sexta-feira, 28 de maio de 2010

CINE FILOSÓFICO

O Enigma de Kaspar Hauser
"O instigante filme O Enigma de Kaspar Hauser (ano de 1974), do cineasta alemão Werner Herzog, vencedor do Grande Prêmio do Júri, no festival de Cannes, em 1975, levanta para nós um tema filosófico polêmico, a saber: há uma racionalidade própria à natureza humana, ou ainda, é possível admitir uma natureza humana?"

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão desenvolve um interessante projeto denominado Cine Filosófico, que é pilotado pelo professor de filosofia do instituto, Jorge Leão. Em uma das sessões comentadas do projeto, o filme exibido foi O Enigma de Kaspar Hauser, do alemão Werner Herzog. Sob a perspectiva da filosofia, o professor escreveu um belo texto sobre o filme. Confira-o clicando aqui.

VALORES CONTEMPORÂNEOS

Quino, autor de "Mafalda", desiludido com os rumos deste século no que diz respeito a valores e educação, deixou impresso nos cartoons o seu sentimento.










































segunda-feira, 24 de maio de 2010

A SINERGIA DA COMBINAÇÃO PENTECOSTALISMO E NEOLIBERALISMO

A Teologia da Prosperidade e o neoliberalismo são irmãos siameses

Entrevista concedida a Graziela Wolfart

O sociólogo Gedeon Freire de Alencar reconhece as contribuições do pentecostalismo para a sociedade brasileira, principalmente em relação ao aumento do número de alfabetizados e à diminuição da violência doméstica. No entanto, ele faz críticas ao pentecostalismo quando afirma que o mesmo “reproduz as opressões sociais, e elas ficam pioradas porque, neste caso, têm uma ‘marca espiritual’”. E aqui ele cita “o machismo, a discriminação de gêneros e sexos, apatia nas lutas sociais, um processo de acomodação de status e uma ênfase exagerada na solução dos problemas pessoais em detrimento da comunidade”. Quando questionado sobre o diálogo inter-religioso, Gedeon argumenta que “todas as religiões têm dificuldade de relacionamento, pois estabelecer uma relação é identificar no outro algum valor o suficiente para ele/a ser visto e ouvido. O ecumenismo é bonito na teoria, mas é piada utópica”. Na entrevista que segue, concedida, por e-mail, à IHU On-Line, o presbítero da Assembleia de Deus Betesda, de São Paulo, defende que “teologia da prosperidade e neoliberalismo é, como diz o provérbio popular, a casa e o botão. São irmãos siameses. Um não existiria sem o outro”. Para ele, ter mais público quantitativamente é o grande critério de validação das igrejas pentecostais. “Daí quem é o elemento fundante e final da coisa: o consumo”
Sociólogo, presbítero da Assembleia de Deus Betesda, em São Paulo, Gedeon Freire de Alencar é diretor pedagógico do Instituto de Estudos Contemporâneos (ICEC). É mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista, com a tese Todo poder aos pastores, todo trabalho ao povo, e todo louvor a Deus. Assembleia de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946). Também é membro da Associação Brasileira de História da Religião e da Rede de Teólogos e Cientistas Sociais do Pentecostalismo na América Latina e Caribe. É autor do livro Protestantismo Tupiniquim: Hipóteses Sobre a (não) Contribuição Evangélica à Cultura Brasileira (São Paulo: Arte Editorial, 2005).

Eis a entrevista.

"IHU On-Line - Como o senhor descreve a relação entre as religiões pentecostais e a sociedade brasileira?
Gedeon Freire de Alencar -
Os pentecostalismos (no plural), como qualquer outra expressão religiosa, têm acertos e erros na sua relação com a cultura. Como nos lembra Weber, em seu clássico texto Rejeições religiosas do mundo e suas direções, ou teoria dos conflitos, as religiões de salvação têm uma relação de tensão e concessão com o mundo. Portanto, com os pentecostalismos não poderia ser diferente. Sem julgamento de valores, vejamos, por exemplo, a relação entre alfabetização e pentecostalismo. Nas regiões mais pobres da sociedade aonde o pentecostalismo chegou, houve uma melhora na questão da alfabetização, ou, de outra forma, se não fosse o pentecostalismo, nosso índice seria pior. Na questão da violência doméstica, idem.

IHU On-Line - Quais as principais críticas que o senhor faz ao pentecostalismo hoje?
Gedeon Freire de Alencar -
Reproduz as opressões sociais e elas ficam pioradas porque, neste caso, têm uma “marca espiritual”. E aqui cito o machismo, a discriminação de gêneros e sexos, apatia nas lutas sociais, um processo de acomodação de status e uma ênfase exagerada na solução dos problemas pessoais em detrimento da comunidade.

IHU On-Line - Como se dá a relação entre o pentecostalismo e as religiões afro?
Gedeon Freire de Alencar -
Péssima – por culpa de ambas. Sei que corro o risco de desagradar a todos, mas não vou fugir da questão. Primeiro, todas as religiões têm dificuldade de relacionamento, pois estabelecer uma relação é identificar no outro algum valor o suficiente para ele/a ser visto e ouvido. O ecumenismo é bonito na teoria, mas é piada utópica. Segundo, teologicamente, ou sendo mais simplista, fenomenologicamente apenas, é impossível uma relação entre as duas. Nenhuma reconhece a outra, mesmo como mero fenômeno social. Terceiro, ambas são concorrentes, pois suas membresias estão na mesma camada social. Quarto, a criminalização da questão superou os limites da civilidade. Ambas são majoritariamente religiões de pobres e, esta, dentre outras, foi a razão da perseguição externa. O pentecostalismo foi absurdamente perseguido em seus primeiros anos, nos EUA e também no Brasil, pelas igrejas tradicionais, ditas cristãs, muito mais por racismo e sexismo. Uma perseguição imoral, anticristã, vergonhosa. Mas este mesmo pentecostalismo (no caso o neopentecostal), agora hegemônico e poderoso, repete de forma vergonhosa a mesma perseguição. Uma coisa é querer se diferenciar religiosamente, “se vender” como a religião melhor, mais correta etc. Outra coisa é criminalizar o outro; perseguir mesmo. Por outro lado, os cultos afros são muito competentes em termos estéticos e culturais, mas absurdamente incompetentes em racionalidade econômica. Para completar, são estupidamente divididos e inimigos entre si. Alguns optaram por um demagógico discurso vitimista e só conseguem se manter porque vivem ancorados nas sinecuras estatais. Com a desculpa (ou a culpa mesmo) de que é “cultura” e não religião, deram um tiro no pé: virou cultura alegre, vistosa, interessante para turista, mas se folclorizou. Enfeite de solenidade, alegoria de carnaval, não conseguiu articular militância e fidelização de seus membros. É dizimado mais por seus próprios elementos internos que externos. Pelo andar da carruagem só vai sobrar em museu.

IHU On-Line - Que relação podemos estabelecer entre a teologia da prosperidade e o neoliberalismo econômico?
Gedeon Freire de Alencar -
Toda teologia tem a cara de seu tempo – mesmo que teólogos se digam inspirados (apenas) por Deus. O teólogo é um leitor de seu tempo. Alguns são bons leitores, outros péssimos. Então, teologia da prosperidade e neoliberalismo é, como diz o provérbio popular, a casa e o botão. São irmãos siameses. Um não existiria sem o outro. Não vou me atrever a avaliar a teologia ou a economia, pois entendo pouco dos dois, mas diria apenas mais uma coisa: por que o neoliberalismo não nasceu, por exemplo, no final da década de 20? Não existia, absolutamente, ambiente para isso. Da mesma forma como a teologia da prosperidade jamais teria surgido, no Brasil, na década de 70. Não havia condições econômicas e sociais propícias. Isso poderia ser dito de outras teologias e de outras épocas similares.

IHU On-Line - Em que sentido podemos perceber nas religiões neopentecostais uma ética relativista e uma estética consumista, como o senhor apontou em uma entrevista já em 2006 ?
Gedeon Freire de Alencar -
Um dos critérios – quase único – de nosso tempo é o quantitativo. “O fetiche de quantidade”, como disse Renato Mezan , no caderno Mais, Folha de S. Paulo, semana passada. Tudo é medido em números, e estes funcionam como oráculo divino. Por que este livro é bom? Porque vendeu muito. E este é melhor que outro porque vendeu mais ainda. Então, por que este louvor, música, pregação e igreja são melhores e estão certos, mais que outra(s)? Porque vendeu mais. Têm mais gente. Ter mais público quantitativamente é o grande critério de validação. Daí quem é o elemento fundante e final da coisa: o consumo. Por isso, benções são consumidas, louvores vendidos, pregações compradas. Igrejas são da moda – e o céu (ou o inferno para quem acredita...) é o limite. Conclusão - perdão pelo lugar comum - tudo é relativo. A ética é então muito mais conveniência que convicção; muito mais funcionalidade que fundamento. Qual a ética que rege este modelo? A do possível, dos fins justificando os meios. Não se tem mais a priori um bem maior definido e fundante, mas uma relatividade funcional de que, dependendo da “necessidade”, vale qualquer coisa. Se posso pagar a benção, comprar o louvor, transformar em moda a adoração, toda embalada para consumo de indivíduos, quem é que pode, em última instância, definir o objetivo? E Deus – seja lá ele quem for – não se meta a querer mudar o projeto.

IHU On-Line - Como entender a ênfase escatológica pregada pelas religiões pentecostais?
Gedeon Freire de Alencar -
Nas igrejas pentecostais mais periféricas (domingo passado, vi isso pessoalmente) a mensagem escatológica ainda é forte, já nas igrejas de classe média e, principalmente, nas neopentecostais, o discurso escatológico está fora de moda. Simples, se Jesus voltar agora vai estragar a festa! O pentecostalismo, fenômeno típico da passagem do século XIX para o XX é absolutamente escatológico. Nasce no período das grandes guerras. Ademais, como religião de pobres, o sonho é escapar da miséria. É fácil para um intelectual de esquerda ridicularizar isso como alienação, mas, fazendo algum esforço para compreender “de dentro”, a doutrina escatológica também pode ser uma esperança. O céu é um projeto de justiça e paz.

IHU On-Line - Como a Assembleia de Deus se posiciona em relação ao pentecostalismo?
Gedeon Freire de Alencar -
A Assembleia de Deus é uma igreja pentecostal. Aliás, não existe a Assembleia de Deus no singular, mas Assembleias. São muitas, variadas, autônomas, e, às vezes, inimigas entre si. Mas, majoritariamente são pentecostais, e como o universo assembleiano é vasto, há desde assembleias clássicas e tradicionais às mais neopentecostais e folclóricas possíveis. Teoricamente, pentecostal é quem aceita a contemporaneidade da doutrina do Espírito Santo. Mas a complicação é imediata: qual doutrina? Por exemplo, o falar em línguas e o exorcismo. Muitas igrejas hoje não têm mais estas marcas, ou só tem uma, como a Igreja Universal do Reino de Deus, que só dá ênfase ao exorcismo. Enfim, há muito que pentecostalismo não é mais apenas uma designação doutrinária, mas uma definição sociológica, e mesmo esta, atualmente, não é consenso."
(Fonte: Site do IHU - Instituto Humanitas Unisinos)

quarta-feira, 19 de maio de 2010

TROPEÇOS E QUEDAS

Portanto, a vida espiritual é, em primeiro lugar,
uma questão de estar desperto
"Só a fé pode dar-nos a luz para vermos que a vontade de Deus está em nossa vida cotidiana. Sem essa luz, não enxergamos para tomar decisões certas. Sem essa certeza, não podemos ter confiança e paz sobrenaturais. Tropeçamos e caímos constantemente, mesmo quando nos sentimos muito esclarecidos. Mas quando estamos na verdadeira escuridão espiritual, nem mesmo sabemos que caímos. Para mantermo-nos espiritualmente vivos, precisamos renovar constantemente nossa fé."
Thomas Merton
{do livro, Thoughts in Solitude, (Farrar, Straus and Giroux Publishers, New York), 1958. p. 38No Brasil: Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p. 39-40}

domingo, 16 de maio de 2010

500 MIL PESSOAS FORAM VER BENTO XVI

Papa Bento XVI no seu Papamóvel quando se retira do
Santuário de N. Sra de Fátima, em Portugal. Nunca se vira antes 500 mil pessoas em Fátima. Nem no ano 2000, na missa celebrada por João Paulo II.

(Foto: Emilio Morenatti /AP)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

PALAVRA DE POETA

Uma conversa com Octavio
Poeta e ensaísta, Octavio Paz foi Prêmio Nobel de Literatura em 1990. Nasceu no México em 1914 e passou a infância nos Estados Unidos com a família. De volta ao México, formou-se em direito e fez especialização em literatura. Lutou na Espanha, em 1937, ao lado dos republicanos, mas nunca abraçou o comunismo. De 1946 a 1951, viveu em Paris, onde se ligou a André Breton e freqentou o grupo surrealista, no qual encontrou o poeta Benjamin Peret, que viveu no Brasil e no México e foi seu tradutor para o francês. Além de escritor e tradutor, Octavio Paz foi diplomata. Demitiu-se do cargo de embaixador de seu país na Índia em protesto contra o massacre da Praça das Três Culturas (Tlatelolco, 1968), no qual morreram mais de cem estudantes mexicanos. Comentando sua morte em 1998, o escritor peruano Mario Vargas Llosa o qualificou como “a consciência viva de sua era”. É conhecido no Brasil, sobretudo, por seus ensaios, como O arco e a lira, Signos em rotação, O labirinto da solidão entre outros.
A jornalista Betty Milan, da Revista de Cultura Agulha Hispânica fez uma longa entrevista com o poeta que pode ser lida na sua íntegra, clicando aqui.

A MENTIRA VIROU CIÊNCIA

Marketing de comportamento

"Uma frase típica de jantares inteligentes é: Hoje temos outra cabeça!. Eu digo que não. Não temos outra cabeça. Somos mais tagarelas sobre nossas mentiras. A mentira virou ciência: virou marketing", escreve Luiz Felipe Pondé, professor da PUCSP, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 10-05-2010. E confessa: Sim, tenho problema com as mulheres, quem não tem? Só os mentirosos. Ser bem resolvido com as mulheres é ser gay, atesta o professor. Para ler o artigo na íntegra é so clicar aqui.

QUASE 1 BI DE CUSTO AOS COFRES PÚBLICOS

Criticado até por marqueteiros,
horário eleitoral custa R$ 850 milhões

Plínio Fraga da Sucursal do Rio e
Uirá Machado, da Reportagem Local

"O chamado horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão custará aos cofres públicos - em isenções tributárias previstas em lei - quase R$ 900 milhões. E, para dois dos mais conhecidos marqueteiros do país, poderia ser extinto.
Duda Mendonça e Antonio Lavareda afirmam que as inserções eleitorais (propagandas curtas) são importantes na campanha, mas os dois programas diários de 25 minutos cada um encarecem as disputas, têm efeito limitado e poderiam ser substituídos por debates temáticos entre os candidatos.
Programa eleitoral em bloco só serve para encarecer campanha. Não tem papel de persuasão. Eleitor não presta atenção e, quando presta, é pouco afetado, diz Lavareda, 76 campanhas no currículo. Para ser persuadido, o eleitor não deve estar ciente de que está sob tentativa de convencimento.
Na eleição de 2006, só os candidatos de PT e PSDB declararam ter gasto cerca de R$ 20 milhões na produção da propaganda para rádio e televisão, numa campanha em que juntos assumiram oficialmente desembolso de R$ 186 milhões.
Não faz sentido nem do ponto de vista teórico nem do ponto de vista prático. Mas marqueteiros e políticos são contra fragmentar o programa, diz Lavareda.
O publicitário Duda Mendonça, mais de 45 campanhas, diz que os programas poderiam ser substituído por debates. Seriam debates ao vivo, em rede obrigatória, temáticos.
Ele reconhece que a proposta tem poucas chances de ser implementada. Por que não muda isso? Porque no debate é onde o candidato aparece mais nu e cru. Tem de enfrentar o estresse, o argumento.
Lavareda concorda com essa sugestão. Para ele, há um paradoxo nas democracias modernas: Exige-se um nível fantástico de compreensão, mas as pessoas não conseguem se informar a respeito de tudo.
Horário 'gratuito'
De acordo com levantamento realizado pela ONG Contas Abertas, a Receita Federal deixará de arrecadar neste ano R$ 856.359.976,86 em razão do horário eleitoral gratuito --dinheiro suficiente para custear um ano de estudo para 635 mil alunos, um contingente de estudantes de rede pública de uma grande capital.
A legislação eleitoral permite que as emissoras de rádio e TV deduzam do Imposto de Renda 80% do que receberiam caso o período destinado ao horário gratuito fosse vendido para propaganda comercial.
As rádios e as TVs precisam comprovar, por meio de nota fiscal emitida na véspera do horário eleitoral, o valor cobrado pelos comerciais. Essa nota não pode ser discrepante de outras operações com a iniciativa privada nos 30 dias anteriores e 30 dias posteriores a essa data.
Com base no montante encontrado, estima-se quanto a emissora perdeu por ter cedido o tempo. O valor é subtraído do faturamento da emissora antes de ser calculado o imposto.
Desde 2002, a União já deixou de arrecadar R$ 3,65 bilhões em razão do horário eleitoral gratuito.
(Fonte: Jornal Folha de São Paulo)

sábado, 8 de maio de 2010

RAONI NA FRANÇA CONTRA BELO MONTE

O líder indígena Raoni esteve em Paris, no dia 03-05-2010, para a promoção do seu livro e se encontrar com o presidente francês e seu predecessor. O objetivo da visita a França é evitar a construção, na Amazonia, da gigantesca barragem de Belo Monte, projeto julgado devastador pelos ecologistas e sobretudo
pelos indígenas.


(Foto: Benoit Tessier / Reuters)

UM NOVO MODELO DE DEMOCRACIA SOCIAL

O cientista político, Bruno Lima Rocha, faz uma tipificação da forma de articular o político com o social. Bruno Lima Rocha, é cientista político com doutorado e mestrado pela UFRGS, jornalista formado na UFRJ; docente de comunicação e pesquisador 1 da Unisinos; membro do Grupo Cepos e editor do portar Estratégia & Análise. Veja o artigo:

Por uma democracia social

com partidos políticos de outro tipo – 1

Bruno Lima Rocha

"Inauguramos nesta nova série de quatro breves artigos de difusão científica, um debate que vai além da forma orgânica dos partidos e se centra em sua missão institucional e na antecedência histórica. A série começa com a tipificação de uma nova forma de articular o político com o social e no intermédio destes dois níveis a presença do político-social, fortalecendo as chamadas tendências das bases de movimentos e as respectivas agrupações de tipo aberto. Lembramos que aqui se trabalha um modelo de tipo distinto do partido de intermediação de tipo burguês ou autoritário. E, que a radicalização da democracia, como atividade-meio para a transformação da sociedade, passa por uma escalada de participação e o conflito resultante desta.
Uma vez que aqui se trata da hipótese de desenvolvimento de uma organização política de minoria, ou o partido de quadros, com intenção de ruptura da ordem constituída, as variáveis de desenvolvimento para este tipo de instituição política estão condicionadas por sua missão institucional. Como afirmamos acima, estamos tentando generalizar um cenário de conflito social com protagonismo das maiorias de classe oprimida e trabalhadora.
Esta hipótese automaticamente exclui soluções e processos desenvolvidos através de vanguardas esclarecidas de tipo armado e/ou de proselitismo político. Uma vez que a conjuntura de momento não possibilita visualizações precisas e de rigor quanto ao programa ideológico deste tipo de partido, tomamos a ousadia de apontar um guarda-chuva ideológico genérico, dentro do panorama político das esquerdas latino-americanas após o Levante Zapatista no México (1994) e a derrubada do presidente equatoriano Abdala Bucaram (1997).
No exercício da modelagem, busco algo que aponte para uma ordem social com distribuição justa, independência nacional e democracia substantiva, participativa e com experimentalismos institucionais nesse sentido. Este tipo de organização seria a versão atual (pós-bipolaridade) de uma soma de objetivos de libertação nacional e democracia de cunho socialista, somados aos acúmulos de experiências atuais ou históricas na América Latina.
Através de raciocínio lógico binário, se a hipótese de vanguarda auto-esclarecida não é considerada válida, portanto a condição de organização de minoria tem como estilo político o impulsionar das instituições sociais voluntárias e de caráter massivo. Uma vez que esta mesma hipótese aponta dois eixos de mínimo denominador comum – o especifismo político-ideológico e o protagonismo das bases sociais - os mesmos se tornam o alicerce da caracterização do tipo de instituição política que abordamos.
Assim, para esta organização o nível político oficial, o de concorrência através de eleições não é considerado nem no plano tático de atuação. Experiências recentes na América Latina vêm provando e comprovando a limitação deste tipo de atuação para fins de ruptura. A mesma ressalva é valida para ocupar estruturas estatais para, desde adentro, intentar cambiar a correlação de forças e missão institucional de modo a torná-los públicos. Experimentalismos institucionais dentro do regime de legalidade são também considerados de forma tática e não-determinante para cumprir seu objetivo. Por exclusão, as saídas pela via de ruptura são estratégicas e prioritárias.
Um aspecto é importante ressaltar, que é o tema da inserção e condicionamento das bases sociais para um objetivo finalista dentro de uma estratégia permanente. O tema do controle por parte dos partidos de esquerda sobre os movimentos populares é justo o oposto do desenvolvido pelo grosso da literatura de ciência política, tomando por base a generalização da experiência da social-democracia européia. Assim, ao invés de ser inflexível para com sua própria base e transigir, a partir desta moeda de troca (o nível sindical e de massas), com os partidos da burguesia, este tipo de partido aponta para estruturas de democracia interna, tanto em suas instâncias internas como nos movimentos de classe os quais este incide e/ou hegemoniza. No caso, a intransigência é com os demais e não para dentro de si mesmo.
Um exemplo histórico relativamente recente e ainda por demais injustiçado, sendo condenado ao segundo desaparecimento (por omissão dos que produzem análise e discurso sobre a política) é a experiência insurrecional peruana da década de 1980 do século XX. Não me refiro ao Sendero Luminoso, mas sim ao acionar político-social da outra organização insurgente. A leitura obrigatória para este tema se encontra na entrevista com o comandante do Movimento Revolucionário Tupac Amaru / Exército Revolucionário Tupacamarista (MRTA) Nestor Cerpa Cartolini (Cartolini, 1997). Nesta publicação se expõe as experiências de democracia direta e participativa desenvolvidas no Frente San Martín no final da década de 1980 até o início da década seguinte, nesta região de selva há 1000 km. da capital do Peru, Lima.
Voltando a modelagem, em termos concretos, esta instituição política defende e aplica a democracia interna, a autodeterminação resolutiva e a independência dos movimentos populares em relação aos partidos de classe (incluindo ao próprio partido). Este espaço assegura a autonomia de classe social oprimida perante todas as instituições políticas agindo dentro e sobre ela. A democracia interna serviria como prerrogativa contra a cristalização com tendências burocráticas ou de oligarquias (ver a caracterização sobre o tema, abordado por Michels em Panebianko, 1982, p.36). Este é um dispositivo conformado por mecanismos e decisões visando impedir a deformação burocrática, tanto na parte interna da organização como nas estruturas organizativas das instituições sociais (movimentos de classe e programáticos) onde este gravita.
O binômio de autonomia de classe social e democracia interna em todos os níveis apontam para uma discussão de fundo teórico e essencial para nos fazermos compreender. Trata-se da própria idéia de classe política e, uma vez que esta se constitua, as possibilidades de seu desenvolvimento atingir ou não tanto a democracia possível como a desejável pelos agentes coletivos. Em tese, estaríamos diante das opções extremas de perpetuação sem renovação, a chamada opção aristocrática; e renovação sem perpetuação, a dita a opção democrática-revolucionária (para ambas ver Bobbio, 2002, cap.8).
Partindo destas opções consagradas, formulo mais duas possibilidades: uma se aproxima da aristocrática, transformando-a em oligárquica, ou seja, renovação para perpetuação. Outra teria o mesmo perfil, mas insistiria em perpetuação de missão com renovação de pessoal, esta, entendo como normativamente positiva para este modelo aqui apresentado. Em outras palavras, o tema é o do treinamento como parte essencial da reprodução desejável por uma instituição política (Para uma discussão e crítica do tema da classe política em Michels, ver Bobbio 2002, cap.8, e com precisão pp. 225-227). A discussão, por tanto, se dá sobre o mecanismo a ser reproduzido e o tipo de treinamento necessário para cumprir uma missão institucional.
Considerando as experiências anteriores, este mecanismo tem de gerar quadros treinados para assegurar a democracia interna (em todos os níveis) e os objetivos de programa máximo. Já o programa máximo, prevê a idéia de acumulação e vai ao encontro contra as soluções de ordem tática de programas mínimos, com reformas parciais ou favorecimentos a uma categoria em contra de outra (ver Przeworski, 1995, cap.1). É aquele que deve ser proporcionado pela própria instituição política que advoga esta tese. Não há possibilidade teórica fora disso, e aí rigorosamente se descarta qualquer hipótese de definições de falsa consciência (Przeworski, 1986, p.81)."

Bibliografia do artigo:
CARTOLINI, Nestor Cerpa. Entrevista al comandante del MRTA, Montevidéu, Editorial Recortes, 1997.

BOBBIO, Norberto. Ensaio sobre ciência política na Itália. Brasília, Editora UnB, 2002.
PANEBIANKO, Angelo. Modelos de Partido. Madrid, Alianza Editorial, 1982.
PRZEWORSKI, Adam. Capitalismo e Social-Democracia. São Paulo, Cia. das Letras, 1995.

(Fonte: site do IHU - Instituto Humanitas Unisinos)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O CINEMA VÊ A FAMÍLIA



GALHOS PARTIDOS: O CINEMA VÊ A FAMÍLIA
[DE 3 A 18 DE ABRIL DE 2010]

"Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira". (Liev Tolstói)

O Cine Humberto Mauro apresenta, entre os dias 3 e 18 de maio, uma mostra dedicada à família. Oito filmes, oito olhares agudos sobre esta instituição em vários países e épocas. Da obra-prima do japonês Yasujiro Ozu, Era Uma vez em Tóquio (1953) até As Coisas Simples da Vida (2000) são 5 décadas de cinema em torno dos temas da ruína, decadência e, ao fim, da conservação dos valores familiares na atualidade.
Ao já citado filme nipônico, segue-se, cronologicamente, Rocco e Seus Irmãos (1960), épico retrato de uma pobre família italiana que tenta a sorte na rica Milão. Grandes atuações (como a de Alain Delon, em seu papel mais conhecido) se conjugam com maestria com a encenação rigorosa de Luchino Visconti. Ainda na seara do cinema moderno será exibido Trabalho Ocasional de Uma Escrava (1973), misto de drama familiar e ensaio marxista sobre a figura materna. O intelectual alemão Alexander Kluge questiona neste filme, com o usufruto de heterogêneas técnicas de narração cinematográfica, a força revolucionária feminina em meio ao mundo e a família burguesa.
Talvez o filme mais abertamente autobiográfico do sueco Ingmar Bergman, o clássico Fanny & Alexander (1982) dispensa maiores apresentações. Já Vozes Distantes (1988), do britânico Terence Davies, é um filme a ser descoberto. Também autobiográfico, o filme retrata com um estilo bastante particular duas gerações de uma família operária de Liverpool no pós-guerra. Os fantasmas familiares são aqui reencarnados pela música e o cinema das décadas de 40 e 50. Também britânico, Segredos e Mentiras (1996) aborda o tema com um olhar abertamente realista, como é caro ao cineasta Mike Leigh. Os dois últimos filmes da mostra remetem diretamente ao clássico de Ozu. Assim como aquele, Os Galhos da Árvore (1990) e As Coisas Simples da Vida (2000) percebem as rápidas transformações sociais (na Índia ao fim da Guerra Fria e na Taiwan atual) por meio de uma visada humanista sobre microcosmos familiares. Último filme de Edward Yang, talentoso diretor taiwanês falecido prematuramente em 2007, As Coisas Simples da Vida foi reconhecido por diversas publicações especializadas como o melhor filme da última década. A não se perder, dado que seis dos filmes serão exibidos em seus formatos originais.

GALHOS PARTIDOS: O CINEMA VÊ A FAMÍLIA: R$ 5,00 (INTEIRA) E R$ 2,50 (MEIA).
Para ter a cesso a programação completa clique aqui.

sábado, 1 de maio de 2010

DESASTRE ECOLÓGICO

Apesar do trabalho dos bombeiros e dos salva-vidas, a plataforma petrolífera BP "Deep Water Horizon", após a sua explosão, se fundiu, no dia 22 de abril, no Golfo do México. Entre as 126 pessoas que estavam a bordo, 17 ficaram feridas e 11 desapareceram. A mancha do petróleo se espraia cada vez mais numa extensão de 32 quilômetros, significando um grande desastre ecológico, talvez o maior dos EUA.

(Fonte: Site do IHU - Instituto Humanitas Unisinos, Foto: Michael Democker - LANDOV/MAXPPP)

POEMA FALA DA IMPOSSIBILDADE HUMANA

PAULO DE TARSO
Eugênio Magno
não posso fazer
aquilo que quero
e não quero fazer
aquilo que posso
(do livro IN GÊ NU(A) IDA DE - versos e prosa, 2005)

A BELEZA EXÓTICA DO TEMPLO BUDISTA DO CAMBOJA

Monges budistas cambojanos celebram os 2.554 anos de Buda
no templo de Bayon em Angkor, durante a festa de Visak Bochea.


Foto: Tang Chhin Sothi / AFP Photo)