quarta-feira, 1 de maio de 2024

QUEM TRAIU OS APOSENTADOS ?

Os aposentados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) vivem inseguros e são constantemente traídos. 


(Foto: Marcelo Camargo - ABr/pragmatismo)


Aposentados brasileiros condenados a penúria

Eugênio Magno
Comunicólogo / Jornalista, Doutor em Educação e
Assessor do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara

O Trânsito em Julgado da “revisão da vida toda”, para citar um fato gravíssimo, ocorrido recentemente, quicou igual bola de pingue-pongue, de um ministro para outro, no Supremo Tribunal Federal (STF), pelo menos por uns três anos. Isso, depois de ter a aprovação do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que definiu por intermédio do tema 999 o entendimento de que “a ‘revisão da vida toda’ é plenamente possível e encontra respaldo legal e jurídico”, e determinou que todos os tribunais inferiores adotassem esse mesmo entendimento. O tema também havia sido aprovado pela suprema corte, no final de 2022. Mas agora, ao mudar de ministros, o mesmo STF mudou a decisão tomada anteriormente.

Se já era cruel assistir ao jogo calculado do supremo que parecia esperar pela morte de aposentados com direito a revisão e a prescrição de prazos legais para diminuir impactos econômicos e facilitar os interesses do INSS e suas constantes interposições de recursos ao processo, além de observar orientações do governo e do mercado, muito pior foi o desfecho.  A “revisão da vida toda” tomou sete raquetadas, para infortúnio de milhares de aposentados que alimentavam a esperança de uma pequena correção em seus rendimentos, um direito adquirido que foi covardemente derrubado por quem goza de grandes privilégios e são pagos pelos cidadãos.

Para continuar com a metáfora do pingue-pongue, a então ministra, Rosa Weber, fez que foi mas não foi. Deu um voto favorável, porém com restrições, saiu do jogo e deixou a bola quicando. Cristiano Zanim deu mais de um toque: levantou a bola nas alturas para ele mesmo cortar e deu a primeira raquetada contra os aposentados. Foi seguido por Flávio Dino, Dias Toffoli, Luiz Roberto Barroso, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Nunes Marques. Por outro lado (pasmem), o bolsonarista, “terrivelmente evangélico”, André Mendonça, destoou da orquestração neoliberal e foi favorável à revisão. Carmem Lúcia, Edson Fachin e Alexandre de Moraes mantiveram suas posições, se dignaram a defender a causa dos aposentados. Bastavam os dois votos dos ministros recentemente indicados por Lula, Zanim e Dino, e o placar teria sido de 6 X 5 para os aposentados. Mas não foi o que ocorreu. Governo, INSS e STF massacraram os aposentados por 7 X 4. A orientação governamental era outra e o fato é que um governo que tem presidente e partido de origem popular optou por sacrificar os que sempre lhe apoiaram para atender mais uma vez os endinheirados.

Ministros identificados pela mídia e pelos progressistas como governistas – um deles oriundo de partido comunista –, votaram contra quem deu o sangue e a vida trabalhando pelo país. Com a decisão da elite burocrática brasileira, aposentados perdem a possibilidade de terem suas aposentadorias ajustadas, um direito já assegurado e garantido, com vitórias no STJ e no próprio STF, onde aguardava apenas Trânsito em Julgado e na sequência, escalonamento e agenda de pagamento pelo INSS. Mas, a expectativa foi embora pelo ralo, para satisfazer mais uma vez às pressões do capital e aos ditames do establishment. Essa é mais uma das contradições incompreensíveis que o cidadão sente na pele, no bolso e na mesa. Tudo isso para sustentar a falácia de que a “revisão da vida toda” ameaçava a saúde financeira do país. Se a preocupação era com os cofres públicos, quem barrou o processo não levou em conta que o valor total do desembolso aos aposentados seria bem menor do que o custo anual do judiciário brasileiro que é quatro vezes mais caro do que a média dos orçamentos dos judiciários do mundo, inclusive os de países ricos como Estados Unidos e Inglaterra.

As desculpas injustificáveis, dadas pelos algozes dos aposentados variam de acordo com a pergunta e a conveniência do momento. Todas as pretensas explicações e, até mesmo os votos dos ministros da suprema corte têm sido refutados. Especialistas em previdência já afirmaram em diversas ocasiões que o maior gargalo é o da Previdência Pública. E não é segredo para ninguém que os maiores benefícios pagos são exatamente os do judiciário, executivo, legislativo, Forças Armadas e funcionalismo público federal, como um todo. Esse pessoal aposenta com o mesmo salário da ativa e em certos casos com alguns penduricalhos a mais. Sem contar os servidores públicos, inclusive juízes, que infringem a lei e ao serem afastados de seus cargos, em vez de serem punidos, são premiados com uma aposentadoria compulsória. Isto é, param de trabalhar e continuam a receber polpudas aposentadorias.

Desde o impeachment de Dilma Rousseff, com Michel Temer na presidência, que os limites entre os três poderes da república têm se mostrado extremamente porosos. Situação agravada no governo de Jair Bolsonaro e que perdura no atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Vivemos tempos difíceis e a nossa frágil democracia vem sendo constantemente ameaçada. Não há dúvida quanto a importância do atual governo para deter a sanha golpista, recuperar os estragos causados na estrutura do Estado, defender a democracia, as instituições republicanas e a autonomia de cada uma delas como contrapesos do sistema. No entanto, as próprias instituições deveriam se ater aos seus papéis constitucionais em todas e quaisquer circunstâncias, não somente quando a sobrevivência de seus integrantes enquanto funcionários públicos do alto escalão é ameaçada e suas reputações atacadas. Nesse episódio da “revisão da vida toda”, por exemplo, que penalizou os aposentados, o STF que deveria se concentrar apenas no aspecto legal, tomou uma decisão política e econômica. No entender dos aposentados, dos seus advogados e de juristas especializados na matéria, a decisão da suprema corte foi claramente política e econômica.

 O advogado, Altair Carlos da Silva Júnior, especializado em direito previdenciário, constata que, “uma vez mais, o STF que deveria decidir apenas considerando as questões jurídicas, é influenciado por questões políticas do país, visto que essa recente decisão favorece o governo federal que alegava um déficit de 478 bilhões de reais, em caso de decisão pela possibilidade da ‘revisão da vida toda’”. Ele destaca que “decisão semelhante já aconteceu há algum tempo, quando foi analisado e decidido contrariamente aos segurados, o tema da ‘desaposentação’”.

É praticamente unânime a opinião de autoridades no assunto de que o INSS supervalorizou o desembolso que teria de fazer se os pagamentos aos aposentados fossem autorizados. A Previdência chegou a falar em R$ 478 bilhões, quando juristas e peritos que acompanham o caso estimam que o valor não ultrapassaria R$ 3 bilhões. Há quem acredite que R$ 1,5 bilhões seriam suficientes, já que nem todos que entraram com o processo pedindo revisão teriam direito, assim como não foram todos os aposentados com direito à revisão que entraram com o processo até a data limite. Os cálculos de desembolso corrigidos, apresentados pelo INSS foram exageradamente inflacionados. O órgão alardeou que se a revisão da vida toda passasse, o país quebraria. Pura desfaçatez. Todo brasileiro com mínimo acesso à informação sabe muito bem onde está a ameaça: o que pode quebrar o Brasil são as mamatas de ocupantes do poder e os assaltos que os ricos promovem aos cofres públicos todos os dias com o beneplácito dos governos de plantão. Os aposentados, ao contrário, sustentaram o país como trabalhadores e continuam a sustentar como investidores e sócios lesados de uma previdência que sempre se negou a remunerá-los na proporção de seus investimentos (contribuições) ao longo de décadas, para garantir uma velhice digna. E agora, o INSS ao arquitetar o que já está sendo chamado de estelionato previdenciário condena os aposentados com direito a “revisão da vida toda” a penúria, privando-os de um ajuste mínimo para corrigir parte do prejuízo que vêm contabilizando como contribuintes de toda uma vida. 

Se tudo isso não bastasse, somado ao vazamento dos contatos dos segurados para o assédio de bancos, financeiras e escritórios de advocacia, o Instituto Nacional do Seguro Social foi flagrado nos últimos dias em mais uma das suas. Um relatório concluído por auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou a existência de “controles frágeis” dentro do INSS. Fragilidade essa que permite descontos indevidos em larga escala por associações, feitos de forma direta na folha de pagamento dos aposentados. 

É desconcertante constatar o quanto o eleitor e o cidadão são instrumentalizados nesse país. Vale tudo pelo poder e só o poder e o dinheiro interessam àqueles que deveriam nos representar, mas que representam apenas os seus próprios interesses. Câmara, senado e imprensa – tradicional e progressista – não se manifestaram contra o supremo quando seus ministros apoiaram a causa dos ricos ao votarem contra o direito dos aposentados. Entretanto, o parlamento agora critica o STF de judicializar a desoneração da folha de pagamento, como se no Brasil a judicialização da política e a politização da justiça não fosse prática corriqueira, atendendo interesses à direita e à esquerda. Comportando-se já há algum tempo como biruta de aeroporto, alguns órgãos da mídia progressista autoproclamada como bastião da ética e de jornalismo independente, equilibrado e de qualidade, adota o silêncio dos cúmplices no episódio dos aposentados, mas desanca o senado e defende intransigentemente o STF na pauta mais recente, e assim segue como assessoria de imprensa do governo.

O mais bizarro nessa história da “revisão da vida toda” é o seguinte: o ex-presidente, Jair Bolsonaro e seu ministro da economia, Paulo Guedes, que tanto fez para aprofundar as desigualdades e beneficiar as elites econômicas, também tentou desferir esse golpe contra os aposentados e não conseguiu, mesmo com dois ministros nomeados por ele no STF. Mas, por ironia do destino é justamente no governo Lula que a esperança de trabalhadores aposentados finda com sua obediência excessiva ao Banco Central e a Faria Lima. 

Como tudo nesse país é possível, a solução para os aposentados talvez seja a criação de um movimento que articule algo do tipo ação popular especial. O movimento reuniria aposentados com direito à “revisão da vida toda”, parlamentares, juristas, peritos e advogados especializados em previdência interessados na causa para requerer o saque total das contribuições dos aposentados, acrescido de juros, correção monetária e outros ganhos processuais por prejuízos financeiros, assédio moral em razão do uso indevido dos seus dados e por outras perdas. Afinal, é assim que todo e qualquer investidor age quando não está satisfeito com o retorno dos seus investimentos ou se sente lesado pelas operadoras. No caso dos especuladores da bolsa, esse tipo de atitude tem amparo legal e conta com as garantias do Banco Central. No que diz respeito as contribuições pagas à Previdência, por não ser investimento especulativo, mas garantia de sobrevivência dos idosos, a coisa é ainda mais grave e tanto o INSS quanto o Estado brasileiro não podem sair impunes desse jogo combinado contra os aposentados.

terça-feira, 16 de abril de 2024

INSS SÓ FERRA OS APOSENTADOS

 


Se não bastasse a orquestração para derrubar o direito dos aposentados às correções pela Revisão da Vida Toda e o repasse dos contatos dos segurados para o assédio de bancos, financeiras e escritórios de advocacia, o Instituto Nacional do Seguro Social é flagrado em mais uma irregularidade (ou seria ilegalidade mesmo?).


"TCU aponta 'descontos indevidos em larga escala' e pressiona INSS"

O Portal Metrópoles, de 16.04.2024, em matéria de Luiz Vassalo e Fábio Leite, informou que "Um relatório de inspeção concluído neste mês por auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou a “existência de controles frágeis” dentro do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que permitem “descontos indevidos em larga escala” feitos por associações diretamente na folha de pagamento dos aposentados."
Até onde vai tanto abuso e descaso para com quem trabalhou a vida inteira e quer o mínimo de dignidade na velhice?

(Fonte: Metrópoles)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

SEGREDOS DO ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL

 

(Capa do livro)


Envelhecer: os segredos para uma vida longa, feliz e plena de sentido

Em um lugarejo chamado Ogimi, na ilha de Okinawa, no Japão, existem muitos moradores que vivem mais de cem anos. Além de viverem mais têm muita vitalidade e disposição. Seu sangue apresenta baixo nível de radicais livres. A menopausa é mais suave. Homens e mulheres mantêm níveis elevados de hormônios sexuais até idades avançadas. O índice de demência é mais baixa do que a média da população mundial. 

No podcast mediações, Eugênio Magno dedica alguns episódios a uma leitura comentada do livro, “Ikigai: os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz", de Héctor Garcia e Francesc Miralles. Se você quer aprender os segredos para viver mais e com qualidade de vida, como os longevos hiper-anciãos de Ogimi, clique aqui e ouça o podcast.


domingo, 4 de fevereiro de 2024

CRIME DA VALE EM MARIANA OITO ANOS DEPOIS


Sem ninguém preso pelo rompimento até hoje, mineradora pede mais prazo em ação na Inglaterra.

Bento Rodrigues, Mariana (MG) após rompimento da barragem do Fundão - da VALE -  em 2015
(Foto: Rogério Alves / TV Senado)


Em Londres, Vale consegue prorrogar julgamento sobre crime de Mariana até 2025



Oito anos após o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), e com grande parte das famílias atingidas ainda sem receber indenização, a mineradora Vale pediu à Justiça da Inglaterra que o julgamento sobre a indenização às famílias e comunidades atingidas seja prorrogado por mais três semanas. A juíza responsável pelo caso atendeu ao pedido que, na prática, fará com que o julgamento da ação — prevista inicialmente para ser concluída neste ano — só termine em 2025.
Para ler a matéria completa de Mateus Coutinho para o Brasil de Fato, clique aqui.

(Fonte: Portal Brasil de Fato, Minas Gerais)

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

"PARALELOS DISTÓPICOS" NA CASA DO JORNALISTA

 

Nesta quarta-feira, 24 de janeiro de 2024, às 19 horas, na Casa Matriz, anexo da Casa do Jornalista, acontece o evento PARALELOS DISTÓPICOS, instalação participativa da multiartista brasileira radicada no Uruguai, Eliane Velozo, do Colectivo de Escritura Migrante @escrituramigrante, onde os presentes participarão de uma roda de conversas com apresentação de poesia e  música. 



Os primeiros trinta minutos do evento serão reservados a uma visitação individual da instalação, "O ruído e o tempo", de Eliane Velozo.
Na sequência, haverá uma roda de conversa mediada pela coordenadora do evento, Brenda Marques Pena, com os convidados: Cícero Christófaro, Eugênio Magno, José Antônio Vieira, Maria do Socorro Coelho, Rita Silva, Ronaldo Zenha e Tibério França.
Paralelos Distópicos trabalha a temática do tempo, baseando-se nas distopias que enfrentamos em nosso dia a dia, numa concepção de evento em que o público também poderá interagir.
A entrada é franca e o endereço é: Casa do Jornalista, Av. Álvares Cabral, nº 400, entrada pelos fundos (rua Espírito Santo), no espaço Casa Matriz.



sábado, 20 de janeiro de 2024

CHOQUE ELÉTRICO

A Cemig “compra” dos pobres, a preço irrisório, a energia que revende a todos, a peso de ouro. 


(Capas de Folders da Cemig distribuídos na reunião)

Transferência de Energia: de pobres Para ricos



Eugênio Magno*

Ao participar recentemente de uma reunião da Cemig com a Comunidade Quilombola de Pinhões, no município de Santa Luzia, Minas Gerais, foi possível testemunhar o lado obscuro das chamadas políticas sociais praticadas pelas grandes empresas.

O projeto Cemig nas Comunidades, incrementado em 2019 e anunciado com pompa e circunstância pela empresa, embora bem embalado, não consegue esconder seu lado perverso. É evidente que a jogada, uma espécie de Robim Hood às avessas, toma dos pobres para entregar aos ricos e vender novamente aos pobres a mercadoria reciclada, a terceira linha do produto. É a lógica de reprodução das desigualdades da forma mais matreira possível.

O staff mobilizado pela empresa para essa reunião, foi enorme. No início, havia mais representantes da empresa do que da própria comunidade. Ao final da reunião a empresa, inclusive, formou maioria porque grande parte dos integrantes da comunidade deixaram a quadra onde aconteceu o encontro por não suportarem a desfaçatez com que os tais programas e “benefícios” eram apresentados.

A malfadada reunião, depois de breve saudação de uma representante da comunidade, foi seguida pela apresentação pessoal de algo em torno de uma dúzia de funcionários e terceirizados da Cemig. Os trabalhos foram iniciados por uma agente do projeto com o tradicional “Bom dia”. Como o cumprimento foi respondido pela comunidade de forma quase monocórdica, a palestrante fez aquela tradicional provocação de animadores de auditório: “como é mesmo que se fala, pessoal? – Booom diiia!!!”, na expectativa de uma repetição efusiva da sua mesura, o que não ocorreu.

Numa atitude típica de quem lida com incautos a “animadora” discorreu sobre a necessidade de todos fazerem a sua parte para economizar energia. Usou daquele discurso que conhecemos e concordamos até o ponto em que a economia de eletricidade seja bom para o bolso do consumidor, para o bem do planeta e não para precarizar a vida da população, privatizar estatais e encher as burras de uma minoria de abastados exploradores do povo e das riquezas naturais do país. A coisa foi se tornando insuportável à medida que a didática da agente foi se encaminhando para seu verdadeiro propósito, uma pedagogia prescritiva e autoritária. Não faltaram recomendações de não deixar luzes acesas, tomar menos banho (claro que me lembrei do ex-presidente da república, rifado nas últimas eleições). A palestrante empolgou e falou que tomássemos cuidado com o ferro elétrico, com esse negócio de passar roupa e receitou: “a moda agora é andar amassadinho”. Depois veio a história de trocar lâmpadas tradicionais por lâmpadas de led, para economizar na conta de luz. O discurso é conhecido: “a Cemig vai trocar essas lâmpadas fluorescentes e incandescentes por lâmpadas de led, sem custos – até sete lâmpadas por residência. Boquilha sem lâmpada não tem direito a reposição e a lâmpada antiga será levada para ser reciclada”.

Realmente a substituição das lâmpadas e as orientações para sermos parcimoniosos na utilização da energia faz sentido, gera economia. Mas essa é só a metade da história. A outra metade é que a economia vai para o chamado mercado livre de energia e para os acionistas. Com a economia de energia contabilizada, a empresa passará a fornecer uma menor carga energética a essas microrregiões, e continuará entregando energia de péssima qualidade com manutenção deficitária nas localidades periféricas, para com isso garantir às indústrias, ao agronegócio e aos bairros nobres um fornecimento energético de excelência.

Embora nunca tenha me prestado a serviços comunicacionais de natureza tão vil, senti uma pontinha de constrangimento ao ver o produto final de um trabalho de comunicação e relações públicas, diga-se de passagem, muito bem elaborado, “comprado” pelo pessoal da casa como verdade absoluta e “vendido” para a população sob a aura de bênçãos do alto, com o beneplácito da diretoria da associação que representa a comunidade. E essa é a pior parte. Das megaempresas e do capital, nada podemos esperar. No entanto, passividade e até mesmo leniência dos nossos pares com seus usurpadores traz muita indignação.

Já é a segunda vez que a empresa visita a comunidade com o mesmo propósito: fazer catequese sobre economia de energia, incentivar a troca de lâmpadas e o cadastro para a tarifa social. Acontece que a comunidade tem muitas outras demandas, mais graves e urgentes. A microrregião sofre com variações constantes de tensão na rede e picos de energia diários, independentemente das condições climáticas. Quando ocorre qualquer pane residencial ou acidente na rede elétrica pública, a manutenção é extremamente morosa, pois falta logística. Segundo os trabalhadores – terceirizados (vale frisar) –, a base do plantão fica em outra cidade, cuja localização é diametralmente oposta a Santa Luzia. Se tudo isso não bastasse, pelo menos duas vezes por mês falta energia por cinco, seis horas seguidas. Ao longo do ano acontecem muitas interrupções prolongadas de energia. Algumas duram até 24 horas. E energia é a base de tudo. Se falta energia, falta luz, falta água; fica-se sem telefone e internet. Sem contar que queima equipamentos, estraga alimentos e impede os moradores de trabalhar. Além dos inúmeros transtornos, a baixa qualidade da energia fornecida causa também grandes prejuízos financeiros que nunca são ressarcidos.

Será essa é a Eficiência Energética que a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), órgão criado com a finalidade de regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia, quer para o Brasil?

O livro “Power Play”, que trata da luta pelo controle da eletricidade do mundo, da ambientalista australiana, Sharon Beder, denuncia o jogo orquestrado pelas companhias de eletricidade em todo o mundo, inundando escolas e comunidades com livros didáticos e presentinhos para conquistar simpatia. A obra de Beder é uma referência para quem deseja aprofundar e compreender melhor essa questão.

E por falar em livro, o coordenador do projeto da Cemig na região carregava debaixo do braço um livro grosso durante toda a reunião. Disse que o livro contava a história dessa e de outras comunidades, bairros, aglomerados e favelas de Minas Gerais. Pelo que entrevi era um livro grande (pelo menos 21 X 30 cm), de capa dura, colorido, e o miolo parecia ser de papel couché. Ora, a Cemig não é editora, nem instituição de ensino. Então, qual é o verdadeiro interesse da companhia em contar histórias de comunidades? Não sei que fim teve o bendito livro: se foi dado de presente a quem estendeu o tapete vermelho para a empresa ou se voltaram com ele para exibi-lo em outras pregações.

A estratégia dessas grandes organizações é pavimentar a estrada para retirar o controle da eletricidade das mãos do Estado e submeter a população ao vale tudo do mercado e aos interesses meramente lucrativos dos acionistas, jogadores profissionais, sempre à caça do mais novo cassino para fazer suas apostas. E a ironia é que no Brasil privatiza-se empresas estatais para grupos que em seus países de origem são controlados por governos, ou seja, são estatais. Veja o caso da Enel. Basta entrar no Google e digitar: <enel é uma empresa>... que vai aparecer lá pra você: “A Enel é uma empresa com parte do controle estatal. Seu maior acionista é o Ministério de Economia e Finança da Itália. É a maior empresa da Europa em valor de mercado e está presente em 35 países. Seu faturamento em todo o ano passado foi de € 74,6 bilhões”, o equivalente a 399,8 bilhões de reais.

No território brasileiro, a tal da Enel Brasil, que de brasileira não tem nada, já domina os mercados de energia dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.

Em Minas Gerais o governador, Romeu Zema, quer seguir a mesma trilha de outros estados e privatizar de vez a Cemig, ainda com 51% de ações do Estado, mas que apesar do controle acionário estatal vem operando como se fosse empresa privada.

Vamos colocar as barbas de molho. Se perdermos o controle acionário, o que já é ruim pode ficar muito pior. Será o caos, como o que a Enel deixou acontecer recentemente em São Paulo. A maior cidade do país e uma das maiores do mundo ficou no escuro e sem energia por quase três dias.

É bom lembrar que, antes da Cemig, quem fornecia energia em Minas Gerais eram empresas privadas. Foi Juscelino Kubitschek de Oliveira, quando governador do nosso estado quem criou a Cemig, em 1952, denominada em seu nascimento de Centrais Elétricas de Minas Gerais. Os primeiros trâmites para sua viabilização foram realizados pelo seu Secretário de Viação e Obras Públicas, José Esteves Rodrigues.

Conheci José Esteves de perto. Era casado com a minha prima, Ana (Nenzinha) Lopes Esteves. Imagino que ele deve estar se revirando em seu túmulo, como certamente revira também JK, juntamente com a primeira diretoria da Cemig, Lucas Lopes, Pedro Laborne Tavares, John Reginald Cotrim, Mario Penna Bhering e Mauro Thibau, por conta do desmantelo que fazem dessa empresa que tanto orgulho deu aos mineiros.

 * Eugênio Magno é Jornalista e Radialista Profissional. Doutor em Educação. Autor de vários textos publicados em livros, jornais, revistas e portais. Assessor do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP-DF). Produtor e apresentador do podcast Mediações e Editor deste blog. 


terça-feira, 16 de janeiro de 2024

A FILOSOFIA JAPONESA CHAMADA IKIGAI

 # 0015 - IKIGAI: Oncotô


Se você não conhece a filosofia japonesa chamada Ikigai, poderá conhecê-la no episódio #0015 - IKIGAI: ONCOTÔ, do podcast Mediações.
Conhecedores ou não dessa filosofia, interessados em encontrar um sentido maior para a vida, serão brindados nessa edição de Mediações com um passo a passo facílimo de seguir para iniciar a jornada em busca do seu Ikigai.
Para ouvir o episódio, clique aqui.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

LEWANDOWSKI É O NOVO MINISTRO DA JUSTIÇA

 

(Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF)


O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, informou ontem, após reunião com o presidente Lula, no Palácio da Alvorada, que assumirá a pasta da justiça.
Avisou aos aliados: "Estou indo para uma nova missão".
Lewandowski substitui Flávio Dino que vai para o STF.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O TREM NÃO É TÃO BÃO QUANTO QUEREM QUE PAREÇA SER

 

(Imagem: Site Uol Notícias)


Balanço do primeiro ano 

do terceiro Governo Lula

O primeiro ano de um governo – qualquer governo –, é um período de créditos e crendices. Dá-se crédito para que o novo governante tome pé da situação, estruture a governança, trace a rota, abasteça a máquina e coloque o trem para andar na direção traçada e esperada. A população põe fé, acredita. Cruza os dedos, cada um reza para o seu santo e aguarda a partida. No nosso caso, a arrancada foi tumultuada, lenta e obstaculizada.
Embora muitos tenham ficado na plataforma e outros nem tenham chegado à estação, o trem partiu, apinhado de gente e com uma parte da tripulação nada confiável. A paisagem não era e continua não sendo das mais agradáveis de se ver. São muitos túneis e precipícios. E o trem parece se mover em slow motion.
O economista que exerceu a função de porta-voz da presidência da república no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, André Singer, professor titular do Departamento de Ciência Política da USP e autor do livro, O lulismo em crise e Fernando Rugistsky, professor de economia da University of the West of England, em Bristol, onde também é codiretor de pesquisa em economia, fizeram um balanço do primeiro ano do Governo Lula, no site A Terra é Redonda.

Eles analisam a situação por dentro e assim também procedo na leitura do artigo e dessa nossa realidade sofrível. Abaixo, um breve trecho do artigo, escrito por dois progressistas (reitero), setor com o qual também estou alinhado, que nos ajuda a compreender a situação:


Após ter vencido à frente de um heterogêneo ajuntamento de salvação democrática, o presidente decidiu entoar a melodia lulista clássica: fazer, no atacado, concessões à burguesia e, no varejo, buscar as brechas por meio das quais consiga beneficiar, em alguma medida, os segmentos populares. Só que o tema vem se desenvolvendo em andamento lentíssimo, tornando duvidosos os movimentos previstos para os períodos eleitorais de 2024 e 2026.*

Nunca é demais lembrar que, apesar de uma breve descontinuidade medonha, este é o terceiro mandato de Lula e lá se vão 15 anos de PT no comando do país. Portanto, falta de experiência política não é. Será que nada foi apreendido ou teremos que “esperar momento mais propício”, mais uma eleição geral para elegermos um parlamento comprometido com as urgentes reformas pelas quais o país grita? Como dizia o doutor Ulysses Guimarães, “se acham esse parlamento ruim, espere para ver o próximo”.
No primeiro mandato de Lula não era tão diferente. Lembram do mensalão? Pois é, ele vem de anos, com nomes diferentes.
Se Lula em 1993 denunciou o toma lá dá cá do congresso que virou até música dos Paralamas do Sucesso – “Luíz Inácio (300 picaretas)”, do LP Vamo batê lata / 1995  –, a maracutaia já era braba imagine agora com 513 e entre eles representantes de milicos e milícias, tráfico, setor financeiro, fisiologismos, populismos e bancadas do boi, da bala e da bíblia?
Em 2024 o governo necessita de apoio irrestrito da população, mas também de muitas críticas, cobranças e povo na rua.

* Clique aqui e leia também a íntegra do artigo de André Singer e Fernando Rugistsky para entender as estratégias que estão sendo adotadas pelo governo.