sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A POLÍTICA NOSSA DE CADA DIA


O tempo político de Dilma está se esgotando

Luis Nassif
As peças que compõem esse jogo são as seguintes
Peça 1 – O tempo político de Dilma Rousseff encurtou consideravelmente.
Há uma crise fiscal acelerada, no meio de uma crise política que tem paralisado todos os passos do governo. A aprovação da CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira) é essencial para o equilíbrio fiscal e para reverter a queda perigosa do PIB. Com ameaça de nova queda de 4% do PIB, as receitas fiscais caindo vertiginosamente, os estados entrando em default, não há muito tempo pela frente para a hora da verdade.
Peça 2 – Cresce a convicção de que Dilma não conseguirá montar um plano política e economicamente viável.
O Ministro da Fazenda Nelson Barbosa precisaria ser suficientemente ousado para apresentar um grande plano que não implicasse em riscos fiscais, que não aprofundasse a recessão e, ao mesmo tempo, passasse a ideia de previsibilidade – para contornar as resistências ao seu nome – sem descontentar a base do governo, mais à esquerda.
Montou duas propostas que não impactando o curto prazo poderiam acenar para o longo: reforma da Previdência e limites para as despesas públicas. Não foi suficiente para demover a direita e provocou rupturas no lado esquerdo da base de apoio.
Para conseguir apoio à CPMF, o governo concordou com as pressões do presidente do Senado Renan Calheiros, flexibilizando a lei do petróleo.
No momento, está por um fio a única base política efetiva com quem Dilma pode contar.
Peça 3 – Dilma não conseguirá se equilibrar entre mercado e base.
Exemplo claro foi o anúncio da reforma da Previdência. O mercado ouviu com pé atrás; à esquerda reagiu. No momento seguinte ela escala o Ministro do Trabalho Miguel Rossetto para explicar que não era bem assim.
Queimou-se com o mercado e com a esquerda.
Peça 4 – Mesmos nos círculos próximos a Dilma, aumenta a convicção de que a crise é grande demais para ela. 
Mesmo os habilidosos Jacques Wagner e Ricardo Berzoini têm enorme dificuldade em convencê-la de medidas óbvias. O termo mais usado no Palácio é “não adianta dar murro em ponta de faca”.
Peça 5 – Há um amplo espaço para aprofundamento da radicalização política e policial.
Tanto no STF como no STJ, qualquer Ministro que ouse uma postura mais garantista acaba vítima de ataques de reputação ou pelos jornais ou redes sociais. E poucos têm estrutura emocional para enfrentar a barbárie.
Peça 6 – Ruim com Dilma, o caos com o impeachment.
Suponha que Gilmar Mendes atropele leis e regulamentos e emplaque o impeachment via TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O caso iria para o STF. Se Dilma e Temer fossem cassados, quem assumiria? O presidente do Senado,Renan Calheiros, alvo da Lava JatoEduardo Cunha e sua imensa capivara? O país entraria em ebulição.
O governo de coalizão
Juntando todas essas peças, chega-se à conclusão de que a única saída seria um governo de coalizão com Dilma, tipo o que foi montado por Itamar Franco, quando pegou o pepino de suceder a Fernando Collor.
Ocorre que um governo de coalizão exige que o presidente efetivamente abra mão de poder.
No momento, Dilma tenta montar a coalizão mantendo o comando, recusando-se a abrir mão de qualquer espaço de poder. Não funciona.
Como diria Ricardo Berzoini – justificando o acordo de flexibilização do pré-sal – o governo tem que ser realista e entender quando perde as condições políticas e negociar uma política de menor dano.
O aprofundamento da crise obrigará Dilma a cair na real em um ponto qualquer do futuro.
Para acelerar a transição, quando a hora chegar, sugere-se aos articuladores políticos responsáveis que comecem a elaborar as ideias para tornar a transição a menos traumática possível.
Como suas pretensões políticas acabam em 2018, Dilma terá facilidades em arbitrar uma coalizão que garanta igualdade de condições a todas as partes.
(Fonte: Site do Instituto Humanitas Unisinos - IHU)

sábado, 20 de fevereiro de 2016

FILMES PRA HOJE




O Cineclube da Casa de Cássia exibe neste sábado, 20 de fevereiro, às 17 horas, dois documentários: "Zweig: a Morte em Cena", de Sílvio Back, sobre a vida no Brasil do escritor austríaco e sua mulher, que se suicidaram em Petrópolis na semana seguinte ao Carnaval de 1942; e "Santo Forte", de Eduardo Coutinho, em que 12 moradores de uma favela carioca falam sobre suas crenças religiosas e a força de seus depoimentos dão sentido à sua própria existência como povo.   
A entrada é franca e o Cineclube Casa de Cássia fica na rua Meyer, nº 105, bairro Vila Suzana, em Mateus Leme. Maiores informações pelos telefones: (31)3535-1721 e 99247-6574.

A URGENTE E NECESSÁRIA REVOLUÇÃO NO/DO SER HUMANO

A catraca vazia 

ou a origem de todos os males do Brasil


Décio Tadeu Orlandi*

Domingo. Saguão de uma conhecida escola particular de Goiânia. Havia levado minha filha de dez anos para participar de um torneio interescolar de xadrez. A instrução que havia recebido era clara: início das partidas às 10 horas. Nada complicado, ou esotérico ou impossível, apenas um breve comando: início das partidas às 10 horas. Cheguei às 9h45. Às 10h05, minha filha estava sentada diante de uma cadeira vazia… A sua oponente chegou, esbaforida, quase 20 minutos depois. Ao lado dela, o pai, munido das tradicionais desculpas: distância, trânsito.  Trânsito? No domingo de manhã? Não havia trânsito.
Depois de que a menina se sentou diante da minha filha, como se nada houvesse, muitas outras crianças ainda chegaram, acompanhadas por seus pais e suas mesmas desculpas. Todos entravam no auditório cujas portas fechadas traziam um enorme cartaz onde se lia Não entre. Para evitar me aborrecer mais ainda com a balbúrdia, fui me sentar longe das portas. Por todo o saguão, crianças pequenas começavam a correr de um lado para outro, gritando (e atrapalhando os enxadristas, mas e daí?) sob o olhar indiferente de seus pais, e contrariando um claro aviso na parede: Não corra, evite acidentes. Enfim, saímos, minha filha e eu, só para encontrar nosso carro fechado por uma pick-up que havia estacionado na esquina, sobre a calçada.
No almoço, num grande shopping, famílias corriam para segurar uma mesa (pouco importando o aviso que indicava ser preferencial), disfarçando com seus celulares enquanto pessoas com o prato na mão (algumas idosas) vagavam buscando um lugar para comer. Pedi um sanduíche sem cebola, mas elas estavam lá, pois o atendente não leu o pedido. No cinema, tive de pedir para a jovem na minha frente parar de teclar, pois a luz não me deixava ver o filme. Acabei a noite de volta a meu apartamento, subindo com um cachorro me cheirando no elevador social – expressamente proibido -, e pedindo silêncio ao meu vizinho de cima que se imagina cantor sertanejo e estava dando um show intimista à meia noite.
Enquanto rolava na cama, tentando ignorar o violão desafinado, tive uma visão. Sim, tudo estava claro agora, tão claro quanto o celular da moça no cinema. Estava aí, o tempo todo, na nossa frente, no nosso dia a dia, a origem de todos os males do Brasil. A nossa própria essência como nação, nossa alma verdadeira,  aquela que “olha dentro para fora”, como diria Machado de Assis. Como podia ser tão simples,  afinal, e passar tão despercebido? A verdade simples e crua é que o brasileiro não é capaz de cumprir regras! Só isso.
Incapacidade crônica de cumprir regras. Por isso somos o país com o maior número de leis no mundo – e, como não as cumprimos, nossos legisladores criam novas leis que por sua vez não serão cumpridas, o que vai gerar outras leis, num ciclo infinito… Posso falar por horas sobre este tema : sou professor e há 25 anos e já ouvi (é verdade que nunca tanto quanto agora) tantas desculpas esfarrapadas de alunos e também de pais para burlar as mais simples regras do cotidiano escolar. Assim como a menina de dez anos no torneio de xadrez, que aprendeu na prática com o seu pai que as regras não existem na verdade aqui, e que qualquer problema se resolve miraculosamente com uma mentira qualquer – foi o trânsito…
Fui mal na prova porque não estudei – jamais!  A culpa é do professor que me persegue, do bullying que sofro dos meus colegas,  da escola que não me entende, da educação que é repressora, da sociedade, do destino, de Deus! Ora, meus irmãos, ponhamos as nossas mãos cheias de culpa nas nossas consciências brasileiras tão enferrujadas e admitamos: somos nós que não sabemos seguir regras simples e que transformamos esse país tão lindo em um purgatório perpétuo.
O problema da violência no trânsito é que não cumprimos as regras do trânsito.  Simples assim. Corrupção no governo?  Normas que são burladas,  tanto por quem contrata quanto por quem é contratado, diga-se de passagem. Há milhares de leis, mas não para mim. Eu ignoro, eu dou desculpas, eu passo por cima. Pode nomear o problema, meu caro leitor, e eu lhe darei a mesma causa: incapacidade crônica de cumprir regras. Duvida? A crise hídrica que vai acabar nos matando de sede vem de onde? De leis que são ignoradas – até as do bom senso, como a dona de casa que gasta centenas de metros cúbicos de agua para deixar sua calçada brilhando (ah, sim, o lixo ela empurra discretamente para o vizinho). Mas a calçada estava tão suja! Mas foi só uma vez! Mas, afinal, todo mundo faz isso, não é mesmo?
Esse processo perigoso e contagioso só vem se agravando… E vai levar este país, inexoravelmente, para o caos, de onde não nos ergueremos jamais, como a alma de Poe presa à sombra do corvo, no seu poema famoso. A menos que algum milagre se opere nas mentes de nossos conterrâneos, e aquele pai, antes de sacar do bolso alguma desculpa pronta para “proteger” seu filho de alguma coisa que ele deveria ter feito e que não fez, antes disso, perceba que está oferecendo à sociedade brasileira mais um cidadão irresponsável, incapaz de assumir seus erros, que não vai nunca se adaptar a um emprego (sim, em que há regras! ), e que, se por nossa infelicidade, for aprovado num concurso público qualquer não vai se especializar em desviar as verbas públicas para seu próprio cofre.
Estamos morrendo nas ruas, nos carros, morrendo de fome, de raiva e de sede (sábio Caetano) simplesmente porque não ensinamos nossos filhos a cumprir as leis que regem a vida em sociedade. E lamento constatar que não estamos nem perto de começar a fazê-lo agora…
Há alguns anos, entrei numa estação de metrô em Estocolmo, a tão civilizada capital da tão primeiro-mundista Suécia, e notei que havia entre muitas catracas comuns uma de passagem livre. Questionei a vendedora de bilhetes o porquê daquela catraca permanentemente liberada, sem nenhum segurança por perto, e ela me explicou que era destinada às pessoas que por qualquer motivo não tivessem dinheiro para a passagem. Minha mente incrédula e cheia de jeitinhos brasileiros não conteve a pergunta óbvia (para nós!): e se a pessoa tiver dinheiro mas simplesmente quiser burlar a lei?
Aqueles olhos suecos e azuis se espremeram num sorriso de pureza constrangedora – Mas por que ela faria isso?, me perguntou. Não lhe respondi. Comprei o bilhete, passei pela catraca e atrás de mim uma multidão que também havia pago por seus bilhetes. A catraca livre continuava vazia, tão vazia quanto minha alma brasileira – e envergonhada.
*Bacharel em Letras pela USP e mestre em Literatura pela UFG. Venceu o Prêmio Casa de las Américas (Cuba) na categoria Melhor Romance, em 1994. Atualmente é coordenador pedagógico do Ensino Médio no Centro Educacional Sesc Cidadania.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

FRÍVOLOS E INVASIVOS


Nem tudo é Verdade


Eugênio Magno

O voyeur será artista? Olha pelo buraco da fechadura o que deveria estar fora de quadro. Fotografa velhos evacuando e crianças se masturbando. Exibe párias em vitrines de cristal líquido. Liquida. Liquidifica todos. Assenta em confessionários e ouve os pecados do mundo. Pensa a vida como frame e brinca de deus na ilha de edição. Sua loucura é (apenas) disfarce.

(Do livro IN GÊ NU(A) IDA DE - versos e prosa, 2005)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

TENDÊNCIAS DO CENÁRIO INTERNACIONAL


Momento crítico na história da humanidade


“Os Estados Unidos sempre foram uma sociedade colonizadora. Inclusive antes de se constituírem como Estado já trabalhavam para eliminar a população indígena, o que significou a destruição de muitas nações originárias”, como bem lembra o linguista e ativista estadunidense Noam Chomsky, quando se pede que descreva a situação política mundial. Crítico feroz da política externa de seu país, ele recorda 1898, quando ela apontou seus dardos ao cenário internacional, com o controle de Cuba, “transformada essencialmente numa colônia”, e logo nas Filipinas, “onde assassinaram centenas de milhares de pessoas”.
Chomsky continua seu relato fazendo uma pequena contra-história do império: “roubou o Havaí da sua população originária 50 anos antes de incorporá-lo como um dos seus estados”. Imediatamente depois da II Guerra Mundial, os Estados Unidos se tornaram uma potência internacional, “com um poder sem precedente na história, um incomparável sistema de segurança, controlando o hemisfério ocidental e os dois grandes oceanos. E, naturalmente traçou planos para tentar organizar o mundo conforme a sua vontade”.
Contudo, ele aceita que o poder da superpotência diminuiu com respeito ao que tinha em 1950, o auge da sua hegemonia, quando acumulava 50% do produto interno bruto mundial, muito mais que os 25% que possui agora. Ainda assim, Chomsky lembra que “os Estados Unidos continua sendo o país mais rico e poderoso do mundo, e incomparável a nível militar”.
O intelectual estadunidense avalia uma série de questões e faz algumas previsões, como: um possível sistema de partido único; invasões e mudanças climáticas se retroalimentam; possibilidade certa de guerra nuclear e uma visão sobre a Colômbia.
Para ler, na íntegra, a matéria de Agustín Fernaández Gabard e Raúl Zibechi, para o La Jornada, traduzida por Victor Farinelli, clique aqui

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

PARA QUEM NÃO GOSTA DE CARNAVAL


"Feliz ano velho"

O Cineclube da Casa de Cássia exibe neste sábado, 6 de fevereiro, às 17 horas, o filme "Feliz Ano Velho", de Roberto Gervitz, com Malu Mader e Marcos Breda. Baseado no romance autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva que fez enorme sucesso nos anos 80, o filme recorda a infância e a juventude de um homem que fica tetraplégico depois que sofre um acidente quando nadava numa lagoa. Entre as suas lembranças estão o desaparecimento do pai, político que combatia a ditadura, e a participação no movimento estudantil de resistência ao regime militar. 
No domingo, 7, às 17 horas, o Cinepreciosidades continua a mostra de filmes inspirada pelo verso de Waly Salomão "Experimentar o experimental", exibindo "Algo Diferente", o primeiro filme da cineasta tcheca Vera Chytilová, de quem mostramos recentemente "As Margaridas". O filme aborda as experiências comuns de duas mulheres, uma ginasta que se prepara para uma competição, e uma cansada dona de casa, negligenciada pelo marido e super-requisitada pelo filho.    
A entrada é franca e o Cineclube Casa de Cássia, fica na rua Meyer, 105. Vila Suzana, em Mateus Leme. Maiores informações pelos telefones: (31)3535-1721 e 99247-6574.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

BRASIL NECESSITA TOMAR DECISÕES OUSADAS


Marcio Pochmann, critica 
medidas de austeridade como saída para a crise

Crédito: Heinrich Aikawa/Instituto Lula
Professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Marcio Pochmann, intelectual próximo aos governos petistas, defende que as saídas de curto prazo, baseadas na austeridade, não tendem a surtir efeitos benéficos ao país.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o economista faz uma análise da conjuntura mundial e apresenta suas hipóteses para a superação da crise econômica: “alguns países que conseguem responsavelmente ousar política e economicamente saem, em geral, muito melhor do que entraram na crise de dimensão global, enquanto outros se acomodam e assumem o caminho da decadência prolongada”.
Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.