sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

DOUTORANDO BRASILEIRO DESPEDE-SE DE BARCELONA

Adios

Paulo Roberto Barbosa*

"Queridos amigos,
Vou-me embora pra Pasárgada, onde não sou amigo do rei, as palmeiras já escasseiam, e é raro o sabiá que ainda canta. Tenho fundas raízes numa terra de cerrado, caatinga, floresta e mata-atlântica, mas também de carros, prédios, fumaça e muita safadeza. Não me será difícil mergulhar de novo nesse inferno-céu tão conhecido e peculiar. Quero bem àquele chão ainda úbere, apesar de tudo e todos que o sugam e o fazem foder-se muita vez, como o Peru de Vargas Llosa (O ano do bode). Pertenço a essa parte do globo, à qual minha pele está melhor adaptada e onde vivo bem, obrigado, apesar da muita saúva e do sol escaldante. Para ser sincero, não vejo a hora de voltar a solo tupiniquim. Antes, porém, de pegar o avião, permitam-me um adeus graciosamente melancólico, e em português, à Barcelona que me acolheu durante seis meses de sentimentos exacerbados. Resulta incômodo pensar que, daqui a uns dias, não terei mais o metrô da Plaza Espanya (na grafia catalã) e suas linhas vermelha, verde, azul, rosa e amarela levando para os confins e toda parte. Daqui a uns dias não verei mais o proverbial Café O’Canastro, onde bebi meu cortado pela manhã, observando furtivamente as ancas das camareiras, desde uma cadeira alta no balcão. Desaparecerão de vista os sonhos em pedra de Gaudí, os delírios plásticos de Miró, Picasso e Dalí, a exatidão urbana de Ildefons Cerdà, o informalismo cinzento de Tápies, o humor e as cores do pós-moderno Mariscal. Também sumirão os largos passeios, as ruas para pedestres, as bicis, a Passeig de Gràcia, a Gran Via, os tranvias, os funiculares, os autobuses vermelhos, as alubias, os albaricots, a crema catalana, os pollastres, os plátanos, os jamones, as butifarras, as granjas, os locutórios, as pastisserias e os avisos no asfalto, lembrando que em Barcelona também se morre, embora pareça virtualmente impossível enquanto se mora aqui. É triste pensar que não deambularei mais pelas velhas Ramblas, com suas temperamentais estátuas vivas, seus carteiristas, seus helados, suas paellas para turista e seu charme indiscutível. Não vagarei mais pelo Raval à procura de museus, cafés, pisos e tiendas improváveis. Não me perderei mais pelo Born e pelo bairro gótico, estupefato com suas vetustas igrejas medievais. Não mais admirarei os vultos célebres das praças, as sílfides dos parques, os hércules e as vitórias dos monumentos, os bigodes do gato de Botero, o garoto em bronze de um bebedouro na calle Pelayo, o touro pensador e a divertida girafa da Rambla de Catalunha, os grafittis tímidos, irregulares e circunscritos às portas de correr. Não mais as esguias, sinuosas e almodovarianas espanholas, em diferentes cores e estilos, pisando duramente os tacones no chão, como a dizer no molesten. Não mais os assombrosos árabes, sua fala de outro mundo, seus turbantes e suas enfeitadas mulheres, não mais os simpáticos chinos e seu furor comercial, não mais os latinos e sua infinita bonomia, não mais os africanos, os romanís, os japoneses, os ingleses, os estadunidenses, os nórdicos e até mesmo os espanhóis, com sua grata cordialidade, após as muitas guerras intestinas. Sobretudo, não mais o Venga!, o Adèus, o Sis plau, o De acuerdo, o Hola, o Mira e o Vale!.
Depois de amanhã, sentarei calmamente no Café O’Canastro para um prolongado adeus e um último cortado em homenagem a esta amante espanhola, pela qual evidentemente me apaixonei e a qual fatalmente devo deixar, não obstante nosso tórrido romance. Adios, Barcelona, que te vaya bien!"
* Paulo Barbosa é doutorando em artes, com pesquisa em cinema, pela Escola de Belas Artes, da UFMG.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

FENÔMENOS NATURAIS SE MULTIPLICAM PELO MUNDO AFORA

As pessoas que passavam pelo porto de Sidon, no Líbano, no útimo domingo, dia 20-02-2011, foram surpreendidas por imensas ondas do mar que se abateram sobre o porto. Os portos e as vias que margeam o mar foram fechadas pelas autoridades.

(Foto: Mahmoud Zayat / AFP)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

UM POUCO DE PROSA

O irmão de Erpídio
Eugênio Magno
– Cadê o homem das pedras?
– Ele é meio bilolado. O povo anda caçoando dele, por conta das coisas que ele fala.
– Eu não acho que ele é doido não.
– O juízo dele é fraco mesmo. Eu sou mais novo que ele e desde quando eu me entendo por gente que escuto o pessoal dizer que ele não bate muito bem.
– Tem muito tempo que eu não encontro com ele.
– Ah, ele levanta cedo, monta na égua e sai por aí. Vai p’a manga do Rodrigo. Tem dia que ele sai de bicicleta e vai fazer algum biscate. Outra hora some por essas grotas aí, que ninguém acha ele.
– Será que ele está por aí hoje? Vamos lá na casa dele ver se ele está por lá?
– Ele hoje saiu foi cedo. Quando eu estava indo p’a roça, de manhãzinha, eu cruzei com ele, montado na égua. O sol não tinha nem saído ainda e ele lá ia campear.
– Fala com ele que eu quero conversar com ele.
– O senhor não deve se iludir com as histórias dele não.
– Eu gosto muito dele.
– Ele não regula bem, não. E aquelas pedras não valem nada. É tudo cascalho.
– Mas a prosa é boa. Avisa a ele que domingo eu venho cá pra nós prosear.
(Inédito)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O FERVOR DE UM POVO

Fervor revolucionário. Este mosaico de dorsos humanos, prostrados
em direção de Meca, foi fotografado na última sexta-feira, na praça Tahrir, no Cairo, antes do anúncio da renúncia de Hosni Mubarak.


(Foto: Amr Dalsh / Reuters)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"NEM SÓ DE PUBLICIDADE VIVE O BOM JORNALISMO"

Futuro dos jornais: O desafio da credibilidade


Luciano Martins Costa

"Representantes dos principais diários do país afirmam que sabem da necessidade de cobrar pelo acesso ao conteúdo através da internet, mas reconhecem que dificilmente conseguirão manter seus leitores online se exigirem pagamento pela leitura de todos os seus conteúdos.
Os gestores da mídia brasileira estão de olho nos resultados do New York Times, que decidiu fechar o acesso gratuito, passando a cobrar uma assinatura mensal de US$ 20 para a leitura de seus conteúdos jornalísticos na interneet.

Leitores fiéis
Embora alguns observadores entendam que o tradicional jornal americano vai perder poucos leitores com essa medida, ganhando em troca uma importante fonte de receita, o modelo pode não servir para o Brasil. Por aqui não existe a tradição de valorizar o jornalismo de qualidade, avaliam alguns dos entrevistados, o que tornaria um risco limitar o acesso a quem paga.
O dilema não se refere ao momento presente, quando os jornais se beneficiam do crescimento econômico do país e da consolidação de uma nova classe média que precisa aprender a operar em outros padrões sociais.
O conteúdo produzido originalmente para o papel já tem acesso condicionado nos portais, na maioria dos jornais brasileiros, mas essa situação tende a se complicar com o crescente número de pessoas, principalmente os mais jovens, que preferem se informar através de aparelhos eletrônicos. Desconfia-se de que eles não aceitariam pagar para ler reportagens.
De modo geral, um grande jornal brasileiro como o Estado de S.Paulo tem 65% de seu faturamento originado em publicidade, mas essa receita não é suficiente para pagar a produção jornalística.
Manter uma carteira de leitores fiéis ainda é fundamental.

Novas tendências
A equação parece bem resolvida no presente, também porque a maioria das empresas tradicionais fatura adicionalmente com os chamados títulos "populares", lançados na esteira do surgimento da nova classe média, nos últimos anos.
Esses jornais têm um custo baixo de produção e captam muita publicidade miúda. Portanto, o dilema não é como financiar o jornalismo em si. O desafio é: como promover o encontro entre o jornalismo de qualidade e um modelo de negócio sustentável?
Esse dilema só se apresenta porque há na sociedade grandes questionamentos sobre a credibilidade da imprensa. A insegurança dos gestores em apostar no acesso exclusivo para quem pode ou aceita pagar tem origem na falta de garantias de que o conteúdo jornalístico oferecido pelas empresas tradicionais atende as necessidades essenciais do leitor.
Diante de um histórico de dificuldade para se antecipar a novas tendências, marca de um jornalismo conservador, fica difícil apostar que a imprensa vai acumular rapidamente as qualidades que a tornaram, em tempos passados, uma instituição de valor para a sociedade."
(Fonte: Observatório da Imprensa)

UM PEDAÇO DO MUNDO DE JORGE AMADO

Jorge Amado, Gabriela, sr. Nacib, o Vesúvio e o Bataclan, estão mais vivos do que nunca...
















domingo, 6 de fevereiro de 2011

A CULPA NÃO É DE SÃO PEDRO

Darwinismo social
Frei Betto

A catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro é noticiada com todo alarde, comove corações e mentes, mobiliza governo e solidariedade. No entanto, cala uma pergunta: de quem é a culpa? Quem o responsável pela eliminação de tantas vidas?
Do jeito que o noticiário mostra os efeitos, sem abordar as causas, a impressão que se tem é de que a culpa é do acaso. Ou se quiser, de São Pedro. A cidade de São Paulo transbordou e o prefeito em nenhum momento fez autocrítica de sua administração. Apenas culpou o excesso de água caída do céu. O mesmo cinismo se repetiu em vários municípios brasileiros que ficaram sob as águas.
Ora, nada é por acaso. Em 2008, o furacão Ike atravessou Cuba de Sul a Norte, derrubou 400 mil casas, deu um prejuízo de US$ 4 bilhões. Morreram 7 pessoas. Por que o número de mortos não foi maior? Porque em Cuba funciona o sistema de prevenção de catástrofes naturais. No Brasil, o governo promete instalar um sistema de alerta... em 2015!
O ecocídio da região serrana fluminense tem culpados. O principal deles é o poder público, que jamais promoveu reforma agrária no Brasil. Nossas vastas extensões de terra estão tomadas pelo latifúndio ou pela especulação fundiária. Assim, o desenvolvimento brasileiro se deu pelo modelo saci, de uma perna só, a urbana.
Na zona rural faltam estradas, energia (o Luz para Todos chegou com Lula!), escolas de qualidade e, sobretudo, empregos. Para escapar da miséria e do atraso, o brasileiro migra do campo para a cidade. Assim, hoje mais de 80% de nossa população entope as cidades.
Nos países desenvolvidos, como a França e a Itália, morar fora das metrópoles é desfrutar de melhor qualidade de vida. Aqui, basta deixar o perímetro urbano para se deparar com ruas sem asfalto, casebres em ruínas, pessoas que estampam no rosto a pobreza a que estão condenadas.
Nossos municípios não têm plano diretor, planejamento urbano, controle sobre a especulação imobiliária. Matas ciliares são invadidas, rios e lagoas contaminados, morros desmatados, áreas de preservação ambiental ocupadas. E ainda há quem insista em flexibilizar o Código Florestal!
Darwin ensinou que, na natureza, sobrevivem os mais aptos. E o sistema capitalista criou estruturas para promover a seleção social, de modo que os miseráveis encontrem a morte o quanto antes.
Nas guerras são os pobres e os filhos dos pobres os destacados para as frentes de combate. Ingressar nos EUA e obter documentos legais para ali viver é uma epopeia que exige truques e riscos. Mas qualquer jovem latino-americano disposto a alistar-se em suas Forças Armadas encontrará as portas escancaradas.
Os pobres não sofrem morte súbita (aliás, na Bélgica se fabrica uma cerveja com este nome, Mort Subite). A seleção social não se dá com a rapidez com que as câmaras de gás de Hitler matavam judeus, comunistas, ciganos e homossexuais. É mais atroz, mais lenta, como uma tortura que se prolonga dia a dia, através da falta de dinheiro, de emprego, de escola, de atendimento médico etc.
Expulsos do campo pelo gado que invade até a Amazônia, pelos canaviais colhidos por trabalho semiescravo, pelo cultivo da soja ou pelas imensas extensões de terras ociosas à espera de maior valorização, famílias brasileiras tomam o rumo da cidade na esperança de uma vida melhor.
Não há quem as receba, quem procure orientá-las, quem tome ciência das suas condições de saúde, aptidão profissional e escolaridade das crianças. Recebida por um parente ou amigo, a família se instala como pode: ocupa o morro, ergue um barraco na periferia, amplia a favela.
E tudo é muito difícil para ela: alistar-se no Bolsa Família, conseguir escola para os filhos, merecer atendimento de saúde. Premida pela sobrevivência, busca a economia informal, uma ocupação qualquer e, por vezes, a contravenção, a criminalidade, o tráfico de drogas.
É esse darwinismo social, que tanto favorece a acumulação de muita riqueza em poucas mãos (65% da riqueza do Brasil estão em mãos de apenas 20% da população), que faz dos pobres vítimas do descaso do governo, da falta de planejamento e do rigor da lei sobre aqueles que, ansiosos por multiplicar seu capital, ignoram os marcos regulatórios e anabolizam a especulação imobiliária. E ainda querem flexibilizar o Código Florestal, repito.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

AS VERDADES DE UM TEÓLOGO CORAJOSO

“Creio em Deus, mas não na Igreja”,
afirma Hans Küng

“Fui e sou um membro fiel da Igreja. Creio em Deus e em seu Cristo, mas não creio na Igreja. Recuso toda equiparação da Igreja com Deus, todo soberbo triunfalismo e todo confessionalismo egoísta”. Com esta contundência se expressa o teólogo Hans Küng próximo de completar 83 anos (o fará em março próximo). Na semana passada, a Universidade Nacional de Educação a Distância (UNED) celebrou a festividade de Tomás de Aquino entregando-lhe o título de doutor honoris causa. Era uma dívida que a universidade espanhola tinha com um dos pensadores cristãos mais relevantes do último século.
Para ler a reportagem completa de Juan G. Bedoya, sobre o teólogo alemão, publicada pelo jornal El País, de 28-01-2011, com tradução do Cepat, clique aqui.
(Fonte: site do IHU - Instituto Humanitas Unisinos)