Habeas Corpus
Eugênio Magno
Então, certa vez, o poeta disse:
Estou voltando para o lugar de onde vim. Tentei brincar de deus, criar lugares,
pessoas, situações, mas descobri que a minha vocação não é a de manipulador de
marionetes e carcereiro de cenários. Sou um homem de palavra que usa a voz,
aprecia a melodia, gosta de silêncio, mas prefere o som. Não quero enclausurar
imagens. As paisagens também devem ser livres e terem a cor que escolher a
imaginação de quem escuta com os olhos ou os ouvidos, apenas palavras. O
cristalino dos meus olhos não é mais o original e não posso confiar tanto assim
na minha visão, nem na dos outros. As lentes são estreitas, focadas demais e só
apontam para o outro. Não confio no que vejo, muito menos no que me mostram.
Minha tarefa é descobrir a mim mesmo. Só assim posso chegar ao outro. Não para
desnudá-lo ou vendê-lo na feira de arte (moderna?). Mas para abraçá-lo e cobrir
a sua alma nua.
(Do Livro Minas em Mim, 2005, pág. 37)
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