terça-feira, 26 de novembro de 2019

EDUCAÇÃO E CINEMA


(Cena do filme Nas terras do bem-virá/reprodução)

Livro e filmes sobre Educação do Campo

Eugênio Magno

O que é bom e potente precisa de difusão constante. Falo de um livro sobre Educação do Campo que coloca o cinema em primeiro plano. Com o belo e sugestivo título, Outras terras à vista, Aracy Alves Martins, Inês Assunção de Castro Teixeira, Mônica Castagna Molina e Rafael Letvin Villas Bôas, organizaram em 2010 essa instigante publicação da coleção Caminhos da Educação do Campo, pela Editora Autêntica.
O livro, no dizer de seus organizadores, se articula partindo, em princípio, de olhares cuja experiência é incontestável, em primeiro lugar, sobre Educação e sobre o Campo e seus sujeitos; em segundo lugar, sobre Cinema e Educação. São olhares diferenciados, tangenciando várias dimensões: históricas, políticas, ecológicas, poético-literárias e educacionais; tendo sempre como foco os sujeitos do campo, seus textos e contextos, trazidos da terra às telas.
Os filmes: Vidas Secas, Deus e o diabo na terra do sol, Narradores de Javé, Cabra marcado para morrer e Nas terras do bem-virá, estão entre as dez obras cinematográficas analisadas em Outras terras à vista. Além de textos dos organizadores, o livro tem prefácio e posfácio dos professores eméritos da Faculdade de Educação (FaE/UFMG), Carlos Roberto Jamil Cury e Miguel González Arroyo, respectivamente. Conta ainda com a participação dos professores e pesquisadores, Ana Lúcia Azevedo e Ataídes Braga, entre outros; inclusive, deste articulista.
Senti-me honrado em participar do livro, não só pela importância de sua destinação, como pela satisfação em poder afirmar A teimosia da esperança: “Nas terras do bem-virá”**, juntamente com os autores e personagens do filme em questão. No capítulo 11 – o último do livro –, acompanho Alexandre Rampazzo, Tatiana Polastri e Fernando Dourado que, contando apenas com uma pequena ajuda de custo para cobrir os gastos com transporte, alimentação e manutenção da base de produção, empreenderam uma jornada de 26 meses entre pesquisa, produção e finalização do referido documentário.
Nas terras do bem-virá aborda o modelo de colonização da Amazônia, o massacre de Eldorado do Carajás, o assassinato da missionária Dorothy Stang e o ciclo do trabalho escravo. Histórias de um povo que cansou de migrar em busca da sobrevivência e decidiu lutar para conseguir um pedaço de terra, deixar de ser escravo e manter viva a última grande floresta tropical do planeta. Com uma equipe super-reduzida e uma câmera digital portátil, o diretor, a produtora e o cinegrafista, entrevistaram cerca de 200 pessoas em 29 cidades dos estados do Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.
Miguel Arroyo em um dos seus mais recentes livros, Passageiros da noite (Vozes, 2017), indica o filme e a nossa análise como material de trabalho didático em EJA, no capítulo 7 – Itinerários por direito a uma vida humana justa.
O documentário Nas terras do bem-virá é um ato de amor de um povo que não perdeu a esperança e sonha com a terra prometida, além de ser mais um ato de fé de seus obstinados realizadores (o premiado documentário Ato de fé, de 2004, também foi realizado por eles). Outras terras à vista: cinema e educação do campo, Belo Horizonte: Autêntica, 2010, o livro que contém uma análise do filme, está no catálogo da editora. Ele tem despertado a atenção não só dos educadores do campo, como também de interessados pela questão da terra e pelo cinema. Leia o livro e veja o(s) filme(s).

A teimosia da esperança: “Nas terras do bem-virá”, de autoria de Eugênio Magno, é o capítulo 11 do livro Outras terras à vista: cinema e educação do campo (Autêntica, 2010).

Este texto também foi publicado jornal Pensar a Educação, Pensar o Brasil.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

REFORMA DA PREVIDÊNCIA


Senado conclui votação da PEC Paralela em dois turnos


O plenário do Senado concluiu a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Paralela, alternativa criada por parlamentares para promover mudanças na reforma da Previdência —como possibilidade de Estados e municípios adotarem as novas regras de aposentadoria—, sem alterar a proposta principal sobre o tema, o que atrasaria sua tramitação.
O acordo fechado entre os senadores permitiu a quebra dos intervalos exigidos entre as duas rodadas de votação. Os senadores analisaram emendas pendentes do primeiro turno e já emendaram no segundo turno na noite desta terça-feira.
Para ler a matéria de Maria Carolina Marcello para a Reuters clique aqui.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

"TEMPORADA", DE ANDRÉ NOVAES, NA SALA DE CINEMA VICTOR DE ALMEIDA



Cinema de graça em Mateus Leme

O Cineclube Palmares promove no próximo domingo, dia 17, às 17h30, na Sala de Cinema Victor de Almeida da Casa de Cássia de Mateus Leme, o lançamento do filme "Temporada", produzido pela Filmes de Plástico, de Contagem, e premiado no último festival de Brasília.
Realizado uma vez por ano, em novembro, o Cineclube Palmares procura destacar o papel do negro na sociedade brasileira, dando preferência à apresentação de obras de autores dessa etnia. Com a atriz Grace Passô, "Temporada" foi dirigido por André Novaes de Oliveira e é interpretado por Renato Novaes; os dois estarão presentes à apresentação. Este lançamento é uma iniciativa do produtor cultural e escritor Matheus Antônio.
O filme será reapresentado no mesmo horário e lugar nos dias 23, sábado, e 24, domingo, mediante a distribuição prévia de ingressos. No dia 30, sábado, será exibido o filme "Ela Volta na Quinta", também de André Novaes de Oliveira, com ingressos distribuídos previamente. A sala tem 30 lugares e a Casa de Cássia fica na antiga Estação Ferroviária de Mateus Leme. Chegue ao local com 30 minutos de antecedência e retire o seu ingresso.

sábado, 9 de novembro de 2019

CORINGA E BACURAU: O CINEMA IMITA A VIDA



(Nota de 1 Dólar – Foto: Eugênio Magno)


Bacurau e Coringa, duas faces de uma mesma moeda

Eugênio Magno

                   Bacurau e Coringa, duas recentes produções cinematográficas do continente americano – do sul e do norte, respectivamente –, vêm sendo analisadas dos pontos de vista fílmico, político, filosófico, sociológico, psicanalítico, etc. Sem pretensão quanto a fazer reflexões sobre qualquer um dos filmes que se enquadre nesta ou naquela categoria analítica, nem tampouco traçar um panorama geral comparado, atento-me aqui para possíveis aproximações entre eles e a nossa realidade. Tais aproximações são apresentadas pelas assimetrias no tempo e no espaço, como também pelo que encerram suas narrativas e caracterizam seus personagens que se fazem presentes e coincidentes com a atual conjuntura econômica e sociocultural dos países em que as duas histórias acontecem e/ou em quaisquer outras localidades do mundo.
                   O filme dirigido pela dupla de cineastas Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles se passa no minúsculo povoado de Bacurau que dá nome ao filme, situado no oeste do estado de Pernambuco, nordeste brasileiro. Já o antagonista do Batman, Coringa, protagonista da película de Todd Phillips, que também intitula o filme, é um personagem de Gotham City (Nova York), o centro do império capitalista, a metrópole mais cosmopolita do mundo. Embora Coringa seja projetado para um passado não muito distante e Bacurau para um futuro próximo, as duas películas se encontram no presente, na atualidade. Tanto Bacurau quanto Gotham City ou Nova York podem muito bem representar vários locais em qualquer país do globo. Os bolsões de pobreza e miséria social, fome e desemprego se multiplicam pelos quatro cantos do planeta, enquanto uma minoria de endinheirados aumenta em percentuais gigantescos seus lucros, bens, poder e capital. No campo, vilas e cidades – médias e grandes –, portanto, em micro e macro territórios, o descarte humano tornou-se prática corriqueira. Até mesmo uns poucos assistidos pelos programas sociais de natureza compensatória sofrem o engodo da inclusão subalterna, viciada e selvagem que maquia a realidade, enquanto aprofunda as desigualdades e escamoteia privilégios de forma abjeta. Coringa e Bacurau expõem as vísceras da sociedade capitalista e do avanço impiedoso do neoliberalismo ao retratar a diversidade e as diferenças e divergências cada vez mais tensionadas pelas muitas formas de desigualdades, principalmente as econômico-financeiras, sociais e de direitos (incluindo a falta do direito a ter direitos).
                   Os dois abordam a forma bárbara como os mais pobres são oprimidos, roubados de suas humanidades e massacrados pelos tentáculos visíveis da encarniçada glutonia do capital. As promessas da modernidade e da revolução tecnológica e cibernética não se cumpriram e a mundialização capitalista globalizou a miséria e transnacionalizou a degradação do ambiente, de nossas reservas, mananciais e de toda a vida no planeta. Mas como diria Fernando Birri, para citar o pai do nuevo cine latinoamericano, “a vida quer viver” e os oprimidos, excluídos e invisibilizados sempre encontram formas de sobrevivência, lutam e, como as árvores, ainda que sucumbam, morrem de pé. As duas narrativas fílmicas nos mostram do que os mais fragilizados são capazes quando perdem a esperança no tal “futuro melhor”, sempre prometido e, recorrentemente adiado. A urgência da vida faz com que os sujeitos coletivos de Bacurau, um lugarejo na periferia do mundo que, vistos como desumanizados pelo olhar do colonizador, tendo suas pacatas vidas dizimadas, ao serem caçados e mortos como animais (num jogo de “entretenimento” de estrangeiros brancos) recorram a um banido de sua comunidade para lhes fazer justiça. Em Coringa, um homem sofrido que ganha a vida como palhaço propagandista, marcado pela tristeza, depressão e um grande drama existencial e familiar, reage de forma independente e individual contra o establishment. Sua atitude mobiliza a massa nova-iorquina que assume a máscara de palhaço coletivo e desencadeia um intenso movimento de insurgência contra o sistema que os esmaga em suas humanidades.
                   O temido criminoso, Lunga e seus comparsas, assumem a condição de vingadores na defesa de seus conterrâneos de Bacurau. E o aparentemente inofensivo palhaço, Arthur Fleck, de Joker, enfurecido por ter sua existência e dignidade negadas se rebela e faz despertar uma cidade inteira contra um sistema excludente e perverso em que os privilégios de poucos são garantidos à custa do sacrifício da grande maioria da população. A novidade nos dois filmes é a explosão de violência vingativa dos mais fracos e dos que sempre foram apresentados como vilões a serem combatidos violentamente pelos heróis justiceiros, numa total inversão de empatia do espectador que passa a vestir a pele do vingador. É exatamente aí que mora o perigo que nos espreita. Há muito temos recebido sinais de como e para quais fronteiras as novas convulsões sociais têm evoluído. Se as elites, o capital, o Estado, a sociedade organizada e os guardiões da moral e dos bons costumes criminalizam a selvageria da vingança há que se repudiar também de forma veemente a brutalidade e a barbárie imposta aos desvalidos, à força de uma justiça socialmente parcial e seletiva.
                   Jocker, o palhaço triste que sorri por força de um distúrbio psicológico, sem a menor pretensão de articular qualquer movimento social, vira contra seu inimigo a arma que lhe é apontada. Ele dispara contra os verdadeiros vilões que pousam de heróis e roubam a vida dos oprimidos que, ao assumirem a máscara dos palhaços de que são feitos cotidianamente, criam o caos no coração do mundo capitalista – Nova York –, outrora jurisdição do super-herói de preto, Batman, o justiceiro e cão de guarda dos interesses das classes dominantes.
                   Enquanto a população de Bacurau é plugada e a tecnologia digital desfila pelo filme tanto contra como a favor dos interesses coletivos, em Coringa nos é apresentada uma Nova York suja e decadente. O metrô, a TV e as ruas são os principais cenários das ações de Arthur Fleck que necessita de alta exposição midiática para ferir com a mesma arma com que é ferido. Já aqui, nas brenhas do sertão, a selvageria é praticada com requintes cibernéticos, como a invisibilização territorial feita pelos gringos, que retira o lugarejo do Google Maps, para a livre ação brutal dos ditos civilizados contra os “selvagens”, moradores de Bacurau. Os oponentes no filme brasileiro se enfrentam com armas de alto calibre e longo alcance, de última geração, coletivamente, ao contrário de Joker que, sem o uso de qualquer parafernália tecnológica, com apenas um velho revólver de cano curto, num ato solitário, extermina à queima roupa seus opressores e deflagra uma manifestação de massa. Lunga, o bandido alijado de Bacurau é convocado pela população para defender a comunidade da barbárie e com extrema violência lhes devolver a paz.
                   Guardados os limites da conceituação, Coringa e Bacurau revelam outros deflagradores dos movimentos sociais da atualidade que obedecendo a uma dinâmica que lhe é própria, não se prende no tempo, nem a conceitos monolíticos. Toma novas feições e incorpora bandeiras de luta contra as ações mais danosas ao convívio humano na produção da vida e nas relações sociais praticadas em cada momento histórico. O insucesso de uma possível transformação social negociada com base na relação capital/trabalho e divisão de renda, de forma justa e organizada com o protagonismo do proletariado, sindicatos e partidos políticos gestou uma grande diversidade de coletivos e formas peculiares das pessoas se juntarem para lutar contra a opressão, uma delas é o terror e o revide da violência. Já disseram que se a revolução social não viesse da classe trabalhadora organizada, viria das periferias, dos excluídos e marginalizados, de forma desorganizada e brutal.
                   Bacurau e Coringa são dois filmes proféticos, denunciam e anunciam o leviatã da hipermodernidade. Coringa homenageia uma plêiade de super-heróis da ficção e Bacurau faz memória a vários mártires da história recente de nosso país. Qualquer semelhança com pessoas e fatos da atualidade, certamente não terá sido mera coincidência.

Este texto também foi publicado no jornal Pensar a Educação em Pauta.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

PRIVATIZAÇÕES EM CURSO


Eletrobras diz que Bolsonaro assinará projeto de lei de desestatização; ministro levará PL ao Congresso


A Eletrobras (ELET6.SA) relatou que recebeu ofício enviado pelo Ministério de Minas e Energia informando que o presidente Jair Bolsonaro deverá assinar nesta terça-feira projeto de lei que permitirá a desestatização da elétrica.
Segundo fato relevante divulgado na noite da véspera, o projeto de lei deverá cumprir todo rito legislativo até a sua promulgação.
Em entrevista à Globonews nesta terça-feira, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que o governo quer capitalizar a empresa, que, segundo ele, está perdendo participação no mercado de geração e transmissão.
Se nada for feito, disse o ministro, a Eletrobras terá só 15% de geração de energia e 35% na transmissão em dez anos.
Para ler, na íntegra, a matéria de Roberto Samora (SP) e Pedro Fonseca (RJ), para Reuters Brasil, clique aqui.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

TRUMP PODERÁ SOFRER IMPEACHMENT


Congresso aprova investigação para impeachment de Trump sob a oposição dos republicanos

(Foto: Reuters/Joshua Roberts)

Maioria democrata da Câmara valida as normas para começar o julgamento parlamentar do presidente, acusado de pressionar mandatário da Ucrânia para obter informações contra seu rival Joe Biden

A Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprovou nesta quinta-feira, graças à maioria democrata, as regras do jogo pelas quais vão levar adiante a investigação para um possível impeachment ou destituição do presidente, Donald Trump. O processo entra agora em um estágio formal, com os ritos próprios de um julgamento parlamentar: com algumas audiências em aberto, direito de defesa para o mandatário, a quem se acusa de ter pressionado a Ucrânia para prejudicar seu rival político Joe Biden.
A sessão desta manhã marca o primeiro voto formal sobre este processo excepcional e serviu para evidenciar o partidarismo deste processo: 231 democratas e um independente votaram a favor da investigação, enquanto 194 republicanos votaram contra.
Para continuar lendo a matéria de Amanda Mars para o El País, clique aqui.