Milagres & Mazelas
Eugênio
Magno
Comunicólogo
e Educador
Esse artigo também poderia ter como títulos: Exposição excessiva, ou O que
já não era bom, pode ficar pior, entre outros. Optei por Milagres & mazelas, por ser menos
deletério, mais respeitoso, e porque não dizer, mais justo. Afinal, os
tratamentos dados aos dois temas abordados, podem ser entendidos como
contraditórios ou paradoxais, a gosto do freguês.
O botox e a propaganda encaixam perfeitamente nesse paradigma. Tanto uma
como a outra ferramenta, mesmo que manipulem a realidade de forma deliberada,
podem criar o belo. Ainda que um belo fugaz e, consciente ou inconscientemente,
enganoso. Mas como a diferença entre remédio e veneno está na dose, o excesso,
prática recorrente dos tempos atuais, em que tudo se encontra ao alcance de
nossas mãos tem contribuído enormemente para o desproporcional, o exagerado, o
feio, o fake e as aberrações.
A despeito de belezas que realçam seu frescor e graciosidade, com
pequenas intervenções, é grande o número de atores e atrizes talentosos que
anularam totalmente sua capacidade de nos convencer de verdades cênicas por
conta de preenchimentos e “esticamentos” que impedem o desenhar da expressão
facial de suas emoções. Sem um close ou contatos presenciais, apresentadores de
TV e outras celebridades poderiam muito bem nos convencer de que encontraram o
elixir da eterna juventude. Mas suas plásticas, maquiagens e “botocagens” não
são capazes de os igualarem aos seres virtuais que habitam o mundo audiovisual.
Há pouco tempo, em um velório, não reconheci uma senhora, amiga da família que,
delicadamente me chamava pelo nome. Seus lábios e sua boca ficaram
irreconhecíveis, cresceram e não combinavam com olhos, bochechas, orelhas e
pescoço. Recentemente, andando por um shopping da zona sul de BH me deparei com
grande quantidade dessa espécie que exagera na dose, vítima do efeito contrário
e das constantes “reparações” que causam ainda mais deformações.
E de deformação em deformação, as pessoas, as instituições e esse modelo
agonizante de organização econômica e social que, desesperadamente, busca se
reinventar é vilipendiado pelos oportunistas que, em busca da piada fácil e do
trocadilho barato, expõem organizações ao ridículo. As Lojas Marisa erraram
feio se aproveitando da morte de Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula,
para divulgar a sua marca. E agora a agência Binder coloca as Óticas do Povo
numa situação no mínimo, discutível, ao homenagear(?) o juiz federal Sérgio
Moro, num comercial de TV que repete “Moro”, “Moro” com exclamações,
interrogações, reticências e circunflexos no último o, brincando com a antiga gíria “Morou!?” que, por acaso tem u no final, dando ao juiz ainda mais
exposição.
Será que tudo é apenas uma infame brincadeira, ou os marqueteiros de
Sérgio Moro já estão em ação e dispararam a campanha presidencial antecipada do
juiz, por meio de uma aliança com a Binder e as Óticas do Povo?
Este artigo também foi publicado no jornal O Tempo, de 21/12/2017, pág. 19
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