terça-feira, 29 de dezembro de 2020

A DESIGUALDADE TEM CAUSA E CAUSADORES

Os trilhões emitidos pelos bancos centrais na pandemia irrigaram as elites e os cassinos financeiros. Este “resgate” produzirá desigualdade obscena. Há alternativa: como no pós-guerra, criar dinheiro para o Comum e taxar pesadamente as fortunas.


(Foto publicada no site Outras Palavras)

Piketty: hora de fazer os ricos pagarem

Como os Estados enfrentarão o acúmulo de dívidas geradas pela crise da Covid-19? Muitos já ouvem a resposta: os bancos centrais assumirão em seus balanços uma parcela crescente das dívidas, e tudo será resolvido. Na verdade, as coisas são mais complexas. O dinheiro faz parte da solução, mas não será suficiente. Mais cedo ou mais tarde, os mais ricos deverão dar sua contribuição.

Recapitulemos. A criação de dinheiro tomou proporções sem precedentes em 2020. O balanço do Federal Reserve saltou de 4,159 trilhões de dólares em 24 de fevereiro para 7,056 trilhões em 28 de setembro, perto de 3 trilhões de dólares de injeção monetária em sete meses, o que jamais foi visto. O balanço do Eurossistema (a rede de bancos centrais dirigida pelo Banco Central Europeu, BCE) passou de 4,692 trilhões de euros em 28 de fevereiro para 6,705 trilhões em 2 de outubro, uma alta de 2 trilhões.

Em relação ao PIB da zona do euro, o balanço do Eurossistema, que já tinha passado de 10% para 40% do PIB entre 2008 e 2018, saltou para perto de 60% entre fevereiro e outubro de 2020.

Para que todo este dinheiro? Em tempos normais, os bancos centrais contentam-se em conceder empréstimos de curto prazo a fim de garantir a liquidez do sistema. Como as entradas e saídas de dinheiro nos diferentes bancos privados nunca se equilibram exatamente a cada dia, os bancos centrais emprestam por alguns dias somas que os estabelecimentos reembolsam depois.

Após a crise de 2008, os bancos centrais começaram a emprestar dinheiro com prazos cada vez mais longos (algumas semanas, depois alguns meses, ou mesmo vários anos) a fim de tranquilizar os atores financeiros, paralisados com a ideia de seus parceiros de jogo irem à falência. E havia muito o que fazer, pois, na falta de regulação adequada, o jogo financeiro tornou-se um gigantesco cassino planetário ao longo das últimas décadas.

Todos começaram a emprestar e tomar emprestado numa escala sem precedentes, se bem que o total de ativos e passivos financeiros privados detidos pelos bancos, empresas e famílias ultrapassa hoje 1.000% do PIB nos países ricos (inclusive sem incluir os derivativos), contra 200% nos anos 1970. O patrimônio real (isto é, o valor líquido dos imóveis e das empresas) também aumentou, passando de 300% para 500% do PIB, mas bem menos intensamente, o que ilustra a financeirização da economia. De certa forma, os balanços dos bancos centrais apenas seguiram (com atraso) a explosão dos balanços privados, a fim de preservar sua capacidade de ação diante dos mercados.

Para continuar lendo o texto publicado pelo site Outras Palavras, clique aqui.

domingo, 20 de dezembro de 2020

SEM TRUMP BOLSONARO PERDE ESPAÇO E OPOSIÇÃO AVANÇA NO BRASIL

 

(Foto: Getty Images)

Enquanto Bolsonaro patina em se aproximar de Biden, oposição brasileira ganha terreno com democratas

Se o presidente brasileiro Jair Bolsonaro demorou 38 dias para reconhecer a vitória de Joe Biden à Presidência dos Estados Unidos e patina para estabelecer conexões com os democratas, a oposição ao seu governo no Brasil tem se mostrado mais efetiva em construir pontes com a nova administração, que começará oficialmente no dia 20 de janeiro.
E uma parte importante dessa conexão tem sido operada por meio de lideranças indígenas, com quem Bolsonaro tem acumulado embates.
A última prova disso é o lançamento de uma parceria entre a parlamentar americana democrata Deb Haaland e a deputada federal brasileira Joênia Wapichana (Rede-RR).
Na semana passada, as duas conversaram pelo telefone para coordenar esforços interamericanos para avançar em pautas de respeito aos direitos dos povos nativos e proteção ao meio ambiente nos dois países.
Para ler, na íntegra a matéria de Mariana Sanches, da BBC News Brasil em Washington, clique aqui.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

ESTAMOS A DEUS-DARÁ: NINGUÉM ASSUME NADA

 

(Imagem de divulgação modificada)


Bolsonaro diz que assina nesta 3ª MP de recursos para vacinas


O presidente Jair Bolsonaro disse que deve assinar nesta terça-feira a medida provisória que irá liberar 20 bilhões para compra de vacinas contra a Covid-19, mas ressaltou mais uma vez que o uso não será obrigatório no país e quem quiser tomar o imunizante terá de assinar um termo de responsabilidade.
“Devo assinar nesta terça-feira a medida provisória de 20 bilhões de reais para comprar vacinas”, disse o presidente em conversa com apoiadores na noite de segunda, no Palácio da Alvorada.
O governo tenta negociar com fabricantes, especialmente a Pfizer, cujo imunizante já está em uso no Reino Unido e nos Estados Unidos, a compra de doses de vacina para além do acordo com a Astrazeneca/Oxford, cujos testes clínicos ainda não foram finalizados.
Bolsonaro, no entanto, resiste à ideia das vacinas e defende que a aplicação dos imunizantes não seja obrigatória. Por mais de uma vez, questionou especialmente a vacina CoronaVac, do laboratório chinês Sinovac, que está sendo testada pelo Instituto Butantan, ligada ao governo paulista.
A seus apoiadores, na noite de ontem, voltou a dizer que só quem quer deverá tomar e ainda afirmou que há riscos e quem decidir pela vacina terá que assinar um termo de responsabilidade.
“E detalhe, não obrigatória, vocês vão ter que assinar um termo de responsabilidade para tomar. Porque a Pfizer, por exemplo, é bem clara no contrato: ‘nós não nos responsabilizamos por efeitos colaterais’”, disse. “Tem gente que quer tomar, então tome. A responsabilidade é tua. Quer tomar, toma. Se der algum problema por aí... Espero que não dê.”
Para ler, na íntegra, a matéria de Lisandra Paraguassu para a Reuters, clique aqui.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

1/3 DOS REMÉDIOS USADOS NO BRASIL VÊM DA CHINA

 

(Foto: Getty Images)

As importações que mostram como saúde do brasileiro 
já depende da China


Uma das vacinas em estágio mais avançado de desenvolvimento, a Coronavac é produzida no Brasil por um consórcio da empresa chinesa Sinovac com o Instituto Butantan, em São Paulo. A instituição anunciou que pretende enviar os resultados dos testes de eficácia para a Anvisa até dia 15 de dezembro.
Mais ainda há muita desconfiança em relação à ela por causa da origem chinesa — apesar do Brasil já importar uma enorme quantidade de remédios e insumos farmacêuticos do país asiático.
A Coronavac tem um alto índice de rejeição entre os brasileiros: uma pesquisa feita pelo Instituto Real Time Big Data, mostrou que 46% dos entrevistados "não tomariam uma vacina de origem chinesa". A pesquisa entrevistou mil pessoas por telefone nos dias 13 e 14 de outubro. A margem de erro é de três pontos (para mais ou para menos) e o nível de confiança é de 95%.
Os teste feitos até agora comprovaram que a vacina é segura. Diante disso, diversas hipóteses surgiram para explicar essa rejeição. Elas vão desde preconceito contra a China e desconfiança de produtos chineses até a politização criada pela rivalidade entre o presidente Jair Bolsonaro e João Doria, o governador de São Paulo, onde a Coronavac está sendo produzida e estudada no Brasil.
Para continuar lendo a matéria de Letícia Mori, para a BBC News Brasil, clique aqui.

sábado, 5 de dezembro de 2020

O BUG DO CALENDÁRIO

 

Bricolagem de Calendários 2020
(Eugênio Magno)

2020 o ano que não acaba em dezembro*

Eugênio Magno

            “Nada como um dia após o outro”, reza o dito popular. Nos idos da infância acordava sempre no primeiro dia do ano com a expectativa de que o Ano Novo fosse verdadeiramente novo. De tanto crer e querer, lampejos melodiosos desse desejo bafejavam aquela doce e saudosa inocência com reluzentes novidades.

            Os anos foram passando e os vislumbres daquele novo tão brilhante e vivo foram escasseando e as novidades se acomodando na sequencialidade linear do tempo Kronos que, apesar de trivial por ser sequencial avançava, ainda que sem rumo. Mas eis que chegamos em 2020 e em uma manobra rápida passamos a ter um misto de impressões difusas sobre a realidade: o tempo passou a avançar circularmente engolindo sua própria cauda? Caminhamos em slow, estamos no modo stand by, o tempo parou... ou retrocedemos (?). Às vezes a sensação é de que vivemos tudo isso e mais alguma coisa não dita, não explicada e quiçá nem mesmo explicável. Este ano, cujo calendário dá por encerrado em 31 de dezembro, definitivamente, não findará agora. Necessitaremos de outros tantos anos para podermos viver novamente um novo ano.

            Não vou recorrer a nenhum expediente complexo nem a textos de outros autores para justificar essa minha tese. Apenas os temas abordados por mim nos artigos que publiquei no jornal Pensar a Educação em Pauta (do Projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil, da Faculdade de Educação, da UFMG) e também neste blog. Apenas esses em que tratei de alguns dos acontecimentos mais impactantes de 2020 serão suficientes; afinal, eles falam por si. No primeiro artigo do ano, Escassez e má gestão: A água é uma dádiva da natureza ou apenas um $? (de março), falava sobre falta de saneamento, estupidez na destinação do lixo e do esgoto, descuido com as águas – das chuvas, das nascentes, dos rios – e sobre os prejuízos causados pelas enchentes. Denunciava as empresas que trabalham com recursos hídricos por não disporem de nenhuma tecnologia avançada para coletar melhor e em maior quantidade a água da chuva e chamava a atenção para a inoperância e a falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico sustentável do (e no) setor, que continua coletando água do mesmo modo que coletava séculos atrás.  Às vésperas das eleições municipais (em novembro), no texto “Vota no João e elege o Tião”, discorria sobre contradições e armadilhas de nosso sistema eleitoral e do pouco entendimento que a população tem da política e dos pleitos.

            Mas isso, não obstante a gravidade do que reverbera, ainda é pouco para validar o suposto que defendo no presente artigo. Por isso, sugiro ao leitor que (re)visite as demais reflexões que deixei aqui e também no jornal Pensar a Educação em Pauta – em outros textos –,  entre abril e outubro deste ano. Em primeiro lugar, a sequência de três artigos sobre a pandemia da Covid-19: Oportunistas, apocalípticos e proféticos em tempos de contaminação global” (abril); O Vírus interroga as instituições” (maio) e Pandemônio na República Federativa do Brasil” (de junho). Nesses textos busquei realçar o que a pandemia colocou a descoberto, sobre o despreparo de nossas instituições, inclusive algumas que são louváveis em se tratando críticas e diagnósticos, mas pouco afeitas à autocrítica e a prognósticos.

Depois, a fortuna ou a desventura de me saber brasileiro, essa raça alegre e otimista, me fez acreditar que o que estava entre ruim e péssimo não poderia piorar e, com todas as reservas e críticas contundentes ao poder central, escrevi Democracia fala mais alto e governo baixa a bola” (em julho). Doce ilusão. Foi somente uma mínima desacelerada obscurantista, de poucos dias, por conta de fatos da hora. Em tempos sombrios como esses sonhei também que pudesse haver um acolhimento caloroso para a boa nova anunciada pelo papa Francisco, o Pacto Educativo Global. O texto (de agosto), Pacto pela Educação no Planeta” e, mais grave, o próprio Pacto proposto pelo papa, obteve pouquíssima repercussão no meio educacional.

Os artigos, A impostura do digital” (setembro), “Como o povo oprimido, Paulo Freire é alvo e escudo a um só tempo” (outubro) e Nova Constituinte, um projeto a ser construído” (de novembro), vieram em seguida dando conta de mais algumas práticas e omissões que, infelizmente, não podem ser atribuídas apenas aos governantes de plantão.

Toda essa argumentação feita aqui e nos artigos que citei está longe de ser uma retrospectiva de 2020, um panorama dos fatos por nós vividos e assim tematizados. Falei apenas de dez textos que publiquei, mensalmente, de março a novembro. Quando os publiquei, talvez até tivesse a ilusão de que hoje já pudesse considerá-los coisas do passado, dificuldades vencidas. Infelizmente não o são, uma vez que os fatos persistem. Nos primeiros dias de dezembro já são contabilizadas quase 180 mil mortes por coronavírus no Brasil e aqui estamos, empobrecidos, sem trabalho e renda, isolados e paralisados, à mercê da indústria farmacêutica e dos ditames da tecnologia e do capital.

É difícil precisar quando essa nave louca parou ou, desafortunadamente, potencializou sua aceleração a ponto de nem darmos conta da velocidade em que viajamos, no piloto automático digital, com o controle remoto estilhaçado em mãos de alguns poucos milhares de acionistas que não se entendem.

* O presente artigo também pode ser lido no jornal Pensar a Educação em Pauta.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O MUNDO A MERCÊ DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA


Pfizer e BioNTech 
pedem uso emergencial de vacina contra Covid-19 na UE


FRANKFURT (Reuters) - A Pfizer e a BioNTech pediram ao regulador de medicamentos da Europa autorização condicional para sua vacina contra Covid-19, após submeterem pedidos semelhantes nos Estados Unidos e no Reino Unido, informaram as empresas nesta terça-feira.
O pedido para a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) vem depois de as empresas pedirem aprovação nos EUA em 20 de novembro, deixando-as um passo mais perto de lançarem sua vacina.
Na busca por lançar o imunizante na Europa, potencialmente ainda neste ano, as empresas estão passo a passo com a rival Moderna, que anunciou na segunda-feira que pediria ao regulador da União Europeia para recomendar a aprovação condicional para sua vacina.
A norte-americana Pfizer e a alemã BioNTech anunciaram o resultado final dos testes com sua vacina em 18 de novembro, mostrando que sua candidata é 95% eficaz na prevenção da Covid-19, sem preocupações de segurança relevantes, levantando a perspectiva de uma aprovação nos EUA e na UE em dezembro.
Para continuar lendo a matéria de Ludwig Burger para a Reuters, clique aqui.