quinta-feira, 12 de maio de 2011

LEITURAS E 'DESLEITURAS'


Dois mapas: Paulo Coelho, leitor de Borges


Wanderson Lima
Poeta e ensaísta



Um dia desses, vi um jogador medíocre dizer na televisão que jogava inspirando-se em Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Paulo Coelho reivindica Jorge Luis Borges como uma de suas maiores influências. Nem o futebolista nem o escritor mentem: o problema é que há influências e influências. A que nos propõe Harold Bloom chama-se “desleitura” (misreading), e supõe uma espécie de agon intelectual no qual o influenciado busca cavar seu espaço próprio na tradição literária através de uma leitura revisionista da obra do influenciador.
Precisamos parar de pensar em qualquer poeta como um ego autônomo, por mais solipsistas que sejam os poetas mais fortes. Todo poeta é um ser colhido numa relação dialética (transferência, repetição, erro, comunicação) com outro poeta ou poetas (H. Bloom, A angústia da influência, 2002)
Posso dizer, neste sentido, que Ronaldinho Gaúcho desleu Mané Garrincha, ou que Borges desleu Kafka, Whitman e o Livro das mil e uma noites. Desler, no sentido reclamado por Bloom, requer certa paridade de forças, a astúcia de saber deslocar, reinterpretar, até mesmo distorcer a obra do precursor. Para ler o ensaio na íntegra, clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário