(Raphael Patrasso / Reuters)
ENFOQUE-Respiradores que nunca chegaram: como a corrupção dificultou o combate à Covid-19 no país
Enquanto pacientes com Covid-19 inundavam o sistema público de saúde do Rio de Janeiro do início de abril ao final de maio, o médico Pedro Archer tomava decisões angustiantes.
As pessoas com dificuldades para respirar precisavam de respiradores, disse ele, mas não havia o suficiente para todos; os que tinham pequena chance de recuperação foram preteridos.
“Todo turno era assim”, afirmou Archer, cirurgião de um hospital municipal do Rio. “Às vezes, eu dava sedativos apenas para que não sofressem. Por fim, eles morriam.”
Algumas dessas mortes, dizem agora promotores estaduais e procuradores da República, poderiam ter sido evitadas. Eles alegam que autoridades teriam embolsado até 400 milhões de reais por meio de esquemas de corrupção que conduziram a contratos inflacionados com aliados durante a pandemia. Os negócios, segundo eles, incluíram três contratos para 1.000 respiradores, sendo que a maioria nunca chegou.
O ex-secretário estadual de Saúde do Rio Edmar Santos foi preso em 10 de julho e acusado de corrupção em relação a esses contratos. Um advogado de Santos não respondeu a um pedido de comentário. Santos admitiu ter participado de vários esquemas ilícitos envolvendo licitações públicas fraudadas, de acordo com documentos judiciais confidenciais preparados por investigadores federais e analisados pela Reuters. Ele agora é uma testemunha que coopera na investigação, de acordo com os documentos.
Separadamente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) afastou o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), do cargo em 28 de agosto devido à preocupação de que ele pudesse interferir nas investigações. Witzel também está enfrentando um processo de impeachment por suposta corrupção na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Ele negou qualquer irregularidade em um comunicado à Reuters. O vice-governador Cláudio Castro (PSC), que assumiu a posição de Witzel em agosto, não respondeu a um pedido de comentário.
A América Latina foi duramente atingida pela pandemia, com mais de 8,6 milhões de casos confirmados de coronavírus até 21 de setembro, de acordo com uma contagem da Reuters. Só o Brasil registrou mais de 139.000 mortes por Covid-19, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
Se a cidade do Rio fosse um país, sua taxa de mortalidade per capita por coronavírus seria a pior do mundo, segundo cálculos da Reuters baseados em dados da Universidade John Hopkins. Mais de 10.000 pessoas morreram de Covid-19 na capital fluminense, e mais de 17.000 em todo o Estado.
A resposta da região à pandemia foi prejudicada por vários fatores, dizem especialistas, incluindo pobreza e condições de vida urbanas superlotadas. Alguns líderes, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, minimizaram a gravidade da pandemia.
Mas o vírus também foi ajudado pela ganância.
Assim como no Brasil, investigadores na Bolívia, no Equador, na Colômbia e no Peru também alegaram que as autoridades locais encheram seus bolsos por meio de esquemas de corrupção relacionados à pandemia.
Para ler na íntegra a matéria de Gram Slattery e Ricardo Brito para a Reuters, clique aqui.
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