segunda-feira, 1 de março de 2021

CAMPANHA DA FRATERNIDADE ECUMÊNICA DE 2021

 


A importância do diálogo fraterno

Eugênio Magno

Fraternidade, Amor, Paz, Unidade (ainda que na diversidade) são pressupostos básicos do cristianismo. Num país como o nosso em que, algo em torno de 80% da população se declara cristã, porque é necessário que as verdadeiras Igrejas Cristãs tenham que fazer campanha para estimular e promover, justamente a fraternidade?

Queria poder responder de outra forma, mas, meio a contragosto, digo que é simplesmente porque não sabemos o que é ser cristão e é fundamental que sejamos lembrados permanentemente. Existe todo um ensinamento dado pelo próprio Cristo é claro e, pelos verdadeiros cristãos ao longo da história do cristianismo pelos Evangelhos, segundo vários apóstolos. Cada um dos batizados que se dizem cristãos, também já deveriam estar cientes do que é ser cristão. Sendo simplista, diria que ser cristão é seguir o Cristo, é ter a intenção e o desejo de, ao menos, aprender a segui-lo. E para segui-lo é fundamental que tenhamos, ainda que somente como horizonte, o seu principal mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo”.

Então qual é o problema? Porque algumas seitas exploradoras da credulidade popular faz tanto escarcéu contra a Campanha da Fraternidade de 2021. E, mais grave ainda, porque setores conservadores da Igreja Católica e de outras Igrejas pertencentes ao Conselho Nacional das Igrejas Cristãs insistem em dividir ainda mais o que deveria estar unido e incentivam boicotes e fazem críticas à campanha?

Na abertura do tempo da Quaresma, do Missal Dominical, tem um texto “O Jejum que salva”, que nos ajuda a argumentar sobre a importância da campanha da fraternidade.

Na quaresma se pede ao fiel que renuncie das refeições importantes do dia em sinal de disponibilidade e solidariedade. Disponibilidade à escuta de Deus, demonstrando dar mais valor à sua palavra que ao bem-estar imediato, sinal de conversão do coração; isto é que significa o jejum dos cristãos, como o do Mestre no início de sua missão. Um jejum mais sensível por todo o tempo da Quaresma, com outras iniciativas pessoais de desapego, renúncia às comodidades e satisfações mesmo legítimas, para maior liberdade interior. Assim o jejum ritual, feito com interioridade e não por mero formalismo, se torna sinal de fé e caminho de salvação para todo o nosso ser. Por outro lado, sofrendo um pouco de privação, saibamos unir-nos de algum modo aos homens para os quais é habitual a privação de alimento, de meios econômicos, de bens culturais e de possibilidades concretas de desenvolvimento: o jejum se torna um gesto simbólico, denúncia profética da injustiça que nasce do egoísmo, solidariedade com os mais pobres. Assim, a preparação para a Páscoa se torna ‘Campanha da Fraternidade’, e a ceia do Senhor um gesto de pobreza, contrição, esperança, anúncio. Quem participa seriamente da paixão do Senhor, ainda hoje viva, nos pobres da terra, sabe que a volta ao pai (tanto a sua como a da comunidade) já começou, e que na mortificação da carne pode florescer o Espírito da ressurreição e da vida. (Missal Cotidiano, Paulus, pág. 140) 

Na quarta-feira de cinzas, 17 de fevereiro, foi lançada a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”. Neste ano, a campanha é ecumênica e, portanto organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC).

Para quem não sabe, a Campanha da Fraternidade acontece no Brasil desde 1964 e, a partir do ano 2000 ela assumiu o compromisso de ser ecumênica a cada cinco anos.

Os principais objetivos da Igreja Católica, representada em nosso país pela CNBB, em criar, manter e promover anualmente as Campanhas da Fraternidade são os seguintes:

Educar para a vida em fraternidade, com base na justiça e no amor, exigências centrais do Evangelho e Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja Católica na evangelização e na promoção humana, tendo em vista uma sociedade justa e solidária.

A campanha deste ano está voltada para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual, em especial no contexto da política e da pandemia da covid-19. A CNBB chama a atenção para o fato do vírus que já é letal em si mesmo, ter encontrado aliados na indiferença, no negacionismo, no obscurantismo e no desprezo pela vida e na ocasião do lançamento virtual da campanha, conclamou os cristãos a serem aliados na responsabilidade, na lucidez e na fraternidade. A proposta da CNBB que encontrou plena ressonância no Conselho Nacional das Igrejas Cristãs foi dar continuidade à campanha do ano passado, sobre a necessidade do cuidado mútuo entre as pessoas, independentemente de sua cor, raça, etnia, gênero, cultura e condição social e econômica. Os organizadores da campanha ressaltam que essa proposta ecumênica não é de imposição, no sentido de que todos pensem e ajam da mesma maneira e sim de sensibilização sobre a importância do diálogo, especialmente frente às diferenças. CNBB e CONIC identificaram nesse tema a mensagem pela qual o nosso tempo clama. É voz corrente entre os cristãos que, verdadeiramente, abraçam o Evangelho de Jesus Cristo, saberem-se conscientes de como é triste ver o que vem acontecendo em nossa sociedade, marcada pela radicalização, polarizações e desrespeito às pessoas, especialmente as mais simples e as vulnerabilizadas, sem fazer nada a respeito.

As campanhas da fraternidade são formas concretas de expressarmos a dimensão social e porque não dizer política da nossa fé. E isso não tem nada a ver com simpatias ou antipatias partidárias. Muito embora hajam muitos partidos políticos e partidários de determinados partidos negacionistas que, mais preocupados em dividir ou se afirmarem, equivocadamente, negam o amor e a fraternidade entre os humanos.

A proposta aqui é incentivar e apelar às pessoas de bem, independentemente do credo que professem, no sentido de contribuir como puder para o sucesso da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” – “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”.


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