Os trilhões emitidos pelos bancos centrais na pandemia irrigaram as elites e os cassinos financeiros. Este “resgate” produzirá desigualdade obscena. Há alternativa: como no pós-guerra, criar dinheiro para o Comum e taxar pesadamente as fortunas.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
A DESIGUALDADE TEM CAUSA E CAUSADORES
domingo, 20 de dezembro de 2020
SEM TRUMP BOLSONARO PERDE ESPAÇO E OPOSIÇÃO AVANÇA NO BRASIL
terça-feira, 15 de dezembro de 2020
ESTAMOS A DEUS-DARÁ: NINGUÉM ASSUME NADA
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
1/3 DOS REMÉDIOS USADOS NO BRASIL VÊM DA CHINA
sábado, 5 de dezembro de 2020
O BUG DO CALENDÁRIO
2020 o ano que não acaba em dezembro*
Eugênio Magno
“Nada como um dia após o outro”, reza o dito popular. Nos idos da infância acordava sempre no primeiro dia do ano com a expectativa de que o Ano Novo fosse verdadeiramente novo. De tanto crer e querer, lampejos melodiosos desse desejo bafejavam aquela doce e saudosa inocência com reluzentes novidades.
Os anos foram passando e os vislumbres daquele novo tão brilhante e vivo foram escasseando e as novidades se acomodando na sequencialidade linear do tempo Kronos que, apesar de trivial por ser sequencial avançava, ainda que sem rumo. Mas eis que chegamos em 2020 e em uma manobra rápida passamos a ter um misto de impressões difusas sobre a realidade: o tempo passou a avançar circularmente engolindo sua própria cauda? Caminhamos em slow, estamos no modo stand by, o tempo parou... ou retrocedemos (?). Às vezes a sensação é de que vivemos tudo isso e mais alguma coisa não dita, não explicada e quiçá nem mesmo explicável. Este ano, cujo calendário dá por encerrado em 31 de dezembro, definitivamente, não findará agora. Necessitaremos de outros tantos anos para podermos viver novamente um novo ano.
Não vou recorrer a nenhum expediente complexo nem a textos de outros autores para justificar essa minha tese. Apenas os temas abordados por mim nos artigos que publiquei no jornal Pensar a Educação em Pauta (do Projeto Pensar a Educação, Pensar o Brasil, da Faculdade de Educação, da UFMG) e também neste blog. Apenas esses em que tratei de alguns dos acontecimentos mais impactantes de 2020 serão suficientes; afinal, eles falam por si. No primeiro artigo do ano, “Escassez e má gestão: A água é uma dádiva da natureza ou apenas um $?” (de março), falava sobre falta de saneamento, estupidez na destinação do lixo e do esgoto, descuido com as águas – das chuvas, das nascentes, dos rios – e sobre os prejuízos causados pelas enchentes. Denunciava as empresas que trabalham com recursos hídricos por não disporem de nenhuma tecnologia avançada para coletar melhor e em maior quantidade a água da chuva e chamava a atenção para a inoperância e a falta de investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico sustentável do (e no) setor, que continua coletando água do mesmo modo que coletava séculos atrás. Às vésperas das eleições municipais (em novembro), no texto “Vota no João e elege o Tião”, discorria sobre contradições e armadilhas de nosso sistema eleitoral e do pouco entendimento que a população tem da política e dos pleitos.
Mas isso, não obstante a gravidade do que reverbera, ainda é pouco para validar o suposto que defendo no presente artigo. Por isso, sugiro ao leitor que (re)visite as demais reflexões que deixei aqui e também no jornal Pensar a Educação em Pauta – em outros textos –, entre abril e outubro deste ano. Em primeiro lugar, a sequência de três artigos sobre a pandemia da Covid-19: “Oportunistas, apocalípticos e proféticos em tempos de contaminação global” (abril); “O Vírus interroga as instituições” (maio) e “Pandemônio na República Federativa do Brasil” (de junho). Nesses textos busquei realçar o que a pandemia colocou a descoberto, sobre o despreparo de nossas instituições, inclusive algumas que são louváveis em se tratando críticas e diagnósticos, mas pouco afeitas à autocrítica e a prognósticos.
Depois, a fortuna ou a desventura de me saber brasileiro, essa raça alegre e otimista, me fez acreditar que o que estava entre ruim e péssimo não poderia piorar e, com todas as reservas e críticas contundentes ao poder central, escrevi “Democracia fala mais alto e governo baixa a bola” (em julho). Doce ilusão. Foi somente uma mínima desacelerada obscurantista, de poucos dias, por conta de fatos da hora. Em tempos sombrios como esses sonhei também que pudesse haver um acolhimento caloroso para a boa nova anunciada pelo papa Francisco, o Pacto Educativo Global. O texto (de agosto), “Pacto pela Educação no Planeta” e, mais grave, o próprio Pacto proposto pelo papa, obteve pouquíssima repercussão no meio educacional.
Os artigos, “A impostura do digital” (setembro), “Como o povo oprimido, Paulo Freire é alvo e escudo a um só tempo” (outubro) e “Nova Constituinte, um projeto a ser construído” (de novembro), vieram em seguida dando conta de mais algumas práticas e omissões que, infelizmente, não podem ser atribuídas apenas aos governantes de plantão.
Toda essa argumentação feita aqui e nos artigos que citei está longe de ser uma retrospectiva de 2020, um panorama dos fatos por nós vividos e assim tematizados. Falei apenas de dez textos que publiquei, mensalmente, de março a novembro. Quando os publiquei, talvez até tivesse a ilusão de que hoje já pudesse considerá-los coisas do passado, dificuldades vencidas. Infelizmente não o são, uma vez que os fatos persistem. Nos primeiros dias de dezembro já são contabilizadas quase 180 mil mortes por coronavírus no Brasil e aqui estamos, empobrecidos, sem trabalho e renda, isolados e paralisados, à mercê da indústria farmacêutica e dos ditames da tecnologia e do capital.
É difícil precisar quando essa nave louca parou ou, desafortunadamente, potencializou sua aceleração a ponto de nem darmos conta da velocidade em que viajamos, no piloto automático digital, com o controle remoto estilhaçado em mãos de alguns poucos milhares de acionistas que não se entendem.
* O presente artigo também pode ser lido no jornal Pensar a Educação em Pauta.