A importância do diálogo fraterno
Eugênio Magno
Fraternidade,
Amor, Paz, Unidade (ainda que na diversidade) são pressupostos básicos do
cristianismo. Num país como o nosso em que, algo em torno de 80% da população
se declara cristã, porque é necessário que as verdadeiras Igrejas Cristãs
tenham que fazer campanha para estimular e promover, justamente a fraternidade?
Queria
poder responder de outra forma, mas, meio a contragosto, digo que é simplesmente
porque não sabemos o que é ser cristão e é fundamental que sejamos lembrados
permanentemente. Existe todo um ensinamento dado pelo próprio Cristo é claro e,
pelos verdadeiros cristãos ao longo da história do cristianismo pelos Evangelhos,
segundo vários apóstolos. Cada um dos batizados que se dizem cristãos, também
já deveriam estar cientes do que é ser cristão. Sendo simplista, diria que ser
cristão é seguir o Cristo, é ter a intenção e o desejo de, ao menos, aprender a
segui-lo. E para segui-lo é fundamental que tenhamos, ainda que somente como
horizonte, o seu principal mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e
amar ao próximo como a si mesmo”.
Então
qual é o problema? Porque algumas seitas exploradoras da credulidade popular
faz tanto escarcéu contra a Campanha da Fraternidade de 2021. E, mais grave
ainda, porque setores conservadores da Igreja Católica e de outras Igrejas
pertencentes ao Conselho Nacional das Igrejas Cristãs insistem em dividir ainda
mais o que deveria estar unido e incentivam boicotes e fazem críticas à
campanha?
Na abertura do tempo da Quaresma, do Missal Dominical, tem um texto “O Jejum que salva”, que nos ajuda a argumentar sobre a importância da campanha da fraternidade.
Na quaresma se pede ao fiel que renuncie das refeições importantes do dia em sinal de disponibilidade e solidariedade. Disponibilidade à escuta de Deus, demonstrando dar mais valor à sua palavra que ao bem-estar imediato, sinal de conversão do coração; isto é que significa o jejum dos cristãos, como o do Mestre no início de sua missão. Um jejum mais sensível por todo o tempo da Quaresma, com outras iniciativas pessoais de desapego, renúncia às comodidades e satisfações mesmo legítimas, para maior liberdade interior. Assim o jejum ritual, feito com interioridade e não por mero formalismo, se torna sinal de fé e caminho de salvação para todo o nosso ser. Por outro lado, sofrendo um pouco de privação, saibamos unir-nos de algum modo aos homens para os quais é habitual a privação de alimento, de meios econômicos, de bens culturais e de possibilidades concretas de desenvolvimento: o jejum se torna um gesto simbólico, denúncia profética da injustiça que nasce do egoísmo, solidariedade com os mais pobres. Assim, a preparação para a Páscoa se torna ‘Campanha da Fraternidade’, e a ceia do Senhor um gesto de pobreza, contrição, esperança, anúncio. Quem participa seriamente da paixão do Senhor, ainda hoje viva, nos pobres da terra, sabe que a volta ao pai (tanto a sua como a da comunidade) já começou, e que na mortificação da carne pode florescer o Espírito da ressurreição e da vida. (Missal Cotidiano, Paulus, pág. 140)
Na quarta-feira de cinzas, 17 de
fevereiro, foi lançada a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 com o tema
“Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz:
do que era dividido, fez uma unidade”. Neste ano, a campanha é ecumênica e,
portanto organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelo
Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC).
Para quem não sabe, a Campanha da
Fraternidade acontece no Brasil desde 1964 e, a partir do ano 2000 ela assumiu
o compromisso de ser ecumênica a cada cinco anos.
Os principais objetivos da Igreja
Católica, representada em nosso país pela CNBB, em criar, manter e promover
anualmente as Campanhas da Fraternidade são os seguintes:
Educar para a vida em
fraternidade, com base na justiça e no amor, exigências centrais do Evangelho e Renovar a consciência da responsabilidade de
todos pela ação da Igreja Católica na evangelização e na promoção humana, tendo
em vista uma sociedade justa e solidária.
A campanha deste ano está voltada para a
superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual, em
especial no contexto da política e da pandemia da covid-19. A CNBB chama a
atenção para o fato do vírus que já é letal em si mesmo, ter encontrado aliados
na indiferença, no negacionismo, no obscurantismo e no desprezo pela vida e na
ocasião do lançamento virtual da campanha, conclamou os cristãos a serem
aliados na responsabilidade, na lucidez e na fraternidade. A proposta da CNBB
que encontrou plena ressonância no Conselho Nacional das Igrejas Cristãs foi
dar continuidade à campanha do ano passado, sobre a necessidade do cuidado
mútuo entre as pessoas, independentemente de sua cor, raça, etnia, gênero,
cultura e condição social e econômica. Os organizadores da campanha ressaltam
que essa proposta ecumênica não é de imposição, no sentido de que todos pensem e
ajam da mesma maneira e sim de sensibilização sobre a importância do diálogo,
especialmente frente às diferenças. CNBB e CONIC identificaram nesse tema a
mensagem pela qual o nosso tempo clama. É voz corrente entre os cristãos que,
verdadeiramente, abraçam o Evangelho de Jesus Cristo, saberem-se conscientes de
como é triste ver o que vem acontecendo em nossa sociedade, marcada pela
radicalização, polarizações e desrespeito às pessoas, especialmente as mais
simples e as vulnerabilizadas, sem fazer nada a respeito.
As campanhas da fraternidade são formas
concretas de expressarmos a dimensão social e porque não dizer política da nossa fé. E isso
não tem nada a ver com simpatias ou antipatias partidárias. Muito embora hajam
muitos partidos políticos e partidários de determinados partidos negacionistas que, mais preocupados em
dividir ou se afirmarem, equivocadamente, negam o amor e a fraternidade entre
os humanos.
A proposta aqui é incentivar e apelar às pessoas de bem, independentemente do credo que professem, no sentido de
contribuir como puder para o sucesso da Campanha da Fraternidade Ecumênica de
2021: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” – “Cristo é a nossa paz: do
que era dividido, fez uma unidade”.
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