terça-feira, 25 de agosto de 2009

UM OUTRO MUNDO POSSÍVEL

Os saberes invisíveis
Eugênio Magno
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos esteve recentemente em Belo Horizonte, entre outras coisas, para o lançamento de seu mais novo livro, Epistemologias do Sul: o papel dos movimentos sociais na produção dos saberes. Em um dos colóquios com Sousa Santos eu o ouvi falar que é difícil imaginar o fim do capitalismo, mas que também é difícil imaginar que este não tenha fim. Ao mesmo tempo em que se interrogava e nos provocava querendo saber quais seriam as alternativas para um mundo melhor, ele apontava os sinais de esperança que surgem da América Latina.
Indignado com a discrepância entre nossos saberes e nossas práticas e com a falta de teorias para lidar com a quantidade de transformações porque passa o mundo, o intelectual chamou a atenção para o fato da esquerda não ter apresentado nenhuma proposta para a crise. Segundo Boaventura o que é pior, é a própria direita estar buscando essas soluções. As propostas neoliberais não são transformadoras, contemplam apenas a salvação dos impérios financeiros, paradoxalmente, utilizando as reservas do criticado Estado. Apesar de no momento atual existir condições favoráveis para uma melhor distribuição de renda não existem projetos nessa direção. As únicas propostas que conseguem visibilidade são as hegemônicas, que estão sendo disseminadas por todo o mundo e apontam apenas para uma sobrevida desse sistema agonizante, cuja morte permanentemente adiada, vai causar ainda mais estragos no tecido social.
Vivemos uma crise dos substantivos. Só nos restaram os adjetivos. O pensamento tradicional se apropriou dos substantivos criados pelas vanguardas e ficou apenas a derivação adjetiva como tentativa de buscar uma diferenciação para substantivos fortes como revolução, ou democracia, por exemplo. Temos que nos distanciar das teorias tradicionais para que possamos descobrir e utilizar as diversidades do conhecimento. Na América latina e no Brasil, existe uma grande quantidade de movimentos que não são e não foram estudados pela teoria critica. São muitas as alternativas de saberes e culturas que não são visíveis. Para construirmos o novo precisamos aprender a partir desses conhecimentos que foram ignorados, pois não há justiça social sem justiça cognitiva. Temos que respeitar e valorizar os conhecimentos oriundos dos movimentos sociais, dos quilombolas, dos índios e das comunidades que pensam e agem no mundo a partir da espiritualidade. É fundamental que conheçamos os novos atores sociais comprometidos com a transformação. Basta uma pequena pesquisa para constatarmos que, atualmente tem muito mais líderes indígenas e de movimentos dos sem-terra presos do que líderes sindicais ou estudantes. A sociedade não deve fazer coro com essa corrente que, de forma reiterada, promove a criminalização do MST, dos indígenas, dos ribeirinhos e dos quilombolas.
Boaventura de Sousa nos dá várias pistas para a construção do novo mundo possível. Dentre elas, destaco a seguinte: “não precisamos de uma grande teoria para mudar o mundo, mas sim de conhecer melhor as várias culturas, as diversidades”.

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