quarta-feira, 27 de abril de 2016

EX-PRESIDENTE URUGUAIO FALA SOBRE CRISE POLÍTICA BRASILEIRA




José "Pepe" Mujica, ex-presidente do Uruguai, deu uma entrevista a blogueiros na manhã do dia 27 no Instituto Barão de Itararé, administrado com sobeja competência por Miroslav Dutra, o homem, o mito. O DCM estava lá e o Kiko Nogueira, fez a matéria que segue abaixo.
Mujica decepcionou quem esperava palavras de ordem inflamadas contra o impeachment. Sequer tocou no termo “golpe”.
Dilma foi mencionada de raspão. Perguntado sobre o que faria no lugar dela, respondeu: “Se eu fosse Dilma… Pobre Dilma. Não posso dizer o que eu faria no lugar dela. Tenho medo que não me entenda”.
Ao invés disso, ofereceu uma visão mais profunda e mais sábia do momento por que passa o Brasil. Pode ser resumida no seguinte: “Apesar de nunca termos triunfado completamente, os únicos derrotados são os que deixam de lutar. A derrota é sentir-se impotente.”
Sic transit gloria mundi. A glória do mundo é efêmera. A perda também.
Mujica está olhando para a frente, não para trás. Aos 80 anos, vestido com um moletom azul, ele abriu com um discurso com a voz relativamente baixa e frágil, errando o microfone à sua frente.
Minutos depois, o microfone não era mais necessário. O ex-presidente do Uruguai, atual senador pelo Movimento de Participação Popular, é um apóstolo da política e, portanto, gosta de falar. Sua pregação é sua força.
Enquanto parecemos afundados num pântano de traições, de toma lá dá cá, de um noticiário miserável, numa situação que não terá um desfecho tão cedo, em que a democracia parece desabar, ele traz a noção de transcendência.
“Nunca triunfamos totalmente na vida. Não há um prêmio. O prêmio da vida é viver com uma causa, com sentimento”, diz.
“Como qualquer animal, temos uma cota de egoísmo e outra de solidariedade. Andamos com essa contradição. Se fôssemos perfeitos, se fôssemos deuses, não precisaríamos da política.”
Mas a política não é uma profissão para enriquecer. “É uma paixão. Não quero dizer que não haja interesses. Mas, se a política é expressão da maioria, temos que viver como a maioria, não como a minoria”.
“Tenho, seguramente, um monte de defeitos. Mas tenho autoridade para dizer essas coisas. Vou morrer feliz porque vivo como penso e para o que penso.”
Essa reivindicação foi dos poucos momentos em que usou a primeira pessoa. Ao abordar questões como a legalização do aborto e das drogas no Uruguai, poderia, eventualmente, ter se jactado de ser o autor desses avanços.
O personalismo, que seria natural, não é seu estilo. Explicou que seu país é “pequenininho”, “não é milagroso” e tem uma longa tradição de liberalidade em diversas áreas.
Nos anos 20, reconheceu o voto das mulheres e o divórcio. Foi pioneiro em assegurar os direitos das prostitutas. Por anos, o estado foi produtor de bebida alcoólica para evitar que a população tomasse uma aguardente derivada da madeira, altamente prejudicial à saúde.
“O povo brasileiro não vai perder tudo”, acredita. “A própria direita tem de negociar, de ceder. Não é uma análise simples”.
Para ele, a classe média “vive com medo”, especialmente nas crises. “Se são alemães, a culpa é dos judeus.” Seu assombro com o Brasil se dá por ser tão “hermoso”, mas também com relação ao número de agremiações partidárias.
“Como governar com 30, 40 partidos? É impossível que vocês tenham 30 projetos políticos. Isso não pode dar certo.”
Ele encontrou um conceito para suas atuais preocupações com a América Latina: “humildade estratégica”. Não no sentido de se autoflagelar, mas de aprender com os erros e seguir adiante. “Agora é tempo de lutar”, insiste.
Os uruguaios fizeram sua Lei de Meios. Mas ele não tem ilusões. “A direita tem o monopólio da comunicação. Algum dia eu suponho que vocês reformarão isso.”
Prosseguiu: “As empresas de comunicação são empresas. De que vivem? Vivem do lucro. Quem são os grandes clientes? Obviamente não são de esquerda. Os meios são da direita. É uma consequência e é um problema. Não existe a neutralidade, isso é mentira. No dia em que esses meios estiverem do nosso lado, é porque mudamos de lado”.
Mujica já se definiu como um “Quixote disfarçado de Sancho”. É uma espécie de filósofo rei milongueiro que virou, também, um popstar improvável. Não chega, ainda, a andar com seguranças, mas tem de entrar e sair rapidamente dos locais onde se apresenta para evitar aglomerações e o assédio dos fãs que querem tirar uma selfie com ele.
Fala o óbvio, mas o óbvio é frequentemente o mais difícil de se ver: “Há que ter coragem de voltar a começar, sempre. Aprender com os erros e voltar a começar, tentar fazer o melhor, ter perseverança. Isso vai passar”.
(Fonte: Site do DCM)

quinta-feira, 14 de abril de 2016

NUNCA SE SABE...


Incerto amanhecer


Eugênio Magno


A estrela, na vidraça, estava, ao alcance, da mão. Mais, um, dedo, de prosa, e pegaria, também, a lua, cheia, de fumaça, do cigarro, que alimentava, o cinzeiro, sobre, a janela, de muitas, noites. Não encostei em nada. Tive medo que o amanhecer queimasse o meu toque e recolhi apenas impressões.

(Do Livro Minas em mim, 2005: 28)

MANIFESTO DA CNBB


Entidades assinam manifesto "Na busca da Justiça e da Paz" 


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Associação dos Magistrados Brasileiros, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho e a Associação dos Juízes Federais do Brasil assinaram, na manhã de segunda-feira, 4 de abril, o manifesto "Na busca da Justiça e da Paz". A assinatura do documento foi realizada na sede da CNBB, em Brasília. No texto, as entidades afirmam ser "necessário que as entidades da sociedade civil se unam pela superação da intolerância e pela busca de soluções que priorizem o compromisso com o interesse comum do país" e “formulam veemente apelo fraterno à inteira sociedade brasileira e suas instituições, para que se engajem na incansável busca pela Justiça e pela Paz". Confira a íntegra do texto: NA BUSCA DA JUSTIÇA E DA PAZ A sociedade brasileira passa por um momento de grave crise institucional, provocada por uma polarização política em crescente radicalização. Esse sentimento que atinge hoje grandes segmentos da população apresenta, infelizmente, reações carregadas de intolerância e agressividade, dividindo brasileiros e brasileiras e gerando o risco de uma preocupante escalada da violência, em prejuízo de toda a nação. Neste momento, urge que os atores da cena política procurem o entendimento para consolidar a luta contra a corrupção, sempre de acordo com a institucionalidade democrática. A unidade nacional não pode sofrer divisões insuperáveis. Por isso, é necessário que as entidades da sociedade civil se unam pela superação da intolerância e pela busca de soluções que priorizem o compromisso com o interesse comum do país. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a Associação dos Magistrados Brasileiros, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho e a Associação dos Juízes Federais do Brasil formulam veemente apelo fraterno à inteira sociedade brasileira e suas instituições para se engajarem, de forma decidida, na incansável luta pela Justiça e pela Paz, para a construção de um país, casa comum de brasileiros e brasileiras e daqueles que adotaram esta terra como seu lar. Assinaram a carta Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário Geral da CNBB, Dr. João Ricardo dos Santos, Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Dr. Ricardo Lourenço Filho, Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho e a Dra. Candice Galvão Jobim, Vice-presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil.

(Fonte: Boletim do CEFEP: Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara)

sábado, 9 de abril de 2016

MUDANÇA É O QUE NECESSITAMOS, NÃO MODERNIZAÇÃO




10 lições da crise brasileira

Leonardo Boff


Toda crise acrisola, purifica e faz madurar. Que lições podemos tirar dela? Elenco algumas.
 Primeira lição:tipo de sociedade que temos não pode mais continuar assim com é. As manifestações de 2013 e as atuais mostraram claramente: não queremos mais uma democracia de baixíssima intensidade, uma sociedade profundamente desigual e uma política de negociatas. Nas manifestações os políticos também os da oposição foram escorraçados. Igualmente movimentos sociais organizados. Queremos outro tipo de Brasil, diverso daquele que herdamos que seja democrático, includente, justo e sustentável.
Segunda lição: superar a vergonhosa desigualdade social impedindo que 5 mil famílias extensas controlem quase metade da riqueza nacional. Essa desigualdade se traduz por uma perversa concentração de terras, de capitais e de uma dominação iniqua do sistema financeiro, com bancos que extorquem o povo e o governo cobrando-lhe um superávit primário absurdo para pagar os juros da dívida pública. Enquanto  não se taxarem as grandes fortunas e não submeterem os bancos a níveis razoáveis de lucro o Brasil será sempre desigual, injusto e pobre.
Terceira lição: prevalência do capital social  sobre o capital individual. Quer dizer, o que faz o povo evoluir não é matar-lhe simplesmente a fome e faze-lo um consumidor mas fortalecer-lhe o capital social feito pela educação, pela saúde, pela cultura e pela busca do bem-viver, pré-condições de uma cidadania plena.
Quarta lição: cobrar uma democracia participativa, construída de baixo para cima com forte presença da sociedade organizada especialmente dos movimentos sociais que enriquecem a democracia representativa que, por causa de sua histórica corrupção, o povo sente que ela não mais o representa.
Quinta lição:reinvenção do Estado nacional. Como foi montado historicamente, atendia as classes que detém o ter, o poder, o saber e a comunicação dentro de uma política de conciliação entre as oligarquias, deixando sempre o povo de fora. Ele está aí  mais para  garantir privilégios do que para realizar o bem geral da nação. O Estado tem que ser a representação da soberania popular e todos os seus aparelhos devem estar a serviço do bem comum, com especial atenção aos vulneráveis (seu caráter ético) e sob o severo controle social com as devidas instituições para isso. Para tal se faz necessária uma reforma política, com nova constituição, fruto da representação nacional e não apenas partidária.
Sexta lição: o dever ético-político de pagar a dívida às vítimas feitas no processo da constituição  de nossa nacionalidade e que nunca foi paga: para com os indígenas quase exterminados, para com os afrodescendentes (mais da metade da população brasileira) feitos escravos, carvão para o processo produtivo; os pobres em geral sempre esquecidos pelas políticas públicas e desprezados  e humilhados pelas classes dominantes. Urge políticas compensatórias e pro-ativas para criar-lhes oportunidades de se autopromoverem e se inserirem nos benefícios da sociedade moderna.
Oitava lição: fim do presidencialismo de coalizão de partidos, feito à base de negócios e de tráfico de influência, de costas para o povo; é uma política de planalto desconectada da planície onde vive o povo. Com ou sem Dilma Rousseff à frente do governo, precisa-se, para sair da pluricrise atual, de uma nova concertação entre as forças existentes na nação. Não pode ser apenas entre os partidos que tenderiam a reproduzir a velha e desastrada política de conciliação ou de coalizão mas uma concertação que acolha representantes da sociedade civil organizada, movimentos sociais de caráter nacional, representantes do empresariado, da intelectualidade, das artes, das mulheres,  das igrejas e das religiões a fim de elaborar uma agenda mínima aceita por todos.
Nona lição:caráter claramente republicano da democracia que vai além da neoliberal e privatista.  Em outras palavras, o bem comum (res publica) deve ganhar centralidade e em seguida o bem privado. Isso se concretiza por política sociais que atendam as demandas mais gerais  da população  a partir dos necessitados e deixados para trás. As políticas sociais não se restringem apenas a ser distributivas mas importa serem  redistributivas (diminuir de quem tem de mais para repassar para quem tem de menos), em vista da redução da desigualdade social.         
Décima lição: inclusão da natureza com seus bens e serviços e da Mãe Terra com seus direitos na constituição de um novo tipo de democracia sócio-cósmica, à altura consciência ecológica que reconhece todos os seres como sujeitos de direitos formando um grande todo: Terra-natureza-ser humano. É a base de um novo tipo de civilização, biocentrada, capaz de garantir o futuro da vida e de nossa civilização.
OBS.: Faltou a Sétima lição (desconheço as razões. Na fonte de onde retirei o texto não havia essa lição)
(Fonte: Site Carta Maior)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

SENSATEZ, JUSTIÇA, MAS CORAGEM TAMBÉM


O Brasil precisa de homens e mulheres sensato(a)s e corajoso(a)s



Tenho dito, já há algum tempo, nos círculos por onde transito que gostaria de ver sensatez, espírito de justiça, mas também CORAGEM, da parte de algum político brasileiro que tivesse estatura suficiente para denunciar os embustes, imposturas e outros abusos e arbitrariedades que abastecem a crise que se instalou em nosso país e fazem oposição ao Brasil.
Inquieto, como fico, todas os dias, em busca de informações que possam me auxiliar na formação da minha opinião sobre os fatos, as circunstâncias e a maneira como tudo tem sido conduzido e divulgado, acompanho os noticiários e as opiniões. Faço um exercício diário de garimpo em veículos de comunicação das mais variadas tendências: da grande imprensa à  chamada (de forma preconceituosa) imprensa nanica, passando pelos blogs, mídias sociais, etc. 

Nos últimos dias duas informações me chamaram a atenção:

1 - quando a atriz Letícia Sabatella disse, na presença da presidenta Dilma Rousseff que era opositora ao seu governo, que tinha muitas críticas ao seu projeto, mas que diante do atual quadro, não poderia ficar em silêncio. E, que estava ali para prestar o seu apoio a Dilma, contra o impeachment e em defesa da democracia e de um governo que foi eleito legitimamente pelo voto popular e que não poderia ser derrubado por força de um golpe. Para mais detalhes sobre as declarações da atriz e cantora, clique aqui;

2 - e hoje, me senti contemplado ao ler uma entrevista com o Ciro Gomes na qual ele demonstrou coragem e uma justa análise da atual conjuntura brasileira. Aliás, Ciro, na condição de político experiente e com uma formação acadêmica de excelência, falou com muita propriedade o que alguns analistas sensatos (corrente à qual me filio) têm dito e pensado. Pena que, muitos nomes da elite política brasileira de quem a população espera por um gesto de coragem e honradez estejam se acovardando, por excesso de passionalidade e intolerância, ou simplesmente, usando a velha estratégia que se baseia na máxima que prediz: "a melhor defesa é o ataque", já que querem o poder a qualquer preço na expectativa de que tenham o controle do país e das investigações de improbidades e crimes que certamente também os levariam à ruína. Para ler a entrevista do ex-governador do Ceará na íntegra, clique aqui.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O QUE É DEMOCRACIA (???)


O que está em disputa é o conceito de democracia



“O fantasma que protagoniza as ideias de fundo é a agenda da embaixada dos EUA, mais especificamente o acionar oficioso das trocas de regime, e, no caso latino-americano, na esteira da reação aos governos de centro-esquerda”, afirma o cientista político."
 
Em meio à crise que vem se arrastando, “se há alguma novidade” no cenário político brasileiro, “é a chegada de uma espécie de um Tea Party nacional, como expressão dos ultraliberais, através do Partido Novo e também do Partido Social Liberal (PSL, este bem pequeno)”, diz Bruno Lima Rocha à IHU On-Line, fazendo referência ao movimento norte-americano.
Segundo ele, a nova direita segue “ideias de tipo neoliberal, ultraliberal, neoconservadoras, passando como uma linha direta dos think tanks, dos centros de difusão, das fundações de apoio ao Tea Party”, e é “sucessora direta dos grupos neoliberais do Brasil, como o Estudantes pela Liberdade, o Instituto Mises Brasil, a juventude neoliberal vinculada ao Fórum da Liberdade e outras iniciativas difusoras do pensamento econômico neoclássico e da política neoliberal”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Rocha adverte que o que “está em disputa” na crise “é o conceito de democracia”, não no mesmo sentido em que esteve nos anos 30, com “elogio ao autoritarismo”, porque “a esquerda de tradição mais autoritária não se afirma como defensora de ditadura de espécie alguma, embora sempre elogie governos mais duros desde que este projete a melhoria nas condições materiais de vida”. A ameaça à democracia, explica, é “de tipo liberal” e “está justamente na desconfiança na quebra das regras do jogo, com o apelo de impeachment através de um tema discutível e que entendo como não caracterizado como crime de responsabilidade, sendo mais um argumento de tipo ideológico e de defesa de um arranjo na política econômica”. Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.