terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A DESIGUALDADE TEM CAUSA E CAUSADORES

Os trilhões emitidos pelos bancos centrais na pandemia irrigaram as elites e os cassinos financeiros. Este “resgate” produzirá desigualdade obscena. Há alternativa: como no pós-guerra, criar dinheiro para o Comum e taxar pesadamente as fortunas.


(Foto publicada no site Outras Palavras)

Piketty: hora de fazer os ricos pagarem

Como os Estados enfrentarão o acúmulo de dívidas geradas pela crise da Covid-19? Muitos já ouvem a resposta: os bancos centrais assumirão em seus balanços uma parcela crescente das dívidas, e tudo será resolvido. Na verdade, as coisas são mais complexas. O dinheiro faz parte da solução, mas não será suficiente. Mais cedo ou mais tarde, os mais ricos deverão dar sua contribuição.

Recapitulemos. A criação de dinheiro tomou proporções sem precedentes em 2020. O balanço do Federal Reserve saltou de 4,159 trilhões de dólares em 24 de fevereiro para 7,056 trilhões em 28 de setembro, perto de 3 trilhões de dólares de injeção monetária em sete meses, o que jamais foi visto. O balanço do Eurossistema (a rede de bancos centrais dirigida pelo Banco Central Europeu, BCE) passou de 4,692 trilhões de euros em 28 de fevereiro para 6,705 trilhões em 2 de outubro, uma alta de 2 trilhões.

Em relação ao PIB da zona do euro, o balanço do Eurossistema, que já tinha passado de 10% para 40% do PIB entre 2008 e 2018, saltou para perto de 60% entre fevereiro e outubro de 2020.

Para que todo este dinheiro? Em tempos normais, os bancos centrais contentam-se em conceder empréstimos de curto prazo a fim de garantir a liquidez do sistema. Como as entradas e saídas de dinheiro nos diferentes bancos privados nunca se equilibram exatamente a cada dia, os bancos centrais emprestam por alguns dias somas que os estabelecimentos reembolsam depois.

Após a crise de 2008, os bancos centrais começaram a emprestar dinheiro com prazos cada vez mais longos (algumas semanas, depois alguns meses, ou mesmo vários anos) a fim de tranquilizar os atores financeiros, paralisados com a ideia de seus parceiros de jogo irem à falência. E havia muito o que fazer, pois, na falta de regulação adequada, o jogo financeiro tornou-se um gigantesco cassino planetário ao longo das últimas décadas.

Todos começaram a emprestar e tomar emprestado numa escala sem precedentes, se bem que o total de ativos e passivos financeiros privados detidos pelos bancos, empresas e famílias ultrapassa hoje 1.000% do PIB nos países ricos (inclusive sem incluir os derivativos), contra 200% nos anos 1970. O patrimônio real (isto é, o valor líquido dos imóveis e das empresas) também aumentou, passando de 300% para 500% do PIB, mas bem menos intensamente, o que ilustra a financeirização da economia. De certa forma, os balanços dos bancos centrais apenas seguiram (com atraso) a explosão dos balanços privados, a fim de preservar sua capacidade de ação diante dos mercados.

Para continuar lendo o texto publicado pelo site Outras Palavras, clique aqui.

domingo, 20 de dezembro de 2020

SEM TRUMP BOLSONARO PERDE ESPAÇO E OPOSIÇÃO AVANÇA NO BRASIL

 

(Foto: Getty Images)

Enquanto Bolsonaro patina em se aproximar de Biden, oposição brasileira ganha terreno com democratas

Se o presidente brasileiro Jair Bolsonaro demorou 38 dias para reconhecer a vitória de Joe Biden à Presidência dos Estados Unidos e patina para estabelecer conexões com os democratas, a oposição ao seu governo no Brasil tem se mostrado mais efetiva em construir pontes com a nova administração, que começará oficialmente no dia 20 de janeiro.
E uma parte importante dessa conexão tem sido operada por meio de lideranças indígenas, com quem Bolsonaro tem acumulado embates.
A última prova disso é o lançamento de uma parceria entre a parlamentar americana democrata Deb Haaland e a deputada federal brasileira Joênia Wapichana (Rede-RR).
Na semana passada, as duas conversaram pelo telefone para coordenar esforços interamericanos para avançar em pautas de respeito aos direitos dos povos nativos e proteção ao meio ambiente nos dois países.
Para ler, na íntegra a matéria de Mariana Sanches, da BBC News Brasil em Washington, clique aqui.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

ESTAMOS A DEUS-DARÁ: NINGUÉM ASSUME NADA

 

(Imagem de divulgação modificada)


Bolsonaro diz que assina nesta 3ª MP de recursos para vacinas


O presidente Jair Bolsonaro disse que deve assinar nesta terça-feira a medida provisória que irá liberar 20 bilhões para compra de vacinas contra a Covid-19, mas ressaltou mais uma vez que o uso não será obrigatório no país e quem quiser tomar o imunizante terá de assinar um termo de responsabilidade.
“Devo assinar nesta terça-feira a medida provisória de 20 bilhões de reais para comprar vacinas”, disse o presidente em conversa com apoiadores na noite de segunda, no Palácio da Alvorada.
O governo tenta negociar com fabricantes, especialmente a Pfizer, cujo imunizante já está em uso no Reino Unido e nos Estados Unidos, a compra de doses de vacina para além do acordo com a Astrazeneca/Oxford, cujos testes clínicos ainda não foram finalizados.
Bolsonaro, no entanto, resiste à ideia das vacinas e defende que a aplicação dos imunizantes não seja obrigatória. Por mais de uma vez, questionou especialmente a vacina CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, que está sendo testada pelo Instituto Butantan, ligada ao governo paulista.
A seus apoiadores, na noite de ontem, voltou a dizer que só quem quer deverá tomar e ainda afirmou que há riscos e quem decidir pela vacina terá que assinar um termo de responsabilidade.
“E detalhe, não obrigatória, vocês vão ter que assinar um termo de responsabilidade para tomar. Porque a Pfizer, por exemplo, é bem clara no contrato: ‘nós não nos responsabilizamos por efeitos colaterais’”, disse. “Tem gente que quer tomar, então tome. A responsabilidade é tua. Quer tomar, toma. Se der algum problema por aí... Espero que não dê.”
Para ler, na íntegra, a matéria de Lisandra Paraguassu para a Reuters, clique aqui.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

1/3 DOS REMÉDIOS USADOS NO BRASIL VÊM DA CHINA

 

(Foto: Getty Images)

As importações que mostram como saúde do brasileiro 
já depende da China


Uma das vacinas em estágio mais avançado de desenvolvimento, a Coronavac é produzida no Brasil por um consórcio da empresa chinesa Sinovac com o Instituto Butantan, em São Paulo. A instituição anunciou que pretende enviar os resultados dos testes de eficácia para a Anvisa até dia 15 de dezembro.
Mais ainda há muita desconfiança em relação à ela por causa da origem chinesa — apesar do Brasil já importar uma enorme quantidade de remédios e insumos farmacêuticos do país asiático.
A Coronavac tem um alto índice de rejeição entre os brasileiros: uma pesquisa feita pelo Instituto Real Time Big Data, mostrou que 46% dos entrevistados "não tomariam uma vacina de origem chinesa". A pesquisa entrevistou mil pessoas por telefone nos dias 13 e 14 de outubro. A margem de erro é de três pontos (para mais ou para menos) e o nível de confiança é de 95%.
Os teste feitos até agora comprovaram que a vacina é segura. Diante disso, diversas hipóteses surgiram para explicar essa rejeição. Elas vão desde preconceito contra a China e desconfiança de produtos chineses até a politização criada pela rivalidade entre o presidente Jair Bolsonaro e João Doria, o governador de São Paulo, onde a Coronavac está sendo produzida e estudada no Brasil.
Para continuar lendo a matéria de Letícia Mori, para a BBC News Brasil, clique aqui.

sábado, 5 de dezembro de 2020

O BUG DO CALENDÁRIO

 

Bricolagem de Calendários 2020
(Eugênio Magno)

2020 o ano que não acaba em dezembro*

Eugênio Magno

            “Nada como um dia após o outro”, reza o dito popular. Nos idos da infância acordava sempre no primeiro dia do ano com a expectativa de que o Ano Novo fosse verdadeiramente novo. De tanto crer e querer, lampejos melodiosos desse desejo bafejavam aquela doce e saudosa inocência com reluzentes novidades.

            Os anos foram passando e os vislumbres daquele novo tão brilhante e vivo foram escasseando e as novidades se acomodando na sequencialidade linear do tempo Kronos que, apesar de trivial por ser sequencial avançava, ainda que sem rumo. Mas eis que chegamos em 2020 e em uma manobra rápida passamos a ter um misto de impressões difusas sobre a realidade: o tempo passou a avançar circularmente engolindo sua própria cauda? Caminhamos em slow, estamos no modo stand by, o tempo parou... ou retrocedemos (?). Às vezes a sensação é de que vivemos tudo isso e mais alguma coisa não dita, não explicada e quiçá nem mesmo explicável. Este ano, cujo calendário dá por encerrado em 31 de dezembro, definitivamente, não findará agora. Necessitaremos de outros tantos anos para podermos viver novamente um novo ano.

            Não vou recorrer a nenhum expediente complexo nem a textos de outros autores para justificar essa minha tese. Apenas os temas abordados por mim nos artigos que publiquei no jornal Pensar a Educação em Pauta (do Projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil, da Faculdade de Educação, da UFMG) e também neste blog. Apenas esses em que tratei de alguns dos acontecimentos mais impactantes de 2020 serão suficientes; afinal, eles falam por si. No primeiro artigo do ano, Escassez e má gestão: A água é uma dádiva da natureza ou apenas um $? (de março), falava sobre falta de saneamento, estupidez na destinação do lixo e do esgoto, descuido com as águas – das chuvas, das nascentes, dos rios – e sobre os prejuízos causados pelas enchentes. Denunciava as empresas que trabalham com recursos hídricos por não disporem de nenhuma tecnologia avançada para coletar melhor e em maior quantidade a água da chuva e chamava a atenção para a inoperância e a falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico sustentável do (e no) setor, que continua coletando água do mesmo modo que coletava séculos atrás.  Às vésperas das eleições municipais (em novembro), no texto “Vota no João e elege o Tião”, discorria sobre contradições e armadilhas de nosso sistema eleitoral e do pouco entendimento que a população tem da política e dos pleitos.

            Mas isso, não obstante a gravidade do que reverbera, ainda é pouco para validar o suposto que defendo no presente artigo. Por isso, sugiro ao leitor que (re)visite as demais reflexões que deixei aqui e também no jornal Pensar a Educação em Pauta – em outros textos –,  entre abril e outubro deste ano. Em primeiro lugar, a sequência de três artigos sobre a pandemia da Covid-19: Oportunistas, apocalípticos e proféticos em tempos de contaminação global” (abril); O Vírus interroga as instituições” (maio) e Pandemônio na República Federativa do Brasil” (de junho). Nesses textos busquei realçar o que a pandemia colocou a descoberto, sobre o despreparo de nossas instituições, inclusive algumas que são louváveis em se tratando críticas e diagnósticos, mas pouco afeitas à autocrítica e a prognósticos.

Depois, a fortuna ou a desventura de me saber brasileiro, essa raça alegre e otimista, me fez acreditar que o que estava entre ruim e péssimo não poderia piorar e, com todas as reservas e críticas contundentes ao poder central, escrevi Democracia fala mais alto e governo baixa a bola” (em julho). Doce ilusão. Foi somente uma mínima desacelerada obscurantista, de poucos dias, por conta de fatos da hora. Em tempos sombrios como esses sonhei também que pudesse haver um acolhimento caloroso para a boa nova anunciada pelo papa Francisco, o Pacto Educativo Global. O texto (de agosto), Pacto pela Educação no Planeta” e, mais grave, o próprio Pacto proposto pelo papa, obteve pouquíssima repercussão no meio educacional.

Os artigos, A impostura do digital” (setembro), “Como o povo oprimido, Paulo Freire é alvo e escudo a um só tempo” (outubro) e Nova Constituinte, um projeto a ser construído” (de novembro), vieram em seguida dando conta de mais algumas práticas e omissões que, infelizmente, não podem ser atribuídas apenas aos governantes de plantão.

Toda essa argumentação feita aqui e nos artigos que citei está longe de ser uma retrospectiva de 2020, um panorama dos fatos por nós vividos e assim tematizados. Falei apenas de dez textos que publiquei, mensalmente, de março a novembro. Quando os publiquei, talvez até tivesse a ilusão de que hoje já pudesse considerá-los coisas do passado, dificuldades vencidas. Infelizmente não o são, uma vez que os fatos persistem. Nos primeiros dias de dezembro já são contabilizadas quase 180 mil mortes por coronavírus no Brasil e aqui estamos, empobrecidos, sem trabalho e renda, isolados e paralisados, à mercê da indústria farmacêutica e dos ditames da tecnologia e do capital.

É difícil precisar quando essa nave louca parou ou, desafortunadamente, potencializou sua aceleração a ponto de nem darmos conta da velocidade em que viajamos, no piloto automático digital, com o controle remoto estilhaçado em mãos de alguns poucos milhares de acionistas que não se entendem.

* O presente artigo também pode ser lido no jornal Pensar a Educação em Pauta.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O MUNDO A MERCÊ DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA


Pfizer e BioNTech 
pedem uso emergencial de vacina contra Covid-19 na UE


FRANKFURT (Reuters) - A Pfizer e a BioNTech pediram ao regulador de medicamentos da Europa autorização condicional para sua vacina contra Covid-19, após submeterem pedidos semelhantes nos Estados Unidos e no Reino Unido, informaram as empresas nesta terça-feira.
O pedido para a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) vem depois de as empresas pedirem aprovação nos EUA em 20 de novembro, deixando-as um passo mais perto de lançarem sua vacina.
Na busca por lançar o imunizante na Europa, potencialmente ainda neste ano, as empresas estão passo a passo com a rival Moderna, que anunciou na segunda-feira que pediria ao regulador da União Europeia para recomendar a aprovação condicional para sua vacina.
A norte-americana Pfizer e a alemã BioNTech anunciaram o resultado final dos testes com sua vacina em 18 de novembro, mostrando que sua candidata é 95% eficaz na prevenção da Covid-19, sem preocupações de segurança relevantes, levantando a perspectiva de uma aprovação nos EUA e na UE em dezembro.
Para continuar lendo a matéria de Ludwig Burger para a Reuters, clique aqui.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

GODARD CONTRA A VULGARIDADE CAPITALISTA

(Imagem reproduzida pelo Site Outras Palavras)

A política pictórica de Godard


Em toda sua obra, da Nouvelle Vague aos filmes do século XXI, cineasta francês que faz 90 anos em dezembro utilizava a pintura como elemento essencial. Às vezes de forma irônica, noutras para afastar o cinema da vulgaridade capitalista

No incontornável texto “Jean-Luc Godard: cinema e pintura, ida e volta”, integrante do livro Cinema, vídeo, Godard (Cosac Naify), Philippe Dubois distingue dois momentos da relação ubíqua entre cinema e pintura na obra godardiana. No primeiro deles, concernente aos filmes produzidos na década de 1960, a pintura se mostra no cinema como uma prática de “citação” e “ex-citação” generalizada, pela qual reproduções frontais de quadros canônicos invadem a diegese, interagindo implícita ou explicitamente com as personagens, seus rostos, situações ou vínculos afetivos. Lembremos, por exemplo, em Acossado (1960), da mania de Patricia (Jean Seberg) de colar na parede de seu apartamento pôsteres de retratos pintados por Pierre-Auguste Renoir, Paul Klee e Pablo Picasso com os quais se identifica. Ou, então, em Tempo de guerra (1963), da cena hilária em que os soldados Michelangelo (Albert Juross) e Ulysses (Marino Mase) voltam para casa e presenteiam solenemente suas esposas, Venus (Geneviève Galéa) e Cleopatre (Catherine Ribeiro), com uma valise repleta de tesouros do mundo: monumentos, meios de transporte, lojas, obras de arte, indústrias, riquezas da terra, maravilhas da natureza, os cinco continentes, tudo sob a forma de cartões-postais cujo ganho parece valer exatamente como a posse das coisas em si — o valor de exposição tornado “objeto de culto, de reinvestimento simbólico de segundo grau”.
Nesse amálgama entre turismo e pilhagem, espetáculo e barbárie, já despontava a chave da reflexão godardiana sobre arte pop e cultura de massa, cada vez mais evidente ao longo dos anos 1960. Digamos que, no começo da carreira, Godard partiu de referências espirituosas a gêneros hollywoodianos, especialmente filmes B, noir e de gângster, mas também de musicais, frutos da paixão cinéfila contraída enquanto era redator exímio da revista Cahiers du cinéma, e desembocou no exame detalhado da sociedade de consumo, acentuando seu aspecto mortífero, em um paralelo sugestivo com o melhor de Andy Warhol. Em Week-end à francesa (1967), um casal burguês viaja pelo interior da França para reclamar uma herança e no caminho depara com um engarrafamento descomunal, filmado em travelling e livremente inspirado no conto “A autoestrada do Sul” (1964), de Julio Cortázar, no qual a violência escala desde acidentes de trânsito, estupro, assassinatos, até canibalismo, fenômenos testemunhados com indiferença atroz em meio a passatempos. Sem dúvida, por perpetuar a lógica industrial do trabalho alienado e do tempo livre, o cinema estava no cerne da crítica godardiana, sendo então abandonado na iminência de maio de 1968, quando Godard, na companhia de Jean-Pierre Gorin, fundou o Grupo Dziga Vertov, coletivo audiovisual militante de orientação maoísta que, em vez de proceder segundo tais modelos, filmava politicamente.
Para continuar lendo o ensaio de Dalila Camargo Martins para a Revista Cult, clique aqui.
(Fonte: Outras Palavras)

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

DÓLAR ESTÁVEL: ATÉ QUE DIA/HORA (?)


(Foto: Eugênio Magno)

Dólar mostra estabilidade nesta 6ª, mas caminha para perda semanal com otimismo sobre vacina


By Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar tinha variação discreta ante o real nesta sexta-feira, mas já chegou a cair 0,52% mais cedo, caminhando para registrar perda semanal na esteira do ânimo global sobre o desenvolvimento de vacinas para a Covid-19 e um dia depois de o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltar a demonstrar otimismo sobre a economia.
Às 9:18, o dólar recuava 0,05%, a 5,3106 reais na venda, enquanto o dólar futuro de maior liquidez tinha variação positiva de 0,08%, a 5,3110 reais.
Na última sessão, o dólar spot registrou queda de 0,45%, a 5,3131 reais na venda.
O Banco Central anunciou para esta sexta-feira leilão de swap cambial tradicional para rolagem de até 12 mil contratos com vencimento em abril e agosto de 2021.
(Fonte: Reuters Brasil)

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

ARMADILHAS DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO


(Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE)

Vota no João e elege o Tião 

Eugênio Magno 

            Para evitar que se vote no João e eleja o Tião, é preciso compreender o sistema eleitoral brasileiro.

            Neste ano temos duas eleições, em todos os municípios do país, uma majoritária e outra proporcional. O Sistema Majoritário é adotado para as eleições de Presidente, Governador, Prefeito e Senador e o Sistema Proporcional para todas as casas legislativas.

            Na eleição majoritária, de prefeito, em todas as cidades com mais de 200 mil eleitores, será eleito em primeiro turno, o candidato que obtiver mais de 50% dos votos válidos e, em segundo turno, o mais votado. Nas cidades com menos de 200 mil eleitores, o candidato que obtiver a maior quantidade de votos, independentemente da porcentagem, será o vencedor. Aparentemente, nada mais justo. Mas veja como o nosso sistema eleitoral precisa de aperfeiçoamentos. Tomemos como exemplo hipotético, uma cidade com 100 mil eleitores que tenha três fortes candidatos à prefeito e de tendências bastante diferentes. Se o número de abstinências, votos nulos e brancos somar 20 mil, 80 mil é o total de votos válidos. Digamos que o candidato mais votado obtenha 30 mil votos, o segundo 27 mil e o terceiro 23 mil votos. Observe que o candidato vencedor está sendo legitimado para o cargo com menos de um terço dos votos correspondentes ao total de eleitores da cidade.

Já para a Câmara de Vereadores, o sistema adotado é o proporcional. Nesse sistema existem dois elementos importantes a serem considerados: quociente eleitoral e quociente partidário que muita gente não conhece. O quociente eleitoral é determinado dividindo-se o número de votos válidos apurados, pelo número de lugares em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração, se igual ou inferior a meio e, equivalente, a um, se superior. E o quociente partidário é determinado para cada partido ou coligação dividindo-se pelo quociente eleitoral, o número de votos válidos dados sob a mesma legenda ou coligação, desprezada a fração. No caso das eleições municipais, estarão eleitos vereadores, tantos candidatos registrados por partido ou coligação, quantos o respectivo quociente partidário indicar, na ordem de votação nominal que cada um tenha recebido.

            É aí que mora o perigo, pois se corre o risco de votar em um candidato e eleger outro. As velhas raposas políticas, especialmente candidatos que já vêm de um mandato, vivem insistindo em candidaturas de pessoas bem intencionadas e de boas relações, mas sem chances de se elegerem, simplesmente para engordar o quociente partidário de seus partidos ou coligações para que eles (as “raposas”) se elejam. Outro expediente usado pelos “raposões” é se filiar a um partido pequeno que tem apenas um ou dois nomes de expressão, mas que são bons de voto, para que eles sejam eleitos, muitas das vezes com um número de votos desprezível, a custa dos votos de legenda capitaneados pelo grande líder daquele partido ou coligação e a soma dos candidatos chamados nanicos.

Para concluir aqui vai um exemplo: Digamos que o total de votos válidos em Belo Horizonte nessas eleições seja de 1.000.000. Um milhão de votos divididos pelo número de cadeiras da Câmara de Vereadores que são 41, dá um quociente eleitoral de 24.390 votos, já com os arredondamentos previstos. Isso significa que cada partido ou coligação precisa ter 24.390 votos para eleger cada um dos seus candidatos. Se o Partido “X” obtiver 48.780 votos que é o dobro do quociente eleitoral, ele elegerá dois candidatos, pois obteve um quociente partidário igual a dois. Mas imaginemos que o partido consiga um pouco mais de votos: 52.600, por exemplo. Na hipótese do candidato mais votado desse partido, que estou chamando de “X”, conseguir 50.000 votos, o segundo colocado 1.000, o terceiro 850, o quarto 400, o quinto, 250, e o sexto 100 votos, o partido “X” elegerá o candidato que obteve 50.000 votos e o que obteve apenas 1.000 votos. E o que isso quer dizer? Quer dizer que pode acontecer do eleitor ter votado no candidato que obteve 100, 400 ou até mesmo no que obteve 850 votos, no entanto ajudou a eleger o candidato que obteve 1.000 votos. E no Brasil, apesar de termos partidos consolidados, alguns com projetos bem definidos, os eleitores nem sempre conhecem os programas partidários e votam, por simpatia ou afinidade, na pessoa do candidato e, em muitos casos, sem saber por que, contribuem para a vitória de candidatos que não escolheram.

            É assim o nosso sistema eleitoral. Se ele é bom ou ruim, depende do ponto de vista: se do partido, do eleitor, do João ou do Tião.

* Este artigo também foi publicado no jornal Pensar a Educação em Pauta e seu conteúdo também está no episódio # 1 do Podcast Política com Fé



terça-feira, 10 de novembro de 2020

O FIM DE UM PESADELO NÃO NOS LEVA AO PARAÍSO


Maravilha e limites da derrocada de Trump

(Imagem: Outras Palavras)

Rompeu-se o movimento de pinça por meio do qual a classe do 0,1% impôs seu projeto desde 2008. Será inútil – se persistir o grande déficit de imaginação política da esquerda. Mas uma nova oportunidade está se abrindo, em especial no Brasil…

Com o título acima dessa forte imagem e, como introdução, o texto em itálico, Antonio Martins, reflete as análises e repercussões do resultado das eleições estadunidenses, para Outras Palavras. 
Para ler o texto na íntegra, clique aqui

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

CONSTITUIÇÃO NÃO É PANFLETO


Ulysses Guimarães ergue a Constituição Cidadã, promulgada em 5 de outubro de 1988, símbolo de redemocratização nacional (Acervo MDB-BA)


 Nova Constituinte, um projeto a ser construído*


Eugênio Magno 


Os progressistas, em toda a América Latina, têm razões de sobra para comemorar os últimos acontecimentos em nosso continente. No Chile, 78% da população aprovou em plebiscito a mudança de sua Constituição, numa clara demonstração de rejeição a atual constituinte que remonta à ditadura de Pinochet. A população chilena também deseja por fim ao modelo econômico capitalista neoliberal que desde os anos 1980 vem destruindo as políticas sociais daquele país. Já na Bolívia, Luis Arce Cataroca, considerado pupilo de Evo Morales, de quem foi ministro, venceu seu adversário, Carlos Mesa, com uma vantagem de 20%. E isso é muito bom, para o Chile, para a Bolívia e para animar o povo latino americano e, especialmente, para nós brasileiros a continuarmos na luta pela reconquista dos direitos perdidos nos últimos anos. Mas é bom que nos acautelemos. O buraco aqui é bem mais embaixo e uma nova constituição é um projeto – de médio prazo –a ser construído. 

Se não, vejamos: na esteira desses importantes fatos, o líder governista brasileiro, na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), propôs, dias atrás, um plebiscito para a elaboração de nova Constituição para o país. Até aí, nada de mais. Aliás, às vésperas das eleições de 2006, em artigo intitulado “Cidadão constituinte”, no jornal O Tempo, elogiei o breve aceno do então presidente, Lula, na direção de convocar uma nova Carta Magna. O projeto morreu no seu nascedouro. E aquele era um momento em que tínhamos reais condições para tal. Poderíamos até avançar para uma Democracia Social Participativa. À época o que eu defendia era uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva – específica para votar a tão esperada reforma política –, formada por cidadãos, sem a presença de parlamentares (com mandato), porque eles dificilmente votariam contra seus interesses particulares. Se naquela ocasião uma ação política de tal envergadura requeria um protagonismo que o Congresso Nacional não podia nos oferecer, imagine na atualidade (?). Não temos clima favorável para isso agora. 

Não obstante as defesas em contrário é inegável o fato de que a Constituição Cidadã, de 1988, que tantos avanços sociais garantiu em sua letra, carece de uma ampla e competente revisão para que a prática de seus enunciados seja uma realidade concreta. Entretanto, não podemos esquecer que a plena consolidação de um Estado Democrático de Direito, infelizmente, é anseio de apenas um pequeno extrato da sociedade brasileira que, mais politizado, luta pelo aperfeiçoamento das instituições. A maioria da população, alijada do debate político compulsoriamente – no passado, pelos vários anos de ditadura e, no presente, pela dominação econômica, alienação cultural e obscurantismo do atual governo –, demonstra pouco interesse em participar de forma engajada na discussão dos grandes temas nacionais. No que diz respeito às questões dos mandatos públicos, constatamos com perplexidade que pouco vale o exercício do voto para um eleitor que mal conhece o sistema político partidário e eleitoral do seu país. 

A ideia de uma nova constituição vem crescendo e o presidente, Bolsonaro, que de bobo não tem nada, já começa os movimentos de regência, com sua inseparável caneta Bic, orquestrando seus asseclas nessa direção. Atentemos para alguns dos argumentos do deputado, Ricardo Barros, ao defender a convocação de uma nova constituinte: “Precisamos escrever mais deveres”. Segundo ele, a Constituição Federal, “só tem direitos”, “... tornou o Brasil ingovernável”. E os governistas jogam, no mínimo, com três forças: a aprovação do governo, que ainda é significativa; a desinformação da massa, que representa grande parte do seu eleitorado e a esperteza dos lacaios da sua base de apoio, dentro e fora do governo. Por essas e outras, o melhor é colocar as barbas de molho, ou como dizem nuestros hermanos argentinos: Ojo! 

Alguns setores das esquerdas têm de superar o ingenuísmo cirandeiro. Ação política transformadora não se efetiva com o soprar dos ventos, ainda que seja um bom vento-sul. A resposta democrática dos nossos vizinhos ameríndios não deve ser tomada como um sinal dos tempos e sim como exemplo de luta para mobilizar a participação popular para a construção de projetos concretos e realizáveis. Não nos esqueçamos de que para seguirmos a mesma trilha necessitamos de sujeitos coletivos dispostos e em condições de fazer essa articulação. Mas, é bom lembrar que, infelizmente, no atual momento, os partidos políticos e as principais lideranças nacionais que dispõem de recursos e capilaridade para fazê-la, estão em outra vibe. 

O cenário que se nos apresenta é desafiador. Além da falta de projetos, carecemos de atores sociais experientes, com competência, coragem, ética, honradez e, sobretudo, desapego pessoal suficiente para protagonizar o que queremos e precisa ser (re)construído no Brasil em caráter de urgência urgentíssima. 

* Este artigo também foi publicado no jornal Pensar a Educação em Pauta.

domingo, 1 de novembro de 2020

CEFEP REÚNE ASSESSORES E APRESENTA NOVOS MEMBROS

 

Dom Joaquim Giovani Mol 
(Imgem: divulgação - ANEC)

Fé e Política: o Reino de Deus presente no mundo


O Centro Nacional de Fé e Política dom Helder Câmara (CEFEP), órgão de formação política para cristãos leigos e leigas, ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizou neste final de semana seu segundo encontro virtual de assessores em 2020.

Sábado, 31 de outubro foi reservado às trocas de apresentações entre os 25 novos assessores e assessoras que passaram a integrar a Rede de Assessores do Centro, que agora conta com cerca de 50 membros. Padre Paulo Adolfo, secretário executivo do CEFEP, falou sobre a importância da ampliação do quadro de assessores que tem como objetivos, além de uma renovação complementar, equilibrar a participação por gênero (aumentar a participação das mulheres), contemplar outras disciplinas e áreas do conhecimento, cobrir, em capilaridade, as várias regiões do país e integrar representações de outras instituições parceiras. 

No domingo, 1º de novembro, os assessores se reuniram de 9 da manhã ao meio dia para ouvir dom Joaquim Giovani Mol, bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB. Sua reflexão teve como inspiração o manifesto Pacto pela Vida e pelo Brasil, que as mais importantes instituições brasileiras são signatárias e a Carta ao Povo de Deus, assinada por 152 bispos católicos. Dom Mol fez um resgate do teor desses dois importantes documentos à luz do texto inicial do capítulo IV - A dimensão social da evangelização, da exortação apostólica, Evangelli Gaudium, do papa Francisco: "Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo"

Após as interações dos participantes, padre Paulo Adolfo deu por encerrado o encontro e foi proferida a benção final, pelo presidente do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP), Dom Giovane Pereira de Melo, bispo de Tocantinópolis – TO, que também é presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato.

Visite o site do Centro Nacional de Fé e Política dom Helder Câmara - CEFEP.

domingo, 25 de outubro de 2020

CONHECIMENTO DEMOCRATIZADO NA INTERNET

   Jessé Souza                                    Eduardo Moreira                                  Leonardo Boff


Nessa segunda quinzena de outubro surgiu no país um empreendimento educacional, de iniciativa privada, que se apresenta como um projeto de alcance social. Me refiro ao nascimento do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), uma iniciativa do empresário do ramo financeiro, Eduardo Moreira que, recém convertido ao espectro político progressista, vem fazendo uma grande cruzada no campo da educação econômica popular, que agora se estende também para outros eixos, visando uma formação mais completa e multidisciplinar da população.


       Heloisa Villela                               Katia Maia

Rafael Donatiello

A partir da formação de um conselho Curador integrado por Leonardo Boff (filósofo e teólogo), Rafael Donatiello (Especialista em Marketing Digital), Heloisa Villela (Jornalista), Frei David (Diretor da Educafro), Ligia Caetano (Especialista em Educação online), Katia Maia (Diretora da Oxfam Brasil), João Paulo Pacifico (Fundador do Grupo Gaia) e Jessé Souza (Sociólogo e pesquisador), além do próprio Eduardo Moreira que é Engenheiro de formação, com especialização na área econômica e empresário, o projeto se consolidou. O conselho definiu a missão do Instituto e estará orientando sua direção rumo a uma Educação Libertadora.


    Frei David                                           Ligia Caetano                                    João Paulo Pacifico

O ICL tem como missão mostrar que não existem barreiras quando há vontade de pensar e aprender. O seu propósito é mostrar o caminho para que as pessoas se libertem pelo conhecimento.
Os três pilares com os quais o Instituto Conhecimento Liberta trabalha são o Cultural, o Espiritual e o Profissional.
Os cursos iniciais e os seus respectivos professores são os seguintes: Filosofia - Suze Piza, História do Brasil - Lindener Pareto, Sociologia - Jessé Souza, Meditação e Mindfulness - Marco Schultz, História da Música - Ribeiro DiCastro, Excel - Arlane Gonçalves, Educação Financeira - Eduardo Moreira, Marketing Digital - Rafael Donatiello, Inglês - Vera Freitas, Chinês (Mandarim) - Vitória Zhang, História do cinema brasileiro - Adilson Inácio Mendes, Programação e Algoritmos - Geneflides Laureno, Mediação de conflitos - Pastor Henrique Vieira. No ICL os alunos têm acesso a mais de 100 horas de cursos, ao vivo e gravadas.
Os idealizadores desse Instituto de educação e cultura acreditam que a verdadeira liberdade só pode ser alcançada pelo conhecimento. Buscam democratizar os conteúdos essenciais ao desenvolvimento humano integral, tornando-os simples e acessíveis a todos.
Diferentemente de quase tudo que existe no mundo digital, o ICL oferece uma multiplicidade de cursos que podem ser acessados, simultaneamente, e por toda a família, por uma mensalidade que está abaixo de R$50,00. Existem ainda outros planos de pagamento em que com um acréscimo de 20% no valor dessa mensalidade o interessado contribui com uma bolsa integral para as entidades parceiras do Instituto fornecerem bolsas integrais para pessoas carentes.
Interessados em conhecer melhor o Instituo Conhecimento Liberta (ICL), poderão fazê-lo, clicando aqui.

Todas as imagens são do site do Instituto Conhecimento Liberta (ICL).

terça-feira, 20 de outubro de 2020

SOS SAÚDE! TODO CUIDADO É POUCO

(Foto: Reuters/Adriano Machado)


Mesmo em queda, mortes por covid-19 no Brasil 
ainda superam 2ª onda na Europa


O número de mortes por covid-19 no Brasil tem caído há semanas, mas em outubro ainda morrem mais pessoas neste país sul-americano de 212 milhões de habitantes do que na União Europeia, que tem 447 milhões de habitantes, conta com uma população mais velha e enfrenta uma segunda onda da pandemia.
Considerado os dados dos países da União Europeia, do Brasil e do Reino Unido, um levantamento do Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças (ECDC) aponta que o Brasil é o terceiro com o maior número de mortes por 100 mil habitantes nas últimas duas semanas.
O primeiro é a República Tcheca, com uma taxa de 6,53 por 100 mil habitantes. Em seguida aparecem a Romênia (4,76) e o Brasil (3,58).

Para continuar lendo a matéria da BBC News Brasil, clique aqui.

(Fonte: BBC News Brasil)

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

QUEDA DE BRAÇO COM A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

 

(Imagem reproduzida do site Outras Palavras)


A batalha contra as patentes farmacêuticas chega à OMC

Índia e África do Sul pedem o óbvio: a Ciência necessária para lutar contra a pandemia deve ser propriedade Comum da humanidade. Mas as corporações farmacêuticas e os países ricos resistem. Brasil prepara-se para a omissão

Começou hoje a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) que vai debater a proposta de Índia e África do Sul sobre a quebra temporária das patentes de todas as tecnologias de saúde necessárias ao enfrentamento da pandemia. A ideia será debatida no Conselho TRIPS – sigla para o acordo que protege patentes no comércio internacional, mas prevê exceções em casos específicos. 

As chamadas “flexibilidades do TRIPS” foram introduzidas em 2001, na esteira de um debate sobre outra grande crise de saúde pública: a epidemia de HIV-Aids. Na época, o Brasil se uniu a outros países para defender mudanças que permitiram a fabricação e importação de medicamentos genéricos ou biossimilares – algo que, inclusive, se tornaria a principal marca do governo Fernando Henrique Cardoso na saúde, sob o comando de José Serra. 

O princípio que rege o debate hoje é o mesmo de 20 anos atrás: durante emergências, deve prevalecer a proteção da saúde da população. Em outras palavras, a vida deve prevalecer sobre o lucro; e a soberania dos Estados sobre os interesses privados – até porque a restrição do acesso a vacinas, por exemplo, terá efeitos também sobre a economia, aprofundando ainda mais as desigualdades entre nações ricas e pobres.

“A maioria dos países ainda adere às regras globais de patentes e faz uso das ‘flexibilidades do TRIPS’ muito criteriosamente porque pode enfrentar reivindicações na OMC – ou outros tipos de pressão e represália de países que sediam as empresas farmacêuticas que detêm as patentes originais. Como resultado, a OMC continua a controlar quando e em que medida as proteções de propriedade intelectual são aplicadas, ou negligenciadas”, resume uma excelente reportagem do site Health Policy Watch, situando a importância da reunião que vai até amanhã.

Para continuar lendo a matéria de Maíra Mathias e Raquel Torres para o site Outras Palavras, clique aqui.

domingo, 11 de outubro de 2020

"A MELHOR IDADE DA VIDA É ESTAR VIVO" (MAFALDA)

Quino dá adeus, mas lição de Mafalda fica*  


Diogo Martins**  
Jornalista, assessor de comunicação 
e analista de marketing 
MTb 17.883-MG 

A nossa esperança é que as críticas e utopias da pequena rebelde se faça sempre presente 

Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, foi um cartunista e humorista argentino, autor das famosas tiras da personagem Mafalda, uma menina inteligente e contestadora que ganhou grande repercussão no cenário mundial. O desenhista argentino tinha um olhar crítico e politizado de uma sociedade que não mudou. O sonho utópico de uma criança. 
Quino nasceu em 17 de julho de 1932 e faleceu em 30 de setembro passado (2020), aos 88 anos. Um dia após sua principal personagem completar 56 anos. 
A emblemática e, talvez, principal personagem do argentino, Mafalda, foi desenvolvida para uma peça publicitária para divulgar os eletrodomésticos Mansfield. Mas a campanha nunca saiu e Mafalda, ficou guardada até convite para a publicação no Primeira Plana, jornal em papel argentino. Foi a primeira aparição da pequena que habita em nosso consciente. 

Quem é Mafalda? 
Quino afirmara diversas vezes que havia decidido por uma protagonista que deveria ser mulher, devido à influência do movimento de emancipação feminina dos anos 60 e porque, segundo ele, “as mulheres são mais espertas”. Assim nasceu Mafalda, rebelde, jovem e ansiosa por um mundo melhor. 
A garota discutia em suas tirinhas ideias progressistas, por isso nunca desceu bem para alguns setores da sociedade. Na Espanha, a censura da ditadura franquista (que durou de 1936 a 1975) obrigou editores a colocarem um aviso na capa dos livros, no qual dizia que se tratava de obra “Para Adultos”. 
Mafalda também encontrou barreiras durante governos autoritários do Brasil, Chile e Bolívia. “Eles me disseram: ‘Rapaz, piadas contra a família não, militares não, nudez não. Eu nasci e cresci com autocensura”, disse Quino. Ele já havia afirmado que Mafalda sempre existiu no seu imaginário e que imaginava que passaria por uma forte censura.

 
O autor português António Cluny, escreveu: “Não foi a morte de Quino que calou a Mafalda”. Para Cluny, Mafalda já havia se calado, pois o próprio Quino desacreditou do mundo. O português esperava a fase adulta de Mafalda, onde ela daria as respostas para questões impertinentes que a incomodavam. 
Acredito que Mafalda ainda dialoga com aqueles que ainda a tem em seu imaginário, embora cada vez mais polarizados. Talvez não fale a quem deveria falar. Mas devemos persistir no sonho da pequena. A personagem que sofria da falta das esperanças que coletivamente existe numa vida melhor, deve permanecer viva em nós e, cabe a cada um de nós trazer a nossa Mafalda sempre que precisarmos. 

*Esse artigo foi publicado originalmente no Jornal da Cidade - Holambra.

**diogormartins@gmail.com 

sábado, 10 de outubro de 2020

COVID-19 E MORTE CONTINUAM IMPLACÁVEIS

 

Covas abertas em cemitério de São Paulo (SP) em meio à pandemia de coronavírus - 16/07/2020 
(Foto: REUTERS/Amanda Perobelli)


Brasil registra mais 682 mortes por Covid-19 
e se aproxima de 150 mil óbitos

Gabriel Araujo


O Brasil registrou nesta sexta-feira 682 novos óbitos em decorrência da Covid-19, o que eleva o total de mortes pela doença no país a 149.639, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Também foram notificados 27.444 novos casos da doença provocada pelo coronavírus, com o total de infecções confirmadas no país atingindo 5.055.888.
O Brasil é o terceiro país do mundo com maior número de casos de Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Já na contagem de óbitos, os números brasileiros ficam abaixo somente dos reportados pelos EUA.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, afirmou nesta sexta que o Brasil não está “resolvendo totalmente” o problema da doença, mas tem conseguido controlar os efeitos da pandemia e permitir o retorno gradual das atividades com um “novo normal”.
“Mesmo considerando o Brasil como um todo, nós já verificamos um decréscimo nessas curvas (de casos e óbitos), que está sendo constante e está sendo estável... Nós já identificamos muitos Estados que estão voltando à normalidade”, afirmou Franco em entrevista coletiva, acrescentando que o país está “sabendo conviver” com a doença.
“Mesmo nos Estados onde ela ainda está com uma incidência maior, e nós podemos destacar a Região Sul em particular, a gente já consegue observar um decréscimo na incidência de casos e principalmente na incidência de óbitos, devido também ao tratamento precoce”, disse o secretário.
Estado brasileiro mais afetado pela Covid-19, São Paulo atingiu nesta sexta as marcas de 1.028.190 casos e 37.068 mortes.
De acordo com os dados do ministério, o segundo Estado com maior número de óbitos causados pela Covid-19 no país é o Rio de Janeiro, que registrou até este momento 19.222 mortes, com 282.080 casos.
Na contagem de infecções confirmadas, porém, o Rio fica abaixo da Bahia e de Minas Gerais -- o Estado nordestino soma 323.210 casos e 7.075 mortes, enquanto Minas registrou 318.090 infecções e 7.992 óbitos.
Ceará, Pará, Santa Catarina, Goiás e Rio Grande do Sul são os demais Estados que já notificaram mais de 200 mil casos de Covid-19.
O Brasil possui 4.433.595 pessoas recuperadas da doença e 472.654 pacientes em acompanhamento, segundo o ministério. A taxa de letalidade da doença no país é de 3,0%.

(Fonte: Reuters

terça-feira, 6 de outubro de 2020

ECONOMISTAS COMPLICAM A ECONOMIA PARA QUE NÓS NÃO A ENTENDAMOS

(Imagem do Google)

Economia a serviço da vida

por Eugênio Magno


Na "Economia de Francisco" - o santo (São Francisco) - proposta por Francisco (Jorge Mario Bergoglio), o papa, é urgente que haja uma reordenação de valores. É imprescindível que a economia esteja a serviço da vida e não a vida a serviço da economia, como vem acontecendo no mundo.

Desenvolvimento sem democracia econômica é um contrassenso do capitalismo ultraliberal rentista e excessivamente financeirizado, para o qual os maiores gênios da economia mundial vêm se empenhando no sentido de encontrar uma alternativa que o substitua. E nesse momento caótico em que vivemos é o papa Francisco, reconhecido por várias autoridades como o maior líder mundial dos tempos atuais, quem articula os principais movimentos globais sugerindo iniciativas de estudos, debates e ações com uma Igreja em saída - se encontrando com os leigos, intelectuais e com a sociedade -, na busca de soluções para garantir a vida no planeta.

Os números dão muito o que pensar. Para ficar com um único exemplo, basta saber que 3 milhões de crianças morreram de fome no ano passado. Isso, enquanto produzimos o equivalente a 1,5 kg de alimento por habitante da terra e que a riqueza total produzida no mundo, se dividida de forma igualitária para toda a população mundial, daria uma renda, em moeda brasileira, de algo em torno de R$18.000,00, mensais, para cada família de quatro pessoas. Isso para não falar da devastação do planeta, da falta de preservação de nossos biomas, e do total descuido com a água, a terra , o ar e para com a vida silvestre e os povos das florestas, nativos, quilombolas e ribeirinhos. 

(Logo da 6ª Semana Social Brasileira)

Foi dada a largada, em nosso país, para a 6ª Semana Social Brasileira - Mutirão pela vida: Por Terra, Teto e Trabalho, inspirada pelos diálogos do papa Francisco com os movimentos populares. Tendo como eixos, democracia, soberania e economia, as ações da Semana Social Brasileira (SSB), visam debater, compreender e formular soluções para as questões sociais mais urgentes que impactam especialmente os setores excluídos e marginalizados da sociedade. 

Sábado passado (dia 4.10.2020), aconteceram vários eventos de lançamento da Semana Social Brasileira, articulando forças populares e intelectuais para o debate de questões sociopolíticas de interesse público com o propósito de entender a conjuntura atual e traçar perspectivas para o presente e o futuro. Como era difícil acompanhar tudo, elegi a live "Lançamento da 6ª Semana Social Brasileira", promovida pelo Movimento Igreja em Saída, do Regional Nordeste 1 (Ceará) e da Escola Regional de Fé e Política Dom Helder Câmara. O evento contou com a participação do bispo da diocese de Itapipoca, Dom Antônio Roberto Cavuto, do padre e teólogo Francisco Aquino Júnior, do economista e escritor Ladislau Dowbor e de Reginha, da Cáritas e da Articlação das Pastorais Sociais do Ceará, mediadora da live que teve ainda a participação de membros da Escola Regional de Fé e Política, com cantos e declamações e contaria também com a presença do filósofo Manfredo Oliveira que, em razão de problemas técnicos, não pode participar.

(Foto: Janaína Abreu)

O mestre, Ladislau Dowbor, apesar do tempo restrito, fez uma brilhante apresentação. Ancorado em pesquisas e análises de vários estudiosos e usando uma linguagem de fácil compreensão ele mostrou como funciona a economia e incentivou a todos, para que, independentemente de conhecimentos prévios de economia, buscassem entendê-la para multiplicar sua compreensão. Segundo Dowbor, "a economia não tem nada de complicado, os economistas é que a complicam para que o povo não possa compreendê-la". E para auxiliar a todos nessa compreensão ele disponibiliza todos os seus livros, artigos e estudos, gratuitamente, em seu site na internet (www.dowbor.org).

O padre, Francisco de Aquino Júnior, chamou a atenção para o fato de que a Igreja apesar de não possuir meios técnicos e instrumentos de análise econômica é rica em parâmetros éticos e espirituais para iluminar e mostrar caminhos em que a economia pode ser colocada a serviço da humanidade. Seus argumentos, se ancoram na Doutrina Social da Igreja e nos vários documentos papais que, desde fins do século XIX, com Leão XIII e a Rerum Novarum, até Francisco, na atualidade, com as encíclicas Laudatto Si e a novíssima Fratelli Tutti, mostra sua preocupação com a vida social.

Embora chamada de "semana", a 6ª Semana Social Brasileira Mutirão pela vida: Por Terra, Teto e Trabalho, tem como vigência o período 2020-2022. Ela é convocada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e promovida conjuntamente com as pastorais sociais e movimentos populares. É realizada em mutirão, na pluralidade cultural e étnica do Brasil, assim como no ecumenismo e diálogo inter-religioso. Até o seu encerramento, muitos eventos, presenciais e online acontecerão. Para acompanhar tudo sobre a Semana Social Brasileira, acesse o site ssb.org.br.

(Print de tela da live)

A live "Lançamento da 6ª Semana Social Brasileira", promovido pelo Movimento Igreja em Saída, do Regional Nordeste 1 (Ceará) e da Escola Regional de Fé e Política Dom Helder Câmara ainda está disponível no YouTube e pode ser acessada em: https://www.youtube.com/watch?v=btQyQvIf9Ek.



quinta-feira, 1 de outubro de 2020

NÃO SOMOS TODOS IGUAIS

 

Manuscrito de P. Freire para Pedagogia do Oprimido (Acervo Paulo Freire)


Como o povo oprimido,

Paulo Freire é alvo e escudo a um só tempo


Eugênio Magno

        Paulo Freire é gigante. Sua robustez é de causar inveja à maioria dos mortais. Entretanto, de intelectual respeitado e homenageado em todo o mundo, se tornou nos últimos anos – em seu país natal – alvo de críticas e rechaços por parte dos atuais ocupantes do poder central. E daí está migrando ou, simultaneamente, ocupando também a posição de escudo.

Se variar entre a condição de alvo e escudo já é ruim, pior é estar na mira de ataques e, ao mesmo tempo, ser usado como anteparo de disparos contra quem nunca o prestigiou a altura do seu merecimento. O patrono da educação brasileira merece lugar melhor na história. É de bom tom que ele não seja usado indevidamente por quem se quer o conhece bem ou já o reconheceu um dia, nessa guerra encarniçada em que, para além da disputa política majoritária, se juntam vários outros interesses, como os da proteção de pequenos feudos na esfera pública. É assombroso darmos conta de como o corporativismo pode usar do oportunismo de forma tão cruel e sub-reptícia a ponto de lançar mão grande sobre a memória de um pensador que sempre esteve ao lado dos oprimidos, contra o establishment, praticando uma educação popular e libertadora. Freire não configurou uma pedagogia para os oprimidos, oportunizando empoderamentos que promovessem distinções entre pares de uma mesma comunidade, nem usou inclusão como retórica. Ele articulou várias pedagogias, como as do oprimido, da esperança, etc., tendo como centralidade a educação como prática da liberdade, pedagogias contra-hegemônicas forjadas nas lutas dos/com os pobres e oprimidos.

Mas o pobre, no Brasil, para as elites, quando não é alvo, é bucha de canhão. E, ultimamente, o pobre, assim como Freire estão sendo usados como escudos e barreiras, por alguns segmentos da classe média, que espertamente negam sua condição social (de forma camaleônica), enquanto escondem patrimônios e recheadas contas bancárias com disfarces de um linguajar popular e trajes casuais, sem etiquetas à mostra. Essas aberrações estão em vários escalões, instituições e organizações do mundo público e privado e, no campo da educação, por incrível que pareça, também acontece. Não são poucos os banquetes à custa da inanição de profissionais da mesma estatura, combatentes, que por força de se manterem aguerridos, críticos e autocríticos – ad extra e ad intra –, são condenados ao exílio e à invisibilidade institucional, sobrevivendo à custa das migalhas que sobram dos empoderados “donos” das verbas que fingem fazer a multiplicação dos pães.

O Dia dos Professores se aproxima... O que pautar e comemorar de forma unificada? A categoria é imensa, mas condições de trabalho e salários são tão diversos quanto discrepantes. No entanto, perdura um discurso hegemônico que quer nivelar a todos – intencionalmente, por baixo – para esconder realidades ultrajantes, escravidão intelectual e outros descalabros.

Idealizando a solidariedade humana, o anarquista Piotr Kropotkin, diz em Apoio Mútuo:


Não é amor, e nem mesmo simpatia (compreendida em seu sentido literal), o que leva um rebanho de ruminantes ou de cavalos a fazer um círculo a fim de resistir ao ataque dos lobos; ou lobos a formar uma alcateia para caçar; ou gatinhos ou cordeiros a brincar; ou os filhotes de uma dezena de espécies de aves a passarem os dias juntos no outono. Também não é amor, nem simpatia pessoal, que leva muitos milhares de gamos, espalhados por um território do tamanho da França, a formar dezenas de rebanhos distintos, todos marchando em direção a um determinado ponto para cruzar um rio. É um sentimento infinitamente mais amplo que o amor ou a simpatia pessoal – é um instinto que vem se desenvolvendo lentamente entre animais e entre seres humanos no decorrer de uma evolução extremamente longa e que ensinou a força que podem adquirir com a prática da ajuda e do apoio mútuos, bem como os prazeres que lhes são possibilitados pela vida social. […] não é no amor, e nem mesmo na simpatia, que a sociedade se baseia. É na percepção – mesmo que apenas no estágio do instinto – da solidariedade humana. É o reconhecimento inconsciente da força que cada homem obtém da prática da ajuda mútua; da íntima dependência que a felicidade de cada um tem da felicidade de todos; e do senso de justiça ou de equidade que leva o indivíduo a considerar os direitos de todos os outros indivíduos iguais aos seus. É sobre esse alicerce amplo e necessário que se desenvolvem sentimentos morais mais elevados (1989, p. 32). 


            É pesaroso utilizar uma proposição tão potente como essa para denunciar comportamentos cujos fins transgridem o que ela encerra, mas o que ocorre é tão sutil que muitos dos protagonistas desse drama imoral sequer percebem o que fazem.

           Não gostaria de encerrar este texto de forma derrotista. Gramsci, Pessoa e o próprio Paulo Freire, me auxiliam a finalizar essa reflexão sonhando acordado e firme na crença de que o pessimismo para com as práticas atuais, não impedirá o otimismo da razão. Afinal, viver é preciso e esperançar também é preciso.

Este artigo também pode ser lido jornal Pensar a Educação em Pauta: http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/como-o-povo-oprimido-paulo-freire-e-alvo-e-escudo-a-um-so-tempo/