segunda-feira, 15 de março de 2021

ESQUERDA X DIREITA, O EMBATE NECESSÁRIO

 

(Polaridade Química: Wikiwand)

Não existe avanço sem polaridades

Eugênio Magno

A vida é prodigiosa em nos mostrar, nas várias situações do passado ou do presente que não podemos prescindir de polaridades. 

Masculino/Feminino, Sim/Não, Tese/Antítese, Claro/Escuro, Positivo/Negativo, Esquerda/Direita, etc. São elas, as polaridades, as geradoras da energia, do torque que impulsiona o motor do desenvolvimento, a fricção que cria e nos empurra pra frente, pra cima, gera o novo, nos tira da letargia. Ou seja, não existe avanço sem polaridades.

Se não, vejamos: na atualidade pandêmica brasileira, tem certas coisas que é preciso dizer. Por exemplo: é preciso dizer, lembrar e relembrar que o presidente da república, Jair Messias Bolsonaro, desde janeiro de 2020, quando o mundo inteiro tocou a sirene de alerta para os perigos e a letalidade do coronavírus, ignorou as autoridades mundiais responsáveis pela saúde e não tomou as providências cabíveis, devidas a um chefe de estado. E, pior, fez troça da doença, chamando-a de "gripezinha", usou de sarcasmo quando interrogado sobre o número de mortes por covid-19, foi garoto-propaganda de medicamentos que a ciência não aprovou como sendo eficaz no combate ao corona. E mais, incentivou, com seus constantes maus exemplos, os seus seguidores e os menos esclarecidos a não cumprirem os protocolos preventivos propostos pelos cientistas e ainda ridicularizou os brasileiros que usam máscaras. Fez churrascos, foi à praia, promoveu aglomerações e por aí vai... Poderia enumerar muitas outras ações negacionistas do presidente brasileiro, em relação às formas mais recomendadas para enfrentar o coronavírus. 

Com tudo isso e, apesar de estarmos próximos de 300 mil mortes no Brasil por covid-19, do maior índice de desemprego da história, da nossa economia estar em frangalhos, de uma equipe de governo de péssima qualidade, dos constantes escândalos envolvendo a família Bolsonaro, de uma séria crise institucional, entre os poderes da república, patrocinada pela falta de espírito republicano do bolsonarismo e dos 74 documentos enviados à presidência da câmara dos deputados, por quase 500 organizações da sociedade civil e mais de 1.500 pessoas físicas, pedindo seu impeachment , Jair Bolsonaro, ainda mantinha índices de popularidade significativos.

Até uma semana atrás, todas as pesquisas eleitorais, com vistas às eleições presidenciais de 2022, davam Jair Bolsonaro como candidato eleito, com o maior percentual de intenção de votos, vencendo qualquer candidato que disputasse com ele as eleições.

Mas eis que surgem dois fatos na linha das polaridades que aqui aponto, como uma necessidade para que haja avanços em qualquer setor da vida, privada ou pública. Um dos fatos foi a pesquisa eleitoral publicada no último dia 11 de março, na qual Bolsonaro ficou muito mal na fita. Segundo a pesquisa, Jair Bolsonaro perde as eleições na disputa com quatro dos possíveis candidatos à presidência da república em 2022. Tanto Ciro Gomes, como Fernando Haddad, Luiz Henrique Mandetta ou Lula venceriam Bolsonaro, segundo a pesquisa. E o outro fato foi a entrevista coletiva do ex-presidente, Lula depois de o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin ter decidido anular todas as decisões processuais tomadas contra ele pela Justiça Federal do Paraná dentro da Operação Lava Jato. Com isso, ficaram derrubadas as condenações de Lula nos casos do Triplex do Guarujá e do Sítio de Atibaia, o que reestabeleceu os direitos políticos do petista. Ou seja, se ele não sofrer condenações em segunda instância novamente até as eleições de 2022, não estará impedido de concorrer à Presidência da República. Na entrevista, Lula, com toda a empatia que lhe é peculiar, falou como um presidente deve se dirigir ao povo de uma nação, em situações como a que estamos vivendo. O ex-presidente falou da importância da vacina em caráter de urgência, condenou a liberação de armas para a população, fez críticas à política econômica do governo e à falta de habilidade diplomática do Brasil no campo das relações internacionais. O mais interessante nesse episódio é que Lula, imediatamente, após a entrevista na qual falou sobre a POS-SI-BI-LI-DA-DE de se candidatar em 2022, passou a pautar o comportamento de Jair Bolsonaro que, até então, permanecia impassível diante de todos os ataques sofridos de setores da sociedade e mesmo aos da oposição.

Nessa nossa análise o que menos importa é se Lula será realmente candidato à presidência ou não. Se ele continuará elegível até as eleições de 2022 ou se a Procuradoria Geral da República (PGR) irá ou não recorrer da decisão do STF. Mas, no mínimo, duas das reações do clã Bolsonaro dão provas de que somente a polarização, no caso uma oposição forte, com apoio popular e capacidade de enfrentar o governo, em um debate franco e democrático, pode mudar o rumo das coisas, até que cheguemos às eleições ou que haja mobilizações suficientes para se iniciar um processo de impeachment (o que tem poucas chances de acontecer).

As duas maiores provas do pavor dos Bolsonaro depois da fala do Lula e da divulgação da pesquisa eleitoral foram: um dia após a entrevista coletiva de Lula, Jair Bolsonaro apareceu para o público usando máscara e os filhos do presidente apelando para as redes sociais pedindo aos seguidores do pai que divulgassem foto do presidente, juntamente com texto a favor da vacinação: “nossa arma é a vacina”.

Política não é como futebol. Quem governa tem que governar para todos, mas para que todos ganhem, a nação seja vencedora e o povo vitorioso, é necessário que haja dois lados. Somente a polaridade e os contrapesos podem gerar o equilíbrio tão sonhado, mas pouco batalhado na arena da vida, das lutas, das mobilizações e das disputas de narrativas.


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