domingo, 19 de março de 2017

A VIDA INTELIGENTE DO PLANETA ENXERGA MUITO BEM


Deu no New York Times, não na Globo

 


Dalvit Greiner*


Para William Waack, do Jornal da Globo, quem esteve nas ruas nesta quarta-feira, dia 15 de março, foram os movimentos [auto] “intitulados” sociais. Ora, não sei qual escola de Sociologia que o jornalista frequenta ou frequentou em sua atividade universitária e intelectual, mas ficou-me a pergunta: quem esteve nas ruas esta semana?  Pelo tom do jornalista global um punhado de gente que se diz movimento social, mas que não é nem movimento nem social. As coberturas jornalísticas, salvo raríssimas exceções, ignoraram o movimento e focaram nas dificuldades que a população passou sem os serviços prestados por aqueles que estavam em manifestação pública. 
Claro que é assim mesmo. Qualquer movimentação que não provoque incômodo não cumpriu, minimamente, o seu objetivo. O incômodo desejado quando a base se mexe é derrubar o topo. Lição mínima da política. Mas, quando a base se mexe, mesmo quem não quiser sofrerá seus efeitos. É aqui que está o segredo da Educação: o esclarecimento. Dizer às pessoas, com palavras e atos, que os motivos que nos levam às ruas é um ato pedagógico, na medida em que visam conduzir uma opinião que seja favorável às nossas ideias. É um jogo desleal porque o fazemos com nosso único recurso: a garganta, ferramenta de trabalho de sujeitos que tem como meta, objetivo e sonho a mudança da sociedade. 
Na outra ponta os meios de comunicação social - lembremos que são concessões públicas e, portanto deviam servir ao público com todas as informações necessárias ao bom discernimento da sociedade - fazem um jogo do contrário: negam a informação, conduzem a opinião pública para os seus interesses que são contraditórios à sua função pública. Donos de grandes carteiras de propaganda e publicidade, a maior delas do Governo, fazem o jogo de uma elite que não consegue se autofinanciar. Querem um Estado mínimo para a sociedade trabalhadora para que ela continue produzindo a riqueza que a elite apropria. Querem um Estado máximo que os financie em sua incompetência capitalista. Mantem-se com o dinheiro público e, quando falem, recorrem ao dinheiro público com a honrosa desculpa da preservação do emprego de centenas, milhares de trabalhadores.  
Nos dias 13 e 14, anteriores ao iníco da Greve no dia 15, considerei um direito de minhas alunas e alunos conhecer os motivos de minha decisão. Tenho usado como metodologia em minhas aulas a leitura de notícias de jornais e documentos oficiais, além de vídeos que envolvam a História e a Geografia. Lemos trechos das reformas previdenciária e trabalhista. Discuti com eles na tentativa de demonstrar-lhes duas coisas, principalmente: quem produz a riqueza, quem se apropria da riqueza. A surpresa e o agrado quando concluem que nem o Estado nem as Instituições Religiosas produzem riqueza, que ninguém além do trabalhador produz riqueza é devastadora. Uma aluna, aproximadamente sessenta anos, confessou-se entristecida com a maldade de quem a explorou por tanto tempo. De tudo o que ela produziu e não se apropriou.  
Mas, o New York Times noticiou a nossa paralisação. Impossível não ver aqueles mares de gentes espalhados pelas principais cidades do país. Qualquer satélite espião veria aquela multidão. Qualquer pessoa distraída perceberia a movimentação na cidade. Qualquer manual de Sociologia do ensino médio ensina que aquilo é um Movimento Social. Enviarei o de José de Souza Martins para William Waack. 
Portanto, ignorar o Movimento Social é ignorar um povo que quer uma vida diferente totalmente compatível com a riqueza que produz. O Brasil é um país rico e o seu povo precisa saber disso. O clima político no Brasil, desde as eleições de 2014, é de Guerra Civil com uma elite atacando a população deste país que havia escolhido o rumo que queria manter. Uma elite que não sabe respeitar as regras do jogo e que apela, diariamente, para a violência. Lembremo-nos, portanto, do revide não odioso: um direito da população, uma verdade evidente. E o papel da Educação é, cada vez mais, qualificar essa guerra.

*Mestre em História da Educação pela Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG e professor de História na Rede Municipal de Educação em Belo Horizonte no Ensino Fundamental - Regular e Educação de Jovens e Adultos. Especialista em Gestão Cultural pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUCMINAS  e Docência do Ensino Superior pela Escola Superior Aberta do Brasil - ESAB. 


(Fonte: Pensar a Educação em Pauta, Nº 151)


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