; é obra de séculos.
  • Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.
  • Toda coerência é, no mínimo, suspeita.
  • Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma.
  • Toda mulher bonita tem um pouco de namorada lésbica em si mesmo.
  • Toda mulher gosta de apanhar. Só as neuróticas reagem.
  • Toda unanimidade é burra.
  • Todas as mulheres deviam ter catorze anos.
  • Todo amor é eterno. Se não é eterno, não era amor.
  • Todo desejo é vil.
  • Todo tímido é candidato a um crime sexual.
  • Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.
100. Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina, quando tem um filho, melhora.
(Fonte: Site do DCM)

segunda-feira, 19 de março de 2018

BAGÁ PSIU POÉTICO


Até ontem, domingo, dia 18 de março de 2018, a capital mineira foi agitada com uma extensa programação de poesia. Desde quarta-feira, dia 14, Dia da Poesia que Belo Horizonte sediou o "Beagá Psiu Poético", uma extensão do "Salão Nacional de Poesia Psiu Poético".
O Psiu chega à sua 32ª edição de sucesso e de 4 a 12 de outubro em Monte Claros, receberá poetas dos quatro cantos do Brasil e também do exterior, como vem fazendo durante todos esses anos, para mais uma celebração da poesia, sob a inspiração e a transpiração do demiurgo Aroldo Pereira.


A programação contou com poetas, videomakers, bailarinos, performers, professores, estudantes, músicos e curiosos, com apresentações em Escolas municipais, estaduais e particulares, Estações e Vagões do metrô, Terminal Rodoviário, Arcos do Viaduto Santa Teresa, Praça da Liberdade, Centro de Referência da Juventude, Bar Montes Claros no Edifício Maletta, sala Juvenal Dias do Palácio das Artes e ainda a Bicicletada do Psiu, fazendo o circuito cultural do centro da cidade. 



Na condição de profissional de comunicação e também de um ser que comete alguns versos, tive a honra de ser o Mestre de Cerimônias na abertura oficial do "Beagá Psiu Poético", na noite de quarta-feira, dia 14, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes.  Minha função foi homenagear a poiésis, dar o meu viva e anfitrionar o “Psiu” nesta cidade que há 36 anos tornou-se minha residência e abraçar o grande amigo, conterrâneo do sertão, com quem já tive o privilégio de dividir tantas outras poéticas e políticas, Aroldo Pereira.



“Beagá Psiu Poético” foi uma realização do Grupo de Literatura & Teatro Transa Poética, em parceria com as Secretarias de Cultura de Montes Claros e do Estado de Minas Gerais, com a colaboração de escritores, músicos e agentes culturais da capital. 



terça-feira, 13 de março de 2018

O ALQUIMISTA DEMOCRÁTICO




Saudades do mestre Birri

Eugênio Magno
Comunicólogo e Educador


Hoje, 13 de março de 2018, gostaria de enviar uma mensagem ao mestre Fernando Birri, que completaria 93 anos de vida, se não tivesse falecido em 27 de dezembro do ano passado.
O cineasta Wolney Oliveira me apresentou a “Fer” (como Birri assinava suas correspondências) com quem, durante 9 anos, mantive rico diálogo que me inspirou a um mergulho acadêmico de grande fôlego. Paulo Freire e Birri foram sujeitos e principais referenciais teóricos da tese, Fernando Birri e Paulo Freire: educação e cinema em diálogo como práticas da liberdade, que defendi em 2017, na Faculdade de Educação da UFMG.
Don Fernando Juan Birri nasceu em Santa Fe de la Vera Cruz, na Argentina, onde seus antepassados, italianos, chegaram em 1880. Ele estudou cinema no Centro Sperimentale di Cinematografia di Roma em um dos momentos mais importantes do cinema mundial, o auge do neo-realismo e teve como mestres, Zavatttini, Rosselini e De Sicca, dentre outros. De volta à Argentina, depois da formação, Birri fundou a Escuela Documental de Santa Fe, na Universidade Nacional do Litoral, em 1956, onde realizou, junto com seus alunos, duas importantes obras da cinematografia latino-americana: Tire dié (1960) e Los inundados (1961).
            Nesses tempos de novos retrocessos políticos em que vivemos fazer memória a Fernando Birri, que saiu do nosso país em 1964 pelos mesmos motivos que se exilou da Argentina em 1963, me remete a uma de suas lembranças em terras brasileiras. “Treze de março de 64 era dia do meu aniversário, por isso não me esqueço: completava 39 anos. E, naquele dia João Goulart fez o seu lendário discurso da reforma agrária, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. A praça estava transbordante. Quando terminou o discurso houve uma imensa ovação. Duas semanas depois veio o Golpe Militar e Jango caiu”.
Birri saiu do Brasil e correu o mundo, levou sua arte a vários continentes. Nos anos 1980 desembarcou na Venezuela, em Mérida e, na Universidade de Los Andes, criou o Laboratório de Poéticas Cinematográficas, um espaço para reflexão e crítica do Nuevo Cine Latinoamericano. Em 1986 Fernando Birri se dedicou a fundar e dirigir a Escola de Cinema de San Antonio de los Baños, em Havana, a convite do amigo, Gabriel García Marques e do comandante Fidel Castro.
Embora tenha alternado períodos de residência em outros países, Birri radicou-se em Roma, onde viveu até os últimos instantes ao lado da companheira Carmen Papio.
            As semelhanças do período de exílio de Birri no Brasil com o atual momento, não são meras coincidências. O quadro político que se pinta aqui nos trópicos provoca uma sensação de déjà vu. Hoje, somos outros os atores e produtores, todavia, os patrocinadores continuam sendo os mesmos. E, Fernando Birri já não se encontra mais entre nós, virou estrela. Mas o calor da sua chama continua a incendiar o espírito dos que lutam por uma América Latina livre da tirania e da rapinagem.

(Este artigo também foi publicado no jornal O Tempo, de Terça-feira, 13 de março de 2018)

sexta-feira, 9 de março de 2018

ECONOMIA MAQUIADA


Entenda porque o governo faz propaganda enganosa sobre recuperação da economia

Lula Marques / Agência PT

Após dois anos de queda, com o país acumulando perdas de mais de 7% de sua economia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou, na semana passada, que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, índice que mede o desempenho econômico nacional, avançou apenas 1% em 2017.
Rejeitado por mais de 70% da população e praticamente sem nenhuma notícia positiva para comemorar, o governo de Michel Temer, e grande parte da mídia comercial, se apressaram para celebrar o que seria um resultado “extraordinário” e o fim da recessão. Para economistas ouvidos pelo Brasil de Fato, no entanto, por trás da propaganda, o país segue sem oferecer saídas consistentes para enfrentar o desemprego e o crescimento da miséria.
A própria elevação do PIB não foi obra da atual política econômica, explica Márcio Pochmann, professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp). “O resultado do PIB se deve ao desempenho do setor agropecuário, que cresceu 13% no ano passado, em decorrência de uma safra recorde de grãos. O setor industrial apresentou crescimento zero e o setor de serviços só cresceu 0,3%, uma estagnação. Ou seja, esse dado não está associado à política econômica do governo. Pelo contrário, a atual política econômica agravou o quadro do país nos últimos anos”, argumenta.
A recessão do país, que começou em 2015, poderia ter terminado no final de 2016, não fosse a mudança de governo provocada pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff. “A política do 'austericídio' começou ainda no governo Dilma, mas foi aprofundada com Temer, o que prolongou a recessão e contribuiu para uma falência generalizada das empresas. O único setor que obteve lucros foi o financeiro, ou seja, os bancos, que mantiveram seus ganhos. Em algum momento a gente ia bater no fundo do poço e uma recessão tão demorada ia dar um sinal de recuperação, mas trata-se de um crescimento marginal [esse do PIB]”, aponta o economista Paulo Kliass, doutor pela Universidade Paris 10 e especialista em políticas públicas e gestão governamental.
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sexta-feira, 2 de março de 2018

A BATATA DO TEMER ESTÁ ASSANDO


A pedido de Dodge, Fachin inclui Temer em outro inquérito da Lava Jato


O ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a inclusão do presidente Michel Temer (MDB) em um inquérito que investiga o pagamento ilícito de benefícios por parte da Odebrecht a políticos em troca de medidas tomadas pela Secretaria de Aviação Civil. Os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), ambos firmes aliados de Temer e ex-ministros da Secretaria de Aviação Civil no governo Dilma Rousseff, são investigados no mesmo caso.
O pedido de inclusão de Temer no inquérito foi feito pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Seu antecessor, Rodrigo Janot, havia retirado Temer da apuração por entender que a Constituição proibia a investigação do presidente da República por atos praticados antes do início de seu mandato. Dodge entendeu que apenas a denúncia é vetada e não a investigação. Segundo ela, a medida é "consentânea com o princípio central da Constituição, de que todos são iguais perante a lei, e não há imunidade penal".
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