Sermão da Montanha
(uma das mais importantes chaves para compreender o cristianismo e viver o Cristo)
A leitura do Sermão da Montanha - SM (Mt, 5) provoca alguns questionamentos, como, por exemplo, para quem o sermão é dirigido? Aos discípulos ou às multidões? As suas exigências são verdadeiramente viáveis para crentes e não crentes? Essas perguntas levam a outra: Como devemos nos colocar diante de tal discurso proferido por Jesus? Para o exegeta francês Elian Cuvillier, essas questões estão “inter-relacionadas” e podem ser respondidas no conjunto doSermão da Montanha, que “se dirige justamente a todos. Visa fazer surgir um sujeito: um ‘vós’ constituído por uma multiplicidade de ‘eu’ que o Pai conhece ‘em segredo’, cada uma e cada um singularmente. Esses sujeitos não têm ilusões sobre eles mesmos e suas capacidades (sabem que são potencialmente maus como o resto dos homens), mas sabem também que essa palavra ouvida e recebida os coloca em tensão com o mundo. Que essa palavra excede tudo o que creem saber de sua relação com os outros, que ela anula todos os particularismos, as divisões habituais, as distinções discriminantes”.
Autor de Le Sermon sur la Montagne. Vivre la confiance et la gratuité [O Sermão da Montanha. Viver a confiança e a gratuidade], Cuvillier afirma que para ele, o Sermão da Montanha “ressoa como um convite a viver neste mundo sob a luz da Boa Nova de Jesus Cristo que é confiança e gratuidade: confiança em um Deus que vem ao meu encontro e que, em troca desta confiança, não me pede mais nada. Pois, o que o SM nos ensina é que o Evangelho não é uma moral (tu deves fazer isto ou aquilo para obter isto ou aquilo — lógica da troca e da retribuição), mas a proclamação de uma Palavra que vem abrir para uma nova compreensão de Deus, de nós mesmos e dos outros”.Em entrevista, concedida à IHU On-Line, o exegeta ressalta que a Palavra que Jesus pronuncia no Sermão “é verdadeiramente Palavra de alteridade no que ela anuncia de inédito, um inédito que não se confunde totalmente com o que o Jesus terrestre dá a conhecer dele no decorrer de seu ministério na Galileia. O SM antecipa o que se realizará plenamente na Paixão de Jesus. A recusa de erguer a espada, na hora de sua prisão, destaca que prefere o agir da Palavra ao das armas. A morte na cruz é o lugar em que Jesus realiza, ao extremo de sua lógica, a palavra inédita do SM. No Calvário, Jesus é revelado verdadeiramente como o ‘Filho de Deus’ que rompe a lógica da violência e oferece um lugar onde descobrir o novo rosto de seu Pai, como o SM anunciava”, explica.
Elian Cuvillier pontua ainda que “as noções de ‘confiança’ e de ‘gratuidade’” presentes no Sermão da Montanha são “utilizadas com um sentido teológico e bíblico específico: o termo confiança equivale, para mim, à palavra grega pistis, que é traduzida, na maioria das vezes, em nossas Bíblias, pelo termo ‘fé’. Gosto de definir a fé em Cristo como a ‘confiança na confiança de um outro’. Quanto à gratuidade, ela equivale à noção de ‘misericórdia’ que se encontra no Novo Testamento, em que ela expressa a bondade originária de Deus para conosco”, conclui.
Elian Cuvillier defendeu sua tese de doutorado sobre Novo Testamento na Faculdade Teológica Protestante de Montpellier, em 1991, onde foi nomeado professor. Em 1999, obteve a Livre Docência na Faculdade Teológica Protestante de Estrasburgo. Desde então, é professor de Novo Testamento em Montpellier.
Para ler a entrevista com o exegeta, na íntegra, clique aqui.
(Fonte: Site do Instituto Humanitas Unisinos - IHU)
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