sábado, 16 de janeiro de 2010

O CINEMA BRASILEIRO SAI GANHANDO COM LULA



Lula, o filme e o cinema

Eugênio Magno

Lula, o filho do Brasil, já mereceu muitos comentários. A grande maioria, pré – conceituosos, na acepção da palavra. Foi um tal de “não vi e não gostei” que esvaziou as salas de exibição. Coisa das elites. Críticas levianas de quem sequer viu o filme e não permitiu que o público fizesse o seu próprio julgamento. A imprensa especializada, com desonrosas exceções, foi mais cautelosa e não entrou na onda.
Os arautos do caos erraram feio. Usaram mísseis para matar pernilongo. O filme não era nada do que se esperava. Aplaudido timidamente por Lulistas e Petistas roxos e, criticado de forma veemente pelos desafetos do presidente, Lula, o filho do Brasil foi acusado antecipadamente de propagandista. Diziam que o filme era inspirado nas estratégias do ministro da propaganda do Terceiro Haich, Joseph Goebbels, com planos ao estilo de Leni Riefenstahl, etc. Mas a fita, taxada de “oportunista, lançada em ano eleitoral, que provocaria grande comoção nacional...”, não passa de uma produção mediana da família Barreto. O que sobrou em cuidados com a blindagem do personagem Lula, faltou em ousadia inventiva e arrojo de linguagem. Fora alguns equívocos na escolha do elenco. Cléo Pires, por exemplo, cumpre bem seu papel de atriz, interpretando a primeira esposa de Lula. Vê-la é sempre muito agradável, mas a personagem que interpreta não precisava de um rosto tão marcado. Da mesma forma que, desconhecida do grande público, a mãe de Luiz Inácio, dona Lindu, não carecia da conhecidíssima Glória Pires para ser apresentada ao povo brasileiro. O elenco de apoio foi bem escalado e o ator Rui Ricardo Dias, que podia facilmente ter se resvalado para o clichê, encarnou muito bem a figura do líder sindical. Sua interpretação, aliás, é um dos pontos altos do filme.
Lula, o filho do Brasil seria mais um filminho medíocre, se não fosse tão correto tecnicamente, fato justificável pela experiência dos realizadores, pelo seu custo de produção e, claro, por contar a bela história de Lula. A saga de um nordestino que tinha tudo para dar errado na vida, mas que, contrariando a lógica burguesa, virou presidente do Brasil, é o chefe de Estado mais popular do mundo e foi escolhido “homem do ano”, pelo jornal francês Le Monde.
Muito mais do que o filme, o que me interessa nessa polêmica é o cinema. Oportunista ou não, nenhum presidente brasileiro pensou o cinema de forma estratégica. Lula o pensou ou pensaram com e/ou para ele, não importa. Especialmente para o setor cinematográfico, o mais importante é a inserção do cinema como política cultural de Estado. E, olhando sob esse ponto de vista, lamento que o filme não tenha sido o que alardearam seus detratores. Ainda assim, pelo filme e, pela quantidade – nunca vista – de editais para o setor audiovisual no Brasil democrático, o atual governo se inscreve na história como um divisor de águas para a sétima arte nacional. Depois de Lula, presidente nenhum desse país, vai poder ignorar o cinema brasileiro.
Este artigo também foi publicado nas versões impressa e online dos jornais O Norte de Minas, de 19.01.10 e O Tempo, de 23.01.10. Para conferí-lo nesses veículos é só clicar nos seus respectivos links.

6 comentários:

  1. Meu caro e bom amigo Eugênio. Do seu artigo, só concordo com o diagnóstico de que o filme é lamentavelmente ruim. Quanto à crítica "burguesa", não vejo nada de burguês em descortinar para o leitor as possíveis implicações políticas desta fita. Ao contrário, trata-se de explicitar a mega-operação governamental de promoção do filme, que recebeu dinheiro coincidentemente das empresas do PAC. Trata-se de alertar sobre os efeitos danosos da incursão do governo na produção cinematográfica de outros tempos. A Lula, o filho do Brasil, que repete a estrutura narrativa de Os filhos de Francisco, prefiro Eles não usam black-tie, do León Hirzman. E, bem, não é nenhum burguês aqui está falando, mas um morador das periferias de Belo Horizonte, desempregado e alguém que trabalhou bastante para entidades sindicais. Não sei porque essa blindagem em relação ao Lula, nos sindicatos: o Lula, mesmo com o inegável carisma, é um continuador de FHC, um neoliberal. O sindicalismo não tem nada a lhe dever, pelo contrário. Um abração.

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  2. Ola Eugênio,

    Ainda não vi o filme.
    Mas continuo com a minha crítica sobre o grande oportunismo do momento de lançamento do filme. Só fazendo vista grossa é possível dizer que não é explicitamente uma propaganda eleitoral pesada, paga por grandes empresas que tem contratos com o atual governo. O pêndulo da História continua em movimento, e essa comparação com técnicas de propaganda conhecidas do passado não é de todo infundada.

    Um abraço,

    André Baptista

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  3. APARECIDA disse...

    Eugênio,
    Seu blog está ótimo!
    Só não concordo sobre o filme. Achei "Lula, o filho do Brasil" emocionante, principalmente aquela hora da assembléia, sem microfone... a criatividade de Lula (já latente) inventou de uma fileira ir virando pra trás e ir falando para os demais... e no cemitério quando vai ao enterro da mãe e os operários gritam pela soltura dele ou greve? E conseguem!
    Quanto a Gloria Pires ninguém melhor pra interpretar d. Lindu. Ela poderia estar mais simples, o cabelo, etc. Mas ela é perfeita.
    Emocionei-me com ela.
    Quanto às suas notícias, do Lula, nos jornais internacionais... Fantástico!
    Se esperarmos por essa mídia preconceituosa ....

    Grata,

    Maria Aparecida Mendonça Leite.

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  4. Paulo, André e Aparecida,

    Achei ótimos os comentários.
    Concordo com vários dos pontos de vista que defenderam. Sei quem são vocês e respeito-os.
    Mas sei também quem são os canalhas que achincalham tudo e todos os que não possuem o mesmo cartão crédito ou a mesma filiação partidária que eles. E aí incluo as várias tendências político-partidárias que debatem o filme.
    É muito difícil querer falar, com um pouco que seja de isenção, especialmente, no caso de "Lula, o filho do Brasil". O filme ficou contaminado pela política e a política contaminada pelo filme.
    Continuo achando o filme ruim, assim como estou convicto de que críticas levianas atrapalharam a carreira do filme e que, embora oportunista, o filme não é nada do que disseram.
    E digo mais: Lula perdeu mais do que ganhou com esse filme que não acrescenta nada à filmografia brasileira em termos estéticos. Mas também não posso deixar de valorizar a importância de Lula para o cinema e o audiovisual brasileiro, até mesmo com a realização desse filme que, na pior das hipóteses, provou que ele acredita na importância do cinema.

    Abração,
    Eugênio

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  5. Quero parabenizar ao mestre Eugênio Magno pela coluna no jornal de 23/01/2010, no jornal O Tempo, comentando filme sobre Lula.

    Tenho 59 anos e não adotei nenhum partido político, sempre voto no candidato e estou isento para manifestar minha opinião, que é a mesma do colunista.

    Realmente nosso País está cheio de falsos moralistas, incluindo os partidos da oposição ao governo e alguns jornalistas, principalmente paulistas, em sua maioria, preconceituosos.

    Não vi o filme ainda, mas faço questão de assistir. Ou será que temos que valorizar somente filmes importados?

    Abraços,

    Ademir Avelar de Carvalho

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  6. Ademir,

    Fico feliz com sua manifestação. Especialmente por ter compreendido o que eu disse de forma menos apaixonada, como procurei ser também ao analisar o filme.

    Obrigado,
    Eugênio Magno.

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