Lula, o filme e o cinema
Eugênio Magno
Lula, o filho do Brasil, já mereceu muitos comentários. A grande maioria, pré – conceituosos, na acepção da palavra. Foi um tal de “não vi e não gostei” que esvaziou as salas de exibição. Coisa das elites. Críticas levianas de quem sequer viu o filme e não permitiu que o público fizesse o seu próprio julgamento. A imprensa especializada, com desonrosas exceções, foi mais cautelosa e não entrou na onda.
Os arautos do caos erraram feio. Usaram mísseis para matar pernilongo. O filme não era nada do que se esperava. Aplaudido timidamente por Lulistas e Petistas roxos e, criticado de forma veemente pelos desafetos do presidente, Lula, o filho do Brasil foi acusado antecipadamente de propagandista. Diziam que o filme era inspirado nas estratégias do ministro da propaganda do Terceiro Haich, Joseph Goebbels, com planos ao estilo de Leni Riefenstahl, etc. Mas a fita, taxada de “oportunista, lançada em ano eleitoral, que provocaria grande comoção nacional...”, não passa de uma produção mediana da família Barreto. O que sobrou em cuidados com a blindagem do personagem Lula, faltou em ousadia inventiva e arrojo de linguagem. Fora alguns equívocos na escolha do elenco. Cléo Pires, por exemplo, cumpre bem seu papel de atriz, interpretando a primeira esposa de Lula. Vê-la é sempre muito agradável, mas a personagem que interpreta não precisava de um rosto tão marcado. Da mesma forma que, desconhecida do grande público, a mãe de Luiz Inácio, dona Lindu, não carecia da conhecidíssima Glória Pires para ser apresentada ao povo brasileiro. O elenco de apoio foi bem escalado e o ator Rui Ricardo Dias, que podia facilmente ter se resvalado para o clichê, encarnou muito bem a figura do líder sindical. Sua interpretação, aliás, é um dos pontos altos do filme.
Lula, o filho do Brasil seria mais um filminho medíocre, se não fosse tão correto tecnicamente, fato justificável pela experiência dos realizadores, pelo seu custo de produção e, claro, por contar a bela história de Lula. A saga de um nordestino que tinha tudo para dar errado na vida, mas que, contrariando a lógica burguesa, virou presidente do Brasil, é o chefe de Estado mais popular do mundo e foi escolhido “homem do ano”, pelo jornal francês Le Monde.
Muito mais do que o filme, o que me interessa nessa polêmica é o cinema. Oportunista ou não, nenhum presidente brasileiro pensou o cinema de forma estratégica. Lula o pensou ou pensaram com e/ou para ele, não importa. Especialmente para o setor cinematográfico, o mais importante é a inserção do cinema como política cultural de Estado. E, olhando sob esse ponto de vista, lamento que o filme não tenha sido o que alardearam seus detratores. Ainda assim, pelo filme e, pela quantidade – nunca vista – de editais para o setor audiovisual no Brasil democrático, o atual governo se inscreve na história como um divisor de águas para a sétima arte nacional. Depois de Lula, presidente nenhum desse país, vai poder ignorar o cinema brasileiro.
Os arautos do caos erraram feio. Usaram mísseis para matar pernilongo. O filme não era nada do que se esperava. Aplaudido timidamente por Lulistas e Petistas roxos e, criticado de forma veemente pelos desafetos do presidente, Lula, o filho do Brasil foi acusado antecipadamente de propagandista. Diziam que o filme era inspirado nas estratégias do ministro da propaganda do Terceiro Haich, Joseph Goebbels, com planos ao estilo de Leni Riefenstahl, etc. Mas a fita, taxada de “oportunista, lançada em ano eleitoral, que provocaria grande comoção nacional...”, não passa de uma produção mediana da família Barreto. O que sobrou em cuidados com a blindagem do personagem Lula, faltou em ousadia inventiva e arrojo de linguagem. Fora alguns equívocos na escolha do elenco. Cléo Pires, por exemplo, cumpre bem seu papel de atriz, interpretando a primeira esposa de Lula. Vê-la é sempre muito agradável, mas a personagem que interpreta não precisava de um rosto tão marcado. Da mesma forma que, desconhecida do grande público, a mãe de Luiz Inácio, dona Lindu, não carecia da conhecidíssima Glória Pires para ser apresentada ao povo brasileiro. O elenco de apoio foi bem escalado e o ator Rui Ricardo Dias, que podia facilmente ter se resvalado para o clichê, encarnou muito bem a figura do líder sindical. Sua interpretação, aliás, é um dos pontos altos do filme.
Lula, o filho do Brasil seria mais um filminho medíocre, se não fosse tão correto tecnicamente, fato justificável pela experiência dos realizadores, pelo seu custo de produção e, claro, por contar a bela história de Lula. A saga de um nordestino que tinha tudo para dar errado na vida, mas que, contrariando a lógica burguesa, virou presidente do Brasil, é o chefe de Estado mais popular do mundo e foi escolhido “homem do ano”, pelo jornal francês Le Monde.
Muito mais do que o filme, o que me interessa nessa polêmica é o cinema. Oportunista ou não, nenhum presidente brasileiro pensou o cinema de forma estratégica. Lula o pensou ou pensaram com e/ou para ele, não importa. Especialmente para o setor cinematográfico, o mais importante é a inserção do cinema como política cultural de Estado. E, olhando sob esse ponto de vista, lamento que o filme não tenha sido o que alardearam seus detratores. Ainda assim, pelo filme e, pela quantidade – nunca vista – de editais para o setor audiovisual no Brasil democrático, o atual governo se inscreve na história como um divisor de águas para a sétima arte nacional. Depois de Lula, presidente nenhum desse país, vai poder ignorar o cinema brasileiro.
Este artigo também foi publicado nas versões impressa e online dos jornais O Norte de Minas, de 19.01.10 e O Tempo, de 23.01.10. Para conferí-lo nesses veículos é só clicar nos seus respectivos links.
Meu caro e bom amigo Eugênio. Do seu artigo, só concordo com o diagnóstico de que o filme é lamentavelmente ruim. Quanto à crítica "burguesa", não vejo nada de burguês em descortinar para o leitor as possíveis implicações políticas desta fita. Ao contrário, trata-se de explicitar a mega-operação governamental de promoção do filme, que recebeu dinheiro coincidentemente das empresas do PAC. Trata-se de alertar sobre os efeitos danosos da incursão do governo na produção cinematográfica de outros tempos. A Lula, o filho do Brasil, que repete a estrutura narrativa de Os filhos de Francisco, prefiro Eles não usam black-tie, do León Hirzman. E, bem, não é nenhum burguês aqui está falando, mas um morador das periferias de Belo Horizonte, desempregado e alguém que trabalhou bastante para entidades sindicais. Não sei porque essa blindagem em relação ao Lula, nos sindicatos: o Lula, mesmo com o inegável carisma, é um continuador de FHC, um neoliberal. O sindicalismo não tem nada a lhe dever, pelo contrário. Um abração.
ResponderExcluirOla Eugênio,
ResponderExcluirAinda não vi o filme.
Mas continuo com a minha crítica sobre o grande oportunismo do momento de lançamento do filme. Só fazendo vista grossa é possível dizer que não é explicitamente uma propaganda eleitoral pesada, paga por grandes empresas que tem contratos com o atual governo. O pêndulo da História continua em movimento, e essa comparação com técnicas de propaganda conhecidas do passado não é de todo infundada.
Um abraço,
André Baptista
APARECIDA disse...
ResponderExcluirEugênio,
Seu blog está ótimo!
Só não concordo sobre o filme. Achei "Lula, o filho do Brasil" emocionante, principalmente aquela hora da assembléia, sem microfone... a criatividade de Lula (já latente) inventou de uma fileira ir virando pra trás e ir falando para os demais... e no cemitério quando vai ao enterro da mãe e os operários gritam pela soltura dele ou greve? E conseguem!
Quanto a Gloria Pires ninguém melhor pra interpretar d. Lindu. Ela poderia estar mais simples, o cabelo, etc. Mas ela é perfeita.
Emocionei-me com ela.
Quanto às suas notícias, do Lula, nos jornais internacionais... Fantástico!
Se esperarmos por essa mídia preconceituosa ....
Grata,
Maria Aparecida Mendonça Leite.
Paulo, André e Aparecida,
ResponderExcluirAchei ótimos os comentários.
Concordo com vários dos pontos de vista que defenderam. Sei quem são vocês e respeito-os.
Mas sei também quem são os canalhas que achincalham tudo e todos os que não possuem o mesmo cartão crédito ou a mesma filiação partidária que eles. E aí incluo as várias tendências político-partidárias que debatem o filme.
É muito difícil querer falar, com um pouco que seja de isenção, especialmente, no caso de "Lula, o filho do Brasil". O filme ficou contaminado pela política e a política contaminada pelo filme.
Continuo achando o filme ruim, assim como estou convicto de que críticas levianas atrapalharam a carreira do filme e que, embora oportunista, o filme não é nada do que disseram.
E digo mais: Lula perdeu mais do que ganhou com esse filme que não acrescenta nada à filmografia brasileira em termos estéticos. Mas também não posso deixar de valorizar a importância de Lula para o cinema e o audiovisual brasileiro, até mesmo com a realização desse filme que, na pior das hipóteses, provou que ele acredita na importância do cinema.
Abração,
Eugênio
Quero parabenizar ao mestre Eugênio Magno pela coluna no jornal de 23/01/2010, no jornal O Tempo, comentando filme sobre Lula.
ResponderExcluirTenho 59 anos e não adotei nenhum partido político, sempre voto no candidato e estou isento para manifestar minha opinião, que é a mesma do colunista.
Realmente nosso País está cheio de falsos moralistas, incluindo os partidos da oposição ao governo e alguns jornalistas, principalmente paulistas, em sua maioria, preconceituosos.
Não vi o filme ainda, mas faço questão de assistir. Ou será que temos que valorizar somente filmes importados?
Abraços,
Ademir Avelar de Carvalho
Ademir,
ResponderExcluirFico feliz com sua manifestação. Especialmente por ter compreendido o que eu disse de forma menos apaixonada, como procurei ser também ao analisar o filme.
Obrigado,
Eugênio Magno.