Carta aberta: educadores brasileiros
se opõem aos ataques contra Paulo Freire
se opõem aos ataques contra Paulo Freire
Ana Maria Saul
O Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no qual Paulo Freire atuou como docente, pelo período de 17 anos, desde sua volta do exílio a que foi forçado, tem discutido, com indignação, os fatos que ocorreram nos meses de março e abril, no Brasil, que visavam a atacar e deturpar a obra desse educador, Patrono da Educação Brasileira.
Os educadores desse Programa repudiam as manifestações ideológicas que se insurgiram contra Freire e que evidenciam que sua presença incomoda. Suas ideias foram consideradas “perigosas”, no Brasil, durante a ditadura militar, porque desafiavam o autoritarismo. Hoje elas continuam a incomodar e fustigar grupos que, equivocada e deliberadamente, buscam impor e legitimar propostas autoritárias e conservadoras.
Freire é reconhecido em muitos países do mundo por ser autor de uma pedagogia que tem compromisso com a humanização, e que se opõe a todo tipo de opressão, comprometendo-se com a construção de uma sociedade mais justa e mais democrática.
Por defender uma pedagogia que afirma a não neutralidade da educação, denuncia a cumplicidade do sistema educativo com a desigualdade socioeconômica e política e anuncia compromissos com a dialogicidade, a solidariedade e a justiça social, Paulo Freire será sempre questionado por aqueles que se opõem a essa opção político-educativa.
Para Freire, o ensino-aprendizado se faz com diálogo crítico entre educadores e educandos, mediados por objetos de conhecimento, com os objetivos de ampliar a consciência sobre as razões da opressão que limita o potencial de “ser mais” dos seres humanos e desencadear processos de mobilização que permitam a superação desses limites. Ao propor o diálogo, como conceito fundante e radical de sua pedagogia, ele rejeita qualquer possibilidade de doutrinação por meio da educação. Sua pedagogia demonstra o valor de educadores e educandos desenvolverem um pensamento autônomo que lhes permita uma leitura cada vez mais crítica da realidade.
Freire continua sendo, hoje, uma alternativa ao fatalismo e ao dogmatismo. Sua filosofia advoga a não passividade diante das injustiças e da opressão e assume que a realidade pode ser transformada.
Diante do exposto entendemos que é hora de organizar, novamente, a resistência, em busca da garantia de uma educação democrática, com qualidade social. Isso implica lutar pelo acesso e permanência de crianças, jovens e adultos em escolas dignas e bem equipadas; respeitar o saber e a cultura dos educandos, como ponto de partida da prática educativa; produzir conhecimentos com rigorosidade metódica, jamais separando o ensino dos conteúdos do desvelamento da realidade; garantir a formação permanente dos educadores e a estrutura da carreira docente e opor-se aos processos que causam desigualdades e opressão, trabalhando com práticas solidárias e humanizadoras.
Enfim, urge retomar a proposta de escola defendida por Freire, uma escola séria, competente, justa e curiosa, onde os educandos tenham condições de aprender e de criar, com alegria e sejam estimulados a se arriscar para crescer. Uma escola na qual se pratique uma pedagogia da pergunta, garantindo a todos o direito de voz e a participação das famílias na educação de seus filhos.
Professores do Programa de Pós-Graduação em Educação:Currículo da PUC-SP.
Apoie e divulgue essa carta, expressando sua indignação com os ataques a Paulo Freire e a necessidade de valorizar a pedagogia desse importante educador brasileiro.
CARTA DIRIGIDA AO MINISTRO DA EDUCAÇÃO / PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO.
(Fonte: Boletim do Projeto "Pensar a Educação, Pensar o Brasil")