A ‘escalada democrática’
Episódios recentes na vida política da América Latina indicam que estamos diante de uma ‘escalada democrática’ . Em junho de 2012, numa sexta-feira, deu-se o golpe democrático’ contra Fernando Lugo, presidente eleito do Paraguai. Processado
e derrubado pelo Congresso em 33 horas, seu afastamento consolidou-se
na eleição deste domingo, que devolveu o poder à direita paraguaia. Três anos antes, a modalidade já havia sido testada em Honduras.
O Presidente Manuel Zelaya foi ‘impedido legalmente' em 29 de junho de 2009. Seis meses depois, uma nova eleição dava sua vaga ao conservador Porfírio Lobo, derrotado por Zelaya em 2005. Enfim, se você perde nas urnas o jeito é afastar quem ganha para liberar o caminho.
Isso lembra alguma coisa chamado 'mensalão'? Deflagrado
em 2005 com o objetivo de levar Lula ao impeachment e impedir sua
reeleição no ano seguinte, a AP 470 mantém sua 'funcionalidade
eleitoral' e é assim que entra em fase decisiva de recursos esta semana
(leia o editorial de Carta Maior: "Mais 250 dias ou Fux vai matar no
peito?").
A contrapelo do cerco conservador, Lula foi reeleito em
2006 e repeliu o golpe contra Zelaya, em 2009. A embaixada brasileira
em Honduras concedeu asilo ao presidente deposto.
O conjunto foi duramente criticado pelo dispositivo midiático. No caso de Lugo, as emissões conservadoras se alvoroçaram de maneira ainda mais ostensiva. A frente pró-golpe manifestar-se-ia, primeiro, no Congresso brasileiro.Expoentes
tucanos e emissários do agronegócio brasileiro, que anexou extensões
escandalosas de terras do país vizinho, em prejuízo dos camponeses
locais, desfraldariam o lobby. Queriam o ‘reconhecimento imediato do novo governo amigável’ por parte da Presidenta Dilma. Rechaçados, entrou em campo a cavalaria midiática.
A
Folha disparou um editorial sugestivamente intitulado ‘Paraguai
soberano’(26-06). Curioso que não tenha produzido título equivalente no
caso recente da Venezuela.
O texto esbravejava antecipadamente
contra a reunião do Mercosul que ocorreria em Mendoza, três dias depois,
para examinar a crise. O jornal da família Frias recomendava ,
quer dizer, ordenava: ‘o melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e
respeitar a soberania do vizinho’.
Como os presidentes do
Brasil, Argentina e Uruguai não se pautaram pelos editoriais e, ademais
de suspender o Paraguai golpista, incorporaram a Venezuela ao bloco,
as cepas e esporões direitistas passaram a reproduzir-se com furor
lacerdista no noticiário. A política externa brasileira foi reduzida à posição de linha auxiliar do chavismo e do kichnerismo.
No caso recente da eleição venezuelana, o diapasão conservador arremeteu direto contra as urnas A
margem estreita que marcou a vitória de Nicolas Maduro contra o
direitista Enrique Capriles foi a senha para a contestação do processo
democrático.
A ordem unida veio dos EUA: não legitimar Maduro enquanto uma recontagem não ‘esclarecesse melhor o quadro’. Para continuar lendo a matéria de Saul Leblon, clique aqui.
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