domingo, 19 de dezembro de 2010

MORRE, AOS 91 ANOS, A EREMITA ADRIANA ZARRI

''A prece não serve para nada. Assim, como
não serve para nada o amor'', afirma eremita

No dia 20 de novembro, morreu, aos 91 anos, Adriana Zarri, eremita e teóloga. Sua voz era com freqüência fortemente crítica na Igreja católica, mas sua fé era indubitável, tanto que até mesmo Avvenire, jornal católico da Itália, não falhou em recordá-la.
Um blog dedicado aos novos eremitas contém uma sua entrevista a Rodolfo Signifredi, da qual reproduzo uma parte, abaixo.

Por que os eremitas se isolam?
O interesse do eremita é solidão, não isolamento. E o silêncio contemplativo é denso de palavras e de presença. O eremita é um homem entre os homens e a solidão permite um emergir todo particular do mal do mundo que, em perspectiva, pode ser analisado com maior lucidez e combatido com uma contestação interior. A prece é a contestação mais profunda deste mundo utilitário enquanto coloca em crise o modelo antropocultural que o exprime.

Mas, permanecendo apartados tão longamente não se acaba sendo ursos ou misantropos?
Em cada um de nós existe uma validez monástica. O eremita é quem faz emergir esta validez sobre os outros componentes. Um ermitão não é uma concha de lesma na qual o indivíduo se encerra, mas é tão somente a escolha de viver a fraternidade em solidão. O isolamento é um cortar-se fora, a solidão é um viver dentro. O isolamento é uma solidão vazia, a solidão, ao invés, é plena cordial, cálida, percorrida por vozes e animada por presenças. Esta solidão é a forma eremítica do encontro. E o calor humano se reaviva continuamente.

Para que serve rezar tão intensamente?
A quem pede “para que serve” a prece, é preciso dizer escandalosamente que não serve para nada, como não serve para nada o amor, a arte, a beleza. Na acepção consumista a prece não serve; é um belo ramalhete de flores que colocamos sobre a mesa. Poderemos deixar de fazê-lo, se come da mesma forma. Porém não se almoça, não se janta. Nem mesmo sorrir serve. A boca se abre utilmente para comer e para comandar; o sorriso é um extra. Como certas pessoas se tornam eremitas? È uma escolha radical, como aquela dos autênticos ‘clochard’ [vagabundos] de outrora. Mas, diversamente de todas as formas associas, a do eremita é uma forma totalmente empenhada. Um retiro, uma retirada de tudo para encontrar-se a si mesmos e para ser ainda mais de ajuda a esta humanidade. O eremita nós o encontramos em todas as religiões, encontramo-lo no santão indiano que está nas grutas do Himalaia ou no monge ermitão do Monte Athos. No nosso Ocidente o movimento eremítico começa ainda antes de Constantino com a fuga para o deserto ou sobre as montanhas de solitários em luta com leões e serpentes, e também com diabos tentadores. Mas, quando a fama dos seus jejuns, das preces incessantes, do silêncio ininterrupto atrai discípulos e inquietudes existenciais, a vida eremítica se interrompe para transformar-se em comunidade. A ermida se torna convento. Tem sido assim também para o eremita Bento de Núrsia, constrangido por sua própria fama de santidade a improvisar-se como mestre de noviços, e a passar de uma solidão sem hierarquias ao ora et labora de um claustro. (Fonte: Site do IHU - Instituto Humanitas Unisinos)

2 comentários:

  1. Sábias palavras, Eugênio, sábias palavras! Feliz navidad y próspero año nuevo!

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  2. Gracyas mi amigo.
    Feliz navidad para usted también!

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