domingo, 16 de janeiro de 2011

A INICIATIVA PRIVADA VAI RECONSTRUIR LOCALIDADES DEVASTADAS POR FENÔMENOS NATURAIS?

A era da incerteza climática é incompatível com o Estado mínimo

"Alertas sobre 'eventos climáticos extremos que tendem a se repetir com assiduidade desesperadora' por conta do aquecimento global e da desordem ambiental ganharam peso e medida à porta de nossa casa. Não são mais alertas, mas fatos incontroláveis: enxurradas que carregam casas inteiras; lama que sepulta centenas de vidas; enchentes avassaladoras. Morte, consternação, abandono. É intolerável que a mídia demotucana imponha sua visão reducionista do problema, como se fora mera questão 'administrativa', para encobrir grandes escolhas históricas que estão em jogo. O fato é que ingressamos num período de turbulência climática pior que a turbulencia economica gerada pela supremacia das finanças desreguladas nas últimas décadas. Na esfera econômica, as promessas neoliberais de um futuro reluzente desembocaram na pior crise mundial do capitalismo desde 1929. A ensandecida lógica que a gerou preconiza na 'cura' uma poção adicional do veneno: mais cortes de gastos e arrocho social para aliviar os fundos públicos e destinar recursos ao pagamento de juros aos rentistas. Há vínculos incontornáveis entre a mazorca finaceira que asfixia povos e nações e a desordem climática que mata 540 pessoas em apenas uma noite de chuva bruta; ou entre os editoriais elegantes que pedem 'ajuste fiscal' e o desconcertante vácuo de governo que faz uma empresa como a Sabesp, em SP, abrir as comportas de uma represa sem alertar e remover populações residentes no caminho das águas, como aconteceu em Franco da Rocha (SP). Diante da entropia financeira e da era de incerteza climática extrema, a sobrevivência da sociedade depende crucialmente de políticas públicas corajosas e inovadoras, só viáveis no escopo de um Estado forte e democrático, diretamente aberto à participação da sociedade para que possa atender ao conjunto dos interesses d e uma cidadania cada vez mais espremida em encostas de risco financeiro, social e ambiental. A agenda do Estado mínimo e dos eternos cortes de gastos, seguidos de mitigações ordinárias após as tragédias, não representa mais apenas o biombo da ganancia endinheirada. Representa um aboio sombrio dos que insistem em tanger a sociedade e o futuro humano como gado rumo ao matadouro."
(Fonte: Carta Maior; Domingo, 16/01/2011. Para doações às cidades devastadas Defesa Civil do RJ, CEF -conta 2011-0, agência 0199, operação 006)

4 comentários:

  1. Caro amigo Eugênio, concordo em que é preciso tomar providëncias para parar o cämbio climático. Pero, hombre, o problema do Brasil é um só: a péssima classe política. Veja a Austrália: também está debaixo d'água. Mas vocë viu noticiarem a morte de 500 e tantas pessoas? Nada. Se houver um número táo alto de mortos numa tragédia, qualquer que seja, váo para as ruas e derrubam o presidente. Parece que a causa da tragédia no Rio é a velha e insuportável leniëncia da poder público local.
    Saludos cordiales!

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  2. Concordo contigo também, meu caro. Mas a proposta do título e da publicação desse texto foi reiterar que, apesar dos políticos corruptos e de um Estado viciado, não haveria nenhum tipo de reconstrução de localidades devastadas por fenômenos naturais, se dependessemos da iniciativa privada.
    Aliás, a ganância do capital é uma das maiores responsáveis: pela inundação de cidades, com a abertura de comportas, para salvar represas; pelo assoreamento dos rios; pelo aquecimento global; pela ocupação desordenada do solo, através da especulação imobiliária (não são somente os pobres que constroem em áreas de risco não); ufa!...
    Longe de mim defender a classe política brasileira. Mas também não vou fazer coro com as eleites empresariais que jogam pedra nos poderes públicos e no Estado em geral, que, no fundo, é quem socorre a todos, inclusive e, principalmente, a eles próprios.
    Onde é que está a ajuda humanitária das grandes empresas? Se não fossem as instituições do Estado, pequenos empresários e a solidariedade do nosso povo que mais uma vez dá um show de generosidade, a coisa estaria muitíssimo pior...

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  3. De acuerdo, dom Eugënio, de acuerdo. Falta Estado para uns, e sobra Estado para outros, este é o grande problema. Abrazos!

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  4. É isso. Quer dizer, é tudo isso e muito mais...

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