quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O PODER DA TECNOLOGIA SOBRE A VIDA HUMANA

 Entrevista especial com Carlos Affonso de Souza

(Foto: Acervo da Câmara dos Deputados)

João Vitor Santos, do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) realizou uma entrevista com o professor Carlos Affonso de Souza, onde são abordados vários temas ligados à tecnologia, dentre eles uma Ação antitruste dos Estados Unidos contra a Google. Leia abaixo alguns trechos da entrevista.

No final do ano passado, Donald Trump colocou o Vale do Silício em rota de colisão com Washington, acusando uma das gigantes das Big Techs, a Google, do que podemos chamar de um certo monopólio. E mais: estaria a empresa erguendo fortuna a partir dos dados pessoais gerados pelos seus usuários. O episódio foi lido por muitos como mais um rompante do presidente dos EUA em controlar a tecnologia da informação desde o seu gabinete. E é, mas o professor Carlos Affonso de Souza chama atenção para o fato de haver outras nuances que precisam ser consideradas. “A ação antitruste do governo norte-americano contra a Google é bastante simbólica. De certa forma, ela é um produto direto do tempo em que vivemos, no qual se busca uma maior reflexão sobre o papel que a tecnologia, e em especial a Internet, desempenha em nossas vidas”, avalia, na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Além disso, Souza observa que “para compreender os meandros dessa disputa é preciso juntar componentes políticos, econômicos, tecnológicos, sociais e – é claro – também jurídicos”. Para ele, é reducionista também achar que a Google é a grande vilã que põe todos os seus usuários como reféns a gerar dados que sustentarão seu império. “A figura do refém parece não ser a mais apropriada quando se misturam situações em que interesses dos usuários são atendidos e tantos outros são criados. É sempre lembrada a frase de Steve Jobs sobre a importância de suprir os desejos dos consumidores, ainda que eles próprios ignorem a existência desses desejos”, pondera.
Ou seja, há sempre uma opção ativa dos usuários que, embora quase sempre muito inebriados, têm de ter condições de opção. E é aí que reside um dos aspectos da ação dos EUA. “Quando se repete o mantra de que ‘dados são o novo petróleo’ à exaustão, muitas das diferenças importantes entre a economia do petróleo e a economia dos dados passam despercebidas, mas um ponto é inegável: a ascensão do tratamento de grandes volumes de dados (big data) gerou novas oportunidades de negócios e novas experiências”, acrescenta.
O professor ainda lembra que mesmo Trump deixando a Casa Branca, isso não significa necessariamente o sepultamento dessa ação antitruste. “Me parece que a ação transcende os interesses da Administração Trump e encontra também certo eco do lado democrata, embora as preocupações sejam um pouco distintas. A pré-candidata democrata Elizabeth Warren fez da regulação das Big Techs uma plataforma de governo. Mesmo não tendo recebido a indicação do Partido Democrata, as suas ideias encontraram adeptos e devem ter repercussões na Administração Biden”, destaca. E, no fim, talvez a questão nem seja a condenação ou absolvição da Google. Para Souza, o fato em si já é interessante por acender o sinal de alerta de usuários. “Estar atento a essas transformações é o primeiro passo para sermos protagonistas e não apenas consequências desse processo”, finaliza.

Além de professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Carlos Affonso de Souza é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro - ITS, pesquisador visitante do Information Society Project, da Faculdade de Direito da Universidade de Yale e  participante de diversos fóruns internacionais sobre regulação e governança da Internet. Para acessar a entrevista conduzida por João Vitor Santos para o Instituto Humanitas Unisinos (IHU), clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário