sábado, 28 de janeiro de 2017

EUA SE ISOLA DO MUNDO


Faltam 2 mil kilometros para o novo "muro da vergonha"


A muralha de Donald Trump já existe e atravessa cidades e montanhas. Nova construção provocará golpe ecológico e maior mortalidade entre os migrantes.
Quando escutou que Trump queria construir um muro, a primeira coisa que o professor Jonathan Lee pensou foi: “Será mais largo? Será eletrificado? Terá dois andares?” Isso porque Lee, da cidade de Tecate, todo dia vê uma placa metálica ocre e enferrujada quando acorda. Ela foi erguida por Bill Clinton em 1994 a 20 metros da sua cama.
A reportagem é de Jacobo García, publicada por El País, 26-01-2017.
Na quarta-feira, Donald Trump anunciou o começo da construção “em meses” de um muro ao longo da fronteira e cujo financiamento será por conta do México, tal como disse o magnata à rede ABC. O muro, segundo cálculos do The Washington Post, terá um custo superior a 25 bilhões de dólares (80 bilhões de reais) e exigiria a utilização de milhares de trabalhadores durante anos.
No entanto, essa é uma realidade tangível há décadas para milhares de mexicanos. “Eu passava aos EUA com a naturalidade de quem atravessa a rua. Eles e nós fazíamos as compras de ambos os lados da fronteira sem nenhum inconveniente, até que começaram a erguer o muro”, diz Lee, de 33 anos.
A construção não é uma invenção de Trump. Com a chegada de Clinton ao poder, em 1993, os democratas levantaram o polêmico muro sem nenhum escândalo, da mesma forma que Barack Obama foi o presidente que mais expulsou migrantes sem documentos durante seus oito anos de Governo: quase 2,6 milhões de pessoas deportadas.
Hoje, há muro físico em um terço (cerca de 1.100 km) dos quase 3.200 quilômetros de fronteira entre México e EUA. Barreiras de concreto, grades, placas metálicas que serviram para facilitar o pouso de aviões durante a Guerra do Golfo e depois foram usadas para separar os dois países.
O muro começa na praia de Tijuana e avança rumo ao leste atravessando cidades como Tecate e Mexicali. Em outros trechos, sobe e desce pelos montes de estados como Califórnia, Arizona e Novo México, onde apenas se ouve o vento e habitam veados, como uma variante tex-mex da Muralha da China.
Em outro terço da fronteira há um muro virtual, vigiado por câmeras, sensores térmicos, raios-X e pelo menos 20 mil agentes fronteiriços, 518% a mais do que há duas décadas, segundo um relatório elaborado pelo instituto mexicano Colégio da Fronteira Norte e o Centro Norte-Americano de Estudos Transfronteiriços.
Em seu último terço, o muro é natural. E também o mais barato do mundo para vigiar, pois os rios e desertos de Sonora e Chihuahua agem como sentinelas com suas temperaturas que chegam a 50 graus. Nas últimas duas décadas, cerca de 8.000 migrantes morreram no local tentando atravessá-lo.
“Não se trata apenas da construção de um muro, mas de toda uma estratégia de humilhação”, diz o professor José Manuel Valenzuela, secretário acadêmico do Colégio da Fronteira Norte. “Há uma estratégia para prejudicar a vida na fronteira, restringir os fluxos migratórios e acabar com as cidades santuário, onde os migrantes encontram certa proteção. Isso é também um grave ataque à vida ecológica e aos parques naturais que atravessam a fronteira”, afirma.
“Os grupos supremacistas que atacam e matam os migrantes se veem agora mais legitimados. Comprovou-se que, com a construção do primeiro muro em 1994, a emigração diminuiu, mas o número de mortos aumentou”, diz Valenzuela.
Jonathan Lee, que todo dia vê migrantes de Chiapas e Michoacán passando em frente à sua casa tentando atravessar para o outro lado, acredita que o muro de 1994 serviu como uma espécie de seleção natural. A barreira obrigou os migrantes a passarem por desertos e montanhas. “Quem consegue sobreviver a uma prova tão dura demonstra que é forte e fisicamente capaz de trabalhar em qualquer tipo de serviço que os EUA exigirem”, diz.
(Fonte: Site do Instituto Humanitas Unisinos - IHU)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

UM MUNDO DE INCERTEZAS, CATÁSTROFES E RUPTURAS


Boaventura de Sousa Santos diz que 
mundo caminha para rupturas


Pouca gente no planeta observa a geopolítica mundial com a lucidez de Boaventura de Sousa Santos. Catedrático aposentado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Portugal, e professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin, Estados Unidos, Boaventura é também profundo conhecedor da realidade do Brasil, onde passou a ser mais conhecido no início deste século, ao organizar e participar de edições do Fórum Social Mundial, e onde esteve recentemente para lançar seu novo livro, A Difícil Democracia (Editora Boitempo).
Ao analisar o complexo cenário político e econômico global, o professor considera incompatível a coexistência entre a democracia e as modernas sociedades capitalistas. Para ele, a democracia, limitada ao nível do sistema político, sempre sucumbe, na prática, aos três modos de dominação de classes: capitalismo, colonialismo e patriarcado. O resultado, com alguma variação de tons aqui e ali, é a prevalência de um fascismo social. Tome-se o caso brasileiro no qual, segundo Boaventura, a democracia tinha mais intensidade antes do “golpe parlamentar-midiático-judicial” do que tem agora. Agora, a simples composição do governo mostra como a democracia está mais capitalista, colonialista e patriarcal. E o que tem o fascismo social a ver com isso?
“Em todos estes casos, as vítimas são formalmente cidadãos, mas não têm realisticamente qualquer possibilidade de invocar eficazmente direitos de cidadania a seu favor”, define o professor. As vítimas de fascismo social, portanto, não são consideradas plenamente humanas, como ele resume. Boaventura vê ainda nos planos do atual governo um potencial devastador, de definhamento da democracia e de um aumento brutal do fascismo social.
Sarah Fernandes, da Rede Brasil Atual, fez um entrevista com Sousa Santos que você pode conferir na íntegra, clicando aqui.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

MINISTRO RELATOR DA LAVA JATO TERIA SIDO ASSASSINADO?


'É preciso investigar se foi acidente ou não', diz filho de Teori


O advogado Francisco Prehn Zavascki, filho do ministro Teori Zavascki, que morreu nesta quinta-feira, 19, em Paraty (RJ), cobrou uma investigação da morte do pai e disse que nenhuma possibilidade está descartada. "É preciso investigar a fundo e saber se foi acidente ou não, que a verdade venha à tona seja ela qual for", afirmou à Rádio Estadão.
Francisco disse que a família está em contato com autoridades para acompanhar os desdobramentos das investigações. O Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) já comunicaram que abriram processos para apurar as causas do acidente. "Ainda não parei para pensar, não deu tempo para pensar com mais calma nisso, mas não podemos descartar qualquer possibilidade. No meu íntimo, eu torço para que tenha sido um acidente, seria muito ruim para o País ter um ministro do Supremo assassinado", disse.
O filho relatou ainda que havia grupos contrários às investigações de casos de corrupção no País e que o ministro já teria recebido ameaças. Ele era relator dos processos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), sendo responsável por conduzir os julgamentos de investigados com foro privilegiado. "Seria infantil dizer que não há movimento contrário, agora a questão é o que o movimento seria capaz de fazer", afirmou.
Francisco Zavascki disse que o pai estava bastante concentrado na homologação das colaborações premiadas de executivos e ex-executivos da Odebrecht, o que estava programado para ocorrer em fevereiro. "Ele tinha perfeita noção do impacto que tem no País e que isso poderia realmente fazer o País ser passado a limpo."
O velório do corpo do ministro do STF vai ser realizado na sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre. 
(Fonte: Jornal O Tempo)

domingo, 15 de janeiro de 2017

INDULTO PARA UMA NOVA VIDA


Habeas Corpus

 Eugênio Magno

Então, certa vez, o poeta disse: Estou voltando para o lugar de onde vim. Tentei brincar de deus, criar lugares, pessoas, situações, mas descobri que a minha vocação não é a de manipulador de marionetes e carcereiro de cenários. Sou um homem de palavra que usa a voz, aprecia a melodia, gosta de silêncio, mas prefere o som. Não quero enclausurar imagens. As paisagens também devem ser livres e terem a cor que escolher a imaginação de quem escuta com os olhos ou os ouvidos, apenas palavras. O cristalino dos meus olhos não é mais o original e não posso confiar tanto assim na minha visão, nem na dos outros. As lentes são estreitas, focadas demais e só apontam para o outro. Não confio no que vejo, muito menos no que me mostram. Minha tarefa é descobrir a mim mesmo. Só assim posso chegar ao outro. Não para desnudá-lo ou vendê-lo na feira de arte (moderna?). Mas para abraçá-lo e cobrir a sua alma nua.
(Do Livro Minas em Mim, 2005, pág. 37)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Estados Unidos e Rússia



Perversão sexual e ciberataques: 

o dossiês da Rússia sobre Trump



Um relatório divulgado por diversos veículos de imprensa americanos nesta terça-feira (10/01), que estaria em poder das agências de inteligência do país, sugere que a Rússia teria informações comprometedoras sobre a vida privada e financeira do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Moscou, por sua vez, nega as informações e diz que o relatório é uma farsa.
Horas após relatos de que Trump teria sido informado por autoridades de inteligência sobre a existência do dossiê, o portal de notícias BuzzFeed News publicou um resumo do conteúdo. No entanto, o editor-chefe da página fez a ressalva de que haveria razões para questionar a veracidade do documento, uma vez que as informações não puderam ser totalmente verificadas.
Os diretores das principais agências de inteligência teriam apresentado o dossiê para Trump e para o atual presidente, Barack Obama, na semana passada, em meio às especulações de uma suposta interferência russa nas eleições presidenciais americanas.
Um ex-agente da inteligência britânica que teria elaborado o conteúdo do relatório teria assegurado que as informações seriam suficientes para “chantagear” o presidente eleito. Segundo a imprensa americana, o ex-agente teria credibilidade perante as agências de segurança.
Para continuar lendo a matéria, clique aqui.
(Fonte: Diário do Centro do Mundo)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

"PRESOS TRANSFORMADOS EM MOEDA NA MÃO DO ESTADO"


Massacre em Manaus deixa claro 
que terceirização não valeu a pena



Maria Marques, da Pastoral Carcerária do Amazonas, que há 19 anos atua no sistema prisional, minimiza a importância do conflito entre as facções PCC (Primeiro Comando da Capital) e Família do Norte (FDN) na origem do massacre. “A maioria dos que morreram não foi assassinada porque pertencia a uma facção. Eram presos que estavam separados dos outros, em outro pavilhão, por serem acusados daqueles crimes que sofrem grande rejeição entre os internos, como estupro ou morte de criança”, afirmou em entrevista à Ponte. “Morreram aqueles que, numa rebelião, são sempre os primeiros a morrer.”
Para Maria, uma das principais causas do massacre é o sistema de gestão do presídio, que desde 2014 está a cargo de uma empresa privada, a Umanizzare. “O massacre deixou bem claro que a terceirização não valeu a pena. O governo terceiriza porque não é capaz de administrar, mas aí coloca outros que só fazem aumentar a corrupção e a violência”, diz. “Os presos se transformaram em moeda nas mãos do Estado.”
Além da terceirização da gestão e do conflito entre facções, a representante da Pastoral Carcerária também chama a atenção para as falhas do Estado, tanto na administração penitenciária “no âmbito federal e nacional” quanto no Judiciário.
“Se o Judiciário cumprisse seu papel, não haveria tantas mortes, porque as cadeias não estariam tão lotadas. A Lei de Execução Penal não é seguida. Há muitas pessoas que poderiam estar cumprindo pena em liberdade, mas continuam presas”, denuncia.
As promessas feitas pelo governo após o massacre — o segundo pior da história do sistema prisional brasileiro, atrás apenas dos 111 mortos no Carandiru, São Paulo, em 1992 — só reforçam a sensação de que nada vai ser resolvido, na visão de Maria.
“O governo só fala em construir mais presídios e desse jeito o problema nunca vai acabar, porque não existe uma política de ressocialização para o homem e a mulher que comete delito”, afirma. “Essas pessoas têm seus direitos desrespeitados todos os dias pelo Estado, e agora perderam também o direito à vida.”
(Fonte: Site do Instituto Humanitas Unisinos - IHU)

domingo, 1 de janeiro de 2017

2017 VAI PAGAR O PREÇO DA IMPOSTURA


Turbulência política não deve dar trégua em 2017

Impeachment da presidente da República, cassação do presidente da Câmara dos Deputados, recessão econômica sem precedentes e o envolvimento de dezenas de políticos em uma investigação de corrupção – a operação Lava Jato. Depois de um turbilhão de notícias negativas no cenário político-econômico, 2016 dá adeus, mas sem que alguns dos fatos mais marcantes tenham tido seu desfecho.
O novo ano dá as caras, mas ainda com interferência de questões remanescentes do ano anterior. Os desdobramentos de algumas questões remanescentes de 2016 podem impactar em cheio o Palácio do Planalto e, com isso, prolongar a crise política e dificultar a melhoria dos indicadores econômicos.
A lista de fatos que podem incendiar o cenário político inclui a delação de executivos da Odebrecht, o desenrolar de processo que pode culminar na cassação do mandato do presidente Michel Temer, as negociações para aprovar a reforma da Previdência e as eleições dos presidentes da Câmara e do Senado. Para continuar a ler a matéria de Pedro Rocha para o jornal O Tempo, clique aqui.