Na cova das serpentes
Eugênio Magno
Gustave Flaubert escreveu um romance sobre o perigo de ler romances. Advertia que, de tanto crermos neles acabamos perdendo o pé no nosso tempo. Assim também é com o cinema e com a mídia.
Um dos maiores expoentes do cinema de entretenimento, Billy Wilder, que o diga. E “disse” muito bem quando filmou A Montanha dos Sete Abutres. Com um enredo, direto e corajoso, é um exemplo do poder de manipulação dos meios de comunicação em nossas vidas. Rejeitado pela imprensa, na época, o filme acabou se transformando em um grande clássico.
Kirk Douglas, como o jornalista Charles Tatum, é o personagem principal. A viagem que ele faz para cobrir uma caça às cascavéis leva-o a um outro fato: um homem, Leo Minosa, personagem do ator Richard Benedict, ficou preso numa mina; e a reportagem passa a ser sobre ele. O foco narrativo do filme gira em torno da manipulação jornalística própria da imprensa sensacionalista. Através da montagem paralela testemunhamos à situação claustrofóbica de Leo e a paisagem aberta e ampla, porém desolada e árida – quase desértica –, do Novo México.
Amante dos trocadilhos – marca registrada em sua cinematografia – e, usuário contumaz das simbologias, Wilder trabalha com a metáfora da cascavel para atingir o efeito crítico que pretende. João B. de Brito, em Imagens Amadas (Ateliê Editorial, 1995), ao analisar esse expediente diz: O que Tatum vai encontrar na ‘montanha dos sete abutres’ é um ser humano sendo, circunstancialmente, obrigado a levar uma vida subterrânea, como a de uma cascavel, mas evidentemente, ‘cascavéis’ (sentido figurado) são aqueles que fora da caverna, se empenham em mantê-lo no subsolo para disso tirar o lucro possível.
Todos, no filme, são biltres e, rastejam como as cascavéis em busca dos seus objetivos.
Kirk Douglas, como o jornalista Charles Tatum, é o personagem principal. A viagem que ele faz para cobrir uma caça às cascavéis leva-o a um outro fato: um homem, Leo Minosa, personagem do ator Richard Benedict, ficou preso numa mina; e a reportagem passa a ser sobre ele. O foco narrativo do filme gira em torno da manipulação jornalística própria da imprensa sensacionalista. Através da montagem paralela testemunhamos à situação claustrofóbica de Leo e a paisagem aberta e ampla, porém desolada e árida – quase desértica –, do Novo México.
Amante dos trocadilhos – marca registrada em sua cinematografia – e, usuário contumaz das simbologias, Wilder trabalha com a metáfora da cascavel para atingir o efeito crítico que pretende. João B. de Brito, em Imagens Amadas (Ateliê Editorial, 1995), ao analisar esse expediente diz: O que Tatum vai encontrar na ‘montanha dos sete abutres’ é um ser humano sendo, circunstancialmente, obrigado a levar uma vida subterrânea, como a de uma cascavel, mas evidentemente, ‘cascavéis’ (sentido figurado) são aqueles que fora da caverna, se empenham em mantê-lo no subsolo para disso tirar o lucro possível.
Todos, no filme, são biltres e, rastejam como as cascavéis em busca dos seus objetivos.
As semelhanças entre o filme e as matérias sobre os 33 mineradores soterrados na jazida San Jose, no norte do Chile, desde o dia 30 de agosto último, são evidentes. Não é demais dizer que o povo tem um interesse voraz pelas catástrofes e uma credulidade absurda na imprensa. Por isso usei a advertência de Flaubert. É preciso estar sempre alerta para as relações mediadas pela imprensa, pelo cinema e/ou pela literatura.
O filme, embora seja de 1951, já nos mostra os ingredientes do que veio a se configurar como “showrnalismo”. Tatum, com o pedantismo peculiar dos colonizadores, sempre com um ar de superioridade professoral, arrogantemente tenta convencer a todos da sua astúcia, em demonstrações recorrentes de auto-afirmação. Mas diferentemente dos espetáculos midiáticos contemporâneos, o filme não deixa o espectador na condição passiva de voyeur. Ele mostra, em contra-plano, a situação de soterramento de Leo e, nos coloca, também, na incômoda situação de soterrados. De cúmplices do desespero, à espera de alguém que nos ame, diga a verdade, e seja capaz de nos dar a mão e nos retirar do buraco, no qual nos metemos.
O filme, embora seja de 1951, já nos mostra os ingredientes do que veio a se configurar como “showrnalismo”. Tatum, com o pedantismo peculiar dos colonizadores, sempre com um ar de superioridade professoral, arrogantemente tenta convencer a todos da sua astúcia, em demonstrações recorrentes de auto-afirmação. Mas diferentemente dos espetáculos midiáticos contemporâneos, o filme não deixa o espectador na condição passiva de voyeur. Ele mostra, em contra-plano, a situação de soterramento de Leo e, nos coloca, também, na incômoda situação de soterrados. De cúmplices do desespero, à espera de alguém que nos ame, diga a verdade, e seja capaz de nos dar a mão e nos retirar do buraco, no qual nos metemos.
Este artigo também foi publicado, em 23.09.2010, nas versões impressa e on-line, da Editoria de Opinião, do jornal O Tempo.
O "showrnalismo" é mesmo cruel. Hoje mesmo, vendo o Jornal da Alterosa, de meio-dia, eles passaram, de forma sintética, as imagens mais "importantes" do dia. Foram apenas 3, mas uma delas me chamou a atenção por causa do texto, também sintético, praticamente um lide, do jornalista. Era sobre esse deslizamento de terra que aconteceu hoje na Colômbia, onde morreram várias pessoas. Não dava pra acreditar no tom que ele usou (e que me deixou surpreso, por ser uma matéria jornalística), parecia aqueles textos que se usam comumente em vídeocassetas: "Uma imagem incrível, lá da Colômbia, olha só! Uma montanha desabando sobre várias residências, que coisa! Um vizinho registrou esse desbarrancamento. Olha lá no cantinho da tela o desespero das pessoas que tentavam fugir, mas acabram engolidas por toneladas de terra. Trinta continuam desaparecidas". Dá pra acreditar. O texto parece até de um urubu vislumbrando sua carniça. Acabei mandando email pra eles, registrando minha indignação. Abs. Laly
ResponderExcluirÉ isso, meu caro, Laly!
ResponderExcluirObrigado pela visita ao blog e pelo comentário.
Abraço,