sábado, 15 de agosto de 2015

RITO DE PASSAGEM


Ficção sertaneja


Eugênio Magno


O sol inda tava era quente quando eu plantei ali de junto do morão da cancela. De vez em quando vinha um ventinho e balançava as fôia do pasto de bengo misturado com colonhão que ficava do outro lado, de frente da estrada.
Eu alembro bem, era num sábado, véspera de domingo; o segundo dia de aragem depois das águas de março. E eu lá, plantado, amuado, qui nem burro brabo quando impaca.
Coitada de Sá Rufina, passô, deu bastarde, e eu lá, igual estaca, nem banei o rabo. Também, o sol já tava bachano e era d’oje qui eu tava alí...
Num há de sê nada, quem espera sempre alcança, e óia qu’eu esperei... viu essa menina! Suóro? Hum... escorria por tudo enquanto era lado.
Daí a pouco, começo a ouvir um trac-a-troac... trac-a-troac... trac-a-troac, de galope compassado vindo do lado da Mutuca. Êta coração que bateu ligeiro! Lá vinha ele, deichano p’a trás a puêra, o bafo da pinga da venda de Sô Candim e os trocado que tinha levado no bolso, no comérço de Dona Calú.
Apeou, tirô o bornal de riba da cela e mandô qu’eu fosse banhá o corpo.
Quando voltei, já sem suadeira, só cum batimento forte no coração, tava lá a danada, toda vincada in riba da mesa.
Fiquei muito besta... viu essa menina; igual jacú do mato quando vê gente. Também, já tava era passando de hora, viu!? Eu tinha somado naquele dia quinze ano e era a primeira calça cumprida (dessas de loja), qui eu ia vistir...

( Do livro IN GÊ NU(A) IDA DE - Versos e prosa, 2005)

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