terça-feira, 23 de junho de 2009

BH TERÁ SUA PRIMEIRA ESCOLA DE FÉ, POLÍTICA E CIDADANIA

No último dia 6 de junho, estiveram reunidos, no Instituto Santo Tomás de Aquino, em Belo Horizonte, um grupo de representantes de diversos segmentos sociais, no Seminário Preparatório para a criação da Escola de Fé, Política e Cidadania Oscar Romero, a primeira no gênero em Belo Horizonte.
A iniciativa é dos ex-alunos do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara – CEFEP-DF, residentes em Belo Horizonte, Adriano Ventura, Carlos José, João Paulo Rezende, Maria Aparecida de Jesus e Rodrigo Marzano, mobilizados por Eugênio Magno, também ex-aluno e atualmente assessor do CEFEP-DF, que através de uma aliança com o frei Carmelita, Gilvander Moreira, pároco da Igreja Nossa Senhora do Carmo, fizeram uma primeira reunião em 24 de março deste ano, dia em que se comemorava os 29 anos de martírio de Oscar Romero, bispo de El Salvador. Esta reunião, que contou com a presença de diversas lideranças locais e teve o privilégio de receber o coordenador pedagógico do CEFEP-DF, Antônio Geraldo Aguiar, indicou a necessidade da realização de um seminário preparatório com a participação de representantes de um número maior de representantes dos vários setores da sociedade interessados nessa questão.












Nesta primeira reunião foi criada uma comissão de coordenação, formada por Carlos José, ex-aluno do CEFEP-DF, Dirlene Marques, economista e ativista do FSMMG Eugênio Magno, comunicólogo, ex-aluno e assessor do CEFEP-DF, frei Gilvander Moreira, pároco da igreja do Carmo e assessor da CPT, Rodrigo Castelo, relações públicas e ativista de confissão Batista e Rodrigo Marzano, ex-aluno do CEFEP-DF e assessor parlamentar. A partir das propostas surgidas nessa primeira reunião a comissão passou a se reunir com regularidade, tanto de forma presencial, como virtualmente, para organizar o seminário preparatório. Foram convidadas cerca de 90 pessoas entre as quais, lideranças da Igreja Católica e outras igrejas cristãs, conselhos ecumênicos, partidos políticos, CEFEP-DF, pastorais, movimentos sociais e órgãos ligados à Arquidiocese de Belo Horizonte. Ao seminário, compareceram 36 pessoas, entre eles, políticos, com e sem mandato, educadores, comunicólogos, padres, pastores, agentes de pastorais, economistas, assessores parlamentares, sindicalistas, representantes de partidos políticos e movimentos sociais, além de leigos representantes de órgãos ligados à Arquidiocese de Belo Horizonte, como o Vicariato para a Ação Social Política e o NESP: Núcleo de Estudos Sócio-Políticos da PUC-MG / Arquidiocese de BH. Este último, um dos apoiadores do evento, juntamente com a Editora Paulinas, a Mixpel Rede de Papelarias e o ISTA.



Na abertura do seminário, às 08:45 hs, o frei Gilvander Moreira conduziu uma mística onde abordou situações de desrespeito aos direitos humanos, trabalho escravo e depredação do meio ambiente. Ele concluiu a mística de abertura evocando a memória do patrono e inspirador da escola, Dom Oscar Romero, arcebispo de San Salvador, através de apresentação audiovisual, que contou com a interação dos presentes.










A palestra de abertura do painel introdutório ficou a cargo do membro da comissão de coordenação e organização do seminário, Carlos José dos Santos que apresentou uma conceituação de Fé e Política, ancorada em textos bíblicos, encíclicas papais e na Doutrina Social da Igreja.
Na seqüência, Frederico Santana Rick, Economista, militante das Assembléias Populares e representante da Cáritas, fez uma exposição sobre conjuntura política e econômica. E finalizou com uma proposta sintetizada em 05 (cinco) pontos que chamou de “’desafios’ centrais para a escola, e que podem se constituir como diretrizes”.













Maria Aparecida de Jesus, ex-aluna do CEFEP-DF e chefe de Gabinete do deputado estadual Durval Ângelo fez uma breve análise de conjuntura a partir da via institucional, com um olhar dos partidos políticos e do PT, em particular, na condição de Governo: situação.
Eugênio Magno, ex-aluno, atual assessor do CEFEP-DF e membro da comissão de coordenação e organização do seminário, fechou o painel introdutório apresentando o histórico e o perfil do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara – CEFEP-DF, instituição inspiradora da Escola de Fé, Política e Cidadania Oscar Romero e fez um relato de toda a trajetória da iniciativa de criação da Escola, desde o fim do curso do CEFEP, até aquele momento. Magno apresentou a proposta do seminário preparatório, fez uma exposição sobre um ideal normativo para a escola, ancorado em ética, linguagem e democracia, apresentou uma proposta de temas para formação da grade curricular e alguns princípios norteadores para a escola.

No segundo painel, o ex-deputado federal, Sérgio Miranda deu o ponta-pé inicial para a problematização, traçando perspectivas sobre o que deveria ser e o que não deveria ser a escola, destacando o atual momento histórico de mudança de paradigma. Segundo ele temos a tendência de olhar o mundo somente a partir do que está à nossa volta e esse comportamento nos afasta de um maior aprofundamento, em razão de ficarmos apenas na superficialidade, que é consequência da subjetividade do nosso individualismo. Falou que precisamos criar um curso que seja pensado e realizado de dentro da política e não apenas com uma visão da política enquanto objeto de estudo e, portanto, distanciada da realidade vivida. Destacou que as coisas vão ser e devem ser diferentes e que estamos vivendo a queda do mito da globalização e o início de um novo ciclo, que representa a derrocada de toda uma forma de pensar e realizar as coisas.
Continuando a problematização, o professor José Luiz de Magalhães fez uma espécie de síntese de tudo que foi dito e chamou a atenção para questões importantes que não haviam sido colocadas nas exposições anteriores. Ele destacou o que pode ser chamado de a nova cultura “solidária”, onde existe uma maior aproximação das pessoas e dos povos: gêneros, nacionalidades e etnias, compartilhando e trocando experiências. Falou sobre a necessidade de conhecermos mais e melhor sobre os Estados Plurinacionais, sobre a Teoria do Estado (a Teoria da Construção do Estado) e reiterou de forma mais aprofundada a questão levantada por Eugênio Magno sobre linguagem e matrizes simbólicas, salientando a necessidade de se investigar o encobrimento da ideologia por meio do simbólico, a partir do olhar da psicanálise.
Depois de um breve intervalo para almoço, os grupos temáticos discutiram os seguintes temas: Leitura da relação Fé e Política na Bíblia; Ensino Social da Igreja: princípios básicos; Espiritualidade, Ética e Democracia; Economia Política: história do pensamento econômico, dinâmica do capitalismo; História da formação social, política, econômica e cultural do Brasil; Propostas para a construção do novo no Brasil: a proposta dos movimentos sociais e dos partidos políticos; A Constituição de 1988; Cidadania e direitos humanos, nos últimos 50 anos e a contribuição da Igreja neste processo; Comunicação, Linguagem, Cultura e Política. O trabalho comum a todos os grupos foi: Como trabalhar estes temas como conteúdos dos cursos da escola e quais outros temas devem ser contemplados? Desenvolver uma Proposta para viabilização, subvenção e manutenção da escola; Escolher dois representantes do grupo temático (um para integrar o Comitê Gestor e outro para o Conselho Educacional da Escola).
Após um tempo de discussão entre os grupos, estes voltaram à plenária para apresentarem suas proposições. Nesta exposição, os grupos ressaltaram a importância da escola se orientar pelo ecumenismo, mas ancorada pelas propostas de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida”. “Eu vim para os pobres”. A partir dessa ótica, não perder de vista que a práxis de Jesus carregava uma conotação política e, com isto, trazer a Bíblia para mais próximo da nossa realidade, aproveitando as várias metodologias existentes, como uma leitura popular desta, a exemplo do que faz as CEB’S. Outra forma de se trabalhar os conteúdos bíblicos sugerida foi através da reconstrução dos fatos políticos bíblicos, retratando como foi construída a história política do povo na Sagrada Escritura. Os grupos identificaram a necessidade de se trabalhar estes temas com o propósito de capacitar o cristão para identificar e fortalecer as ações que realmente são transformadoras.
Os grupos destacaram também a necessidade da escola atuar de forma ecumênica, Insistindo em um espaço de formação que seja múltiplo, diverso. Tanto em sua estruturação como no conteúdo de seus cursos, disciplinas e pedagogia de ensino, atendendo assim às várias demandas da população no que diz respeito a modalidades de temas, formatos e horários. Formar indivíduos para viver coletivamente de forma solidária, respeitando a diversidade. Adotar uma metodologia de ensino diferenciada que inclua artes, passeios e reflexões que permitam interações e trocas mais participativas e solidárias, fugindo do modelo educacional tradicional e tendo em vista uma pedagogia de busca pela autonomia que ensina ao aluno a pensar e descobrir o conhecimento de forma livre e crítica. Ter um espaço físico de referência, uma sede fixa, mas também cursos itinerantes. Considerar as demandas dos diversos movimentos sociais, inclusive na busca de parcerias para a realização de atividades conjuntas e a troca de experiências. Elaborar projetos para conseguir recursos, sem, todavia, perder o horizonte de ser auto-sustentável através de colaborações militantes e voluntárias. Buscar parcerias com entidades, que poderão ter como contrapartida vagas nos cursos. Não buscar fontes de financiamento e subvenção que nos “amarrem” e não se constituir como correia de transmissão de nenhum grupo, instituição e/ou interesse político, religioso ou econômico. Criar uma “Associação de Amigos da Escola”, que poderão contribuir para a manutenção da escola.
Dando continuidade aos encaminhamentos das proposições, os grupos apresentaram o resultado de suas eleições para escolha dos respectivos representantes para os conselhos: Gestor e Educacional. Para o Conselho Gestor foram eleitos João Paulo, Frederico Santana, Alexandre Braga e Maria Solene, e para o Conselho Educacional, Adilson Drummont, Maria da Consolação e Pastor Lúcio. Houve também um processo de votação com opções para mudar a Comissão de Coordenação (provisória), retirar e/ou acrescentar novos nomes à mesma. A plenária, entretanto votou pela manutenção e permanência da comissão que agora será permanente e permanecerá com sua formação original que é a seguinte: Carlos José, Dirlene Marques, Eugênio Magno, Frei Gilvander Moreira, Rodrigo Castelo e Rodrigo Marzano.








O frei Gilvander Moreira manifestou sua satisfação com os resultados que o seminário apontava e fez uma síntese das proposições do grupo, acentuando e acrescentando os pontos que julgou mais importantes segundo sua visão, como: a necessidade da escola adotar uma pedagogia de busca de autonomia, com linguagem a partir dos pequenos; que o funcionamento da escola seja a partir dos nossos próprios pés. Não buscar fontes que nos “amarrem”. Primeiro consolidar a Escola, depois buscar parceiros. Buscar “assuntos” de interesse público, tendo em vista a demanda dos movimentos populares. Oferecer diferentes tipos de cursos, oficinas e seminários (livres, com tópicos especiais), em diferentes horários (tarde, final de semana). Que a escola seja ecumênica, mutante, múltipla, e que envolva as artes em sua metodologia. Temos que trabalhar o Ensino social cristão: católico, mas também o evangélico, etc. Embora a escola tenha um ideal ecumênico, é necessário consolidar os laços com apoiadores tais como NESP, CNBB, Vicariato, Arquidiocese de Belo Horizonte, CONIC e as representações das outras Igrejas e matrizes religiosas. Focar a ética e a espiritualidade, numa perspectiva comunitária, e não individualista. Estudar a luz bíblica e valorizar a religiosidade popular. “Estou sentindo que uma criança está sendo gerada de forma saudável, rica e diversa”, disse Frei Gilvander. Ele encerrou sua participação no seminário elogiando a riqueza de se ter entre os membros da comissão de coordenação e conselhos, competências e representações tão significativas, diversas e complementares, uma atitude louvável para a consolidação de uma Escola no formato que se pretende.
Foi agendada uma reunião para o dia 20 de junho, às 10h, na igreja do Carmo, bairro Sion. Telefone: 3221-3055, da qual deverão participar a comissão de coordenação e os conselhos gestor e educacional e na seqüência, cada um dos presentes, fez uso da palavra, para fazerem as suas considerações finais.
Consolidando a proposta ecumênica da escola, a mística de encerramento, ficou sob a responsabilidade do pastor Lúcio Mendonça, da igreja Metodista, que depois de conduzir um canto, fazer uma leitura e propor a partilha da passagem bíblica escolhida, fez uma analogia entre a época de Moisés e o momento de crise atual, dizendo: “Há momentos da nossa vida que temos que perceber que nós não damos conta por nós mesmos e só conseguiremos alcançar nosso objetivo pelo poder de Deus”, disse. “Diga ao povo de Israel que marche”. “Este é o momento que nós também precisamos marchar para alcançar a vitória”, finalizou o pastor Lúcio.

Nos instantes finais, Eugênio Magno relembrou o que disse no início do dia: que era para todos os presentes se sentirem como pais e mães, fecundando um grande útero para gestar a escola. Com estas palavras e a entrega dos certificados numa dinâmica de confraternização e despedida foi encerrado o encontro, por volta de 17:50 hs num clima de alegria fraterna e com um sentimento de que algo novo estava nascendo.
Na reunião do dia 20 de junho, realizada nas dependências da Igreja do Carmo, a Comissão de Coordenação, juntamente com os conselhos Gestor e Educacional fizeram uma avaliação do seminário, desde o processo de organização até a sua realização e definiram algumas ações necessárias para o encaminhamento do que foi proposto no seminário.
O grupo reunido reiterou o compromisso de ser fiel às proposições tiradas do seminário preparatório e manifestou a necessidade de buscar o apoio da Arquidiocese de Belo Horizonte para a criação da escola, oferecendo a esta um ou dois acentos nas comissões já existentes, com poder de voto igual a cada um dos demais que já integram os conselhos gestor e educacional, que trabalharão alinhados com as orientações da Comissão de Coordenação. Esta parceria com a Arquidiocese de Belo Horizonte deverá se estender também para outras Igrejas e matrizes religiosas, formando um conselho ecumênico do ponto de vista religioso e pluralista, do ponto de vista político e ideológico. Ficou acertado que o frei Gilvander Moreira irá agendar reunião com dom Walmor e/ou dom Joaquim Mol, com a participação de todos os integrantes da Comissão Coordenadora e os conselhos gestor e educacional, para acertar a parceria. Já ficou agendada uma próxima reunião da escola, para o dia 15 de julho.










2 comentários:

  1. Quero parabenizar a todos que estão construindo essa Primeira Escola de Fé, Política e Cidadania em Belo Horizonte.
    A cidade, suas comunidades, seus cidadãos terão um ponto inicial para entrar no debate e trazer para o "chão batido" as questões que hoje são impostas a partir de gabinetes acarpetados.
    Que venha o próximo passo, para que a política seja inspirada em Cristo, que dormia no chão e levava seus ensinamentes aonde o povo estava.

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  2. Mais uma vez tenho que "rasgar seda" pra você Rodrigo. Achei a sua colocação muito inspirada. E, na oportunidade, te parabenizo também. Afinal, você está entre os construtores da escola. Sigamos...

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