A revolução alemã. ''Amparemos os homens, o novo sexo frágil''
Andrea Tarquini
Jornal La Repubblica, de 25.02.10,
com tradução de Alessandra Gussatto
"Pobre macho, estás em maus lençóis. Perdeu a guerra dos sexos, pelo menos nas sociedades mais avançadas. As mulheres, na verdade modernas como as alemãs, mas não somente, te ultrapassaram ou estão te tirando do trono em todas as áreas. Aprenderam a conciliar carreira e filhos, estudam mais e melhor, tem uma relação mais flexível com as novas tecnologias. Fumam e bebem menos, são mais saudáveis, tem uma vida mais longa, e muito raramente escolhem o crime. A situação dos homens hoje, na Alemanha e nas outras sociedades pós-industriais, é tão dramática e desesperadora que se faz necessária uma nova instituição, uma nova figura: um encarregado do governo ou um defensor público, que se encarregue de oportunidades iguais para os homens. Os quais já, não há nada a fazer, se tornaram o novo sexo frágil.
A proposta do defensor para as oportunidades iguais masculinas parece uma provocação, e é isso mesmo. Parte da conferência sobre a condição masculina, 'Novos homens. Mas é realmente necessário? Debate sobre a relação dos homens com sentimentos e emoções', que ocorreu na Universidade Heinrich Heine de Duesseldof na Alemanha, por ironia do destino, essa também já um baluarte do poder feminino: sessenta de cem estudantes são mulheres. Como os 57% dos alunos que acabam o ginásio, que são as escolas de qualidade. Resumindo, é preciso criar um novo homem, adaptá-lo ao mundo novo, mas sem tirar a sua virilidade. Não é uma piada, os sociólogos e psicólogos chamaram a atenção na conferência sobre a crise do homem. 'A promoção das oportunidades iguais nos anos 60 e 70 foi um sucesso', disse o sociólogo Klaus Hurrelmann, mas inevitavelmente as mulheres venceram à custa dos homens. 'Esquecemos-nos deles, nos associando à luta do feminismo e das mulheres'. Resultado disso é, entre outros, a dificuldade sempre maior das mulheres para encontrar o “homem certo”. Mulheres vencedoras, mas sem companhairos.
É culpa também dos homens, obviamente. Através das tempestades da revolução feminista, da queda dos Muros, da Internet, continuaram firmes nos seu papel tradicional de chefes de família que trabalha, chama a atenção Hurrelmann. Não entenderam de todo que as mulheres, especialmente as jovens de hoje, querem e sabem conciliar uma carreira e sucesso com uma família e o papel de mãe. O quadro geral descrito pelo professor Matthias Franz deixa poucas esperanças. Vejamos: bem mais homens que mulheres (60%) interrompem os estudos. As mulheres vivem em média cinco anos a mais. Sabem levar uma vida mais saudável, sucumbem menos do que os homens aos prazeres nocivos do fumo, álcool e drogas, sofrem raramente um infarto ou outras doenças cardiovasculares. Na escola e na universidade são melhores alunas, se aplicam mais, e tem idéias mais claras sobre o que querem fazer quando crescerem. “Em resumo, na educação, na saúde, mas também no que diz respeito ao autoconhecimento, os homens apresentam um quadro desesperador”. E sem uma ajudinha, institucional e política, arriscam não conseguir ter sucesso.
Até com relação ao futuro do casal não são mais eles, os tradicionais chefes de família há séculos, que decidem. Mais de uma vez é a mulher que quer o divórcio ou o fim da relação, observa o sociólogo Gerhard Amendt. E ainda: o homem que deve aceitar o divórcio ou o fim de um amor, na maior parte das vezes não reage de forma a fazer um reinício, mas sim se ensimesmando. Por anos ou para sempre. Assim como na escola ou na universidade, os machinhos que se vêem e se sentem ultrapassados pelas meninas reagem fechando-se em si mesmos, deixando-se levar pela quase dependência química dos jogos de videogame, explodindo em desesperados acessos de agressividade. Ou buscando refúgio na família, no colo da mãe e do pai, cômodo, mas sem futuro. O homem forte é, portanto, uma lenda masculina de ontem, do passado, observa o suíço Walter Hollstein, estudioso da psique masculina. O homem de hoje não soube adaptar-se a um mundo que se tornou mais feminino, no poder, mas também na cultura e nos costumes. 'Aos homens se pedem sempre mais qualidades femininas: mais comunicação, mais capacidade de demonstrar sentimentos e emoções'. Menos decisionismo, menos poder. E o homem entra em parafuso.
'Deve aprender mais empatia, entender melhor a si mesmo'. Sendo assim, talvez pareça até necessária uma política de cotas para os homens. Com cotas, com o defensor público, com os novos esforços para entenderem a si mesmos, é hora de inventar o homem novo. Capaz de adaptar-se ao novo poder das mulheres. Talvez também pronto a procurar uma carreira ou vocação de vida em campos tradicionalmente femininos, da educação aos asilos. Pobres homens, dizem os deputados de Duesseldorf, perderam a guerra dos sexos e devem ser ajudados. Senão, devagar nascerá um homem novo, ou melhor, um macho novo, também as novas mulheres têm a perder: vão faltar homens confiáveis."
(Fonte: Site do IHU - Instituto Humanitas Unisinos)
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