terça-feira, 28 de julho de 2009

WERNER HERZOG DIZ QUE NÃO EXISTE CINEMA INDEPENDENTE

Cinema independente não existe, diz Herzog
Fernanda Ezabella
(de Los Angeles)

Foto: Kimberly White/Reuters

"O diretor alemão Werner Herzog, 66, tem dois longas inéditos na manga e um curta que rodou na Etiópia, além de uma ópera montada na Espanha e um livro em inglês, tudo realizado nos últimos 11 meses.
A seguir, leia trechos inéditos da entrevista que o cineasta deu à Folha, em sua casa em Los Angeles, cidade onde mora há cerca de dez anos. Aqui, ele fala sobre Hollywood, reality shows, financiamento de filmes e a busca pelo 'êxtase da verdade'.
Como é viver em Los Angeles, onde se concentra a indústria do cinema?
Ela existe, mas não me afeta. Não que eu vá dizer que é ridícula. É como deve ser. Eu amo alguns filmes de Hollywood, como os filmes de Fred Astaire, são alguns dos melhores que Hollywood já criou. Então, tem sua beleza. Mas só por coincidência eu vivo aqui. Não sou parte disso. Hollywood é uma definição cultural. Quando você vê 'Transformers' ou 'Transporters', qual é mesmo o nome? Existe uma certa definição cultural ali. E a minha definição cultural é bavariana.
Mas também existem os filmes independentes em Hollywood.
Cinema independente não existe. É um mito. Cinema independente apenas existe nos filmes caseiros, que você faz nas férias, na praia no Havaí, para mostrar para sua família. Todo o resto é dependente, de finanças, sistema de distribuição, mídia, de tudo, dos sindicatos, sindicatos de atores, diretores, roteiritistas.
E quanto aos programas de TV americanos? Li que o senhor gostava dos reality shows.
Não, não vejo nada. Na época assisti ao [reality] da [ex-coelhinha da ‘Playboy’] Ann Nicole Smith. Claro que ela era um fenômeno interessante, porque você tem que pensar em novos ícones de 'beleza', e eu tenho que dizer isso entre aspas. É uma beleza disforme, como os bodybuilders. Quase grotesco. E por causa disso ela era um fenômeno interessante.
O que te faz dizer então que Los Angeles é a cidade com mais substância dos Estados Unidos?
Por exemplo, o Museum of Jurassic Technologies, que provavelmente você nunca conheceu. Foi um homem genial que o fundou, fica no Venice Boulevard e muito do conteúdo do museu é completamente fantástico. E a 30 minutes daqui, em Pasadena, tem um laboratório de aviões a jato, com um centro de controle de inúmeras missões e um arquivo da Nasa com milhões e milhões de coisas preservadas de explorações do nosso sistema solar, da Lua. Los Angeles é cheia de coisas assim. E você encontra aqui os melhores escritores, fotógrafos, músicos, as coisas realmente são feitas aqui. Mas você precisa olhar além da superfície. E eu vivo completamente além da superfície. Por isso as pessoas mal sabem que eu vivo aqui.
O senhor costuma ir com que frequência aos cinemas?
Eu raramente vejo filmes. Nunca vou a nenhuma première de cinema, vejo talvez dois filmes por ano.
Por quê?
Não sei. Não tenho muito tempo de ver filmes. Nos últimos 11 meses, eu fiz dois longas-metragens e um curta na Etiópia. Fiz uma ópera (Parsifal) em Valência, publiquei o livro 'Conquest of the Useless' em inglês e trabalhei muito na sua tradução, e agora estou preparando outros projetos. Não sou um workaholic, eu trabalho muito focado e quieto e é isso. Eu nunca fui de ver muitos filmes. Nunca, nunca.
Nem quando era mais jovem e decidiu fazer cinema?
Não, eu não via muitos filmes.
O senhor gosta de dizer que o cinema verdade [vertente do documentário] não vai a fundo na verdade. Mas, ao mesmo tempo, diz que seus documentários não são documentários.
Isso me levaria 48 horas para explicar. Mas, para encurtar, digo que estou atrás de algo diferente do que o cinema verdade, simplesmente porque o cinema verdade é muito baseado em fatos, e fatos não signifcam necessariamente a verdade.
Mas, quando você faz um documentário, você encena, repete as cenas várias vezes. Como acha que está chegando mais perto da verdade assim?
Estou chegando perto da poesia, perto da imaginação, de algo que nos ilumina. E daí temos outra qualidade de verdade nisso, é um êxtase da verdade.
E da onde vêm as ideias para tantos filmes?
Elas sempre vêm até mim, como uma invasão, como ladrões na calada da noite, invadindo uma casa. Agora, enquanto estamos sentados aqui, sete, oito novos projetos estão forçando a porta para entrar. Não é que eu fico planejando uma carreira, eu nunca tive uma carreira. Você vê, outros [diretores] vão atrás de livros best-sellers, recém-lançados, para ver o que dá para transformar em um filme. Eu nunca estive nisso. Mas você pode ficar tranquila, eu tenho muitas histórias boas ainda para contar.
Ficou mais fácil para financiar seus filmes hoje?
Não. É mais difícil hoje.
Por quê?
Não vou falar da crise financeira, que claro que dificulta as coisas. Mas todos os distribuidores que existiam dos meus filmes, ou as distribuidoras dos meus filmes no Brasil e outros lugares, se extinguiram. E o público quase do mundo inteiro mudou sua atenção para filmes mais como “O Exterminador do Futuro” e menos para filmes como “Aguirre”. Então é uma grande mudança. E agora a atenção é mais para a internet. Mas eu nunca vou reclamar, porque sempre dou um jeito de fazer o meu próximo filme, e o próximo e o próximo." (Fonte: Ilustrada - Folha de São Paulo)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

INSCRIÇÕES ABERTAS PARA ENCONTRO DE FÉ E POLÍTICA

Nos dias 28 e 29 de novembro deste ano acontece em Ipatinga, MG, o 7º Encontro Nacional de Fé e Política. A coordenação do evento espera receber cerca de 6000 pessoas no encontro. As inscrições já podem ser feitas. Maiores detalhes podem ser obtidos no folder abaixo ou acessando o site www.fepoliticamg.org.br .

terça-feira, 21 de julho de 2009

POEMA VISUAL

A postagem de hoje é um poema visual, cortesia de um amigo, o poeta Fernando Aguiar (Lisboa, Portugal).

Calligraphy

sexta-feira, 17 de julho de 2009

LEONARDO BOFF COMENTA A NOVA ENCÍCLICA DO PAPA


A falta que faz ao Papa um pouco de marxismo
Leonardo Boff *
Teólogo

"A nova encíclica de Bento XVI Caritas in Veritate de 7 de julho último é uma tomada de posição da Igreja face à crise atual. O complexo das crises, que atingem a humanidade e que comportam ameaças severas sobre o sistema da vida e seu futuro, demandaria um texto profético, carregado de urgência. Mas não é isso que recebemos senão uma longa e detalhada reflexão sobre a maioria dos problemas atuais que vão da crise econômica ao turismo, da biotecnologia à crise ambiental e projeções sobre um Governo mundial da Globalização. O gênero não é profético, o que suporia "uma análise concreta de uma situação concreta". Esta possibilitaria investir contra os problemas em tela na forma de denúncia-anúncio. Mas não é da natureza deste Papa ser profeta. Ele é um doutor e um mestre. Elabora o discurso oficial do Magistério, cuja perspectiva não é de baixo, da vida real e conflitiva, mas de cima, da doutrina ortodoxa que esfuma as contradições e minimaliza os conflitos. A tônica dominante não é a da análise, mas da ética, do dever-ser.
Como não faz análise da realidade atual, extremamente complexa, o discurso magisterial permanece principista, equilibrista e se define por sua indefinição. O subtexto do texto, ou o não-dito no dito, remete a uma inocência teórica que inconscientemente assume a ideologia funcional da sociedade dominante. Já se nota na abordagem do tema central - o desenvolvimento - hoje tão criticado por não tomar em conta os limites ecológicos da Terra. Disso a encíclica não fala nada. A visão é de que o sistema mundial se apresenta fundamentalmente correto. O que existe são disfunções e não contradições. Esse diagnóstico sugere a seguinte terapia, semelhante a do G-20: retificações e não mudanças, melhorias e não troca de paradigma, reformas e não libertações. É o imperativo do mestre: 'correção', não a do profeta: 'conversão'.
Ao lermos o texto, longo e pesado, terminamos por pensar: como faria bem ao atual Papa um pouco de marxismo! Este, a partir dos oprimidos, tem o mérito de desmascarar as oposições presentes no sistema atual, pôr à luz os conflitos de poder e denunciar a voracidade incontida da sociedade de mercado, competitiva, consumista, nada cooperativa e injusta. Ela representa um pecado social e estrutural que sacrifica milhões no altar da produção para o consumo ilimitado. Isso caberia ao Papa profeticamente denunciar. Mas não o faz.
O texto do Magistério, olimpicamente fora e acima da situação conflitiva atual, não é ideologicamente 'neutro' como pretende. É um discurso reprodutor do sistema imperante que faz sofrer a todos especialmente os pobres. Isso não é questão de Bento XVI querer ou não querer mas da lógica estrutural de seu tipo de discurso magisterial. Por renunciar a uma análise critica séria, paga um preço alto em ineficácia teórica e prática. Não inova, repete.
E ai perde uma enorme oportunidade de se dirigir à humanidade num momento dramático da história, a partir do capital simbólico de transformação e de esperança, contido na mensagem cristã. Esse Papa não valoriza o novo céu e a nova Terra, que podem ser antecipados pelas práticas humanas, apenas conhece essa vida decadente e, por si mesma insustentável (seu pessimismo cultural) e a vida eterna e o céu que ainda virão. Afasta-se assim da grande mensagem bíblica que possui consequências políticas revolucionárias ao afirmar que a utopia terminal do Reino da justiça, do amor e da liberdade só será real na medida em que se construírem e anteciparem, nos limites do espaço e do tempo histórico, tais bens entre nós.
Curiosamente, abstraindo de laivos fideístas recorrentes ('só através da caridade cristã é possível o desenvolvimento integral'), quando se 'esquece' do tom magisterial, na parte final da encíclica, introduz coisas sensatas como a reforma da ONU, a nova arquitetura econômico-financeira internacional, o conceito do Bem Comum do Globo e a inclusão relacional da família humana.
Parafraseando Nietzsche: 'quanto de análise crítica o Magistério da Igreja é capaz de incorporar'?"
* Leonardo Boff, também é filósofo e escritor, autor de Igreja: carisma e poder, Record 2005. (Fonte: site Adital)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A QUESTÃO DO DIPLOMA DE JORNALISMO

''Curiosidade está acima do diploma de jornalismo'', afirma jornalista
Em encontro no MASP na última terça-feira (07/07), Gay Talese afirmou que a curiosidade está em primeiro lugar entre as qualidades de um jornalista, acima do diploma. “Acho que o diploma não é essencial para o jornalismo. O essencial é a curiosidade", disse o jornalista em debate moderado pelo editor executivo do jornal O Estado de S. Paulo, Ilan Kow.
A reportagem é de Izabela Vasconcelos e publicada pelo portal comunique-se, 08-07-2009.
A primeira matéria
Durante o encontro, Talese contou sua trajetória no jornalismo, sempre enfatizando a curiosidade como principal ponto para seu crescimento na carreira. O jornalista, que começou com 21 anos no The New York Times, como copy boy, algo parecido com office boy, como descreve Talese, despertou interesse pelo trabalho do homem responsável pela inserção das manchetes do noticiário, por meio de um jogo de luzes, em toda a Times Square.
Talese observou o homem e perguntou se poderia entrevistá-lo. “Mas você não é repórter, disse ele. Mas pretendo ser um repórter, respondi. Aí comecei a minha primeira matéria”, conta o jornalista, que pediu uma máquina de escrever emprestada de um repórter e entregou a reportagem para o editor. A matéria foi publicada, mas sem créditos.
A imprensa esportiva
O primeiro emprego de Talese no jornalismo foi na imprensa esportiva. “Eu gostava de esporte, mas não de escrever sobre quem ganhou, quem perdeu. Nenhum placar de jogo me interessava. As pessoas me interessavam, as histórias", explica.
Entre alguns dos perfis mais conhecidos do esporte, escritos pelo jornalista, estão o jogador de baseball Joe DiMaggio e os boxeadores Floyd Patterson e Joe Louis.
O jornalismo atual
“Os jornalistas de hoje têm um melhor vocabulário, uma melhor formação. Mas pecam em sua principal missão, de vigiar e criticar o poder”, diz Talese. Para ele, não existem mais excelentes repórteres como antigamente, tudo porque não há contestação como antes, apenas a reprodução de versões oficiais.
Sobre a crise econômica na imprensa, principalmente na norte-americana, o jornalista, que não é adepto das novas tecnologias, como a internet e o celular, é otimista. “A tecnologia não vai matar o jornal. O jornal deve oferecer o que as pessoas não podem encontrar na internet. O jornalismo honesto e bem escrito sempre terá espaço e será valorizado”, avalia.
O segredo do sucesso
Talese, conhecido como o pai do new journalism, destacou que sempre procurou um estilo próprio de texto. “Pensava que se eu escrevesse ficção seria apenas mais um autor de ficção, mas seu escrevesse algo que parecesse ficção, nesse estilo, mas com histórias e nomes reais, isso sim seria diferente”, relembra o autor de O Reino e o Poder, Fama e Anonimato, A Mulher do Próximo, Vida de Escritor, entre outros.
O jornalista, que escreveu o famoso “Frank Sinatra está gripado”, perfil do cantor norte-americano, também contou os bastidores de outras reportagens de sua carreira, lembranças da infância, suas impressões sobre o Festival Literário Internacional de Paraty (FLIP) e o livro que escreve sobre os seus 50 anos de casamento com a editora Nan Talese. (Fonte: IHU - Instituto Humanitas Unisinos)

A CAUSA DOS ACIDENTES AÉREOS

Recebi da amiga, Terezinha Oliveira, um e-mail com um depoimento de um comandante aposentado da Varig que é esclarecedor. Quem anda preocupado com a aeronavegação vai saber porque acontece tanto acidente envolvendo os Airbus.

O ACIDENTE FATAL COM O AIRBUS A-330
NO VÔO 447 DA AIR FRANCE
QUE CAIU NO ATLÂNTICO

Texto de autoria do Comandante da VARIG (retired),
Manoel Jorge Pahim Dias.
Para ler e pensar!!!
Apesar de muitos nomes técnicos, dá para perceber que aviões muito grandes e complexos não conseguem evitar o conflito entre homem e máquina na hora de tomada de decisões e de manobras importantes a serem executadas pelos pilotos. Com a palavra os amigos pilotos, sobre o que escreveu esse seu colega aposentado. Minha opinião é, no mínimo, pragmática. Aproveitando o "gancho" de opiniões abalizadas de colegas da aviação, temos que encarar, e assumir, que há uma linha de aeronaves ditas de "última geração" que deverá passar por sérias e urgentes reformulações no projeto, a exemplo do que ocorreu com o Comet (que explodia no ar devido ao perfil angular das janelas); o Electra (explodia em vôo devido à rebitagem que não resistia à vibração das hélices); o Trident e o Boeing 727, que tinham deep stall (estol profundo - Redução da velocidade relativa ao ar, de um avião ou de um aeromodelo, a ponto de o fazer cair, por ser o seu peso maior que a força de sustentação das asas; perda (Aurélio); o "Zarapa", que teve que implantar a quilha porque não saia do parafuso; o Bandeirante que teve reestruturado por completo o sistema de compensador do profundor, porque a ‘cauda saia’ em vôo, etc. A linha recente da Airbus, em várias condições de vôo, sobrepuja, e por vezes chega até a anular qualquer ação de comando proveniente da cabine, o que não deixa de ser um absurdo. Cito um exemplo: uma manobra evasiva anti-colisão será limitada pela não-aceitação de comando brusco. Pelo mesmo viés, o fato dos comandos de vôo serem fly-by-wire (comando por fio elétrico), totalmente potenciados eletricamente sem qualquer back-up (comando mecânico paralelo) que não seja o elétrico, significa necessariamente que a perda total de energia elétrica redunda inexoravelmente na perda total de atuação nos comandos de vôo! Um exemplo recente ocorreu com o Swissair FLT 111 em 1998, que se estatelou sobre o mar sem qualquer tipo de orientação e comando (detalhes: www.jetsite.com.br/acidentes/blackbox).

Até hoje não há uma conclusão definitiva sobre a ocorrência da superposição do comando proveniente do computador de bordo x comando de cabine no acidente com o avião da TAM em Congonhas. Mesmo que se dê razão ao ilustre investigador que afirmou que o recuo das manetes tem que ser total, ao ponto de uma folga de 2 mm simbolizar que o piloto quer arremeter é de um absurdo paralisante, característica de quem não sabe para o que serve um "curso de manete". Mas esse acidente foi o 5° em circunstâncias idênticas. Várias operadoras, após esse acidente, passaram a incluir no treinamento de simulador o corte do motor quando tal fenômeno vier a ocorrer, ou seja, há um reconhecimento tácito de que o projeto é falho e temerário.
Mas, voltando à nova geração AIRBUS, é bom lembrar que durante o vôo de demonstração inaugural em Fairbourough, Inglaterra, a aeronave entrou voando sobre as árvores porque os computadores de bordo não aceitaram o comando dos pilotos. Mais cinco acidentes idênticos ocorreram após esse. Dois incidentes de brusca variação de atitude sem comando da cabine ocorreram no ano passado com um Airbus A330 na Austrália e mais um na Nova Zelândia. Hoje, 04/06/09, já estamos vendo as primeiras manifestações "plantadas" pelo interesse do fabricante, no sentido de sutilmente colocar na opinião pública a idéia de que os pilotos incorreram em erro ao adentrar em turbulência com velocidade inadequada. Nada mais patético! Qualquer piloto sabe qual a velocidade de penetração em turbulência, quanto mais os colegas de vôo internacional de uma empresa como a AIR FRANCE!

Mesmo que você seja apanhado de surpresa, o ajuste é rápido: motor no "esbarro" para pouca velocidade; speed-brake (baixar a velocidade) e power off (cortar o motor) para velocidade alta. Em segundos, você se acerta, não é mesmo? A propósito, quando saímos para um vôo, levamos conosco o folder contendo todas as informações necessárias, incluindo a surface prog e wind aloft prog, ou seja, ninguém vai voar sem saber o que tem pela frente. Seguramente, não pode ter sido diferente com os colegas franceses. Portanto, a pífia imputação de desconhecimento das condições meteorológicas da rota também não pode prosperar. O AF 447 emitiu quatro wakes (alarmes) antes da queda, com coincidentes quatro minutos de intervalo um do outro: o primeiro reportando falha elétrica no sistema principal; o segundo reportando a atuação do sistema stand-by (de sobreaviso) operando com restrição nos comandos de vôo (spoilers - aletas escamoteáveis nas asas, yaw damper - aletas de guinada, etc.); o terceiro informando a perda do sistema de navegação lateral e vertical e, finalmente, o quarto: o mergulho na vertical com despressurização (o que é previsível, pois não há sistema que aguente descida no cone "sustentação zero").
Diante disso, conclui-se que o ocorrido em tudo se assemelha ao acidente com o SWISSAIR, no qual a aerovane ficou totalmente desgovernada, sem qualquer tipo de orientação, E SEM QUALQUER TIPO DE COMANDO NA CABINE, INCLUINDO O DE POTÊNCIA. Estamos diante, MAIS UMA VEZ, de um avião que foi projetado por engenheiros, que se dizem perfeitos e que acham que pilotos só servem para atrapalhar... Estou de pleno acordo... Desde que eles mesmos voem essa máquina, levando a bordo outros tantos de sua equipe, de preferência, todos eles!
A pergunta que fica: até quando vamos aceitar com passividade voar aviões como esses? Associações e sindicatos não devem temer o poder econômico, principalmente quando há vidas humanas envolvidas. A quem possa interessar, é como eu penso!

Saudações,
VIANNA

Minha conclusão é a seguinte: AIRBUS é AIRBOMBA. De agora em diante só quero voar em BOEING.
Álvaro P. de Cerqueira

Reis,
Concordo com tudo o que está dito aqui. Na época do acidente de Congonhas eu e o Schittini trabalhavamos juntos na ANAC e conversamos muito sobre o assunto. Lembro-me de um incidente ocorrido com um 320 da TAM em RJ que quase deu "luz e calor". Acontece que o avião é programado para não inclinar mais de 30° e não ultrapassa essa inclinação nem que o piloto se veja na contingência de fazê-lo. Pior: se estiver monomotor, esse limite é 20°. Pois bem em uma aproximação visual para a pista norte do Santos Dumont o piloto esticou um pouco a perna do vento e ficou meio em cima do Pão de Açucar. Como não conseguiu inclinar mais de 30°, usou sua experiência anterior e reduziu o motor de dentro na tentativa de apertar a curva. O diabo do avião entendeu que estava perdendo um motor e reduziu a inclinação para 20 °, quase jogando o avião no morro. Essa é a "segurança' desse produto francês. Na época eu dei para o Schittini minha opinião que é a mesma até hoje: francês é bom para fazer comida, vinho, queijo fedorento e perfume cheiroso. O resto é pura merda. Avião e computador, então, nem se fala...
Um abraço,
Rubens.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

PREVINA-SE CONTRA A "GRIPE SUÍNA"

Recebi de uma amiga um e-mail do Doutor Odair Alfredo Gomes, professor do Laboratório Morfofuncional da Faculdade de Medicina - Unaerp, dando algumas dicas sobre prevenção de gripe, em geral, e da Influenza (chamada erroneamente, segundo o médico, de "gripe suína"), em particular. Eis o texto na íntegra:
É sempre bom se prevenir...

"A pedido de um amigo de pesquisas no tempo do nosso saudoso e querido Corsini, do qual fui amigo (nos anos 70) e discípulo no começo dos anos 80 em Imunologia e Genética (Unicamp), vou repassar a todos amaneira mais correta e saudável de enfrentar essa Influenza A (erroneamente chamada de gripe suína).
O melhor que vc pode fazer é reforçar o seu sistema imunológico através de uma alimentação correta e saudável, no sentido de manipular sua imunidade, preparando suas células brancas do sangue (neutrófilos)e os linfócitos (células T) as células B e células matadoras naturais. Essas células B produzem anticorpos importantes que correm para destruir os invasores estranhos, como vírus, bactérias e células de tumores. As células T controlam inúmeras atividades imunólogicas e produzem duas substâncias químicas chamadas Interferon e Interleucina, essenciais ao combate de infecções e de tumores.Bem vamos ao que interessa, ou seja quais alimentos são importantes (estimulam a ação do sistema imunológico e potencializam seu funcionamento).
Antes de mais nada, tome pelo menos um litro e meio de água por dia, pois os vírus vivem melhor em ambientes secos e manter suas vias aéreas úmidas desestimulam os vírus. Não a tome gelada, semprepreferindo água natural e de preferência água mineral de boa qualidade.Não tome leite, principalmente se estiver resfriado ou com sinusite, pois produz muito muco e dificulta a cura.
Use e abuse do Iogurte natural, um excelente alimento do sistema imunológico. Coloque bastante cebola na sua alimentação. Use e abuse do alho que é excelente para o seu sistema imunológico. Coloque na sua alimentação alimentos ricos em caroteno (cenoura, damasco seco, beterraba, batata doce cozida, espinafre cru, couve) e alimentos ricos em zinco (fígado de boi e semente de abóbora). Faça uma dieta vegetariana (vegetais e frutas). Coloque na sua alimentação salmão, bacalhau e sardinha, excelentes para o seu sistema imunológico.
O cogumelo Shiitake também é um excelente anti-viral, assim como o chá de gengibre que destrói o vírus da gripe. Evite ao máximo alimentos ricos em gordura (deprimem o sistema imunológico), tais como carnes vermelhas e derivados. Evite óleo de milho, de girassol ou de soja que são óleos vegetais poli-insaturados.
Importante: mantenha suas mãos sempre bem limpas e use fio dental para limpar os dentes, antes da escovação.
Com esses cuidados acima e essa alimentação... os vírus nem chegarão perto de vc. (uma pequena contribuição para vc enfrentar essa e qualquer gripe que porventura apareça no seu caminho).
Abraços,
Dr. Odair Alfredo Gomes
P.S.: Se achar útil por favor repasse aos seus amigos..."

DESAFIOS DA GLOBALIZAÇÃO


foto: Diogo R. Martins


Bifurcação da Humanidade


Leonardo Boff *
Teólogo


"No início do ano os vinte paises mais ricos do mundo (G-20) se reuniram em Londres para encontrar saidas à crise econômico-financeira mundial. A decisão de base foi continuar no mesmo caminho anterior à crise mas com controles e regulações a partir de uma presença maior do Estado na economia. Os controles seriam pelo tempo necessário à superação da crise, a fim de evitar o colapso global e as regulações para restaurar o crescimento e a prosperidade com a mesma lógica que vigorou antes. Esta opção implica continuar com a exploração dos recursos naturais que devastam os ecossistemas e fazem aumentar o aquecimento global e o fosso social entre ricos e pobres. Se isso prosperar dentro de pouco enfrentaremos crise da mesma natureza, pois as causas não foram eliminadas. Acresce ainda o fato de que os restantes 172 paises (ao todo são 192) sequer foram ouvidos e consultados. Pensou-se em ajudá-las mas com migalhas. Efetivamente, toda a Africa, o continente mais vulnerável, seria socorrida com menos fundos que o governo dos EUA aplicou para salvar a General Motor. O impacto perverso da crise sobre os paises de baixo ingresso apresenta-se aterrador. Estima-se que, enquanto durar a crise, mais de 100 milhões de pessoas caiam cada ano na extrema pobreza e um milhão de postos de trabalho se perderão por mes. Tal fato fez com que o Presidente da ONU, Miguel d’Escoto Brokmann, imbuido de alto sentido humanitário e ético, convocasse uma reunião de alto nivel que reunisse os 192 representantes dos povos para juntos discutirem entre si a crise e buscarem soluções includentes. Isso ocorreu nos dias 24-26 de junho do corrente ano nos espaços da ONU. Todos falaram. Era impactante ouvir o clamor que vinha das entranhas da Humanidade: os ricos lamentando os trilhões em perdas de seus negócios e os pobres denunciando o aumento da miséria de seu povo. Muitas vozes soaram claras: não bastam controles e regulações que acabam beneficiando os que provocaram a crise. Faz-se urgente um novo paradigma que redefina a relação para com a natureza com seus recursos escassos, o propósito do crescimento e o tipo de civilização planetária que queremos. Importa elaborar uma Declaração do Bem Comum da Humanidade e da Terra que oriente etica e espiritualmente o sentido da vida neste pequeno planeta. Depois de um intenso trabalho previamente feito por uma comissão da expertos, presidida pelo Nobel de economia Joseph Stiglitz e com as colaborações vindas de quatro mesas redondas e da Assembléia Geral concertou-se um documento detalhado que ganhou o consenso dos 192 represenantes dos povos. O perigo coletivo facilitou uma convergência coletiva, uma raridade na história da ONU. O documento prevê medidas imeditas especialmente para salvar os mais vulneráveis sob coordenação de várias instituições internacionais, articuladas entre si. Mas o mais importante é a apresentação de um programa de reformas sistêmicas que prevê um sistema mundial de reservas com direitos especiais de giro, reformas de gestão do FMI e do Banco Mundial, regulações internacionais dos mercados financeiros e do comércio de derivados e principalmente a criação de um Conselho de Coordenação Econômica Mundial equivalente ao Conselho de Segurança. Desta forma se presume garantir um desenvolvimento estável e sustentável. O fato desta cúpula mundial é gerador de esperança, pois a humanidade começa a olhar para si como um todo e com um destino comum. Mas todas as soluções se orientam ainda sob o signdo do desenvolvimento, o fator principal gerador da crise do sistema-Terra. Ele tem que ser trocado por um “modo sustentado geral de viver”, caso contrário assistiremos à bifurcação da humanidade, entre os que desfrutam do desenvolvimento e os que são vítimas dele. Não chegamos ainda ao novo paradigma de convivência Terra-Humanidade, forjador de uma nova esperança. O próximo futuro, dizia o Presidente da Assembléia, será pela utopia necessária que precisamos constuir para permanecermos juntos na mesma Casa Comum."
* Leonardo Boff é do corpo de assessores do Presidente da Assembléia da ONU e com este título participou dos trabalhos ai realizados.

domingo, 5 de julho de 2009

QUINTA EDIÇÃO DO "BELÔ POÉTICO"

BELO HORIZONTE EM TEMPO DE POESIA

Eugênio Magno


Poesia é: / cor e ação / é rim / Mas / também razão / é o ar que se respira /
dizia Arnaldo / num canto de um quarto / de ofício qualquer /
Pois é!

Este é um poema-provocação de Rogério Salgado e Virgilene Araújo, organizadores do “Belô Poético – Encontro Nacional de Poesia 2009”, evento que já se encontra em sua quinta edição e acontece entre os dias 9 e 12 deste mês no SESC LACES / JK, rua Caetés, 603, esquina com Rua São Paulo, no centro de Belo Horizonte. Além dos mineiros, estarão participando do encontro, poetas de várias partes do país e ainda os convidados internacionais, José Alberto-Marques, de Portugal e Sebastián Moreno e Laia Ferrari, da Argentina. Entre as várias palestras, lançamentos, performances, saraus, trocas de experiências e homenagens, acontece o mini seminário “A poesia pode curar?”, que faz jus ao tema do “Belô” desse ano que é “A poética gerando saúde”, e que tem como lema a conhecida e vital frase: “seja doador, salve vidas”.
A abertura do evento será na quinta-feira, dia 9, às 19:00 hs. Na ocasião serão homenageados Joanyr de Oliveira (DF), Grupo Lesma (MG), Maria Clara Segobia (RS), personalidades que contribuem com a poesia brasileira. E também aqueles que já não estão mais entre nós, como é o caso de Mário Jorge (SE) e do velho Amadeu Rossi Cocco, do tradicional sebo que leva seu nome, a quem o poeta Rogério Salgado ainda teve tempo de homenagear em vida.
No sábado, dia 11, das 16:30 às 18:30 hs. acontecerá o painel Circuito de opiniões e conhecimentos que vai debater a seguinte questão: Há limite para emoção e técnica nas produções poéticas? Entre os debatedores estarão doutores, mestres, pesquisadores e professores, das áreas de semiologia, literatura, antropologia e artes visuais; além de poetas, jornalistas, filósofos, escritores, críticos de arte, atores, e videomakers. Figuras de destaque na cena cultural como Fernando Fábio Fiorese Furtado, Cecy Barbosa Campos, Sérgio Fantini, Brenda Marques Pena, Marcos Freitas, José-Alberto Marques, Vera Casa Nova, Iacyr Anderson Freitas, Luiz Edmundo Alves, José Edward e Rodrigo Starling participarão do debate.
Na condição de mediador desse painel eu quis saber a opinião de figuras imortalizadas, e o que encontrei de mais significativo nessa garimpagem foi o seguinte: Mário de Andrade disse que poesia é “o que meu inconsciente me grita”; Schiller que é “uma força divina e misteriosa que age de maneira incompreendida”; Décio Pignatari afirma que poesia é “design da linguagem”; Goethe, que ela é “a fala do infalível”; Oswald de Andrade falou que a poesia é “a descoberta das coisas que eu nunca vi”; Ezra Pound definiu a poesia como “essências e medulas”; Maiakovski sentiu-a como sendo “uma viagem ao desconhecido”; Novallis a tinha como “a religião original da humanidade”; Baudelaire disse: poesia é “a ida ao fundo do desconhecido para encontrar o novo” e Aurélio Buarque de Hollanda, dicionariza poesia como “a atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, de caráter estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de prolongamento ou de renovação, dessas sensações”.
Penso que a questão proposta é como um koan do Zen Budismo, que tem como objetivo nos deixar em “estado de pergunta”. Um estado racional e ao mesmo tempo emocional e sensorial que, partindo do não-saber, nos coloca num processo de busca, que nos deixa mais atentos e nos abre à possibilidade de termos vislumbres de compreensão, de contemplação e até mesmo de arrebatamento, que são próprios da arte quando esta encontra a poíesis.
Eu arriscaria dizer que a poesia é caprichosa. Ela pousa quando quer e onde quer... Às vezes depois de muito trabalho, como num parto demorado e doloroso; outras vezes, como puro dom, graça, presente ou sintonia com algo maior, cuja razão não alcança. Mas o interessante é que a poesia sempre encontra o poeta. E, só ele, o poeta a encontra também, pois ela vem na direção daquele que a procura, porque só ele, o poeta, pode reconhecê-la, para depois oferecê-la à fruição.
Poesia é razão, imaginação, inspiração ou transpiração? Como definir a poesia? Definir a poesia é definir a criação, tarefa para toda uma vida, ou para muitas vidas. Quem quiser saber o que pensam os participantes do Belô Poético, ou até mesmo dar a sua opinião sobre a questão é só comparecer ao SESC LACES / JK no sábado à tarde. Será uma bela de uma discussão. Não perca.


quarta-feira, 1 de julho de 2009

EDGAR MORIN FALA SOBRE VIOLÊNCIA


"Violência deve ser tratada em sua complexidade", diz filósofo Edgar Morin
Lincoln Macário
Repórter da TV Brasil / Agencia Brasil

Brasília - Se violência gera violência, submeter um jovem infrator ao cárcere só fortalece seu lado agressivo. Esta é uma das várias declarações humanistas do filósofo francês Edgar Morin, que está no Brasil para uma série de palestras e seminários. Enquanto o mundo se preocupa com os conflitos entre iranianos, é o pobre e esquecido povo do Sri Lanka que ele lembra em primeiro lugar quando perguntado sobre formas de violência que mais o preocupam.
Quanto aos conflitos no Irã ele afirma que as informações vindas de lá devem ser sempre analisadas em seu contexto histórico, político e social.
Em entrevista exclusiva concedida à TV Brasil, ele explica sua Teoria da Complexidade. Autor de 30 livros, entre eles a trilogia O Método e Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, Morin avalia que o mundo ainda não compreendeu a importância do erro – um desses sete saberes – e revela que a educação mudou pouco nos últimos anos, pois permanece ainda muito negativa.
Prestes a completar 88 anos, Morin se empenha em popularizar os conceitos de Política da Civilização e Política de Humanidade. Admirador do Brasil, o professor concedeu a entrevista em português. Recém-chegado da França, ainda não tinha “tomado um banho de português” necessário para deixar suas frases mais “belas”. A mistura, porém, não tirou o caráter inovador de suas ideias.

TV Brasil - O assunto que o traz a Brasília são os direitos humanos e, em especial, as formas de violência. Nesse tema, que tipo de violência mais o preocupa?
Edgar Morin - A mais preocupante é a violência que vem com as guerras, as perseguições, como é a violência que chegou ao Sri Lanka há poucas semanas. A população, aos milhões, está em situação de horror, de matança. Isso é o mais grave. Mas também são as violências urbanas, cotidianas, matrimoniais, muitos homens que golpeiam as mulheres, os pequenos, uma situação muito impressionante. Mas a coisa mais importante é quando se diz, vamos fazer violência para acabar com violência. Em condições gerais, violência, gera outra violência. É um ciclo que não se interrompe. A questão fundamental é como parar a violência. Fazer com que em um momento não exista mais violência. E há vários caminhos: são os caminhos da compreensão. Por exemplo: a violência juvenil. Ser jovem é um momento de transição. Se essa violência é respondida com a violência do cárcere, vai se produzir delinquentes mais fortes. Outra política de compreensão para a pessoa fazer sua transformação é um momento de magnanimidade, de perdoar a pessoa e interromper o ciclo de violência. Existem exemplos, limitados, como o de Gandhi, que sem violência teve sucesso contra o império inglês. Há vários tipos de meios. Hoje podemos pensar em lutar contra todas as formas de violência, com os modos apropriados para cada forma de violência.
TV Brasil - O senhor é conhecido no mundo inteiro, e muito estudado, também no Brasil, pela Teoria da Complexidade. Como se poderia resumi-la?
Morin - Falamos primeiro de violência. Na complexidade, não podemos reduzir uma pessoa a seu ato mais negativo. O filósofo Hegel disse: se uma pessoa é um criminoso, reduzir todas as demais características de sua personalidade ao crime é fácil. Entender, não reduzir a uma característica má uma pessoa que tem outras característica, isso é a complexidade. Uma pessoa humana tem várias características, é boa, má e muito mais. Devemos entender que a palavra latina complexus significa tecido. Em geral, o nosso modo de conhecer que vem da escola nos ensina a separar as coisas, e não religá-las. A complexidade significa religar. Por exemplo: um evento, um acontecimento, uma informação. Quando chega uma informação sobre o que ocorre no Irã, por exemplo, devemos entender o contexto político, histórico, social. A complexidade busca favorecer uma compreensão maior que a compreensão que vem de se isolar as coisas, colocar o contexto, todos os contextos em uma situação.
TV Brasil - No Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, o senhor fala da importância do erro. A humanidade já compreende e já aceita melhor o erro?
Morin - É uma coisa que disse Descartes, o problema de errar é não saber que se erra. Eu penso que é muito inteligente quando se sabe que se comete um erro e se esquece do erro. Penso que é muito importante conhecer as fontes do erro. De onde vem o erro.
TV Brasil - Mas a humanidade vê melhor o erro do que há dez, vinte anos atrás?
Morin - Penso que não há progresso, o sistema de educação não mudou, é cada vez mais negativo. Os problemas globais fundamentais são cada vez mais fortes. Por isso penso que há a necessidade de reformar a educação. Com uma idéia melhor de como se faz o conhecimento e também compreensão humana dos outros. Penso que minha proposta será muito útil para o desenvolvimento nosso futuro.
TV Brasil - Para aceitarmos a complexidade, é preciso uma reforma do pensamento e enxergar o mundo de outra maneira. O senhor acha que os meios de comunicação tradicionais possam contribuir para essa reforma do pensamento ou isso é uma tarefa para a internet?
Morin - A internet hoje dá uma possibilidade de multiplicação de informação e comentários, que é muito útil, por que a vida de uma democracia é a pluralidade das opiniões, visões, sem a homogeneidade da imprensa. Não há muitas diferenças na grande imprensa. É muito útil a internet, o que não significa que não há coisas falsas que venham dessas redes. Mas é a educação que dá à pessoa condição de ver e confrontar o que vê na internet e na televisão. Penso que hoje a internet dá uma possibilidade de mudança muito grande, por exemplo, pela complexidade. No México, há um curso de complexidade da educação virtual, com 25 países.
TV Brasil - O senhor tem se dedicado muito a pensar a política e tem feito a separação da política da civilização e da política da humanidade. Qual a diferença?
Morin - A política de civilização luta contra todos os efeitos negativos da civilização ocidental. É para restabelecer a solidariedade, humanizar a cidades, revitalizar os campos. Cada civilização tem suas virtudes, qualidades, suas diferenças, isso é verdade também para a civilização ocidental. Também para as civilizações de pequenos povoados, como índios da Amazônia, conhecimentos de plantas, animais, arte de viver, novos curativos, como os xamãs. A política de humanidade é combinar o melhor de cada civilização, fazer um simbiose no nível do planeta onde o melhor do mundo ocidental, que são os direitos humanos, direitos da mulher, a possibilidade do individualismo - mas não do egocentrismo - que combine outras civilizações, onde há mais solidariedade. A questão é lutar contra os defeitos das civilizações e pegar o que há de melhor. Porque nas civilizações tradicionais não há só coisas boas como solidariedade. Há também dogmatismo, autoridade demasiada dos mais velhos, do homem sobre a mulher. A ideia é tirar o melhor de cada, não idealizar a civilização tradicional ou a ocidental. (Jornal Fórum Século XXI)

UM BREVE CONTO

MAL ESTAR
Eugênio Magno
Assim que acordei, vi que ela estava meio acabrunhada. Durante quase toda a manhã, ficou pelos cantos. Em alguns momentos eu a vi dormindo. Ou estaria apenas deitada? Não ousei perguntar. Ela não iria, nem poderia responder. Saí e não mais me preocupei com sua apatia. Aquela manhã reclamava muitos afazeres, compromissos e reuniões. Quando cheguei em casa para o almoço, já passava das 13:00 horas. Não a vi ao entrar. Contaram-me que ela ainda não havia almoçado. Enquanto aguardava a mesa ser servida alguém disse que ela não estava passando bem. Teria feito vômito, uma substância amarelada, pastosa, contendo alguns caroços que, olhando de perto, via-se que eram de arroz. Perdi o apetite e ela também. Nossa comida permaneceu intacta. (inédito)