domingo, 24 de dezembro de 2017

OPORTUNISMOS


Milagres & Mazelas


Eugênio Magno
Comunicólogo e Educador


Esse artigo também poderia ter como títulos: Exposição excessiva, ou O que já não era bom, pode ficar pior, entre outros. Optei por Milagres & mazelas, por ser menos deletério, mais respeitoso, e porque não dizer, mais justo. Afinal, os tratamentos dados aos dois temas abordados, podem ser entendidos como contraditórios ou paradoxais, a gosto do freguês.
O botox e a propaganda encaixam perfeitamente nesse paradigma. Tanto uma como a outra ferramenta, mesmo que manipulem a realidade de forma deliberada, podem criar o belo. Ainda que um belo fugaz e, consciente ou inconscientemente, enganoso. Mas como a diferença entre remédio e veneno está na dose, o excesso, prática recorrente dos tempos atuais, em que tudo se encontra ao alcance de nossas mãos tem contribuído enormemente para o desproporcional, o exagerado, o feio, o fake e as aberrações.
A despeito de belezas que realçam seu frescor e graciosidade, com pequenas intervenções, é grande o número de atores e atrizes talentosos que anularam totalmente sua capacidade de nos convencer de verdades cênicas por conta de preenchimentos e “esticamentos” que impedem o desenhar da expressão facial de suas emoções. Sem um close ou contatos presenciais, apresentadores de TV e outras celebridades poderiam muito bem nos convencer de que encontraram o elixir da eterna juventude. Mas suas plásticas, maquiagens e “botocagens” não são capazes de os igualarem aos seres virtuais que habitam o mundo audiovisual. Há pouco tempo, em um velório, não reconheci uma senhora, amiga da família que, delicadamente me chamava pelo nome. Seus lábios e sua boca ficaram irreconhecíveis, cresceram e não combinavam com olhos, bochechas, orelhas e pescoço. Recentemente, andando por um shopping da zona sul de BH me deparei com grande quantidade dessa espécie que exagera na dose, vítima do efeito contrário e das constantes “reparações” que causam ainda mais deformações.
E de deformação em deformação, as pessoas, as instituições e esse modelo agonizante de organização econômica e social que, desesperadamente, busca se reinventar é vilipendiado pelos oportunistas que, em busca da piada fácil e do trocadilho barato, expõem organizações ao ridículo. As Lojas Marisa erraram feio se aproveitando da morte de Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula, para divulgar a sua marca. E agora a agência Binder coloca as Óticas do Povo numa situação no mínimo, discutível, ao homenagear(?) o juiz federal Sérgio Moro, num comercial de TV que repete “Moro”, “Moro” com exclamações, interrogações, reticências e circunflexos no último o, brincando com a antiga gíria “Morou!?” que, por acaso tem u no final, dando ao juiz ainda mais exposição.

Será que tudo é apenas uma infame brincadeira, ou os marqueteiros de Sérgio Moro já estão em ação e dispararam a campanha presidencial antecipada do juiz, por meio de uma aliança com a Binder e as Óticas do Povo?
Este artigo também foi publicado no jornal O Tempo, de 21/12/2017, pág. 19

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