Apagões do Estado*
Eugênio
Magno
Comunicólogo
e Educador
Antes
do anúncio do leilão das quatro hidrelétricas que eram operadas pela Cemig, o
fornecimento de energia em várias cidades mineiras já dava sinais de
comprometimento. O que não se sabe é se o comprometimento é real ou fake provocado por estrategistas para
justificar privatizações e reajustes futuros.
Não são poucos os piques de energia,
apagões e interrupções, desculpados como programados, mas sem aviso prévio. Isso
e mais o recebimento de carga e voltagem abaixo do contratado, perda de alimentos
em nossas geladeiras e freezers, prejuízos por ficarmos impedidos de trabalhar quando
nossos equipamentos de produção são alimentados por energia elétrica e descumprimento
de prazos por falta de telefonia e internet. Sem contar os riscos que corremos
ao andar por ruas com lâmpadas queimadas. Enquanto isso, a empresa gasta milhões
em propaganda para solicitar aos usuários de seus serviços que se cadastrem
para receber o comunicado que ficarão sem energia em determinados períodos. Pra
que isso, se todos os clientes já são cadastrados para a cobrança das altas
tarifas, acrescidas de reajustes, bandeiras vermelhas e mais um monte de
penduricalhos que só oneram o consumidor doméstico?
O slogan da Companhia Energética de Minas Gerais que já foi A melhor energia do Brasil, por muitos
anos, mudou para Nossa energia, sua força,
mas há tempos que a contrapropaganda afirma que a Cemig tem a Energia mais cara do Brasil. Sua
qualidade não justifica seu custo e nós, mineiros, não podemos mais nos ufanar
de ter a Cemig como patrimônio de nosso Estado, como não temos mais a Telemig, dentre
outras empresas.
As especulações em torno de uma possível privatização da Cemig e também
da Copasa, orquestrada pela mídia privatista, alardeia a valorização das ações
das empresas no mercado financeiro, esse não-lugar improdutivo e volátil que
vive de rumores e humores fabricados pela indústria da comunicação. Para
justificar a inexistência de investimentos em infraestrutura e a negligência
com nossos mananciais, rios e reservatórios, Cemig e Copasa estão sempre às
voltas com números de pesquisas inacessíveis, atribuindo culpa à estiagem, para
encobrir má gestão e achacar o consumidor residencial com altas tarifas e ainda
exercer pressão para que se reduza o consumo, enquanto fornecem serviços
essenciais à vida humana de forma descuidada e desrespeitosa.
No caso do Brasil e de Minas, em particular, em que o maior percentual de
geração de energia vem da água, essa dobradinha Cemig e Copasa deveria nos
favorecer. Temos potencial para ser um dos maiores fornecedores de água do
planeta. Poderíamos sim ter a melhor energia elétrica do Brasil e, claro, a
água e a energia mais baratas do mundo e não falta de água que gera falta de
energia o que também impede que a água captada seja bombeada dos reservatórios
até nossas caixas d’água.
E a culpa, definitivamente, não é de São Pedro.
(* Este artigo também foi publicado na página de Opinião do jornal O Tempo, de 15/11/2017)
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