domingo, 30 de julho de 2017

LULINHA PAZ E AMOR OU O QUÊ?


A esquerda precisa definir que Lula quer


Raphael Silva Fagundes


Se hoje alguém se aventurasse a escrever uma biografia de Luis Inácio Lula da Silva, poderia facilmente lograr-se na lama da ilusão biográfica, cometendo aquele equívoco no qual se tenta descrever a vida como “um conjunto coerente e orientado”, uma expressão unitária de uma “intenção” subjetiva e objetiva de um projeto.[1] Isso porque a história da maior figura do Partido dos Trabalhadores não pode ser apreendida por meio de uma linearidade, de uma direção firme e coerente, ou pode?
Em 2006, Lula arranca risos e aplausos de uma plateia composta por empresários e intelectuais ao afirmar que pessoas responsáveis abrem mão de suas convicções radicais conforme amadurecem. Diz que tal fenômeno é parte da “evolução da espécie humana”. "Se você conhece uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque está com problema". "Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também está com problema". Depois destacou: "Quem é mais de direita vai ficando mais de centro, e quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, menos à esquerda. As coisas vão confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos, e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito".[2]
Poucos meses antes do impeachment de Dilma Rousseff, o ex-presidente afirmou categoricamente: “Eu hoje sou mais à esquerda do que era”. Em seguida disse que o “PT errou, cometeu práticas que condenávamos”.[3]
Recentemente Lula fez um discurso no 6° Congresso do PT e assegurou que “se a esquerda entrar com um programa bem preparado, a gente vai voltar a governar este país em 2018”.[4] Hoje, o Lula mais idoso que aquele que fazia acordos com o mercado é exatamente aquilo que disse que não seria mais? Deparamo-nos com uma contradição lógica, na qual a vida altera sua coerência de acordo com o lado que você está. 
Cair nos argumentos radicais do PT atual, deixar-se seduzir pelas frases inflamadas de Gleisi Hoffmann, pode nos levar a um erro que nenhum marxista deve cometer. Trata-se da repetição da História. Todo indivíduo que é de esquerda reconhece uma das máximas mais famosas de Marx: “os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes [...] a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.[5] O Lula de esquerda, esse que hoje encanta multidões, se supostamente assumir o poder em 2018, tenderá à direita, como fez uma vez, ou se manterá firme ao discurso esquerdista?
A esquerda precisa definir o Lula que quer! Precisamos reconhecer o fato de que sua história não é coerente, não segue um projeto inaugural e, convenientemente, sua existência se altera de acordo com a essência adequada ao seu lugar no cenário político. Não há dúvida de que ele é o personagem mais carismático da esquerda, capaz de competir com as figuras populistas da direita que ganham espaço, como Doria e Bolsonaro, mas temos que pôr os pés no chão e encarar suas contradições.
É comum o orador, para não parecer incoerente e não dizer algo absurdo quando sustenta simultaneamente uma proposição e sua negação, pouco explicitar suas premissas, deixando de defini-las de modo unívoco e sólido.[6] Por isso Lula em 2016 anuncia meio titubeante, após dizer estar mais a esquerda que outrora: “Eu sou um liberal… Eu sou um cidadão muito pragmático e muito realista entre aquilo que eu sonho e aquilo que é a política real”.
O que seria a política real? A política de se manter no poder, como descrevia Maquiavel? Comportar-se dessa maneira, é ser como os outros partidos, nos quais a mazela é a implacável tradição que, para o que o PT se propõe, seria a traição. Precisamos de um Lula trágico e não de uma farsa.
Para os fatos não serem uma farsa, é preciso que observemos as alianças que Lula fará. Seu histórico de se unir aos interesses empresariais é extremamente problemático. Aliás, foi o alicerce para o golpe da maneira que se deu em 2016.[7] Esse acordo interesseiro é sem dúvida um dos elementos que podem vir a compor a farsa. As bases de apoio devem ser as organizações operárias, os movimentos sociais, as ruas. O que, sem dúvida, desencadeará em uma série de conflitos, mas se a democracia (hoje muito desacreditada; vista mais como uma noção manipulada que algo efetivamente real) não for a voz do povo, vivemos sob o manto da política da ilusão, tendo como única solução prática e tangível o socialismo, isto é, a real democracia.
  
[1] BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: AMADO, J. & FERREIRA, M. M. (orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV. 1998.

(Fonte: Site Carta Maior)

terça-feira, 25 de julho de 2017

O DESMANCHE DA NAÇÃO


Desmanche da Infraero aumenta tarifas, expulsa pobres dos aeroportos e serve para arrecadação da campanha do PMDB em 2018

O golpe perpetrado por Michel Temer, Eliseu Padilha e Moreira Franco contra Dilma Rousseff terá impacto dramático num setor da economia essencial à integração nacional, com consequências de longo prazo que serão sentidas por milhões de brasileiros, denuncia Rangel Alves, diretor do c.
O debate sobre o assunto talvez tenha ficado submerso à esquerda porque a origem do desastre se deu no governo Dilma, que promoveu as primeiras grandes privatizações do setor — “concessões”, enfatizavam petistas à época: os aeroportos de Guarulhos, Campinas, Confins, Brasília e o Galeão, no Rio de Janeiro.
As chamadas “joias da coroa”, altamente lucrativas, foram entregues a grandes grupos econômicos, muitos dos quais ligados ao capital internacional, com a justificativa de que um Fundo Nacional da Aviação Civil receberia as receitas, destinadas à manutenção e expansão da malha aeroviária.
Seriam, nos planos do governo deposto, até 800 aeroportos regionais atendendo a cidades de 100 mil habitantes ou mais.
Com isso, justificou-se o desmanche da Infraero, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária, criada em 1973.
Para continuar lendo a matéria de Luiz Carlos Azenha, clique aqui.
(Fonte: Site Vi o Mundo)

quinta-feira, 20 de julho de 2017

REFORMA TRABALHISTA


"Contrato intermitente é a extensão do chamado boia-fria, do campo, para o meio urbano", diz diretor do DIEESE

O governo Temer e os empresários que apoiaram a reforma trabalhista garantem que a modalidade de contrato intermitente vai criar novos empregos e trazer vantagens ao trabalhador. Mas diversos especialistas discordam, e alegam que essa modalidade beneficia o empregador porque transfere todos os riscos para o empregado. "O contrato intermitente é a extensão do chamado boia-fria, do campo, para o meio urbano", afirma o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. 
Nesse tipo de contrato, o trabalhador fica à disposição da empresa, mas só trabalha quando é chamado e ganha pelas horas ou dias trabalhados, podendo prestar serviços para mais de um contratante. O empregador deverá convocar o trabalhador com três dias de antecedência e com um informe sobre a jornada a ser cumprida. O funcionário terá um dia útil para responder. Se aceitar e não comparecer, terá que pagar multa de 50% da remuneração a que teria direito.
Para ler a matéria do Brasil de Fato, na íntegra, clique aqui.

sábado, 15 de julho de 2017

GOLPES SOBRE GOLPES, SOBRE OS TRABALHADORES BRASILEIROS


Dilma diz à revista dos EUA que condenação de Lula é um movimento político



A presidente Dilma Rousseff, deposta pelo golpe de 2016, disse em entrevista à Associeted Press que a condenação do ex-presidente Lula tem o objetivo de afastá-lo das eleições do ano que vem.
Dilma lembra que os aliados de Michel Temer não têm um candidato em condições de vencer Lula. “As eleições de 2018 são um enigma. Eles não têm um candidato para competir contra Lula”, disse ao jornalista Mauricio Savarese, na entrevista publicada na revista US News and World Report.
A publicação lembra que Lula implementou uma política econômica que aproveitou o boom das commodieties que ajudou a tirar milhões de brasileiros da pobreza.
A revista observa ainda que Lula lidera as pesquisas eleitorais. Segundo Dilma, para tentar tirar Lula da disputa, eles utilizam a tática do lawfare, expressão que os americanos conhecem bem, que consiste em usar as leis para tentar destruir um adversário político, mesmo que não haja consistência na acusação. É um processo com aparência de legalidade, mas que não passa de um movimento político.
“Como eles não têm nenhum candidato para manter as medidas impopulares e a grande presença na cena é Lula, eles usam a tática do lawfare. Isso significa não ter em conta a sua defesa e nem mesmo produzir provas contra ele”, afirmou Dilma.
Para ler a entrevista, na íntegra, em inglês, clique aqui.
(Fonte: Site Diário do Centro do Mundo - DCM)

NACOS DA COTIDIANIDADE



Mal estar

Eugênio Magno


Assim que acordei, vi que ela estava meio acabrunhada. Durante quase toda a manhã ficou pelos cantos. Em alguns momentos eu a vi dormindo. Ou estaria apenas deitada? Não ousei perguntar. Ela não iria, nem poderia responder. Saí e não mais me preocupei com sua apatia. Aquela manhã reclamava muitos afazeres, compromissos e reuniões. Quando cheguei em casa para o almoço, já passava das 13:00 horas. Não a vi ao entrar. Contaram-me que ela ainda não havia almoçado. Enquanto aguardava a mesa ser servida alguém disse que ela não estava passando bem. Teria feito vômito, uma substância amarelada, pastosa, contendo alguns caroços que, olhando de perto, via-se que eram de arroz. Perdi o apetite e ela também. Nossa comida permaneceu intacta.

(Inédito)

segunda-feira, 10 de julho de 2017

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TRABALHO


OIT condena a reforma trabalhista de Temer



São Paulo – Em resposta a uma consulta feita por seis centrais sindicais – CSB, CTB, CUT, Força Sindical, Nova Central e UGT –, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou que o PLC 38, da reforma trabalhista, viola acordos e convenções internacionais estabelecidos pelo Brasil.
“A adoção de um projeto de lei que reforma a legislação trabalhista deveria ser precedida por consultas detalhadas com os interlocutores sociais do país”, afirma o documento da entidade. De acordo com a Convenção 154, ratificada pelo Brasil, “as medidas adotadas por autoridades públicas para estimular e fomentar o desenvolvimento da negociação coletiva devem ser objeto de consultas prévias e, quando possível, de acordos entre as autoridades públicas e as organizações de empregadores e trabalhadores”.
Para continuar lendo a matéria, clique aqui.

terça-feira, 4 de julho de 2017

TRAGÉDIA À BRASILEIRA




Como entender a aterradora falta de consciência dos corruptos?

Leonardo Boff


Como fica a consciência dos corruptos que roubam milhões dos cofres públicos ou os empresários que superfaturam por milhões de reais os projetos e pagam propinas milionárias para  agentes do Estado? Pior ainda: como fica a consciência daqueles perversos que desviam centenas de milhões de reais da saúde? E aqueles desumanos que falsificam remédios e condenam à morte aqueles que deles precisam? Sem esquecer os desvergonhados que roubam da boca dos escolares a merenda, sabendo que para inúmeros pobres representa a única refeição do dia? Muitos desses corruptos são apenas denunciados. E fica por isso mesmo, rindo à toa. Não raro são cristãos e católicos que por seus crimes continuam mantendo Cristo na cruz nos corpos dos crucificados deste mundo.
Para entender esta maldade temos que considerar realisticamente a condição humana: ela é simultaneamente dia-bólica e sim-bólica, compassiva e perversa. No linguajar concreto de Santo Agostinho, em cada um de nós há uma porção de Cristo, o homem novo, e uma porção de Adão, o homem velho. Depende do projeto de nossa liberdade dar mais espaço a um ou a outro. Assim pode surgir uma pessoa honesta, justa, amante da verdade e do bem. E pode crescer também uma pessoa maldosa, corrupta e distante de tudo o que é bom e justo.
Mas não precisava ser assim. No mais profundo de nós mesmos, não obstante a ambiguidade referida, vige uma primeira natureza  que se expressa por uma bondade fontal, por uma tendência para o justo e o verdadeiro. Quanto mais penetrarmos na nossa radicalidade, mais nos damos conta de que essa é a nossa essência verdadeira, a nossa natureza primeira. Mas sem sabermos como e porquê, ocorreu algo em nosso processo antropogênico – desafio permanente para os pensadores religiosos e os  filósofos de todas as tradições – que fez com que a nossa natureza primeira decaísse e se pervertesse. Immanuel Kant constatava que somos um lenho torto do qual não se consegue tirar uma táboa reta.
Criamos, em consequência, uma segunda natureza feita de maldades de todo tipo. Esta terminologia se encontra já em Santo Agostinho, em Santo Tomás de Aquino e posteriormente retomada por Pascal e por Hegel. Ela está presente em todas os povos e instituições e, num certo nível, em cada um de nós. Ela resulta da sequência continuada e uniforme de nossos maus hábitos, gerando uma verdeira cultura de distorções. É a cultura do negativo em nós. É o reino da corrupção que se naturalizou.
Personalizemos esta segunda natureza. Se alguém se habituou a mentir, a enganar a roubar, a corromper ativamene e a se deixar corromper passivamente, acaba criando em si esta segunda natureza. Rouba sem se dar conta de que esta sua prática é perversa e anti-ética porque prejudica os outros ou o bem comum. Pratica tudo isso sem culpa e sem remorsos, porque nele a corrupção virou natural, uma segunda natureza. Continuam caras-de-pau como se observa nos nossos corruptos que emagrecem, não pela má consciência que os corrói por dentro, mas pelas péssimas condições das prisões.
Além deste dado da condition humaine decadente, o sociólogo Jessé Souza no livro  a sair A elite do atraso: da escravidão à Lava-Jato nos fornece um dado de nossa própria história: a escravidão. Esta coisificava os escravos considerando-os “peças”, objeto de violência e de desprezo. ”Sua função era vender energia muscular, como animais”(J.Souza). Esse desprezo  foi transferido aos nordestinos, aos pobres em geral  e aos LGBT entre outros discriminados.
Nos tempos recentes, boa parte  dos endinheirados se sentiu ameaçada pela ascensão destes condenados da terra; começou a se irritar poque os via nos shoppings centers e nos aeroportos;  para eles bastava o ônibus e jamais o avião. Aqui já não se trata de corrupção financeira, mas de corrupção das mentes e dos corações, tornando as pessoas desumanas.
Finalmente, por uma mudança de rumo de nossa política ante os crimes de colarinho branco, os donos de grandes empresas e outros políticos que fizeram, em grande parte, suas fortunas pela corrupção, estão sentido o peso da justiça, o rigor das prisões e o escárnio publico. Estão atrás das grades, fato  é  inédito em nossa história.
O sofrimento sempre dá duras lições. Oxalá, pelos padecimentos, a primeira natureza, a consciência, venha à tona e se descubram reféns da segunda natureza decadente que eles mesmos criaram. Mudem de sentido de vida e devolvam o dinheiro roubado. E como teólogo digo: no momento supremo de suas vidas, enfrentarão, trêmulos, os rostos das vítimas que fizeram por causa de suas corrupções e que morreram antes do tempo, na verdade, foram por eles assassinadas. As fortunas não os salvarão. E então como ficarão?
(Fonte: Site Carta Maior)

sábado, 1 de julho de 2017

NÃO OUÇO MAIS O SOM DAS PANELAS... (???)


Temer ouve de Rodrigo Maia que tem 30, 
e não 50 votos na CCJ


Em reuniões com o presidente Michel Temer nesta semana, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu um panorama do clima na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para votar o pedido de denúncia contra o peemedebista e afirmou que a situação é bastante delicada. Segundo a jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, Maia avalia que a rejeição da denúncia é difícil e ainda não está garantida. Ao afirmar que conta com um placar favorável de 50 dos 67 votos da comissão, Temer ouviu de Maia que a conta era bem menos animadora: o Planalto conta hoje com cerca de 30 votos.
No PSDB, por exemplo, até então o principal aliado do governo e dono do comando de cinco ministérios, apenas um dos sete integrantes na CCJ admite votar com o presidente: o deputado Paulo Abi-Ackel (MG). “Quero ler a denúncia e fazer uma avaliação. Se for consistente, não tenho dificuldade de votar pela admissibilidade. Mas desconfio que ela não seja. Se for ilação, tô fora”, disse o deputado mineiro.
Três dos sete deputados tucanos que integram o colegiado disseram abertamente à reportagem da “Folha de S.Paulo” que votarão a favor da admissibilidade da denúncia: Betinho Gomes (PE), Fábio Sousa (GO) e Wherles Rocha (AC).
Além do PSDB, há defecções no centrão e até no PMDB, partido do presidente. O PSD, por exemplo, tem cinco deputados na CCJ e conta três votos a dois pró-Temer, com viés de baixa, segundo a coluna “Painel”, da “Folha de S.Paulo”.
Aliados informaram ao presidente que o cenário inspira cuidados principalmente devido à estratégia do procurador geral da República, Rodrigo Janot, de fatiar as denúncias. A manobra é vista como matadora para Temer. Na prática, admitem os aliados, a PGR conseguiu minar o capital político do peemedebista.
(Fonte: Jornal O Tempo, 1º de julho de 2017)