quarta-feira, 25 de novembro de 2020

GODARD CONTRA A VULGARIDADE CAPITALISTA

(Imagem reproduzida pelo Site Outras Palavras)

A política pictórica de Godard


Em toda sua obra, da Nouvelle Vague aos filmes do século XXI, cineasta francês que faz 90 anos em dezembro utilizava a pintura como elemento essencial. Às vezes de forma irônica, noutras para afastar o cinema da vulgaridade capitalista

No incontornável texto “Jean-Luc Godard: cinema e pintura, ida e volta”, integrante do livro Cinema, vídeo, Godard (Cosac Naify), Philippe Dubois distingue dois momentos da relação ubíqua entre cinema e pintura na obra godardiana. No primeiro deles, concernente aos filmes produzidos na década de 1960, a pintura se mostra no cinema como uma prática de “citação” e “ex-citação” generalizada, pela qual reproduções frontais de quadros canônicos invadem a diegese, interagindo implícita ou explicitamente com as personagens, seus rostos, situações ou vínculos afetivos. Lembremos, por exemplo, em Acossado (1960), da mania de Patricia (Jean Seberg) de colar na parede de seu apartamento pôsteres de retratos pintados por Pierre-Auguste Renoir, Paul Klee e Pablo Picasso com os quais se identifica. Ou, então, em Tempo de guerra (1963), da cena hilária em que os soldados Michelangelo (Albert Juross) e Ulysses (Marino Mase) voltam para casa e presenteiam solenemente suas esposas, Venus (Geneviève Galéa) e Cleopatre (Catherine Ribeiro), com uma valise repleta de tesouros do mundo: monumentos, meios de transporte, lojas, obras de arte, indústrias, riquezas da terra, maravilhas da natureza, os cinco continentes, tudo sob a forma de cartões-postais cujo ganho parece valer exatamente como a posse das coisas em si — o valor de exposição tornado “objeto de culto, de reinvestimento simbólico de segundo grau”.
Nesse amálgama entre turismo e pilhagem, espetáculo e barbárie, já despontava a chave da reflexão godardiana sobre arte pop e cultura de massa, cada vez mais evidente ao longo dos anos 1960. Digamos que, no começo da carreira, Godard partiu de referências espirituosas a gêneros hollywoodianos, especialmente filmes B, noir e de gângster, mas também de musicais, frutos da paixão cinéfila contraída enquanto era redator exímio da revista Cahiers du cinéma, e desembocou no exame detalhado da sociedade de consumo, acentuando seu aspecto mortífero, em um paralelo sugestivo com o melhor de Andy Warhol. Em Week-end à francesa (1967), um casal burguês viaja pelo interior da França para reclamar uma herança e no caminho depara com um engarrafamento descomunal, filmado em travelling e livremente inspirado no conto “A autoestrada do Sul” (1964), de Julio Cortázar, no qual a violência escala desde acidentes de trânsito, estupro, assassinatos, até canibalismo, fenômenos testemunhados com indiferença atroz em meio a passatempos. Sem dúvida, por perpetuar a lógica industrial do trabalho alienado e do tempo livre, o cinema estava no cerne da crítica godardiana, sendo então abandonado na iminência de maio de 1968, quando Godard, na companhia de Jean-Pierre Gorin, fundou o Grupo Dziga Vertov, coletivo audiovisual militante de orientação maoísta que, em vez de proceder segundo tais modelos, filmava politicamente.
Para continuar lendo o ensaio de Dalila Camargo Martins para a Revista Cult, clique aqui.
(Fonte: Outras Palavras)

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

DÓLAR ESTÁVEL: ATÉ QUE DIA/HORA (?)


(Foto: Eugênio Magno)

Dólar mostra estabilidade nesta 6ª, mas caminha para perda semanal com otimismo sobre vacina


By Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar tinha variação discreta ante o real nesta sexta-feira, mas já chegou a cair 0,52% mais cedo, caminhando para registrar perda semanal na esteira do ânimo global sobre o desenvolvimento de vacinas para a Covid-19 e um dia depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltar a demonstrar otimismo sobre a economia.
Às 9:18, o dólar recuava 0,05%, a 5,3106 reais na venda, enquanto o dólar futuro de maior liquidez tinha variação positiva de 0,08%, a 5,3110 reais.
Na última sessão, o dólar spot registrou queda de 0,45%, a 5,3131 reais na venda.
O Banco Central anunciou para esta sexta-feira leilão de swap cambial tradicional para rolagem de até 12 mil contratos com vencimento em abril e agosto de 2021.
(Fonte: Reuters Brasil)

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

ARMADILHAS DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO


(Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE)

Vota no João e elege o Tião 

Eugênio Magno 

            Para evitar que se vote no João e eleja o Tião, é preciso compreender o sistema eleitoral brasileiro.

            Neste ano temos duas eleições, em todos os municípios do país, uma majoritária e outra proporcional. O Sistema Majoritário é adotado para as eleições de Presidente, Governador, Prefeito e Senador e o Sistema Proporcional para todas as casas legislativas.

            Na eleição majoritária, de prefeito, em todas as cidades com mais de 200 mil eleitores, será eleito em primeiro turno, o candidato que obtiver mais de 50% dos votos válidos e, em segundo turno, o mais votado. Nas cidades com menos de 200 mil eleitores, o candidato que obtiver a maior quantidade de votos, independentemente da porcentagem, será o vencedor. Aparentemente, nada mais justo. Mas veja como o nosso sistema eleitoral precisa de aperfeiçoamentos. Tomemos como exemplo hipotético, uma cidade com 100 mil eleitores que tenha três fortes candidatos à prefeito e de tendências bastante diferentes. Se o número de abstinências, votos nulos e brancos somar 20 mil, 80 mil é o total de votos válidos. Digamos que o candidato mais votado obtenha 30 mil votos, o segundo 27 mil e o terceiro 23 mil votos. Observe que o candidato vencedor está sendo legitimado para o cargo com menos de um terço dos votos correspondentes ao total de eleitores da cidade.

Já para a Câmara de Vereadores, o sistema adotado é o proporcional. Nesse sistema existem dois elementos importantes a serem considerados: quociente eleitoral e quociente partidário que muita gente não conhece. O quociente eleitoral é determinado dividindo-se o número de votos válidos apurados, pelo número de lugares em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração, se igual ou inferior a meio e, equivalente, a um, se superior. E o quociente partidário é determinado para cada partido ou coligação dividindo-se pelo quociente eleitoral, o número de votos válidos dados sob a mesma legenda ou coligação, desprezada a fração. No caso das eleições municipais, estarão eleitos vereadores, tantos candidatos registrados por partido ou coligação, quantos o respectivo quociente partidário indicar, na ordem de votação nominal que cada um tenha recebido.

            É aí que mora o perigo, pois se corre o risco de votar em um candidato e eleger outro. As velhas raposas políticas, especialmente candidatos que já vêm de um mandato, vivem insistindo em candidaturas de pessoas bem intencionadas e de boas relações, mas sem chances de se elegerem, simplesmente para engordar o quociente partidário de seus partidos ou coligações para que eles (as “raposas”) se elejam. Outro expediente usado pelos “raposões” é se filiar a um partido pequeno que tem apenas um ou dois nomes de expressão, mas que são bons de voto, para que eles sejam eleitos, muitas das vezes com um número de votos desprezível, a custa dos votos de legenda capitaneados pelo grande líder daquele partido ou coligação e a soma dos candidatos chamados nanicos.

Para concluir aqui vai um exemplo: Digamos que o total de votos válidos em Belo Horizonte nessas eleições seja de 1.000.000. Um milhão de votos divididos pelo número de cadeiras da Câmara de Vereadores que são 41, dá um quociente eleitoral de 24.390 votos, já com os arredondamentos previstos. Isso significa que cada partido ou coligação precisa ter 24.390 votos para eleger cada um dos seus candidatos. Se o Partido “X” obtiver 48.780 votos que é o dobro do quociente eleitoral, ele elegerá dois candidatos, pois obteve um quociente partidário igual a dois. Mas imaginemos que o partido consiga um pouco mais de votos: 52.600, por exemplo. Na hipótese do candidato mais votado desse partido, que estou chamando de “X”, conseguir 50.000 votos, o segundo colocado 1.000, o terceiro 850, o quarto 400, o quinto, 250, e o sexto 100 votos, o partido “X” elegerá o candidato que obteve 50.000 votos e o que obteve apenas 1.000 votos. E o que isso quer dizer? Quer dizer que pode acontecer do eleitor ter votado no candidato que obteve 100, 400 ou até mesmo no que obteve 850 votos, no entanto ajudou a eleger o candidato que obteve 1.000 votos. E no Brasil, apesar de termos partidos consolidados, alguns com projetos bem definidos, os eleitores nem sempre conhecem os programas partidários e votam, por simpatia ou afinidade, na pessoa do candidato e, em muitos casos, sem saber por que, contribuem para a vitória de candidatos que não escolheram.

            É assim o nosso sistema eleitoral. Se ele é bom ou ruim, depende do ponto de vista: se do partido, do eleitor, do João ou do Tião.

* Este artigo também foi publicado no jornal Pensar a Educação em Pauta e seu conteúdo também está no episódio # 1 do Podcast Política com Fé



terça-feira, 10 de novembro de 2020

O FIM DE UM PESADELO NÃO NOS LEVA AO PARAÍSO


Maravilha e limites da derrocada de Trump

(Imagem: Outras Palavras)

Rompeu-se o movimento de pinça por meio do qual a classe do 0,1% impôs seu projeto desde 2008. Será inútil – se persistir o grande déficit de imaginação política da esquerda. Mas uma nova oportunidade está se abrindo, em especial no Brasil…

Com o título acima dessa forte imagem e, como introdução, o texto em itálico, Antonio Martins, reflete as análises e repercussões do resultado das eleições estadunidenses, para Outras Palavras. 
Para ler o texto na íntegra, clique aqui

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

CONSTITUIÇÃO NÃO É PANFLETO


Ulysses Guimarães ergue a Constituição Cidadã, promulgada em 5 de outubro de 1988, símbolo de redemocratização nacional (Acervo MDB-BA)


 Nova Constituinte, um projeto a ser construído*


Eugênio Magno 


Os progressistas, em toda a América Latina, têm razões de sobra para comemorar os últimos acontecimentos em nosso continente. No Chile, 78% da população aprovou em plebiscito a mudança de sua Constituição, numa clara demonstração de rejeição a atual constituinte que remonta à ditadura de Pinochet. A população chilena também deseja por fim ao modelo econômico capitalista neoliberal que desde os anos 1980 vem destruindo as políticas sociais daquele país. Já na Bolívia, Luis Arce Cataroca, considerado pupilo de Evo Morales, de quem foi ministro, venceu seu adversário, Carlos Mesa, com uma vantagem de 20%. E isso é muito bom, para o Chile, para a Bolívia e para animar o povo latino americano e, especialmente, para nós brasileiros a continuarmos na luta pela reconquista dos direitos perdidos nos últimos anos. Mas é bom que nos acautelemos. O buraco aqui é bem mais embaixo e uma nova constituição é um projeto – de médio prazo –a ser construído. 

Se não, vejamos: na esteira desses importantes fatos, o líder governista brasileiro, na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), propôs, dias atrás, um plebiscito para a elaboração de nova Constituição para o país. Até aí, nada de mais. Aliás, às vésperas das eleições de 2006, em artigo intitulado “Cidadão constituinte”, no jornal O Tempo, elogiei o breve aceno do então presidente, Lula, na direção de convocar uma nova Carta Magna. O projeto morreu no seu nascedouro. E aquele era um momento em que tínhamos reais condições para tal. Poderíamos até avançar para uma Democracia Social Participativa. À época o que eu defendia era uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva – específica para votar a tão esperada reforma política –, formada por cidadãos, sem a presença de parlamentares (com mandato), porque eles dificilmente votariam contra seus interesses particulares. Se naquela ocasião uma ação política de tal envergadura requeria um protagonismo que o Congresso Nacional não podia nos oferecer, imagine na atualidade (?). Não temos clima favorável para isso agora. 

Não obstante as defesas em contrário é inegável o fato de que a Constituição Cidadã, de 1988, que tantos avanços sociais garantiu em sua letra, carece de uma ampla e competente revisão para que a prática de seus enunciados seja uma realidade concreta. Entretanto, não podemos esquecer que a plena consolidação de um Estado Democrático de Direito, infelizmente, é anseio de apenas um pequeno extrato da sociedade brasileira que, mais politizado, luta pelo aperfeiçoamento das instituições. A maioria da população, alijada do debate político compulsoriamente – no passado, pelos vários anos de ditadura e, no presente, pela dominação econômica, alienação cultural e obscurantismo do atual governo –, demonstra pouco interesse em participar de forma engajada na discussão dos grandes temas nacionais. No que diz respeito às questões dos mandatos públicos, constatamos com perplexidade que pouco vale o exercício do voto para um eleitor que mal conhece o sistema político partidário e eleitoral do seu país. 

A ideia de uma nova constituição vem crescendo e o presidente, Bolsonaro, que de bobo não tem nada, já começa os movimentos de regência, com sua inseparável caneta Bic, orquestrando seus asseclas nessa direção. Atentemos para alguns dos argumentos do deputado, Ricardo Barros, ao defender a convocação de uma nova constituinte: “Precisamos escrever mais deveres”. Segundo ele, a Constituição Federal, “só tem direitos”, “... tornou o Brasil ingovernável”. E os governistas jogam, no mínimo, com três forças: a aprovação do governo, que ainda é significativa; a desinformação da massa, que representa grande parte do seu eleitorado e a esperteza dos lacaios da sua base de apoio, dentro e fora do governo. Por essas e outras, o melhor é colocar as barbas de molho, ou como dizem nuestros hermanos argentinos: Ojo! 

Alguns setores das esquerdas têm de superar o ingenuísmo cirandeiro. Ação política transformadora não se efetiva com o soprar dos ventos, ainda que seja um bom vento-sul. A resposta democrática dos nossos vizinhos ameríndios não deve ser tomada como um sinal dos tempos e sim como exemplo de luta para mobilizar a participação popular para a construção de projetos concretos e realizáveis. Não nos esqueçamos de que para seguirmos a mesma trilha necessitamos de sujeitos coletivos dispostos e em condições de fazer essa articulação. Mas, é bom lembrar que, infelizmente, no atual momento, os partidos políticos e as principais lideranças nacionais que dispõem de recursos e capilaridade para fazê-la, estão em outra vibe. 

O cenário que se nos apresenta é desafiador. Além da falta de projetos, carecemos de atores sociais experientes, com competência, coragem, ética, honradez e, sobretudo, desapego pessoal suficiente para protagonizar o que queremos e precisa ser (re)construído no Brasil em caráter de urgência urgentíssima. 

* Este artigo também foi publicado no jornal Pensar a Educação em Pauta.

domingo, 1 de novembro de 2020

CEFEP REÚNE ASSESSORES E APRESENTA NOVOS MEMBROS

 

Dom Joaquim Giovani Mol 
(Imgem: divulgação - ANEC)

Fé e Política: o Reino de Deus presente no mundo


O Centro Nacional de Fé e Política dom Helder Câmara (CEFEP), órgão de formação política para cristãos leigos e leigas, ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizou neste final de semana seu segundo encontro virtual de assessores em 2020.

Sábado, 31 de outubro foi reservado às trocas de apresentações entre os 25 novos assessores e assessoras que passaram a integrar a Rede de Assessores do Centro, que agora conta com cerca de 50 membros. Padre Paulo Adolfo, secretário executivo do CEFEP, falou sobre a importância da ampliação do quadro de assessores que tem como objetivos, além de uma renovação complementar, equilibrar a participação por gênero (aumentar a participação das mulheres), contemplar outras disciplinas e áreas do conhecimento, cobrir, em capilaridade, as várias regiões do país e integrar representações de outras instituições parceiras. 

No domingo, 1º de novembro, os assessores se reuniram de 9 da manhã ao meio dia para ouvir dom Joaquim Giovani Mol, bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB. Sua reflexão teve como inspiração o manifesto Pacto pela Vida e pelo Brasil, que as mais importantes instituições brasileiras são signatárias e a Carta ao Povo de Deus, assinada por 152 bispos católicos. Dom Mol fez um resgate do teor desses dois importantes documentos à luz do texto inicial do capítulo IV - A dimensão social da evangelização, da exortação apostólica, Evangelli Gaudium, do papa Francisco: "Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo"

Após as interações dos participantes, padre Paulo Adolfo deu por encerrado o encontro e foi proferida a benção final, pelo presidente do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP), Dom Giovane Pereira de Melo, bispo de Tocantinópolis – TO, que também é presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato.

Visite o site do Centro Nacional de Fé e Política dom Helder Câmara - CEFEP.