Coronelismo e patrulhamento
Eugênio Magno
As considerações sobre as eleições são tantas que fica difícil saber o que priorizar.
Vejamos o fenômeno Tiririca, deputado federal mais votado do país, eleito pelo PR de São Paulo. Nada contra (e muito menos a favor) Francisco Oliveira. Seria legítimo se fosse ele, Francisco, o candidato. É seu direito, como cidadão. Mas o eleito foi o personagem que, usando o slogan “Vote Tiririca, pior que está não fica”, arrebanhou 1.353.820 votos. Por irresponsabilidade do partido e dos eleitores paulistas que elegeram um personagem para representar não somente a eles, mas a todos nós brasileiros. O pior de tudo é que outros Tiriricas foram eleitos. Vários candidatos sem capital político conseguiram se eleger a custa do capital financeiro de seus padrinhos e do prestígio de “chefes políticos”, numa clara demonstração de que o coronelismo grassa no Brasil do século XXI.
Não compreendo a lógica de certos candidatos que insistem em fazer comunicação de campanha regional, com diretores, redatores, locutores e apresentadores de outras plagas. Por falar em comunicação, o publicitário Almir Sales, em um programa de TV, fez algumas colocações dignas de nota. Falou que todo mundo acha as campanhas políticas muito caras. “Mas é claro que são caras”, afirmou. “Os candidatos não tem programas, nem propostas. Os publicitários é que criam os conteúdos das campanhas”. Disse ainda que, se uma pessoa de um país distante que não conhecesse a realidade brasileira assistisse aos debates entre os presidenciáveis, acharia que vivemos no melhor país do mundo, pois os candidatos não discutem os problemas do país, que são inúmeros. “Dilma afirma que todos os problemas foram resolvidos e Serra garante que, em São Paulo, tudo está na mais perfeita ordem”, ironizou Sales.
Contudo, os brasileiros terão que escolher mesmo é entre Dilma e Serra, quem será o/a presidente do país. Os outros candidatos, juntos, não passaram de 1,30% dos votos válidos. Plínio, com 0,90%, beirou o cômico, não fosse pela seriedade das questões que levantou. Ele conquistou a simpatia dos jovens, mas encerrou a campanha totalmente sem gás.
Apesar de pouco convincente em propostas e, com uma campanha fraca, Marina Silva, fez a diferença e pode fazer muito mais, se souber administrar o prestígio conquistado nessas eleições. Cortejada pelos dois partidos, há quem acredite que o melhor para a ambientalista é não apoiar ninguém no segundo turno. E caso venha a apoiar, é mais natural que apóie o PT, seu partido de origem. Mas com patrulhamentos e insinuações do tipo “Marina, você se pintou...” é querer forçar a barra demais. Até porque, nessa festa à fantasia Marina e Plínio foram os únicos que se apresentaram de cara limpa. À exceção dos que foram barrados no baile. E com os seus quase 20 milhões de votos – a grande maioria de desiludidos com as políticas do PSDB e do PT –, Marina só deve satisfação aos seus eleitores.
(Este artigo também foi publicado nas edições impressa e on-line, de 13.10.2010, do jornal O Tempo, com o título Coronéis e patrulhas e também nas edições impressa e on-line do jornal O Norte de Minas, de 14.10.2010)