segunda-feira, 28 de setembro de 2015

VÍCIO, OBSESSÃO, COMPULSÃO OU NECESSIDADE (???...)


O nosso vício na internet tem cura?



Quase todas as ruas em quase todas as grandes cidades do mundo estão lotadas de pessoas usando seus celulares, alheias à presença dos outros. É um comportamento que não existia poucas décadas atrás.
Acabamos nos acostumando ao fato de que compartilhar o mesmo espaço físico não significa mais compartilhar da mesma experiência. Onde quer que estejamos, levamos conosco opções muito mais interessantes do que o lugar e o momento que vivemos: amigos, familiares, notícias, imagens, modismos, trabalho e lazer cabem na palma da mão.
Mas como questiona o fotógrafo Josh Pulman, autor do ensaio Somewhere Else (em algum outro lugar, em tradução livre), cujas fotos são exibidas com esta reportagem: “Se duas pessoas estão andando juntas, cada uma prestando atenção a seu telefone, elas estão realmente juntas?”
Faz parte do ser humano ter uma profunda vontade de se conectar. Mas será que esse dom pode nos prejudicar em algum momento? É possível ficar “conectado em excesso”? E o que isso significa para nosso futuro?
A vida por um fio
Desde sua invenção, o telefone tem sido um motor de agitação social e um foco de ansiedade tecnológica. Imagine a cena através dos olhos do século 19, quando as primeiras estruturas de telefonia começaram a ser instaladas: quilômetros e quilômetros de fios pendurados nas laterais das ruas, perfurando todas as casas. As paredes estavam sendo violadas: o santo lar, ligado a uma nova espécie de interação humana.
“Em breve não seremos mais do que gelatinas transparentes”, lamentou um jornalista britânico em 1897, temendo a perda da privacidade.
Mas, enquanto os primeiros medos em relação ao telefone podem ter sido exagerados, eles também foram um tanto proféticos. Se no fim do século 19 e durante o século 20 nossa vontade foi de plugar todos os locais de trabalho e lazer em redes, o século 21 emerge com o desejo de uma interconexão de nossas mentes nessa trama.
E estamos começando a sentir os efeitos disso.
Assim como seu antepassado no século 19, o telefone celular nasceu como um símbolo de status para as pessoas afluentes e ocupadas. Com o tempo, o luxo se tornou universal. Passamos a entremear a disponibilidade constante no nosso conceito de espaço público e privado, na nossa linguagem corporal e na etiqueta cotidiana.
Ficar incontactável se tornou a exceção, algo fora deste mundo – mas também uma fonte inesgotável de ansiedades.
E, como a história se repete, a todo momento recebemos alertas sobre possíveis efeitos prejudiciais da comunicação móvel.
Um desses avisos veio com a notícia de que um homem de 31 anos foi recentemente internado para se tratar de um “distúrbio de vício em internet”, por causa de seu uso excessivo do smartphone.

Relação normal ou patológica?

Casos como esse levantam outras questões: com que frequência suas mãos se mexem involuntariamente com a intenção de pegar seu celular ou de alcançar o lugar onde você normalmente o deixa? Como você reage ao som de cada nova mensagem – ou à ausência dele?
Não são perguntas com respostas definitivas.
Traçar o limite entre hábito e patologia significa decidir o que queremos dizer com os termos “normal”, “saudável” e “aceitável”.
E se a tecnologia excede em algo, é justamente em mudar velhas normas rapidamente.
Passei anos tentando avaliar nosso relacionamento com a tecnologia e ainda me vejo sendo puxado em duas direções diferentes.
Por um lado, como disse o filósofo Julian Baggini, “o homem pode estar mudando, mas em muitos aspectos ele continua o mesmo”. Podemos ler romances da Grécia Antiga e compreender quando o autor fala de raiva, paixão, patriotismo e confiança, por exemplo.
Por outro lado, as tecnologias digitais significam que as relações com os outros e com o mundo foram estendidas e ampliadas para um nível nunca antes experimentados.
Como argumentam filósofos como Andy Clark e David J. Chalmers, a mente é uma colaboração entre o cérebro na cabeça e equipamentos como o telefone nas mãos. O “eu” é um sistema complexo que envolve as duas coisas.
É esse impacto exponencial de tecnologia da informação que representa o maior problema para tudo o que julgávamos ser normal, equilibrado, autoconhecido e auto-regulado.
Vivemos em uma era em que nossas patologias são aquelas do excesso.

Dando um tempo

Será que precisamos de uma desintoxicação? Bem, isso não necessariamente funciona, nem para a saúde física nem para a saúde mental.
O melhor é encarar os fatos e começar a aproveitar a intimidade de um relacionamento que só tende a ficar cada vez mais próximo: aquele entre os cérebros de cada indivíduo e as redes de automação que estão sendo tecidas entre eles.
Afinal, estamos despejando nossas horas e minutos não apenas em uma tela, mas sim na mais complexa e abrangente rede de mentes humanas que já existiu, cada uma mais capaz do que o computador mais rápido.
Se fico fascinado, impressionado, superenvolvido, distraído e deliciado com tanta frequência, é por que há outras pessoas lá fora peneirando e refratando esse mundo de informações de volta para mim.
Só conseguirei mudar isso se puder encontrar outras pessoas com quem posso formar novos hábitos e novos modelos de funcionar.

(Fonte: BBC Brasil)

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

PUBLICIDADE EM MOMENTO DE CRISE


Qual o valor de uma relação?

Convidado para fazer uma palestra sobre a "jornada do consumo no mercado de luxo", o CEO, da agência Garage, do IMS Group, Max Petrucci, afirma em artigo de opinião para Meio e Mensagem que fez uma profunda reflexão alinhada com o caminho que, segundo ele, a publicidade está destinada a fazer: "ou acompanhamos as mudanças e ajudamos as marcas a encontrarem seu propósito, conectando o briefing do cliente com o briefing latente da sociedade, das pessoas, ou vamos sucumbir à crise". Para ler o artigo, clique aqui.

domingo, 20 de setembro de 2015

SOCIEDADE DE MASSAS OU SOCIEDADE DOS ABASTADOS


Presidente do Ipea diz que 
Brasil está em uma encruzilhada histórica

Desde o início de 2015, o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Jessé Souza é o responsável pelo comando do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Subordinado ao Ministérios dos Assuntos Estratégicos, o instituto teve participação essencial nos últimos anos para entender a ascenção dos milhões de brasileiros ao mercado de consumo.
Em vista do novo cenário econômico, político e social brasileiro, Souza aponta que o país corre o risco de perder as conquistas sociais dos últimos anos e vê a realidade de 2015 muito parecida com a do pré-golpe em 1964. “Antes do golpe o país tinha que escolher dois caminhos: se ele seria uma sociedade de massas mais inclusiva, ou uma sociedade pra 20% - e a escolha feita com o golpe foi a escolha por essa minoria. A sociedade deve perceber o que ela tem a perder e o preço que isso envolve”, explicou.
Jessé participou na última quarta-feira (16) de uma palestra na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) na qual criticou a linha de pensamento de nomes da sociologia brasileira como Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda e Fernando Henrique Cardoso.
“A concepção dominante do Brasil moderno é pobre, superficial e conservadora. Isso começa com uma releitura de Sergio Buarque do mito nacional de Gilbeto Freyre, isso é extremamente problemático porque vem do fato de pensar que o Brasil vem de Portugal. Hoje, essas obras servem a um liberalismo extremamente mesquinho que virou prática institucional e nos torna inferiores, por definição, aos europeus, já que o brasileiro passou a se ver como 'emoção' e não 'razão'”, criticou Souza que lançará o livro “A tolice da inteligência brasileira”, que visa analisar esses pensadores.
Nessa entrevista ao Brasil de Fato, Jessé critica a corrente que acredita que há uma nova classe média no Brasil. Para ele, os milhões que ascenderam à classe c devem ser considerados uma “classe trabalhadora precarizada”. “Ela ascende ao mercado competitivo de trabalho, mas sob condições precárias. De classe média ela não tem nada”, disse.
Confira a entrevista na íntegra:
 Brasil de Fato - No último período houve a discussão sobre a distinção teórica entre nova classe trabalhadora e a nova classe média. O que as difere?
Jessé Souza - Isso não é só uma questão de terminologia, mas tem a ver com a narrativa de um processo e é extremamente importante porque implica a construção de um horizonte e a percepção do seu lugar na sociedade. Essa foi a transformação mais importante do Brasil nos últimos 50 anos e teve muito a ver com os programas sociais dos governos petistas e políticas como o aumento do salário mínimo, o Bolsa Família o crédito mais fácil e uma série de outras. O que houve efetivamente e o que nós vemos na nossa pesquisa foi uma ascenção do que poderíamos chamar de subproletariado, e que nós chamamos provocativamente de ralé.
Essa classe ascendente não pode ser considerada classe média, porque a classe média é uma classe de privilégios desde o nascimento, porque ela “compra” o tempo livre dos filhos para o estudo e os habilita para que eles possam acumular um capital cultural extremamente sofisticado, sejam nas áreas técnicas como economia, direito e engenharia; como também nas literárias como o jornalismo e a publicidade. Todas as funções importantes do mercado exigem conhecimento, tanto quanto exigem dinheiro, só o capital econômico não movimenta nada, tem que ter o conhecimento nisso tudo. 
Por conta disso essa nova classe é muito mais uma classe trabalhadora precarizada, que ascende ao mercado competitivo de trabalho, mas sob condições precárias. De classe média ela não tem nada.
Como é a inserção dessa classe trabalhadora nas organizações de classes tradicionais? Ela se vê dentro dessas delas?
Tendo a achar que não, mas no Brasil a gente estuda muito pouco e quer apontar tudo no achismo, ou então a partir de dados quantitativos como renda e que no fundo não explica coisa nenhuma. Já estamos preparando uma pesquisa onde isso vai aparecer, mas o que a gente pôde ver com relação a essa questão é que essa classe não tem essa filiação das organizações da classe trabalhadora tradicional. Tem muito mais relação com a igreja e com a internet, nas cidades maiores, do que com as organizações tradicionais.
Você critica o discurso da corrupção como o principal mal do país. O que de mais profundo o país precisa debater? A quem serve esse discurso demonizador?
O que precisa ser posto como claro desde o começo é que a transparência dos negócios públicos é uma virtude republicana fundamental e é extremamente importante que haja a investigação sobre isso. Dito isso, a gente tem que ver a que a corrupção é muitas vezes usada como manipulação política de forma seletiva e quase sempre transforma interesses extremamente privados em aparentemente públicos. A corrupção se presta a isso porque ela dá e implica uma possibilidade de angariar apoio contra algo que é visto como um bem comum e que interessa a todos. Todos tem interesse no controle do estado. Mas o tema da corrupção é extremamente mal posto. No fundo isso tem uma ideologia liberal que vê tudo o que acontece no mercado como virtude e o que acontece no estado como corrupção e ineficiência. Isso também tem a ver com com a luta entre as classes e como ela é sempre inviabilizada, tem existir uma semântica onde ela se expressa de um modo distorcido. Tanto no Brasil como em vários países isso adquire a forma de demonização do estado e a divinização do mercado. Por que isso acontece? Porque para as classes populares que não só não compreendem os mecanismos de mercado, como também não tem força pra se opor a eles, o estado é o única entidade com força suficiente pra eventualmente se contrapor a esses mecanismos, enfraquecer o estado é enfraquecer o único meio de proteção das classes populares. Pra 70% da população brasileira o estado é a única ajuda, essa luta de classes é mantida e é feita sobre essa forma, ou seja, esse linguajar da corrupção simplifica toda a complexa situação da política e da economia da sociedade em um vetor só e usa esse discurso manipulando as suas próprias vítimas.
Hoje, nós vemos inúmeros valores burgueses como a meritocracia tomando conta do setor mais pobre da sociedade. Como fazer esse embate de ideias?
O Brasil hoje está em uma encruzilhada histórica extremamente importante, assim como ele esteve em 1964. Antes do golpe o país tinha que escolher dois caminhos: se ele seria uma sociedade de massas mais inclusiva, ou uma sociedade pra 20% e a escolha feita com o golpe foi a escolha por essa minoria. A sociedade deve perceber o que ela tem a perder e o preço que isso envolve. Os governos petistas conseguiram de algum modo estimular uma ascenção social histórica no Brasil coisa que não havia acontecido antes, obviamente teve um contexto favorável a isso, mas essas condições já haviam acontecido e nada foi feito porque não havia vontade política. A nossa encruzilhada histórica é: ou a gente volta pra uma sociedade de 20%, e o risco disso acontecer existe, ou aprofunda essa inclusão. Falta uma narrativa pra isso que mostre que esses avanços são graduais e gerar uma maior conscientização disso. Eu acho que ainda espaço há pra que se crie essa alternativa, há uma luta ainda em aberto e que não está decidida e há modos de produção de uma narrativa que ofereça novas alternativas de convencimento.
(Fonte: Site Brasil de Fato)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

NOTÍVAGO


Apatia de uma noite de outono


Eugênio Magno 


Depois da falta de sono, veio a vontade de não dormir e vaguear pelas ruas desoladas. A lua se escondia atrás da névoa. O vento que às vezes soprava e o chão úmido (coberto pelas folhagens) faziam-me um convite a penetrar os labirintos daquela noite, mista de horripilante e sedutora. As tortuosas ruelas, o chão, o céu e toda aquela arquitetura barroca faziam coro me convidando a integrar tal atmosfera.
Agasalhado e frio, deixei de ser espectador para protagonizar o nada, a apatia da noite de outono.
- Onde estavam os fantasmas e todos aqueles personagens das lendas, do folclore e da ficção?
Já não haviam mais dráculas, mulas-sem-cabeça, sacís, lobisomens ou mulheres-de-sete-metro. Apenas o ronco coletivo, o sono e o sonho... enquanto eu, buscava incessantemente uma cena digna daquela noite sombria.
Ao avistar a silhueta de duas pessoas cheguei a pensar em visão fantasmagórica, até me certificar que se tratava de uma senhora e um jovem. Resolví segui-los à distância e... quem sabe vivenciar um acontecimento inesperado!? Os dois andavam em atitude suspeita e pareciam fugir ou esconder algo que eu não conseguia identificar.
Num dado momento eles pararam, olharam para trás e viraram uma esquina. Certa hora cheguei a pensar que os havia perdido de vista. Depois os ví em frente ao casarão dos Freire.
Pensei: o que estariam fazendo em um casarão abandonado?
A medida que me aproximava ouví grunhidos, pancadas fortes e risadas. Passei a ter a nítida impressão de que estava completando o quebra-cabeças.
Quis surpreendê-los, então.
Ao entrar no casarão, na enorme sala iluminada à luz de velas, encontrei os dois, debruçados sobre a mesa. Perguntei o que estava havendo, e o jovem me respondeu:
- Somos apenas dois diabéticos, querendo comer nossa rapadura, sossegados.
A senhora completou:
- Acabamos de quebrá-la. Aceita!?

(Do livro IN GÊ NU(A) IDA DE - Versos e prosa, 2005)

sábado, 12 de setembro de 2015

POVOS INDÍGENAS QUEREM JUSTIÇA E PAZ


Assassinato de Simeão Kaiowá: punição já!

"Os piquizeiros e as cagaitas ostentam suas lindas flores, forrando o chão, a aridez foi um pouco amenizada neste planalto central, com mais de cem dias sem chuva. Estamos em véspera da Assembléia Geral do Cimi, que após 43 anos de presença solidária junto aos povos indígenas, continua sendo alvo ira dos inimigos dos povos indígenas e todo os que lutam por justiça e paz, principalmente no campo. Renovamos o compromisso com a causa desses povos, da vida e do meio ambiente", escreve Egon Heck, do secretariado nacional do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, ao enviar o artigo que foi publicado no site do IHU. Para ler o texto, clique aqui.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

NÃO HÁ MAL QUE NÃO TENHA CURA


Uma frente urgente contra a crise




Tarso Genro

Dezenas de iniciativas políticas “por fora” das instâncias partidárias formais, mas com participação de quadros políticos sem partido e de quase todos os partidos de esquerda - registrados ou não na Justiça Eleitoral - tem promovido Fóruns de debates político-programáticos, fórum de instâncias horizontais sobre a  economia do país, seminários de avaliação da conjuntura, bem como debates na academia, insatisfeitos, de um lado, com os rumos econômicos e políticos do Governo Dilma e, de outro,  com a incapacidade dos partidos, no Parlamento, formarem uma base política articulada para resistir ao golpismo “paraguaio” , que quer esvaziar de legitimidade o mandato da Presidenta.  Promover uma mudança nos rumos do “ajuste”, de molde a não permitir que, novamente, os “de baixo” paguem a crise e não permitir que a agenda do Governo seja capturada, integralmente, pela agenda da oposição, tem sido uma constante nestes diálogos extrapartidários.
Sem desdenhar da importância, inclusive estratégica, de todos os demais palcos de debate, ressalto, aqui, a iniciativa de diálogo sobre uma nova Frente política de esquerda, que se faz no Rio de Janeiro, inspirada nos movimentos começados pelo ex-Presidente do PSB, Roberto Amaral; o Fórum Brasil 21, promovido pela Carta Maior, que se dissemina no país; e, especialmente, a organização dos movimentos sociais, em torno do projeto da Frente Brasil Popular, como frente de luta dos movimentos sociais e movimentos sindicais do campo e da cidade, com apoio, também, de dirigentes políticos das mais diversas extrações partidárias e ideológicas.
Recentemente, por iniciativa de parlamentares do PSB, PT, PC do B, Psol, PDT e quadros parlamentares de vários partidos construiu-se, também no Congresso, uma Agenda alternativa à chamada “agenda Levy”, que é, na verdade,  a agenda do Governo Federal. A proposta foi elaborada  com o propósito de buscar uma saída para a crise ”por fora” das medidas ortodoxas, que só tem reflexos orçamentários imediatos, mas não removem os fundamentos da crise. Esta se origina, principalmente, do estrangulamento do mercado interno paralisado pelas profundas desigualdades sociais do país e se completa na política monetária, que alimenta  os custos da intermediação financeira, não somente através das taxas de juros exorbitantes, mas também a partir do hiper-rendimento oferecido aos serviços de intermediação do dinheiro,  em cadeia, como mostrou em trabalho brilhante, recentemente, o economista Ladislau Dowbor. (“O pão nosso de cada dia”, Fundação Perseu Abramo, 2015, 138 pgs.)
A ideia da Frente Brasil Popular tem uma importância especial, neste quadro, pois congrega vários movimentos de base na sociedade, que passam a mover-se em cima de uma agenda de mudanças de fundo, mas imediatas,  e não de apoio “automático” ao governo. E também se organiza em torno da defesa da legitimidade do mandado da Presidenta, contra o golpismo e pela soberania nacional. Esta Frente não coloca, na sua agenda, a questão eleitoral imediata, ou seja, vem “de baixo” para cima, sem pretensões de governo e acumula forças para incidir, no futuro, na composição de uma Frente orgânica - com base popular organizada e  independente -  que refletirá necessariamente no comportamento eleitoral dos partidos políticos democráticos e progressistas, sejam eles socialistas ou não. 
A Frente Brasil Popular é a primeira reação política de massas à imposição dos programas de “austeridade” que o Governo Federal adotou, quando este se rendeu à agenda centro-direitista do grupo FHC-Instituto Millenium-Aécio, que tem ramificações em todos os partidos políticos, inclusive no próprio Partido dos Trabalhadores.
Não de trata de atribuir a  este conglomerado liberal a vocação de que eles pretendem o "mal” do Brasil e querem expandir a fome e a miséria, porque desdenham das necessidades dos pobres. Estas avaliações subjetivistas só servem para tornar mais impreciso o centro da disputa, que é, em termo bem concretos,  o seguinte: dentro do sistema capitalista reinante nos países endividados, como se sai de mais uma crise de acumulação do “rentismo”? Com maior concentração de renda e poder, nas mãos do capital financeiro e das classes e frações de classes, associadas ao “rentismo” e ao alto consumismo? Ou se sai da crise, no mínimo, “socializando” as perdas com os setores mais privilegiados do capitalismo, forjados no modelo de endividamento até agora reinante?
A publicação, no dia 27 de agosto de 2015, no jornal “Valor”, de um estudo sobre a evolução patrimonial dos que estão fora da economia real, mostrou que as fortunas financeiras -no primeiro semestre deste ano-  cresceram 7.7%. Neste mesmo período, o poder aquisitivo dos trabalhadores reduziu, aumentou o desemprego, a indústria estagnou ou decaiu e o Estado viu crescer a dívida pública. As consequências deste processo, na disputa política e na reorganização conservadora do projeto democrático da Constituição de 88, são extremamente graves. De uma parte, faz as classes populares perderem a “fé” na democracia, para defender os seus direitos históricos e, de outra parte, gera um consórcio político conservador para sustentar as medidas “duras” de ajuste, contra os mais pobres, que só são sustentáveis com autoritarismo e repressão.
Quaisquer medidas de “ajuste”, quaisquer que sejam as suas causas, seja num regime capitalista, seja numa economia planejada de caráter “socialista” ou “social-democrata”, instituem uma repartição de perdas e de ganhos, para economia voltar a funcionar, segundo a previsão dos estrategistas econômicos do poder. Assim foi quando na URSS o Estado se preparou para enfrentar a Segunda Guerra, quando Roosevelt combateu a crise de 29, quando as sociais-democracias europeias se reorganizaram na devastação do pós-guerra, quando a China reestruturou a economia depois das destruições nada criativas da Revolução Cultural. Atualmente, estamos no longo curso da roubalheira legalizada do “sub-prime”, cujas perdas do capital financeiro estão sendo transferidas para as contas dos países endividados, através da extorsão dos juros manipulados, cujos níveis inclusive somos impedidos de sequer avaliar, pois isso é tarefa da tecnocracia do Banco Central.
Penso que estes amplos movimentos de discussão programática e de avaliação da crise, que hoje estão sendo organizados no país, deveriam se unir para, numa ampla mesa política,  concertar e oferecer aos partidos do campo democrático uma agenda mínima, para tirar  o país da ameaça recessiva e do desemprego. A recessão e o desemprego, mais do que corroer a estabilidade do Governo Dilma, que já está comprometida, pode promover a omissão destes setores populares na luta pela preservação dos valores da democracia política, já abalados pela campanha de intolerância e sectarismo, promovida pela pela grande mídia, que já estimula  minorias fascistas a desafiarem os direitos democráticos do povo, duramente conquistados nos últimos vinte anos. 
O duplo movimento, de criminalização da política e de politização da criminalidade - onde marginalidade e fascismo realizam articulações de  aproximação e repulsa - pode comprometer, não só a construção de uma ética republicana, mas também a manutenção dos valores necessários ao convívio entre os diversos. Quando as decisões políticas de Estado começarem a passar, predominantemente, pelas expectativas em torno das ações do Ministério Público e  do Poder Judiciário, o poder político se realizará não pelas mãos de um  Juiz bem intencionado (ou mal intencionado), mas por eleitos da direita midiática, que serão apresentados como salvadores da pátria. Assim foi com Berlusconi.
O ataque direto aos custos da intermediação financeira que retiram de circulação dezenas de bilhões de reais em cada ano fiscal, um imposto ou contribuição de transição tirado dos lucros financeiros para dar sustentação ao próximo Orçamento, um CPMF datado pelo menos para o próximo OGU, a redução das alíquotas do Imposto de Renda das camadas médias e dos assalariados em geral para aumentar imediatamente o seu nível de consumo e, no plano político, um acordo para aprovar, na Câmara, o projeto do Senado que proibiu o financiamento empresarial das campanhas, são algumas das medidas que podem servir de referência para colocar a esquerda plural no centro de uma saída  emergencial para a crise. Já que o Governo parece estar amarrado num acordo de governabilidade, que é extremamente precário, e não pretende se mover  fora da chamada agenda Levy, que as propostas venham de fora, em defesa - pelos menos - se não forem aplicadas agora, de uma  agenda futura, de unidade mínima de quem não se conforma que o caminho é único.
O conjunto de iniciativas no campo da esquerda e dos setores progressistas da sociedade, em busca de saídas para a crise, pode gerar um amplo movimento frentista para reestruturar o conceito de “coalizão”, até agora reinante. Neste modelo, os Governos formam sua base de governabilidade no Parlamento, adaptando o seu programa aos níveis de cooptação possíveis para formar maiorias. É um vício do sistema político atual, que tende a desmoralizar a República. Num novo modelo - para o país avançar distribuindo renda e com mais  democracia e soberania - o Programa deve compor a governabilidade de forma antecipada, comprometendo uma maioria parlamentar e social com um determinado conteúdo e não com uma “forma” fragmentária  de repartição do poder para organizar o Governo. 
(Fonte: Site Carta Maior)

sábado, 5 de setembro de 2015

INDEPENDÊNCIA OU MORTE!


A UFMG e o 7 de setembro das universidades brasileiras!

 

Na próxima segunda feira, dia 7 de setembro, a UFMG completa 88 anos. Resultado do investimento e da mobilização de professores, intelectuais, políticos e jovens estudantes mineiros que reuniram numa mesma instituição a Escola de Engenharia e as Faculdades de Farmácia e Odontologia, de Direito e de Medicina então existentes na capital. A criação da UFMG foi parte das discussões e  de projetos políticos, culturais e econômicos para Minas Gerais e para o Brasil naqueles densos e tensos anos  de 1920 e 1930.
Ao se aproximar de suas nove décadas de existência, a UFMG se afirma como uma das mais importantes universidades do país, estando na fronteira da produção científica mundial em várias áreas do conhecimento. Paradoxalmente, a Universidade vive, também, uma grave crise financeira que, somada à greve dos funcionários técnico-administrativos em educação que se arrasta por três meses, torna impossível o seu funcionamento normal por ocasião de seu aniversário. Para continuar lendo o artigo, clique aqui.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

O BOM SENSO AINDA PREVALECE EM UMA MINORIA ESCLARECIDA


"Pela primeira vez no Brasil, temos gente rica assustada"



Sócio majoritário do conglomerado Semco Partners e ex-professor de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Ricardo Semler tornou-se um dos empresários brasileiros mais conhecidos no exterior nos anos 90 por aplicar em sua empresa princípios gerenciais que ficaram conhecidos como 'democracia corporativa'.
Na Semco, os trabalhadores escolhem seus salários, horário e local de trabalho, além dos seus gerentes. A hierarquia rígida foi substituída por um regime em que todos podem opinar no planejamento da empresa.
Recentemente, Semler voltou a ganhar notoriedade no Brasil e no exterior por dois motivos. Primeiro, porque o desempenho extraordinário de algumas empresas criadas por jovens empreendedores (como Facebook e Google) aumentou o interesse por práticas gerenciais inovadoras.
Segundo, em função de um artigo polêmico publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, em que, ao comentar o caso de corrupção na Petrobras, Semler defendeu que "nunca se roubou tão pouco" no Brasil.
"Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80 e 90, até recentemente", escreveu ele.
Semler é filiado ao PSDB, mas o artigo acabou sendo usado por quem defende o ponto de vista do governo e do PT no escândalo.
Ao comentar o episódio em entrevista à BBC Brasil, o empresário defendeu que a politização do debate sobre corrupção é contraproducente e que o escândalo da Petrobras e as repercussões do caso envolvendo a divulgação dos nomes de brasileiros com conta no HSBC da Suíça são sinais de que o país está mudando. "Pela primeira vez no Brasil temos gente rica assustada", afirmou.
O empresário também defendeu um aumento do imposto sobre transmissão (herança) para os donos de grandes fortunas e disse que aceitaria pagar até 50%. "Isso não afetaria em nada a disposição do empresário em investir", opinou. Confira abaixo a entrevista clicando aqui.


INFORMAÇÃO DE QUALIDADE PARA FORMAR OPINIÃO


"Boa parte da mídia abdicou 
de fazer jornalismo para fazer oposição política"




Pesquisador há décadas sobre o papel social da mídia, o professor aposentado da Universidade de Brasília Venício Lima é autor de vários livros sobre o assunto e segue refletindo sobre o comportamento dos veículos de comunicação, a necessidade de regulação do setor e o papel da comunicação alternativa e pública.

Brasil de Fato -  Temos visto uma cobertura cada vez mais parecida, especialmente da política, nos veículos da mídia hegemônica. Apesar de pequenas diferenças de linha editorial, parece haver uma homogeneização no tratamento de alguns temas, como na questão da crise e da operação Lava Jato. Como você avalia esse comportamento? 
Venício Lima - Na verdade, não acho que constitui uma novidade. Há muitos anos, em livro que publiquei com o Kucinski [“Diálogos da perplexidade: reflexões críticas sobre a mídia”], comentamos essa questão da posição homogênea da grande mídia. É a ideia de que a grande mídia funciona como se tivesse um supraeditor, como se as principais notícias, a pauta, a narrativa, fossem cotidianamente editados por um super editor, que dá a elas o mesmo enquadramento. Isso é tão verdadeiro que às vezes as mesmas palavras aparecem reiteradamente, para os mesmos assuntos, para a mesma pauta, em diferentes veículos. Isso não é uma novidade, e expressa apenas o fato sabido e conhecido de que os oligopólios privados de mídia no Brasil têm interesses comuns e defendem basicamente as mesmas propostas e são contra as mesmas propostas, projetos e políticas. 
A que você atribui essa recente inflexão em alguns veículos, como a Folha e o Globo, na questão do golpe ou impecheament contra a presidenta?
É uma questão delicada. Os grandes oligopólios no Brasil têm, sobretudo o grupo Globo, historicamente conseguido se adaptar às conjunturas e preservar seu interesse. E, correspondente a isso, o Estado brasileiro também historicamente não tem sido capaz de fazer prevalecer a natureza de serviço público, sobretudo na radiodifusão. Um observador como eu, sem acesso a fontes privilegiadas, sem vínculos com partidos ou nada do tipo, me valho da minha experiência e dos dados públicos. O que se sabe agora é que houve uma reunião do secretário de comunicação da presidência com os controladores do grupo Globo e, por ocasião de uma homenagem à Globo no Senado, uma reunião com executivos do grupo e nove senadores do PT. Depois desses encontros, de fato observa-se uma inflexão na cobertura política e um posicionamento diferente com relação ao impeachment da presidente. O que não se sabe é se houve – e muito provavelmente houve – algum tipo de entendimento, de acordo. Como foi feito no passado, com outros governos, em outras situações. O Estado brasileiro e qualquer grupo que temporariamente controlam sua máquina têm sido incapazes de fazer prevalecer políticas de interesse público e negociam com esses meios, que se tornam cada vez mais poderosos e mais capazes de fazer valer seus interesses. Depois saberemos melhor do que se trata. Vi especulações em relação à atribuição das frequências, utilização do chamado 4G, questões tecnológicas que o Estado tem poder, disputa entre os velhos grupos e operadoras... teremos que ver se se confirma a inflexão e saberemos o que foi negociado. Mas certamente alguma coisa foi negociada.
Na sua avaliação, por que os governos do PT não avançaram na questão da regulação do mercado de comunicação?
Essa pergunta tem que ser feita aos governos do PT. Eu não consigo compreender. Houve momentos em que se acreditava que os governos petistas iam pelo menos propor uma atualização da legislação, a regulação dos artigos que estão na Constituição, que fossem encaminhar projetos ao Congresso. Isso ocorreu em diversos países da América Latina em que projetos democráticos chegaram ao poder, mas nada disso aconteceu no Brasil. Tenho dito que esses governos caíram numa armadilha de acreditar que seria possível que os oligopólios de mídia apoiassem um projeto político, com repercussão na economia, que beneficiasse as classes populares, que promovesse a inclusão. Há informações seguras que durante muito tempo figuras importantes nos governos petistas acreditavam que era possível trazer o apoio desses oligopólios para a execução dessas políticas. Assim, a negociação com eles, as verbas publicitárias, empréstimos etc, deveriam ser a prioridade da política de comunicação do governo. Em detrimento da construção de um sistema público de comunicação, como, aliás, manda a Constituição. Ao cair nessa armadilha, perderam-se as oportunidades históricas de se fazer o que era necessário fazer e que não foi feito.
A partir da pressão da sociedade e também dada a virulência desses meios hegemônicos contra o governo do PT, você acredita que há possibilidade de avanço na regulação neste segundo mandato da Dilma?
De novo, quem tem que responder são os agentes públicos do governo, ou a própria presidente. Posso dar uma reposta de observador que tem décadas que acompanha essas questões. Sou pessimista. Não vejo no momento atual de crise política e de diluição completa da sustentação parlamentar do governo possibilidades de avanço. As condições são adversas para que se implemente algo nessa área. É interessante observar que o discurso de regulação econômica da mídia, que fez parte da campanha eleitoral, que foi vocalizado diversas vezes pelo ministro das comunicações, desapareceu. Não se fala mais nisso. Além disso, até mesmo medidas que poderiam e podem ser tomadas por diferentes setores do governo, que independem de aprovação parlamentar, não têm sido tomadas. Como, por exemplo, a revisão de critérios das verbas oficias de publicidade e a fiscalização de arrendamento de emissoras. Coisas que fazem parte do papel do Ministério das Comunicações, em alguns casos, ou podem ser de decisão política da presidência, medidas que poderiam ser tomadas independentes de aprovação do parlamento, que é sabida e declaradamente de oposição ao governo.
Você escreveu que não temos no país uma "narrativa pública alternativa". Na sua avaliação, como os veículos comunitários, sindicais e populares poderiam avançar para pautar a pluralidade de vozes e visões de mundo? 
Tem uma questão histórica, na mídia alternativa brasileira, incluindo as TVs e rádios comunitárias, a mídia sindical, o sistema público de um modo geral, que é a dificuldade de unificar sua narrativa. Há avanços, mas são ainda muito tímidos em relação ao que seria necessário. Eu considero absolutamente crítica a necessidade de apoio do governo ao sistema público de comunicação. A Empresa Brasil de Comunicação, EBC, tem, a duras penas, tentado produzir uma alternativa de qualidade à mídia comercial. Mas é muito difícil, porque a forma como a EBC está regulamentada depende de recursos não só do governo, mas de contribuição à radiodifusão pública, que inclusive vem sendo questionado na Justiça. É uma situação financeira difícil. E mesmo a empresa conseguindo, em seus diferentes veículos, produzir programas de boa qualidade, é difícil quebrar a inércia da audiência, que há décadas é dominada pela mídia comercial. A mídia pública não consegue ser divulgada fora dela própria e fica reduzida à sua pequena audiência. Acho que esta é das possibilidades que devem ser apoiadas. Inclusive uma coisa que esquecemos é que as pessoas que acreditam na necessidade de uma mídia alternativa à comercial devem apoiar a TV pública assistindo sua televisão e ouvindo suas emissoras de rádio.
Ao mesmo tempo em que assistimos ao fortalecimento da mídia comercial, aumenta o número de demissões e se discute o futuro do jornalismo. O que se desenha para o cenário da comunicação hoje?
Essa não é uma peculiaridade brasileira. É algo que está acontecendo na sociedade contemporânea e decorre de uma transição tecnológica, cujos resultados não sabemos ainda. Há uma nova geração surgindo que não terá os mesmos hábitos de consumo de mídia e isso já está claro, sobretudo no Brasil. E isso tem implicação para modelos de negócio. Mas sou daqueles que não compartilho o entusiasmo, muitas vezes acrítico, com relação ao acesso à informação que as novas tecnologias possibilitam. Os dados que temos no Brasil e no mundo confirmam que, apesar da transição e das mudanças de plataforma tecnológica, os grandes produtores de conteúdo continuam os velhos grupos da mídia tradicional. Pesquisas confirmam e isso é visto junto a segmentos que acessam a internet, blogs e sites: os mais citados são da velha mídia. Esse quadro se repete nas redes sociais, às quais 90% das pessoas que acessam a internet estão vinculadas. Importante destacar que essas redes não são produtoras de conteúdo, elas distribuem conteúdo e facilitam a interação. E o conteúdo distribuído vem em grande medida dessa velha mídia.
Do ponto de vista da força de trabalho, tenho defendido há anos que as novas tecnologias não implicam na desqualificação da mão de obra. Ao contrário, ela tem ter que ser mais qualificada para sobreviver no mercado de distribuição de conteúdo. Essa geração, embora embevecida com as redes, vai precisar de informação de qualidade. Eu não posso ser exemplo, já tenho meus 70 anos, mas sou seletivo no dinheiro que gasto para receber informação. Boa parte da mídia brasileira não me interessa porque abdicou de fazer jornalismo para fazer oposição política. Quero informação para compreender o mundo e me ajudar a tomar posições. Não quero generalizar minha posição, mas me parece que será preciso uma qualificação da força de trabalho para produzir informação de qualidade. Isso já está ficando claro em alguns países do mundo. Mas ninguém tem bola de cristal. Estamos claramente vivendo um momento de transição, que não é só no Brasil.
Como você vê iniciativas como o jornal Brasil de Fato, que chega aos dois anos em Minas Gerais?
Absolutamente fundamentais. Eu como indivíduo estou numa tentativa de lançamento de um jornal popular aqui em Brasília, como forma de furar o bloqueio da mídia comercial. É muito importante não esperar que a grande mídia venha a ser aliada para projetos que beneficiem classes subalternas, nem aqui, nem em lugar nenhum. O Brasil é exceção na América Latina porque não conseguiu ter, nem na mídia impressa, nem eletrônica, uma alternativa à mídia comercial. Outros países têm essa construção, como Argentina, México, Bolívia. Acho fundamental, apoio como posso e cumprimento grupos que conseguem, com todas as dificuldades, produzir de alguma forma uma imprensa alternativa. 


(Fonte: Site Carta Maior)