quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ELEIÇÕES 2010: A LUTA CONTINUA...

A utopia e as mediações
Marcelo Barros, OSB
Monge beneditino
"Faltam poucos dias para as eleições que darão ao Brasil novos/as gestores no Governo Federal, Estados e no Legislativo. Há muitas promessas de solução para os grandes problemas nacionais e a maioria dos brasileiros votará na esperança de um futuro melhor. Muitas discussões políticas incidem sobre o projeto de sociedade que nos é oferecido. Este coincide ou não com aquele que muitas pessoas cultivam na mente e no coração. De um modo ou de outro, estas eleições brasileiras e estas discussões sobre o projeto político tem a ver com o processo dos fóruns sociais mundiais. Ainda hoje, dez anos depois, quem acompanha este processo se recorda do refrão cantado por todos desde 2001: Aqui, um outro mundo é possível, se a gente quiser!. Este grito, lançado em todos os continentes, provocou diversas conferências temáticas e muitos fóruns regionais. Alguns criticaram que aquelas discussões aparentemente não levavam a nada. Talvez, hoje, não possam dizer isso ao ver que a Bolívia tem, pela primeira vez em sua história, um índio como presidente da República e vários países do continente têm novas constituições cidadãs e um caminho político novo e mais popular.
Em um de seus livros, Eduardo Galeano faz um de seus personagens perguntar a um companheiro: - Para que me serve a esperança (a utopia) se quando dou um passo em sua direção, percebo que ela se afasta mais um passo?
O companheiro respondeu: - Serve para fazer você caminhar.
Neste caminho para um mundo de paz, justiça e igualdade social, é importante de um lado termos sempre sob os olhos a meta que queremos atingir, mas, ao mesmo tempo, saber que isso só se dará se assumirmos as dificuldades e etapas necessárias do caminho. Não existe utopia sem mediações. Tanto no plano social e político, como mesmo no caminho da fé, é importante termos claro a sociedade nova que desejamos construir, mas, ao mesmo tempo, não descuidar das etapas necessárias para nos aproximar da meta. Sem mediações, nossa luta social e política se tornaria não histórica e sim messiânica, no sentido negativo do termo. No caminho da fé, todos os dias os cristãos oram Venha a nós o vosso reino, ou seja, realize-se aqui no mundo em que vivemos o projeto divino para a humanidade e o planeta. Mas, é preciso ter em vista como este reino ou projeto divino poderá se concretizar em nosso dia a dia.
As mediações são, em geral, limitadas, incompletas e até ambíguas, como tudo o que é humano. No entanto, rejeitá-las ou simplesmente ignorar a sua necessidade é cair na arrogância. É preciso sempre apontar o que se almeja como ideal, mas, ao mesmo tempo, ter a humildade de assumir o que é possível na realidade do aqui e agora. Na sua regra para os monges, São Bento fala da humildade como a capacidade de ter os pés na terra e viver a fragilidade de cada dia. É claro que isso poderia nos levar a uma acomodação conservadora ou pouco profética. Não cairemos nisso se soubermos articular bem a utopia (o que almejamos) e as mediações ou etapas do caminho.
Concretamente, no Brasil atual, esta humildade social e política nos faz reconhecer as conquistas sociais e o caminho positivo já percorrido nos últimos anos. Este ganho acumulado se deve, sem dúvida, a um governo competente e que governou o Brasil com nova sensibilidade social. Entretanto, estas conquistas sociais representam, sobretudo, uma conquista dos movimentos populares e de toda a sociedade civil que, nos últimos anos, amadureceu em sua consciência social e política. É preciso salvaguardar as conquistas feitas. Apesar da guerra suja, deflagrada pelos maiores meios de comunicação social do país contra o caminho até aqui percorrido, a população mais pobre tem sabido distinguir as coisas e mostra sua independência no julgamento. Não apenas porque recebe uma ajuda social que é direito de todos, mas porque se sente envolvido neste processo como um povo de cidadãos e não de mendigos aos quais se jogam apenas migalhas do que sobra às classes altas do país. A internet e a multiplicação de blogs democratizam mais esta discussão e permitem uma forma de comunicação mais horizontal e justa.
Neste caminho para a utopia, não há receitas ou regras estabelecidas para as mediações. Entretanto, alguns princípios podem ser úteis: 1º - a palavra de Gandhi: comece por você mesmo a mudança que propõe ao mundo. 2º - sozinho, ninguém transforma nada. Não se sinta acima e independente do caminho comum. Aceite a mediação do grupo e da comunidade. 3º - Não adianta pensar que vamos para o leste, caminhando para o oeste. Mesmo que seja em passos pequenos ou curtos, a utopia se faz caminhando na direção correta. Podemos corrigir estratégias e rever etapas, mas sempre no mesmo rumo.
Antoine de St. Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe dizia: Um viajante que sobe uma montanha guiado por uma estrela, se se deixar absorver demais pelos problemas e dificuldades da escalada, se arrisca a perder de vista a estrela que o guia."

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SOTERRADOS NO CHILE












Na cova das serpentes

Eugênio Magno

Gustave Flaubert escreveu um romance sobre o perigo de ler romances. Advertia que, de tanto crermos neles acabamos perdendo o pé no nosso tempo. Assim também é com o cinema e com a mídia.
Um dos maiores expoentes do cinema de entretenimento, Billy Wilder, que o diga. E “disse” muito bem quando filmou A Montanha dos Sete Abutres. Com um enredo, direto e corajoso, é um exemplo do poder de manipulação dos meios de comunicação em nossas vidas. Rejeitado pela imprensa, na época, o filme acabou se transformando em um grande clássico.
Kirk Douglas, como o jornalista Charles Tatum, é o personagem principal. A viagem que ele faz para cobrir uma caça às cascavéis leva-o a um outro fato: um homem, Leo Minosa, personagem do ator Richard Benedict, ficou preso numa mina; e a reportagem passa a ser sobre ele. O foco narrativo do filme gira em torno da manipulação jornalística própria da imprensa sensacionalista. Através da montagem paralela testemunhamos à situação claustrofóbica de Leo e a paisagem aberta e ampla, porém desolada e árida – quase desértica –, do Novo México.
Amante dos trocadilhos – marca registrada em sua cinematografia – e, usuário contumaz das simbologias, Wilder trabalha com a metáfora da cascavel para atingir o efeito crítico que pretende. João B. de Brito, em Imagens Amadas (Ateliê Editorial, 1995), ao analisar esse expediente diz: O que Tatum vai encontrar na ‘montanha dos sete abutres’ é um ser humano sendo, circunstancialmente, obrigado a levar uma vida subterrânea, como a de uma cascavel, mas evidentemente, ‘cascavéis’ (sentido figurado) são aqueles que fora da caverna, se empenham em mantê-lo no subsolo para disso tirar o lucro possível.
Todos, no filme, são biltres e, rastejam como as cascavéis em busca dos seus objetivos.
As semelhanças entre o filme e as matérias sobre os 33 mineradores soterrados na jazida San Jose, no norte do Chile, desde o dia 30 de agosto último, são evidentes. Não é demais dizer que o povo tem um interesse voraz pelas catástrofes e uma credulidade absurda na imprensa. Por isso usei a advertência de Flaubert. É preciso estar sempre alerta para as relações mediadas pela imprensa, pelo cinema e/ou pela literatura.
O filme, embora seja de 1951, já nos mostra os ingredientes do que veio a se configurar como “showrnalismo”. Tatum, com o pedantismo peculiar dos colonizadores, sempre com um ar de superioridade professoral, arrogantemente tenta convencer a todos da sua astúcia, em demonstrações recorrentes de auto-afirmação. Mas diferentemente dos espetáculos midiáticos contemporâneos, o filme não deixa o espectador na condição passiva de voyeur. Ele mostra, em contra-plano, a situação de soterramento de Leo e, nos coloca, também, na incômoda situação de soterrados. De cúmplices do desespero, à espera de alguém que nos ame, diga a verdade, e seja capaz de nos dar a mão e nos retirar do buraco, no qual nos metemos.
Este artigo também foi publicado, em 23.09.2010, nas versões impressa e on-line, da Editoria de Opinião, do jornal O Tempo.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

HIGIENIZAÇÃO COMPLETA

Por detrás de sua aparência que assusta, este animal africano se deixa afagar com deleite e alívio, pelos mangustos que se comportam como verdadeiros esteticistas. Eles fazem tudo: manicure, pedicure, alisamento e ... limpeza dos piolhos. Melhor que um banho, nada como uma passagem no salão de estética dos mangustos. Carnívoros, estes pequenos mamíferos não desprezam os parasitas nem os pequenos insetos, mas uma tal cena entre diferentes espécies é pouco comum.
(Foto: OSF / Biosphoto)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

COMO PENSAM OS ATEUS

Um texto útil para compreender
a mentalidade dos não crentes
"A recusa de Deus se baseia particularmente na presença do mal no mundo, mas isso não justifica a nossa recusa de Deus." A opinião é do cardeal italiano e arcebispo emérito de Milão, Carlo Maria Martini, em artigo para o jornal Corriere della Sera, 15-09-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Não compartilho as opções de fundo do autor, mas acredito que ler este livro, intitulado Senza Dio [Sem Deus], pode ser útil para entender a mentalidade de um ateu. É um ensaio que se deixa ler à vontade, também por causa das muitas referências filosóficas, literárias, científicas etc.
Toca também pelo fato de que, acima de tudo, o autor não apresenta raciocínios abstratos, mas sim uma escolha emotiva. Ele cita muitos episódios negativos retirados da história do cristianismo e das outras religiões, mas há, em dois milênios de vida da Igreja, muitos elementos positivos, que seria preciso considerar para ter claro o quadro geral da vida concreta das comunidades religiosas.
O livro é, portanto, muito útil para se entender qual é o modo de pensar de um ateu. A recusa de Deus aqui apresentada parece ser mais o fruto de uma inclinação afetiva do que do raciocínio. Ela é escolhida mais em base às próprias opiniões do que a partir das provas da inexistência de Deus. São compreensíveis e compartilháveis muitos pensamentos do autor. Também em uma visão evangélica, o homem é chamado a não levar em conta os títulos honoríficos, a não se resignar ao mal e a rejeitar as proibições imoderadas, mas não é necessário levar esses sentimentos às extremas consequências. A recusa de Deus se baseia particularmente na presença do mal no mundo, mas isso não justifica a nossa recusa de Deus."

POESIA ARGENTINA NO PALÁCIO DAS ARTES

Uma boa pedida para esta terça-feira, dia 21.09.10 é assistir a palestra sobre a Poesia Argentina do Agora, às 15:00hs, na Sala Juvenal Dias, do Palácio das Artes e na sequência, prestigiar mais uma edição das Terças Poéticas, nos jardins internos (Palácio das Artes), que contará com a presença dos poetas argentinos Cristina De Nápoli, Violeta Caggianelli e Javier Galarza.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A IGREJA TRAIU JESUS

Jon Sobrino denuncia que o poder eclesiástico ''traiu Jesus''
Jesus, o fundador cristão, levantou-se contra a casta sacerdotal de seu tempo. Os teólogos da Associação João XXIII o fazem agora contra o poder episcopal. Confirmaram-no ontem com um manifesto no qual lançam “um desafio” aos fiéis no nazareno crucificado junto a Jerusalém há mais de dois mil anos. “Acabou-se o tempo dos silêncios.
A reportagem é de Juan G. Bedoya, publicada no jornal El País, 13-09-2010. A tradução feita por Benno Dischinger foi publicada no site do IHU - Instituto Humanitas Unisinos. Para ler a matéria na íntegra clique aqui.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

É PRECISO INVENTAR UM NOVO MODELO POLÍTICO-ECONÔMICO

Fidel Castro, ao responder à pergunta sobre se ainda valia exportar o modelo cubano, afirmou: "o modelo cubano já não funciona nem para nós mesmos". Na segunda parte de uma entrevista concedida a Jeffrey Goldberg, correspondente da revista The Atlantic, Castro surpreende ao jornalista com essa afirmação, e também com um convite para acompanhá-lo a ver os golfinhos no aquário, entre outras coisas. Goldberg convidou a uma das mais reconhecidas especialistas sobre Cuba e sobre a América Latina, Julia Sweig, do Conselho de Relações Exteriores, para acompanhá-lo à entrevista com Castro, e conta que lhe pediu que interpretasse essa afirmação.
A reportagem é de David Brooks, publicada pelo jornal mexicano La Jornada e traduzida por Adital, 09-09-2010.
(Fonte: Site do IHU - Instituto Humanitas Unisinos)

sábado, 4 de setembro de 2010

OS ENSINAMENTOS DE PAULO APÓSTOLO

Paulo de Tarso (9 - 64 dc) foi um apóstolo diferente dos demais, por ter dado ênfase aos ensinamentos para gentios (pagãos, não israelitas, não “civilizados”). Paulo acreditava que sua missão era destinada a eles, que estavam espalhados pelo mundo.
Assim comos os outros Apóstolos, também teria visto Jesus na famosa aparição em que o mestre lhe disse: “Paulo, porque me persegues?”. Paulo era um homem bastante culto, seguidor do rabi Gamaliel. Destacou-se dos outros apóstolos, exatamente, por sua cultura, considerando-se que eram pescadores, na maioria. A língua de Paulo era o grego. É provavel que também dominasse o aramaico.
Educado em duas culturas (grega e judaica), Paulo realizou um grande trabalho pela difusão do Cristianismo e é considerado uma das principais fontes da doutrina da Igreja. Suas Epístolas formam uma secção fundamental do Novo Testamento e seus ensinamentos são fontes inesgotáveis de fé na realidade divina, além de possuirem uma profunda convicção moral e ética.


ENSINAMENTOS

“Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal pelo bem ”


"Já é chegada a hora de vos erguerdes do sono; nossa salvação está agora mais perto do que quando abraçamos a fé. A noite vai avançada e o dia vem chegando. Despojemo-nos, pois, das obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Vivamos honestamente, como em pleno dia, não em glutonerias e bebedeiras, não em mancebias e licenciosidades, não em contendas e inveja. Revistamo-nos de Jesus Cristo e não regalemos a carne para excitar os apetites desordenados"


"Não vos conformeis com este mundo, mas, transformai-vos pela renovação do espírito, para chegardes a conhecer qual seja a vontade de Deus; o que seja bom, agradável e perfeito."


"Ainda que eu fale as línguas dos homens e anjos, se eu não tiver amor sou como o bronze que soa ou o sino que retine... mesmo que tivesse toda a fé a ponto de transportar montanhas, se eu não tiver amor, não serei nada..."


"Amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, o amor jamais acaba..."


"Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus. Não recebestes, com efeito, o espírito da escravidão, para ainda viverdes com temor, mas recebestes o Espírito de filiação que nos faz clamar: Abba! (Pai)!"


"Tenho por certo que os padecimentos do tempo presente não têm proporção com a glória futura que em vós se há de manifestar. (...) Bem sabemos que a criação inteira geme, suspirando, transida de dor, por novo nascimento. Mas também nós mesmos, que possuímos as primícias do Espírito, gememos em nosso interior, esperando a filiação adotiva, a redenção do nosso corpo."


"Exorto a cada um de vós que não presuma mais de si do que convém, mas sinta de si com modéstia, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. Porque, como em só um corpo temos muitos membros, sem exercerem todos os a mesma função, do mesmo modo, embora sejamos muitos, somos um só corpo, sendo todos membros uns dos outros. Temos carismas diversos, conforme a graça que nos foi dada. Quem tiver o dom da profecia, use-o em harmonia com a fé. Quem tem o dom do ensino, dedique-se ao ministério. Quem tem o dom da pregação, pregue. Quem distribui esmola, distribua-a com liberalidade; se é superior, seja-se superior com solicitude; exercendo misericórdia, exerça-se com alegria."

(Fonte: Site do Jornal Século XXI)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

ETERNA PAIXÃO PELO TREM DE FERRO


De Volta aos trilhos
Eugênio Magno
Eu tenho estado trabalhando na rua Sapucahy, esquina com av. Assis Chateaubriand, na Floresta, em Belo Horizonte, num antigo prédio da Central do Brasil, hoje tombado pelo patrimônio histórico. De quase todas as janelas vejo a linha do trem e a imponente Estação da Central. Dia desses, ensimesmado, me perdi em pensamentos, olhando fixamente pela janela.

Tu veio dos trilhos e aos trilhos retornará. Esta frase mágica soou como uma profecia, que embora não pronunciada, estava se cumprindo naquele instante.
Trilhos sobre os quais andei, balançando com o ta-tac... ta-tac da composição. Trilhos ao lado dos quais pedalei em aventurosos passeios de bicicleta. Trilhos em cima dos quais equilibrei de mãos dadas com o meu primeiro amor, trocando juras e fazendo pactos – até de sangue.
Os velhos trilhos que atravessei, durante 23 anos, nas minhas idas e vindas de casa, me foram devolvidos. O tremor instantâneo de terra, o barulho da máquina e o apito do trem voltaram a fazer parte dos meus dias.
Minha tristeza é não poder mais ir de trem a Montes Claros, nem tampouco a Monte Azul, no velho “Misto” que rasgava o sertão e enchia de vida Burarama, Caçarema, Quem-Quem, Catuti (ou Catitu?), Pai Pedro, Tocandira e outras paragens. Não atravesso mais a linha da Melo Viana. Agora atravesso viadutos e vejo a linha e o trem presos, como bichos ferozes, em jaulas. Ando a 80, 100 kilometros por hora, em um trem de superfície, chamado metrô e vou do Calafate à Estação Central, da Central à Estação Calafate. Em alguns dias, da Estação Central ou da Calafate a Santa Tereza e, de vez em quando, a Eldorado. Fui recolocado nos trilhos, mas só embarco para trafegar pequenas distâncias.
Já começo a me cansar de ver o trem (mesmo os cargueiros e o trem de Vitória) partir e chegar. Quero ir também. Não mais do Calafate à Santa Tereza, ao Eldorado ou à Estação Central. Quero que o trem me leve para o Rio, para Vitória ou Santa Cruz de la Sierra. Quero ir de trem prá Montes Claros (visse, Charles Boa Vista), ou pra Monte Azul (viu, seu Alisson). Baldear na antiga Tremedal e pegar o trem da leste, rumo ao nordeste.
A saudade está me levando pela antiga E.F.C.B. e pela R.F.F.S.A., empresas em que meu pai ganhou a vida e o pão, que sustentou a mim, minha mãe e meus irmãos.
Agora estou sendo transportado pelo trem, sentado no vagão-restaurante, tomando cachaça, cerveja e cantando com meus bons amigos, Gilson, no violão, Cesão, no pandeiro, Reginauro, na caixinha de fósforos e o coro de Boca, Celsão, Duardo Brasil, Reco, Mauro, Aroldo, Elthomar, Jojô, Peré, João Grandão,Tadeu, Tcham Peba, Zezinho, ceo Élcio, Gerinha, Flávia, Soninha, Zana, Cidinha, Agostinha, Aída, Katião, Rosana, Vilminha, Guia e outras garotas, cujos nomes sempre variavam. É madrugada de lua clara, com direito a sereno. Da janela vem um gostoso cheiro de mato – que enganado – se assanha, achando que é a chuva, que pouco visita a minha imensa pátria, o sertão.
Eu fui tocado pelos pensamentos e lá estou. Nem sei se quero voltar (para cá). Prefiro estar no lugar de onde vim, para onde fui e, lá na estação, me encontrar com os outros que não estavam no trem.


(Texto de 2002, inédito)