terça-feira, 26 de julho de 2011

A HISTÓRIA DAS MULHERES E A HISTÓRIA DA TERRA


A história das mulheres

Dib Curi


Uma das grandes discussões da atualidade é sobre o papel da mulher na sociedade. E suas lutas atuais são em relação a violência doméstica e aos salários menores em relação aos homens.
Mas existe uma outra questão importante que é a submissão das mulheres aos valores masculinos. A economia capitalista quer transformar a mulher num objeto de consumo e as nossas jovens tem aceitado esta corrupção passivamente.
Os atuais modelos ideais de mulheres são belas e sensuais, mas muitas vezes, ocas na sua falta de sentido de vida; bonecas barbie eróticas para a manipulação do mundo masculino.
Os movimentos feministas elegeram o oito de março como Dia Internacional da Mulher. A data foi escolhida porque neste dia, em 1857, operárias de uma fábrica de Nova Iorque fizeram uma greve por melhores condições; redução na carga horária, equiparação salarial e melhor tratamento. Foram trancadas na fábrica e incendiadas. 130 tecelãs morreram.
Contudo, a parte mais bonita da história das mulheres começou no período Neolítico, cerca de 12 mil anos atrás. Antes disto, vivíamos no período Paleolítico, um período pré-histórico, com 2,5 milhões de anos, quando nossos ancestrais produziram os primeiros artefatos em pedra. No Paleolítico, a primazia era dos homens caçadores e as mulheres apenas cuidavam de suas constantes e numerosas crias. Estávamos, então, no final da Era Glacial.
A partir de 10.000 a.C, a humanidade entraria no período Neolítico. Um grande degelo ocorreu na Terra e aumentou as terras para cultivo. Então, nos fixamos mais na terra, que era cultivada tanto por homens quanto por mulheres.
Enquanto no Paleolítico nosso sentimento religioso se voltava para os animais pois estes garantiam nossa sobrevivência, no Neolítico passou a valer o simbolismo da semente que alimentava os humanos a partir do “útero” da Mãe Terra.
Assim, a energia feminina chegaria ao explendor de seus dias na Terra. Deusas da fertilidade e do amor comandavam o mundo. Haviam, nesta época, cem templos de Afrodite (ou deusa do Amor) para apenas um templo de Ares, o deus da guerra. A primazia da mulher levou o Amor ao centro da Vida.
Conforme o tempo foi passando, a mulher, por gerar a vida, foi comparada à Terra e adquiriu um poder criativo e encantatório. Este poder sinuoso do sensível e do intuitivo feminino passou a governar o mundo através das sementes depositadas na terra e do poder da lua e das águas, que davam fertilidade às plantações. Afrodite nasceu das águas, assim como Yemanjá e também Iara, a mãe das águas. Neste tempo, grandes deusas governaram a Terra: Parvati, Ishtar, Frêya, Réia, Hera, Demeter, Artemis e Athena, transformadas nas Juno, Ceres, Diana, Vênus e Minerva romanas.
A classe sacerdotal era composta por mulheres, uma vez que só elas possuiam o poder invocatório das forças telúricas e celestes, a hierofania. A primeira sacerdotiza da Grécia, que atendia no templo de Delphos, foi a lendária pitonisa “Fonema”. Hoje, a palavra fonema se trata dos sons que fazem sentido para nós, na linguagem. Da sacerdotiza é que emanava o Verbo (Logos), significado da Vida.
Três dos mais significativos mitos da antiguidade eram estrelados por mulheres: a deusa egípcia Isis, a heroína Antígona e Medéia, a mãe que matou os filhos para não se tornarem escravos.
Alguns séculos antes de Sócrates, os homens retomariam o poder no mundo. A civilização judaica, origem do exagero machista, escondeu que o deus Yavéh (Jeová) tinha uma mulher, Asherah, representada por uma árvore. O judaismo, na sede de dominar o poder criativo feminino, colocou Eva numa posição inferior a de Adão, nascida da costela do mesmo. As virtudes femininas só seriam parcialmente resgatadas através do coração límpido de Maria.
Contudo, com o domínio masculino tudo se inverteria. Passaram a haver 700 templos para o deus da guerra (Marte) para apenas um templo para a deusa do Amor (Vênus). A energia masculina negaria o Amor presente nas coisas.
A verdade é que o jeito dos homens é muito diferente das mulheres porque é baseado na competitividade, na agressividade e no domínio do território e da própria mulher. Os machos do mundo humano continuam mijando nos cantos da realidade para marcarem suas posses. Assim, o mundo permanece em tensão constante. Necessitamos do retorno do poder sinuoso, sensível e solidário das mulheres. As mulheres são mais flexíveis e adaptáveis. Em geral, são mais resistentes a dor da alma, mais afetuosas e justas. É bom lembrar que a deusa da Justiça era mulher; Temis, descendente direta da Grande Mãe Gaia.
Desde a antiguidade que as mulheres protestam contra o machismo dominante. É da época de Sócrates o famoso episódio dos Hermocópitas, onde as mulheres de Atenas deceparam, em uma só noite, o pênis de milhares de estátuas de Hermes, causando confusão na Acrópole. O próprio filósofo Platão jamais excluiu as mulheres da política e criticava muito os gregos por fazê-lo. Mais tarde, muitas mulheres provaram sua grande capacidade na política, entre elas, Elisabeth I, da Inglaterra.
Depois do assassinato da cientista Hipácia, no Sec IV, em Alexandria, vítima do bispo Cirilo, o poder masculino religioso mandou matar, nas fogueiras da Idade Média, milhares de mulheres curandeiras, acusando-as de bruxas, simplesmente, porque ninguém procurava os padres, mas preferiam consultar as doces e intuitivas senhoras xamãs. Estas mulheres resistem ainda hoje na figura das vovós dos centros de Umbanda.
A história das mulheres se confunde com a própria história da Terra, a grande mãe Gaia, nossa Pachamama. A defesa da paz e dos ecossistemas coincide com a luta das mulheres pela justiça e para reequilibrar o poder no mundo. Que todas as mulheres possam despertar do seu sono secular para reencontrarem toda a sua dignidade, sua fertilidade e o poder criativo do seu amor.


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